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sábado, 24 de maio de 2014

Piketty e a desigualdade distributiva: Financial Times diz que dados estao errados

Meus comentários iniciais a esta matéria do FT, abaixo transcrita, e que resumem um pouco o que penso a respeito das "teses" de Piketty.

Independentemente dos problemas de agregação de dados e de processamento da informação estatística presentes em seu livro, o que parece inevitável, dado o amplo espectro de valores e a grande dispersão cronológica com os quais Piketty trabalhou, o que mais parece contestável em sua tese principal é justamente o argumento histórico de que a riqueza tende a se acumular mais rapidamente do que o crescimento econômico geral das economias nacionais com as quais trabalhou (países desenvolvidos do Ocidente capitalista).
Não tenho dados ou condições metodológicas para contestar essa tese principal -- que em sua formulação sintética, r > g, tende a assumir ares de grande síntese genial, um pouco ao famoso estilo einsteiniano do e = mc2 -- mas ela me parece contradizer a lógica formal dos processos econômicos e a própria evolução civilizatória das sociedades humanas, cada vez mais educadas e mais sofisticadas intelectualmente, com amplo acesso à educação superior por amplas camadas de indivíduos e grupos sociais.
Não contesto o fato de que a renda, e sobretudo o patrimônio e a riqueza de forma geral, podem passar por processos temporários e parciais de acumulação preferencial e de concentração em certos grupos e indivíduos, provavelmente vinculados a atividades financeiras e comerciais (ou de serviços financeiros, como Piketty afirma), mas eu não transformaria isso numa nova "lei geral da acumulação capitalista no século XXI", como ele parece pretender. Assim como ocorreu com as teses de Marx, essa também vai ser provavelmente desmentida pela evolução histórica das sociedades capitalistas.
Mas sobretudo discordo da transposição de sua "tese" para o terreno das políticas econômicas, já uma operação economicamente discutível, no sentido de que a solução para a concentração de renda e riqueza, nas mãos de um fantasmagórico 1% de super ricos, é a imposição pelo Estado -- naturalmente de inclinações social-democráticas -- de uma taxa sobre o capital (este tem muitas formas) para sua posterior redistribuição ao resto da sociedade.
Ainda que isso fosse factível -- e não me parece ser -- não creio que melhoraria muito a situação dos 99% do "resto", e sobretudo atuaria numa direção ineficiente em si mesma, que é a ação sobre o estoque de riqueza acumulada (que logicamente diminuiria), em lugar de fazê-lo sobre os fluxos de criação de novas fontes e vetores de renda e de riqueza.
A melhor distribuição que os Estados podem fazer é a de educação, ponto, e deixar os indivíduos cuidarem eles mesmos de sua acumulação individual.
Foi assim que progrediram e avançaram as atuais sociedades capitalistas prósperas. Não vejo porque teria de ser diferente agora.
Qualquer outra solução estatal para a distribuição de riqueza me parece pertencer ao domínio das engenharias sociais, e a História já demonstrou quão negativas elas podem ser para os padrões civilizatórios.
Desenvolverei estes pontos.
Paulo Roberto de Almeida 

Financial Times’: contas de Piketty sobre desigualdade na distribuição de riqueza estão erradas

Transformado em “superstar” da economia após a publicação de seu estudo sobre o aumento da desigualdade, “Capital no século 21″, o economista francês Thomas Piketty está na berlinda. Uma reportagem do “Financial Times” aponta que a tese de 577 páginas de Piketty contém “uma série de erros que afeta suas descobertas”.
O “FT” afirma ter descoberto no trabalho do francês “erros e dados inexplicados em suas planilhas, similares às que enfraqueceram o trabalho sobre dívida pública e crescimento de Carmen Reinhart Kenneth e do ex-secretário de Tesouro americano Kenneth Rogoff”.
O argumento fundamental do livro de Piketty, que tem estado no topo das listas de best-sellers, é de que a imensa maioria da riqueza mundial está nas mãos de poucos e que desigualdade mundial voltou aos níveis encontrados antes da Primeira Guerra.
“O professor Piketty fornece fontes detalhadas para suas estimativas da desigualdade de riqueza na Europa e nos EUA nos últimos 200 anos. Em suas planilhas, no entanto, há erros de transcrição das fontes originais e fórmulas incorretas. Também parece que alguns dados foram escolhidos cuidadosamente ou construídos sem uma fonte original”, diz o “Financial Times”.
— Não tenho dúvidas de que minha série histórica de dados pode ser aprimorada e vai ser aprimorada no futuro… mas eu ficaria bastante surpreso de qualquer conclusão substantiva sobre a evolução no longo prazo da distribuição de riqueza fosse muito afetada por estes aprimoramentos — rebateu Piketty ao “FT”.

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Transcrição da matéria completa do FT, no original, com vídeo, neste link: 
http://www.ft.com/intl/cms/s/2/e1f343ca-e281-11e3-89fd-00144feabdc0.html?ftcamp=published_links%2Frss%2Fglobal-economy%2Ffeed%2F%2Fproduct#axzz32pMOSbYr

Piketty findings undercut by errors

Economist and author Thomas Piketty©Getty
Economist and author Thomas Piketty
Thomas Piketty’s book, ‘Capital in the Twenty-First Century’, has been the publishing sensation of the year. Its thesis of rising inequality tapped into the zeitgeist and electrified the post-financial crisis public policy debate.

Chris Giles outlines his issues with data in ‘Capital in the 21st Century’

Chris Giles
Some issues concern sourcing and definitional problems. Some numbers appear simply to be constructed out of thin air.
The data underpinning Professor Piketty’s 577-page tome, which has dominated best-seller lists in recent weeks, contain a series of errors that skew his findings. The FT found mistakes and unexplained entries in his spreadsheets, similar to those which last year undermined the work on public debt and growth ofCarmen Reinhart and Kenneth Rogoff.
The central theme of Prof Piketty’s work is that wealth inequalities are heading back up to levels last seen before the first world war. The investigation undercuts this claim, indicating there is little evidence in Prof Piketty’s original sources to bear out the thesis that an increasing share of total wealth is held by the richest few.
Prof Piketty, 43, provides detailed sourcing for his estimates of wealth inequality in Europe and the US over the past 200 years. In his spreadsheets, however, there are transcription errors from the original sources and incorrect formulas. It also appears that some of the data are cherry-picked or constructed without an original source.

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For example, once the FT cleaned up and simplified the data, the European numbers do not show any tendency towards rising wealth inequality after 1970. An independent specialist in measuring inequality shared the FT’s concerns.
Contacted by the FT, Prof Piketty said he had used “a very diverse and heterogeneous set of data sources ... [on which] one needs to make a number of adjustments to the raw data sources.
“I have no doubt that my historical data series can be improved and will be improved in the future ... but I would be very surprised if any of the substantive conclusion about the long-run evolution of wealth distributions was much affected by these improvements,” he said.
His contention to have found a “central contradiction of capitalism” has in recent months made him a hero of the left. Although his conclusions have stirred controversy, there has, until now, been near unanimous praise for the quality of his statistical work.
On a tour of the US last month, Prof Piketty met Jacob Lew, US Treasury secretary, gave a presentation to the White House Council of Economic Advisers and lectured at the International Monetary Fund and the UN.

Piketty response

Occupy Wall Street activists protest in Duarte Square after police removed the protesters early in the morning from Zuccotti Park
I am happy to see that FT journalists are using the excel files that I have put on line! I would very much appreciate if you could publish this response along with your piece.
Nobel Prize-winning economists have heaped praised on Mr Piketty’s work. Professor Paul Krugman of Princeton University, said it was safe to say the book “will be the most important economics book of the year – and maybe of the decade”.
Professor Joseph Stiglitz of Columbia University said Prof Piketty’s “fundamental contribution” was the provision of data on the distribution of wealth. It was the subject of laudatory reviews in the Financial Times and other publications.
In Britain, Ed Miliband, Labour leader, told the Evening Standard: “I’m in the early stages of the book. In a way, he is symptomatic of what people are actually feeling”.
In his response to the FT, Prof Piketty said that more recent data not in his work showed “the rise in top wealth shares in the US in recent decades has been even larger than what I show in my book”.

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