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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

A graduacao universitaria ja foi para o brejo; o mestrado vai atras

Todos os dias, rigorosamente todos, tenho um motivo para ficar, não surpreendido, mas estarrecido, com a deterioração da universidade no Brasil. Mas tem coisas que também ultrapassam a universidade, e atingem, como diria?, toda a sociedade.
Reparem na pergunta e no pedido de ajuda, abaixo.
Já seria surpreendente que a pergunta, a esse nível de generalidade, me fosse feito por uma mestranda.
Mas, o mais surpreendente ainda é que a pergunta não tem a ver com a universidade, estrito senso. Tem a ver com a vida social, com o conhecimento de como são as instituições de Estado, como funciona um país.
Sinto muito, mas vou afirmar mais uma vez.
Não é só a universidade que caminha rapidamente para a mediocridade mais absoluta. É o Brasil que afunda literalmente no pântano da ignorância...
Paulo Roberto de Almeida

Mensagem recebida pelo formulário de contato do site www.pralmeida.org:

Nome: Axxxxx Fxxxxxx Cxxxxxxxxx
Cidade: Pxxx Bxxxxxx
Estado: XX
Email: xxxxxxxxxxx@gmail.com
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Olá!

Estava pesquisando sobre política de Estado e descobri seu site. Pode me indicar algum autor que discuta política de estado? Sou mestranda e quero mudar, um pouco, o foco do meu trabalho... Se puder ajudar, agradeço.

Bem, depois dessa só me resta dormir, se eu puder...

Addendum (logo depois):

Bem, não consegui dormir, pois logo depois me entrou esta outra mensagem (que pelo menos é apenas de uma graduanda totalmente desorientada).

Cordiais Saudações Acadêmicas,
Novamente o motivo de meu contato é apenas saber sugestões de quem entende do assunto (Diplomacia) pretendo defender minha monografia sobre o assunto (Diplomacia X Secretário(a) Executivo), porém não tenho nada concretizado. Gostaria de algo inovador, diferente, talvez um paralelo nas duas profissões...
Sugere algo?
O Sr. é autor de vários livros, teria algum que poderia indicar? ou mesmo que não seja de sua autoria?
Não sendo incômodo, será um prazer manter contato com o Sr.


Confesso que não sei o que responder, aliás nem saberia antes de mais nada entender a pergunta: diplomacia versus secretário executivo???
Como diriam os franceses: ça me dépasse...

Sinceramente, acho que vou deixar, vou cessar completamente de me apresentar como professor universitário, pois do jeito que anda a universidade no Brasil, ser professor universitário agora passa a ser motivo de vergonha...
Sinceramente, não sei o que está acontencendo com o Brasil para descermos tão baixo no poço da ignorância e no abismo da mediocridade...
Paulo Roberto de Almeida

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Novo Addendum:
Antes de ser mal interpretado, gostaria de esclarecer que não culpo apenas os estudantes por essas perguntas estapafúrdias, sem sentido e sem respostas.
Eles levam 50pc da culpa, pois afinal de contas já são bem grandinhos (alguns no Mestrado), alfabetizados (ao que parece) e com alguma noção da vida, do mundo, da galáxia, enfim, dados elementares sobre os imponderáveis da existência. Eles são preguiçosos e não estudam, e acham que os professores tem obrigação de lhes dar tudo bem servido numa bandeja, e depois só cobrar na prova o conhecimento já digerido, pasteurizado, processado, elementar. Claro, o certificado de conclusão do curso é uma obrigação da Faculdade, não uma conquista do aluno.
Bem, outros 25pc da culpa estão com a família, outros preguiçosos, e talvez mais 25pc (os dados podem variar) ficam com os professores, muitos tão incompetentes quanto os alunos...
Acho que preciso parar de dar aulas: estou ficando crítico demais.
Alguns poderão dizer: mas você não pode cobrar muito, isso está acima da compreensão deles (o deles vale para todo mundo). Pode ser, mas se não cobrar, continuamos afundando na mediocridade...

10 comentários:

janny disse...

"acho que vou deixar, vou cessar completamente de me apresentar como professor universitário, pois do jeito que anda a universidade no Brasil, ser professor universitário agora passa a ser motivo de vergonha..."
Acredito que motivo de vergonha deva ser, em primeiro lugar, expor pessoas que gentilmente solicitaram sua ajuda de tal maneira.
Obviamente, seu blog, suas opiniões, mas foi extremamente decepcionante, como leitora do blog e estudante, ler tal texto, por isso a minha manifestação, não sei se justa ou adequada, mas de qualquer forma, inconformada.

Não há o que discordar em relação a sua critica sobre a educação no Brasil, que está claramente em estado de agonia, mas a maneira em que essa critica foi feita foi no mínimo rude e não construtiva.
Mas mais decepcionante que isso é ler essa frase de um professor. Esperamos que um aluno do ensino superior tenha uma base de conhecimento que o permita fazer análises, se aprofundar numa determinada área, construir novo conhecimento, e muitas vezes isso não é o que acontece. Nós temos um sistema educacional, até onde eu vi e posso mencionar como estudante universitária, que simplesmente é baseado numa corrida de cavalos, onde o que importa é o quão rápido você consegue atingir o objetivo final (diploma) e não a bagagem que se acumula durante o processo, mas os professores deveriam ser aqueles que, diante de tal situação, fossem os mentores responsáveis por ajudar nessa mudança, os professores deveriam ser aqueles que diante da ignorância de um aluno, fossem os responsáveis por ajudar esse a achar o caminho para construir sua base de conhecimento.
Um professor que critica um aluno por sua ignorância, declarando-o um caso perdido, aliás, declarando todo o país como um caso perdido, o que eu considero ainda mais desesperançoso, pessimista e ofensivo, pode realmente ser considerado um professor??? Os professores devem ser junto com os alunos, os atores responsáveis pelas mudanças no sistema educacional. Os professores devem ser o exemplo, o incentivo, a ajuda que essas pessoas que estão iniciando suas carreiras agora precisam para ser tão brilhantes quanto possível.
O sistema educacional brasileiro está indo pro brejo, sim está, mas se é pela falta de vontade de alguns alunos, pela falta de investimentos, pela dificuldade de acesso à educação de qualidade, é também pelos tantos professores que não mais sabem o que é ser um bom professor.
As universidades estão cheias de professores extremamente brilhantes e inteligentes em sua área de conhecimento, mas extremamente pobres de paixão pelo que fazem. Um professor que, diante da dificuldade e da ignorância de um aluno, só é capaz de criticar a falta de conhecimento, generaliza casos (“Eles são preguiçosos e não estudam, e acham que os professores tem obrigação de lhes dar tudo bem servido numa bandeja, e depois só cobrar na prova o conhecimento já digerido, pasteurizado, processado, elementar” Nem preciso dizer o quão generalizado e injusto isso é, porque eu sei que o senhor está ciente dessa grande injustiça. ) e ainda declara vergonha diante do fato é um professor, na minha opinião, que perdeu em algum lugar o sentido do que é ser um professor.

Lucio Jablonski disse...

Sad but true! Se a pergunta ainda tivesse sido "Diplomacia x Sindicalismo", poderia haver algum sentido no Brasil de hoje...

Mário Machado disse...

Caro Paulo, (substituí o professor que sempre usava diante das circunstancias pareceu apropriado)

Já lhe disse anteriormente eu recebo formulários semelhantes de jovens perdidos e tenho conclusões semelhantes as que você têm.

Sou voluntário junto a uma organização religiosa (outra denominação que a minha, mas isso não importa) e dou aulas de inglês a crianças carentes (infelizmente não só no sentido financeiro, a quantidade de famílias desfeitas é assustadora) e passo metade da aula ensinando português. E todos me mostram orgulhosos seus boletins com notas altas que infelizmente lhes são dadas sem nenhuma exigência real a seus jovens intelectos.

Me parte o coração, sem melodramas, essa situação por que provavelmente terminaram os seus estudos e conseguirão entrar em alguma unitabajara com o prouni se graduarão e ainda assim não terão qualificação para nada. Ou seja, venderão sonhos a eles que se converterão em pesadelo ou frustração. Bom, espero que minha intervenção possa alterar isso, mas realisticamente não sei se conseguirei.

Abs,

Orlando Tambosi disse...

"Professor" está ficando mesmo um fardo pesado para carregar aqui no Grotão lulista.

Anônimo disse...

Quanta má vontade de vossa parte e quanto rigor. Penso comigo agora. O que será que lhe fez ser tão amargo assim?

Paulo Roberto de Almeida disse...

Janny,
Voce tem razao, mas apenas parcialmente. Um professor ensina, nao reclama, mas é o que faço quando estou em sala de aula, ensino metodicamente e detalhadamente com muitos materiais de apoio.
Alguns alunos nao fazem nenhum esforco de estudar os materiais que coloco a disposicao, e pretendem ainda, num gesto de suprema arrogancia, que eu apresente os "pontos que vao cair na prova", para estudar apenas aquilo.
Eles acham que pagando uma Faculdade ja se acham no direito de receber o diploma em tempo certo.
Voce tem razao que eu nao deveria fazer esse tipo de critica publicamente, mas nao expus ninguem, nem mandei ao interessado.
Voce nao sabe quantos pedidos desse tipo eu recebo, alguns sao de amargar. Pode ser que eu tenha me excedido, mas certas pessoas sao um pouco folgadas.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo,
Para acusar-me de "amargo" (indevidamente) não precisava ser anônimo, pois não costumo recusar críticas.
Não estava sendo amargo, justamente, pois eu declarava meu estupor com esse tipo de pergunta.
Mas, se eu fosse, teria todo o direito, bastando olhar para a situacao do Brasil de hoje no plano da educacao e da politica.
Não se se você acha que está tudo bem, pois sua preocupacão não foi com o objeto do post, e sim a minha atitude. Acho que voce deveria incidir seus comentários sobre essa questão, não tanto sobre o que eu penso e ou deixo de pensar...
Minha atitude é um mero reflexo do que acontece no Brasil...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Lucio,
A diplomacia nao pode ser comparada ao sindicalismo, uma vez que a diplomacia é uma profissao, como médico, engenheiro, etc.
O sindicalismo é um associativismo, sob diversos tipos

Anônimo disse...

Mais do que vocação ser lente no Brasil é um quase sacerdócio!

A vida insiste em imitar a arte!

"To Sir, With Love"
(Don Black e Marc London)
Those school girl days
of telling tales
and biting nails are gone
But in my mind
I know they will still live on and on
But how do you thank someone
Who has taken you from crayons to perfume
It isn't easy, but I'll try

If you wanted the sky I'd write across the sky in letters
that would soar a thousand feet high
To Sir, with love

The time has come
for closing books
and long last looks must end
And as I leave
I know that I am leaving my best friend
A friend who taught
for closing books
and as I leave
I know that I am leaving my best friend
A friend who taugh me right from wrong
and weak from strong
that's a lot to learn
What, what can I give you in return?

If you wanted the moon I'd try to make a start
but I would rather you let me give my heart
To Sir, with love

*Musica tema do filme "Ao Mestre com carinho"; estrelado por Sidney Poitier.

Vale!

Vinícius Portella disse...

Janny,

Estou há muito tempo sem dormir, o que pode prejudicar de sobremaneira minha capacidade de expressão. Penso que interpretaste mal o que PRA disse. Seu ataque não é propriamente contra a ignorância pura e simples; mas contra aquela vizinha do descaso, da irresponsabilidade, do desrespeito, etc. Se ele errou, foi mais por imprecisão e falta de clareza do que pelo conteúdo substantivo de suas asserções, este último, bem reconheceste. Há vezes que, por questões temperamentais, ele se excede, porém, disso chegar à conclusão de que PRA seria um "professor que perdeu o sentido do ser professor" é um total absurdo. Aliás, é mais plausível aceitar que sua frustração vem exatamente da sua grande dedicção à atividade docente (preparo de aulas, material, indicações, etc) não a encontrando entre muitos de seus alunos ou daqueles que lhe procuram pela rede. No mais, Paulo Roberto é extremamente solícito com todos os interessados e dedicados que lhe procuram, a despeito do grau de instrução do sujeito. Posso afirmar que Paulo é o professor que eu queria ter e não tive: sujeito ilustradíssimo, pautado pelo respeito, com quem se pode discutir e que se dobra ante a solidez dos argumentos. Ademais, não pretendeu fazer um tratado da ignorância.

Abraços.

(desculpas, mas o sono já me derruba)