O Supremo, a política prestes a cair de vez na clandestinidade mafiosa e a conversa mole dos ruminantes intelectuais
Reinaldo Azevedo, 17/11/2014
Falta
apenas um voto — o ministro Gilmar Mendes pediu vista — para que o
Supremo bata o martelo e jogue de vez o financiamento de campanha na
clandestinidade. Aí, sim, a política brasileira cairá de vez nas malhas
de uma verdadeira máfia. E isso será feito com o concurso de elegantes
senhores togados e com a colaboração dos estúpidos e dos vigaristas. A
que me refiro? A OAB entrou com uma ADI (Ação Direta de
Inconstitucionalidade) contra a doação de empresas privadas a campanhas
eleitorais. O verdadeiro patrocinador da causa, já demonstrei aqui em
meu blog, é Luís Roberto Barroso, que deveria ter tido o bom senso de
não votar. Mas votou mesmo assim. Não me espanta. Adiante! A tese
mentirosa, ridícula mesmo, é que a roubalheira que está em curso na
Petrobras, por exemplo, só existe porque as empresas fazem doações a
partidos e, depois, cobram a compensação. Assim, caso se as impeça, na
lei ao menos, de doar, então acaba a safadeza. Não sei qual será o voto
de Mendes, mas suponho que ele dirá “não” a essa besteira perigosa.
Quem
acredita nisso ou é um asno intelectual ou é um asno moral. Não há uma
terceira alternativa. Vocês sabem quanto custou, em valores declarados,
só a campanha dos 513 deputados que foram eleitos ou reeleitos? R$ 733
milhões. A dos 27 senadores, outros R$ 124 milhões. Essa conta não
inclui os gastos dos que foram malsucedidos. Estimativas de setembro do
TSE apontavam que as campanhas majoritárias — Presidência, governos de
Estado e Senado — chegariam a R$ 4,4 bilhões. Acrescentando-se a esse
total o gasto dos deputados eleitos, já chegamos a R$ 5,133 bilhões.
Atenção! Eu afirmo e dou fé: os candidatos costumam, não todos, claro!,
gastar muito mais do que declaram. Querem saber? Uma campanha eleitoral,
no conjunto, roça os R$ 10 bilhões.
De onde
vai sair esse dinheiro? De doações de pessoas físicas? É piada! Dos
cofres públicos? A cada quatro anos, vai-se abrir um rombo no Tesouro de
R$ 10 bilhões? Daí a dois anos, vêm as eleições municipais: mais
quantos bilhões? Aí cabe a pergunta evidente: as campanhas eleitorais
ficarão mais baratas? Até poderia: seria preciso, entre outras coisas,
acabar com essa excrescência que é o horário eleitoral gratuito — e,
assim, se aposentariam os cineastas do gênero “campanha” — e instituir o
voto distrital puro. Como nada disso vai acontecer, os custos
continuarão na estratosfera, e não haverá doações privadas ou
financiamento público que consigam dar conta dos gastos.
Sabem a
quem os políticos vão apelar? Às empresas, sim, senhores! Só que, a
prevalecer a decisão do Supremo, toda doação que fizerem será
clandestina. No dia em que empreiteiras não puderem mais fazer doações
legais a partidos, não haverá mais gente como Paulo Roberto Costa,
Renato Duque ou Nestor Cerveró na Petrobras e em outras estatais? No dia
em que as empresas não puderem mais fazer doações, os partidos
políticos deixarão de indicar diretores de estatais e de autarquias? No
dia em que as empresas não puderem mais fazer doações, não mais
existirão, a transitar nas sombras, figuras como João Vaccari Neto, o
tesoureiro do PT?
Ao
contrário: aí, sim, é que a roubalheira vai correr solta como nunca
antes na história “destepaiz”. Se, hoje, jornalistas podem se divertir
tentando saber quanto esta ou aquela empreiteiras doaram e quanto
pagaram ao esquema, essa conta não mais existirá. Para todos os efeitos,
a coluna da doação será “zero”. Ah, estou doido para ver o custo das
campanhas cair a um terço, com todo mundo fingindo que acredita. Para
que isso fosse verdade, seria preciso que João Santana, por exemplo,
também aceitasse ganhar… um terço!
Que o
jornalismo e o colunismo a soldo sustentem essa estupidez, vá lá.
Afinal, ganham para isso. Que a presidente Dilma tenha repetido a tolice
de que a mãe da safadeza é o financiamento privado de campanha, vá lá,
ela está, afinal de contas, tentando tirar o seu mandato da reta. Que
gente com um mínimo de discernimento embarque nessa falácia, bem, nesse
caso, dizer o quê? Sugerir que estude um pouco de lógica elementar. E
que mude a dieta alimentar… Humanos não produzem a enzima celulase e não
ficam mais inteligentes comendo capim.
17/11/2014
Editora Abril
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