domingo, 6 de outubro de 2013

O PIB do Brasil e o PIB per capita dos brasileiros mais pobres: crescimento "chines" - Marcelo Neri

Tendo postado uma matéria de imprensa sobre artigo do presidente do IPEA e ministro interino da SAE-PR, Marcelo Neri, seguido de uma postagem crítica, e antecedido por um comentário mais crítico ainda, tomo conhecimento, agora, do artigo original, em sua íntegra (o que não conhecia, por falta de acesso).
Tenho o prazer de postá-lo agora, como contribuição a um debate relevante sobre as políticas públicas no Brasil, em especial as políticas sociais e redistributivas, das quais sou crítico (não quanto aos resultados, mas quanto aos meios).
Paulo Roberto de Almeida

Paradoxos e surpresas
Marcelo Neri
O Globo, em 04.10.2013

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) é a melhor janela que dispomos para observar os brasileiros em suas casas. A recém-lançada Pnad 2012 surpreendeu. A pobreza caiu 19,8%. Em pleno ano do pibinho, cerca de 3,5 milhões de brasileiros saltaram a linha de pobreza de R$ 150. Já descontada a inflação, o crescimento da renda por brasileiro foi 7,98%, maior que o do PIB per capita chinês (7,3%). Também em 2012, a renda da Pnad cresceu 8 pontos percentuais acima do PIB brasileiro.
A dissonância entre o observado e o esperado é gigantesca, mesmo para quem observou no fim de 2012 crescimento pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) 5 pontos percentuais acima do PIB, ou ainda os descompassos de crescimento Pnad-PIB de 14 pontos no período 2003 a 2011. O Brasil dos brasileiros em suas casas tem crescido mais que o Brasil dos economistas.
A desigualdade medida pelo índice de Gini passa de 0,527 para 0,526 de 2011 a 2012, após cair continuamente por 10 anos consecutivos. A aparente estabilidade da distribuição de renda no ano passado sob a ótica do Gini esconde melhorias dos extremos. O ganho de 14% entre os 5% mais ricos foi compensado por um ganho de 20,1% entre os 5% mais pobres. O crescimento observado na metade inferior da distribuição de renda, décimo a décimo, supera o crescimento da média. Ou seja, apesar da estabilidade do Gini, as mudanças distributivas foram particularmente favoráveis aos pobres e explicam metade da redução da extrema pobreza, dobrando o impacto do crescimento sobre a miséria. Isto é, a miséria cairia metade do que caiu se todos os brasileiros tivessem sua renda aumentada aos mesmos 8% da média geral da nação.
Mais um aparente paradoxo: apesar da estabilidade da taxa de analfabetismo, os dados mais gerais de média e desigualdade de escolaridade revelam em 2012 os melhores avanços em um único ano nas Pnads das duas últimas décadas. Se a manutenção da proporção de adultos com zero ano de estudo preocupa, por outro, o avanço na escolaridade de outros com pouca educação compensou o bastante, produzindo melhora educacional.
O ano em curso de 2013 também tem se revelado inusitado. Após um ano parado, o Gini da renda trabalhista volta a cair a partir de março de 2013 pela PME. Em junho, mês das manifestações, o PIB trimestral supera expectativas, crescendo 1,5%, que corresponde a uma taxa anualizada de 6%. Se não foi a estagnação do PIB ou da desigualdade, o que explicaria a virada dos humores ocorrida em junho último? A chave da resposta talvez esteja no desempenho trabalhista. O crescimento anual da renda do trabalho de 12 meses, desacele-rado de 5% para 3%, chegando a valores negativos na comparação de fevereiro com o ano anterior, é um possível candidato a causa econômica. As marcadas melhoras na média e na desigualdade de renda a partir de junho de 2013 antecipariam uma alta na felicidade geral da nação.
De maneira geral, 2012 foi um ano de surpresas pnadianas. A renda real por brasileiro cresceu 8% com uma estagnação do PIB pelas Contas Nacionais. Mesmo com a desigualdade medida pelo Gini parado, a mudança distributiva ocorrida duplicou a velocidade de superação da miséria. A média e a desigualdade de escolaridade, por sua vez, tiveram a maior melhora em décadas no mesmo ano em que o analfabetismo ficou parado. Como dizia o maestro Tom Jobim, entender o Brasil não é tarefa para amadores.


Marcelo Neri é ministro de Assuntos Estratégicos, presidente do Ipea e professor da EPGE/FGV

2 comentários:

  1. É incrível a capacidade deste senhor de chegar a conclusões absolutamente inócuas.
    "3,5 milhões saltaram da linha de pobreza de 150 reais" Eles saíram de 150 e foram para quando... 151?
    Comparar o percentual do aumento da renda com o aumento do PIB Chinês....enfim acho que só ele entende o que isso quer dizer. Ele não leva em conta o que de fato podemos comprar efetivamente com a nossa renda sem precisar ir buscar empréstimo!
    Falar em crescimento do emprego (PME) é querer enganar... o saldo anual vem decrescendo há mais de dois anos!
    Sobre o analfabetismo, acredito que não precisamos entrar no mérito dados os últimos resultados do PISA.
    Enfim, desde a época de professor da FGV quando ele "criou" a nova metodologia para definir a classe média, esse economista está mais para David Copperfield do que para um economista atento ao dia a dia da classe que ele ajudou a "criar".

    ResponderExcluir
  2. Vamos aos pontos do anonimo:
    1) O estudo do Ipea mostra que a ocorrencia da queda da pobreza vale para qualquer linha de pobreza ou medida de pobreza. Ela eh maior para a linha de pobreza 18,9% do que para linha de extrema pobreza 15,9%
    2) a renda pnad nao leva em conta acesso a credito como seria se o conceito fosse despesas de consumo; logo credito nao eh a explicacao
    3) a pesquisa mostra o aumento de renda per capita do trabalho que inclui a geracao de emprego e a queda da desigualdade desaceleraram este ano em particular pela geracao de empregos. O processo comeca a ser revertido a partir de junho de 2013.
    4) os referidos ldados do Pisa demonstram que o Brasil foi o 54o em 67 paises mas que foi um dos 5 paises que mais avancou nos ultimos 9 anos. Eh preciso separar a foto social do filme das mudancas..
    Vide estudo no fim de:
    http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=19998&catid=4&Itemid=2

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.