O que quer Vladimir Putin?
O maior objetivo do presidente da Rússia não é promover uma expansão imperialista, e sim fortalecer seu autoritarismo e esmagar a oposição interna
Nathalia Watkins, de Moscou, Veja, 16/05/2014
NACIONALISMO - Ensaio de desfile na Praça Vermelha, em Moscou: com Putin, as conquistas militares foram destacadas nos livros didáticos (Yuri Kozyrev/Noor)
Entre as muralhas vermelhas do Kremlin e lojas da Tiffany, Hermès e Louis Vuitton, milhares de russos aproveitam o calor da primavera para circular no coração da capital. Em uma das entradas da Praça Vermelha, visitantes formam fila para fazer pedidos, seguidos do lançamento de moedas sobre o marco zero de Moscou, o quadrado com um círculo no meio que fica no centro geográfico da cidade. Sem nenhuma cerimônia, um pedinte disputa os rublos no chão com uma mulher idosa. Sósias de Josef Stalin e Vladimir Lenin ficam ao redor na esperança de que os saudosistas paguem para tirar fotos com eles. Em poder de atração, nenhum deles é páreo para o sósia do presidente Vladimir Putin, o homem que desde março mantém o Ocidente em estado de tensão por ter anexado a Península da Crimeia à força e que agora empurra a Ucrânia para uma guerra civil de resultados imprevisíveis. “As pessoas se aproximam e me agradecem pela recuperação da Crimeia. Sou muito grato por ser parecido com o nosso presidente”, diz o sósia de Putin, que prefere não revelar o seu nome verdadeiro. Um clique ao seu lado custa 1 000 rublos, dinheiro suficiente para comprar onze sanduíches em uma loja do McDonald’s ali perto. “Todo mundo que me vê fica alegre e sorri. É assim comigo e com o nosso presidente. Os russos sabem que com ele tudo ficará bem, em ordem”, diz o Putin de mentira. Enquanto Lenin e Stalin labutam o dia todo, o requisitado Putin trabalha somente duas horas por dia e apenas em alguns dias da semana.
Putin, o sósia, fala em “recuperação” da Crimeia da mesma forma que Putin, o verdadeiro. A maioria dos russos pensa de maneira semelhante. Não se encontra quem aceite o termo “anexação” para explicar a tomada daquela região pela Rússia. Para eles, a península que então pertencia à Ucrânia sempre foi uma parte de seu país, salvo em um breve intervalo entre os anos de 1954 e 2014. Oito em cada dez russos estão de acordo sobre a tomada da Crimeia e aprovam a gestão do presidente. Suas palavras, seus raciocínios e seu discurso nacionalista, embora estranhos para ouvidos estrangeiros, têm soado como música clássica para os russos. Putin não tem a intenção de expandir as fronteiras da Rússia, como fizeram os czares e os comunistas soviéticos. A maior parte dos russos acha que a anexação da Crimeia foi um bem para os próprios anexados e que isso trará até prejuízos econômicos a Moscou. O presidente Putin explora muito bem o forte sentimento patriótico dos russos. O objetivo é prolongar seu poder pelo mais longo tempo possível — e apagar qualquer faísca mais forte da oposição interna.
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