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segunda-feira, 6 de junho de 2011
Por que o Brasil tem medo do Iran? - Gustavo Chacra
Gustavo Chacra
Blog Estadão, 4 Junho 2011
O regime do Irã tem medo da defensora dos direitos humanos e Nobel da Paz Shirin Ebadi. E a administração de Dilma Rousseff, assim como a de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, tem medo de Mahmoud Ahmadinejad e do aiatolá Khamanei.
Nesta semana, com medo de Teerã, a presidente do Brasil cancelou encontro com a iraniana por problemas de agenda. A Nobel da Paz não teve a mesma sorte que a cantora colombiana-libanesa Shakira, que se reuniu com a líder brasileira. A defensora dos direitos humanos, talvez antecipando este risco, disse, no passado, que “se Dilma defende os direitos humanos, ela me receberá”. Mas a presidente brasileira não defende os direitos humanos no caso iraniano.
Dilma prefere agradar a um regime que reprime as mulheres, minorias religiosas e opositores. Um regime que mata e tortura. Esta é a liderança que o Brasil parece querer propagar. A administração de Dilma, como a de Lula, quer ser amiga do regime iraniano.
A presidente ficou com medo de nota da embaixada do Irã em Brasília dizendo que “Shirin Ebadi, autointitulada ativista dos direitos humanos, está tentando enfraquecer a firme política do Brasil em relação ao programa nuclear iraniano. Ela provavelmente tentará se aproveitar da nova política de direitos humanos da presidente Dilma (…) e tentará convencer autoridades brasileiras a se distanciar do Irã.”
O que eu não entendo é a necessidade de puxar o saco de Teerã. O inverso deveria ocorrer. O Brasil é um gigante econômico, não o Irã. Nós não dependemos de nenhum produto iraniano. Não possuímos nenhum problema geopolítico. Não temos nenhum inimigo. Ninguém ameaça nos atacar. Mais grave, a aliança com o regime persa deteriorou as relações do Brasil com nações mais importantes economicamente para os brasileiros, como com os Estados Unidos.
Já o Irã está com a economia em crise. Precisa de investimentos econômicos brasileiros. Dois de seus vizinhos (Afeganistão e Iraque) estão em guerra civil. É inimigo de Israel, Arábia Saudita e Estados Unidos, para ficar apenas em três. Está ameaçado de sofrer ataques de americanos e de israelenses e apoio dos brasileiros para evitar estas ações é fundamental. A aliança com o Brasil também serviu para o regime de Teerã tentar exibir uma inexistente credibilidade em fóruns internacionais.
Caso Dilma se reunisse com Ebadi, o que poderia acontecer? O Irã iria romper relações com o Brasil? Iria dizer o que da presidente brasileira? Que ela é uma traidora por ter recebido uma Nobel da Paz e defensora dos direitos humanos e das mulheres? A presidente do Brasil ainda tem tempo de encontrar um horário na sua agenda. Caso contrário, será uma covarde neste caso.
No ano passado, entrevistei Shirin Ebadi e fiz a pergunta abaixo
Estado – Há também dezenas de mulheres presas no Irã. A sra. espera que a presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, faça algo para ajudá-las?
Ebadi – Depois da revolução, uma série de leis discriminatórias contra as mulheres foram aprovadas no Irã. A vida de uma mulher equivale à metade da de um homem. Por exemplo, se um homem e uma mulher saem para a rua e são atacados, a indenização que a mulher receberá será o equivalente à metade da do homem. Na Justiça, o testemunho de duas mulheres equivalem ao de um homem. Um homem pode casar com quatro mulheres. E existem várias outras leis discriminatórias.
A presidente eleita do Brasil, como mulher, certamente não concorda com estas leis. E as mulheres iranianas tampouco as aceitam. Mas, quando elas protestam contra esta legislação, são detidas por terem agido contra a segurança nacional, segundo argumento do governo. As advogadas que as defendem também acabam nas prisões. Uma destas advogadas é minha colega Nasrin Soutodeh. Ela foi presa há dois meses. Está em uma solitária e sem poder ver os advogados. Não tem acesso a televisão, rádio ou jornais. Além disso, sofre com pressões físicas e psicológicas. Desde o domingo, está em greve de fome (continuava até o fechamento desta edição). Estamos preocupados com a vida dela. Gostaria que a nova presidente do Brasil a ajudasse.
Todas as mulheres, sendo muçulmanas ou não, que viajem ao Irã, precisam cobrir a cabeça. É uma lei estranha, pois quem não é muçulmana não precisa usar o véu. Por favor, diga à sua presidente, em meu nome, para ela não se cobrir com o véu se for ao Irã. Não precisa ter medo da lei no Irã. Por ser presidente, possui imunidade diplomática. Alguém precisa mostrar ao governo do Irã que esta lei não é correta.
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Mensagem errada'
Diplomacia brasileira impede que Dilma receba Nobel da Paz iraniana
O Estado de S. Paulo, 6/06/2011
A presidente Dilma Rousseff decidiu não se encontrar com a advogada iraniana e Nobel da Paz Shirin Ebadi, que chega ao Brasil na terça-feira. Principal voz da oposição a Teerã no exílio, Shirin será recepcionada no Palácio do Planalto apenas pelo assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
"Se Dilma defende os direitos humanos e as mulheres, ela me receberá", insistiu a iraniana em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. O governo brasileiro, porém, acredita que receber a ativista enviaria "a mensagem errada".
A decisão do Planalto vai na contramão da mudança na diplomacia para os direitos humanos que Dilma vinha conduzindo até agora. Antes de tomar posse, a presidente criticou publicamente a abstenção do Itamaraty em uma resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU condenando o apedrejamento de mulheres no Irã. Dilma chamou de "ato bárbaro" a lapidação, posição reiterada em entrevista ao jornal Washington Post.
Em março, Dilma rompeu com o padrão de voto do governo Lula nas Nações Unidas e apoiou a criação de um relator especial para o Irã - sob críticas do ex-chanceler Celso Amorim. Uma semana depois, Shirin foi convidada a um jantar na embaixada do Brasil em Genebra.
Oficialmente, o Planalto justifica que, pelo protocolo, a presidente recebe apenas chefes de Estado e de governo. Nos bastidores, porém, o governo diz que receber Shirin seria colocar o Brasil dentro de uma "disputa interna delicada". "Desde janeiro, já vieram ao Brasil tanto dissidentes quanto delegações oficiais do Irã. A presidente não recebeu nenhum deles", afirma uma fonte do Planalto.
Agenda cheia - Shirin falará na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo e em uma audiência na Câmara dos Deputados. Ela terá ainda um almoço em Porto Alegre com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e com o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). Em 2003, ela ganhou o Nobel da Paz por sua atuação em Teerã, mas, com a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, o cerco a dissidentes iranianos fechou-se ainda mais e Shirin partiu para o exílio. Hoje ela vive entre a Grã-Bretanha, os EUA e o Canadá. Esta será a primeira vez de Shirin no Brasil.
4 comentários:
eis aí uma séria crise de valores.
Socialistas e aiatolás em muito se parecem...
Mais uma chamuscada na já queimada imagem do Brasil...
De fato, é lamentável que os direitos humanos e a dignidade humana não sejam cumpridas ou respeitadas. Entretanto me pergunto se usar dos direitos humanos para promover guerra também não é um modo lamentável de viver. Será que o Brasil é assim tão pacifico? Será que realmente somos os grandes guardiães do direito humano? Será que o direito humano é universal, ou um ocidental tem direitos maiores do que um oriental? Qual é o jogo que todos estão jogando? Essas são algumas questões que me ascendem e, talvez, acendem quando leio textos assim. Acho mesmo que estamos usando da defesa dos direitos humanos como uma mera desculpa, acho que o direito humano está se tornando a nova guerra santa. Será que porque há uma aproximação do Irã a democracia Brasileira estaria ameaçada, ou estamos com tanto medo desse hard power que os EUA vem usando no oriente ser transferido para a América e por isso devemos ficar o mais comportado possível para que isso não aconteça? Mas de todo modo parabéns pelo texto.
Felipe,
Não me cabe nenhum mérito, a não ser o esforço manual de transcrever.
Um é de um jornalista e blogueiro do Estadão, o outro é do editorialista (um dos) do mesmo jornal.
Concordo com ambos, mas não me cabe nenhum tipo de pronunciamento, como diplomata.
Paulo Roberto de Almeida
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