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quarta-feira, 21 de julho de 2010
O Brasil a caminho do Apartheid - Estatuto da (Des)Igualdade Racial sancionado
Lula diz que democracia fica mais representativa e justa com Estatuto da Igualdade Racial
Agência Brasil
20/07/2010 21:04
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (20/7), durante cerimônia de sanção do Estatuto da Igualdade Racial, que o país passará a ser mais justo com a entrada em vigor do texto, que prevê garantias e o estabelecimento de políticas públicas de valorização para os negros.
“A democracia brasileira parece mais justa e representativa com a entrada em vigor do Estatuto da Igualdade Racial. Estamos todos um pouco mais negros, um pouco mais brancos e um pouco mais iguais”, discursou Lula, no Itamaraty, para uma plateia formada, em sua maioria, por representantes de diversos movimentos que lutam pela questão da igualdade racial.
Lula ressaltou que seu governo foi duramente criticado por defender a "agenda dos desafios da igualdade racial” e lembrou que, “os críticos de sempre”, chegaram a ingressar com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a política de cotas nas universidades públicas. "O que construímos nesses sete anos e seis meses foi uma sólida ponte entre a democracia política e a democracia social".
Mas agora, no período eleitoral, acrescentou Lula, mesmo os críticos mais duros não contestam essas medidas. “Agora, às vésperas das eleições, ninguém mais contesta. Nem sempre foi assim e a sociedade enxerga a distância o que se dizia antes e o que se diz agora. Quantas vezes não fomos criticados por trazer a agenda dos pobres para dentro o governo”, criticou o presidente, acrescentando que, durante o seu governo, mais de 20 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza e passaram para a classe média.
“Fomos criticados duramente por isso e fomos desdenhados pelos críticos de sempre. Os desafios da desigualdade ainda são tratados como um falso problema e uma questão menor do desenvolvimento e da democracia. O mesmo se deu na luta contra a fome no Brasil”, disse Lula.
O presidente ainda minimizou as mudanças no estatuto durante a tramitação no Congresso, como a retirada da política de cotas. “Vocês não perderam nada, ganharam e ganharam muito. Se faltou algo, vamos colocar mais massa", afirmou.
O presidente da Rede de Cursinhos Populares Educafro, frei David Raimundo dos Santos, também acredita que, apesar das mudanças, o Estatuto da Igualdade Racial representa um avanço na questão das políticas de igualdade racial no Brasil. “As mudanças são o retrato da falta de dimensão política que a comunidade negra não conseguiu construir nesses 510 anos de Brasil”, argumentou.
“Cedemos o dedo para não perder o braço. O que sobrou, é superior à força política que a sociedade negra possui”, acrescentou frei Davi. Ele acredita que a comunidade negra precisa aproveitar as eleições para aumentar sua representação política nas esferas estaduais e federal.
4 comentários:
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O senhor acha que teremos cotas no concurso de ingresso à carreira diplomática?
ResponderExcluirNão, não existe, e espero que não exista. Seria o fim do sistema de concurso, além de um abuso racista inominável.
ResponderExcluirO que existe hoje, aliás racista, é a atribuição de bolsas apenas para afro-descendentes.
Branco pobre não tem direito a nada...
Paulo Roberto de Almeida
Me sinto fortemente decepcionado por viver num país no qual o racismo está sendo (inconscientemente?) incentivado e legitimado pelas esferas do poder público. Felizmente, as eleições aproximam-se e espero que haja mudanças dessa ordem vigente. Que o povo brasileiro escolha um novo governante que não vá tentar transformar-nos numa nação bicolor, e perceba que a maior desigualdade no Brasil é econômica-social, e não racial.
ResponderExcluirEstou terminando meu curso universitário para enfim poder entrar no IRBr, repudiando as atuais bolsas para afrodescendentes. Sou mulato sim, mas acima de tudo sou brasileiro. Assim como tenho genes negros, tenho também genes brancos, indígenas e europeus, como todo o povo brasileiro que é fruto da miscigenação. Um Diplomata deve lutar pelo bem do povo brasileiro como um todo, e não apenas da parcela populacional cujo fenótipo é semelhante ao seu mesmo.
Fico muito feliz em saber que há diplomatas como o sr, que não foram contaminados pelas ideologias anestesiantes que assolam a sociedade brasileira atual.
Espero poder contribuir para renovar o verdadeiro espírito diplomático do Instituto Rio Branco quando eu me tornar seu membro.
Atenciosamente,
Thiago Leite Cruz
Thiago,
ResponderExcluirEu infelizmente sou mais pessimista que você. Acredito que o Brasil está numa trajetória de erosão da qualidade da educação, de mediocridade crescente nas instituições públicas e de desmantelamento das instituições.
A população pretende políticas públicas, e para isso o governo vai continuar a extorquir recursos para supostamente financiar suas "benesses".
Vamos pagar um alto preço por isso, no plano fiscal, orçamentário, juros, menor crescimento e, sobretudo, um preço moral, por esse tipo de divisão classista e racista.
Paulo Roberto de Almeida