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segunda-feira, 19 de julho de 2010
Educacao no Brasil: um longo caminho a fazer (só não se sabe ainda bem para onde, se para frente ou para trás)
Enem: entre as melhores de SP, valor varia até 254%
Fábio Mazzitelli, Carlos Lordelo, Paulo Saldaña, Carolina Stanisci, Luciana Alvarez
O Estado de S.Paulo, 18 de julho de 2010
Mesmo com grande diferença de anuidade, disparidade na pontuação fica em apenas 12%
* Metade faltou à prova nas escolas de elite
* Mensalidade define grupo social da escola
* Prova passou a servir como vestibular
* 'Agora prova é comparável ao longo do tempo'
* 'Exame tem desafio de manter credibilidade'
* Especial: Os resultados do Enem 2009
* Tudo o que ficou publicado sobre o Enem 2009
No grupo das 30 escolas da capital com melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009, os preços cobrados variam até 254% - enquanto a variação máxima de pontuação dos estudantes na prova fica em 12%.
Embora haja uma correlação positiva entre pagar mais e obter mais pontos no exame, puxada principalmente pelo Colégio Vértice - o melhor de São Paulo e do País e também o mais caro da capital -, o dinheiro não compra, necessariamente, a qualidade do curso. Ou seja, a diferença entre as anuidades (valor das mensalidades e de outras taxas cobradas pelos colégios) e pontuação no Enem indica que não é só escola cara que tem bom desempenho.
Para chegar a essa conclusão, o Estado comparou as notas das escolas paulistanas no Enem aplicado no ano passado, divulgadas pelo Ministério da Educação, com as anuidades cobradas das famílias. Em números absolutos, a diferença de valores entre os 30 primeiros colégios paulistanos na última etapa do ensino básico pode chegar a R$ 25,7 mil no ano. Já a diferença máxima de pontuação é menos expressiva: 79,34 pontos, numa escala de 0 a 1000.
É como se cada ponto obtido pelo estudante no Enem variasse de R$ 14,93 (Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo) a R$ 47,79 (Vértice) ao ano.
"Sempre digo aos pais que não precisa escolher a escola do topo do Enem. Se pegar uma que esteja um pouco mais atrás e razoavelmente bem colocada, os pais podem investir o que pagariam no talento individual do filho, como em esporte ou música", afirma a psicopedagoga Neide Noffs, professora da Faculdade de Educação da PUC. "Um curso fora da escola é bom para que o jovem mantenha contato com outros grupos sociais."
Na avaliação do professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Munhoz Alavarse, a escola particular tem um perfil de aluno muito mais homogêneo do que a pública, sendo mais fácil obter bons resultados. "O colégio particular obviamente tem mérito, mas a maior parcela da educação vem das famílias dos alunos", diz.
Para o economista Cláudio Moura e Castro, especialista em educação, vários fatores influenciam o valor da mensalidade. "Os pais precisam considerar a variedade de serviços oferecidos pela escola. A mensalidade maior com um desempenho semelhante não significa que o colégio está roubando", afirma.
Perfil. Ele ressalta, porém, que os pais precisam ver qual o objetivo da família na hora de investir em educação. Com a diferença entre a anuidade mais cara e a mais barata dos melhores colégios, é possível pagar um ano de curso no exterior, por exemplo.
Além disso, desde que os dados por escola do Enem começaram a ser divulgados há pouca variação entre as primeiras colocadas - por diferenças às vezes menores do que 1 ponto, colégios se alternam nas melhores colocações. "Tem famílias que mudam filho para quem tem Enem melhor. Isso é uma bobagem. O ensino não é isso", afirma Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães, diretor do Colégio Santa Cruz, um dos mais bem colocados na capital.
Adilson Garcia, coordenador do Vértice, comemora a liderança, mas afirma que as escolas respondem por 25% do desempenho - o restante vem dos alunos e das famílias. "Mesmo com mensalidades maiores ou menores, você percebe que todas atraem famílias que valorizam a educação. E, se têm dinheiro, não medem sacrifício."
Na capital paulista, segundo o último Censo Escolar, a rede privada é maior que no restante do Brasil e corresponde a 17% das matrículas no ensino médio. No Estado, esse porcentual é de 14% e, no País, 12%.
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