Como não haverá posse, no sentido formal do termo, mas como sempre registro fatos e eventos importantes, não pela sua dimensão estritamente profissional, ou burocrática, mas no sentido intelectual da palavra, transcrevo abaixo desta imagem do Diário Oficial da União, seção 2, n. 148, data de quarta-feira, 3 de agosto de 2016, p. 2, um texto que elaborei para a ocasião, que eu já vinha redigindo há mais tempo, com base na leitura das memórias de Chateaubriand, que retirei da biblioteca do Itamaraty no mês passado.
Não que eu me compare ao grande escritor de Saint-Malo, mas é que eu gosto de vidas aventureiras e aventurosas, sobretudo no plano intelectual.
O que eu poderia dizer, mas que não vou dizer? O que está registrado abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Considerações sobre o caráter efêmero das memórias, e
das funções públicas (inspiradas em Chateaubriand)
Paulo Roberto de Almeida
Andei lendo, no período
recente, uma seleção de trechos das “Memórias de Além-Túmulo” de François-René
Auguste de Chateaubriand, numa compilação feita por Georges Readers,
antigo diretor do Lycée Franco-Brésilien de São Paulo, já autor de um livro saboroso
sobre Gobineau, O Inimigo Cordial do
Brasil. No Avant-Propos dessa compilação,
Les Plus Belles Pages des ‘Mémoires
d’Outre Tombe’ (Rio de Janeiro: Americ=Edit., 1945), Georges Readers relembra
que Chateaubriand, Chevalier de France, mais tarde Visconde, havia começado a
redação de suas memórias entre 1803 e 1809, mas que ele a interrompeu em 1814,
quando ingressou na vida política, sob a Restauração. Ele retomou sua escrita
entre 1821 e 1822, durante o lazer que lhe proporcionavam as embaixadas em
Berlim e em Londres, mas outras partes foram escritas bem mais tarde, abordando
as carreiras literária e política, além de suas viagens pela Europa, já mais
perto do final esperado de sua vida, nos anos 1840 (p. 7).
Chateaubriand, em um
trecho de suas memórias, disse mais ou menos o que eu mesmo poderia dizer, se
por acaso tivesse o seu estilo, a sua pompa, suas pretensões à glória e à
imortalidade, ou se me sentisse, como ele, perto de um projetado túmulo:
“J’écris principalement pour
rendre compte de moi-même... Aujourd’hui que je regrette encore mes chimères
sans les poursuivre, que parvenu au sommet de la vie je descends vers la tombe,
je veux avant de mourir remonter mes belles années, expliquer mon inexplicable cœur...”
François-Auguste de Chateaubriand, Mémoires
d’Outre Tombe.
En 1846, dois anos antes
de sua morte, Chateaubriand submeteu suas memórias, o trabalho de toda uma
vida, a uma última revisão, mas como lhe faltavam recursos, ele concedeu
entregar os originais a editores para aliviar suas agruras financeiras. Como
ele mesmo escreveu, ele “hipotecou sua tumba” a uma sociedade de acionistas por
uma soma de 250 mil francos, e uma ‘pension viagère’ (ou seja válida até sua
morte) de 20 mil francos anuais (p. 8, p. 43). De minha parte, não tive ainda necessidade,
graças a meu trabalho paralelo de professor, de hipotecar qualquer escrito vivo
ou póstumo, não só porque não escrevi, até o momento, minhas memórias, apenas
depoimentos esparsos, mas também porque nenhuma sociedade de acionistas se
disporia a comprar alguns dos meus escritos, pelo estilo pesado que é o meu,
falando de coisas totalmente aborrecidas.
Chateaubriand passou boa
parte do regime do Terror, sob o Diretório, refugiado em Londres, onde ele
começou, em 1796, a redigir um “Ensaio sobre as revoluções”, publicado no ano
seguinte sob o título de Essai historique, politique et moral sur les Révolutions
anciennes et modernes, considérées dans leurs rapports avec la Révolution
Française, livro que dedicou “a
todos os partidos” que dividiam então a França (p. 11).
Em 1799, Napoleão, então
“primeiro cônsul” da França, retirou-o da lista dos emigrados impedidos de
voltar, os banidos, e Chateaubriand retorna à França. Três anos depois,
Napoleão se torna “cônsul eterno”, nomeando Chateaubriand Secretário de
Embaixada em Roma, mas, um ano depois, como reação ao assassinato do Duque de
Enghien, sequestrado a mando de Napoleão no exterior, Chateaubriand renuncia ao
seu posto, mediante uma carta de demissão enviada diretamente ao primeiro
cônsul.
Em 1804, Napoleão se
autodesigna imperador hereditário dos franceses, título ao qual ele agregou o de
rei da Itália. Chateaubriand viaja novamente ao exterior, notadamente à Terra
Santa, e publica livros, além de reedições de suas primeiras obras. Em seu
retorno à França, em 1807, o exército de Napoleão invade Portugal e provoca a
fuga da família real para o Brasil. Pouco tempo depois, Chateaubriand começa a
redigir as suas memórias; eleito para a Academia Francesa em 1811, não lhe dão posse
no entanto. Quando Napoleão é derrotado pela primeira vez, por uma coalizão de
exércitos europeus em 1814, Chateaubriand publica De Buonaparte et des Bourbons. Luis XVIII entra triunfalmente em
Paris, e nomeia Chateaubriand embaixador na Suécia, mas ele não assume o posto,
devido à saída do rei de Paris, no seguimento da fuga de Napoleão da ilha de
Elba, ao mesmo tempo em que o Congresso de Viena iniciava seus trabalhos.
Depois de ser nomeado
embaixador em Berlim (em 1820) e em Londres (1822), Chateaubriand é designado
ministro plenipotenciário no Congresso de Verona, no qual desempenha um papel
importante, quando se decide restabelecer no trono da Espanha o absolutista Fernando
VII, contra a vontade dos espanhóis, revoltados em face de uma nova intervenção
armada estrangeira. No final de 1822, Chateaubriand se torna ministro dos
negócios estrangeiros, mas por pouco tempo, pois já em 1824 ele cai novamente em
desgraça, assumindo uma posição liberal. Ele passa quatro anos escrevendo
livros e publicando suas obras, antes de ser nomeado embaixador em Roma, em
1828. No ano seguinte, no entanto, descontente com o ministério Polignac, as
querelas sobre o ensino e o restabelecimento da censura à imprensa na França,
ele se demite de seu posto. Em 1830, defensor da legitimidade dinástica, ele se
demite igualmente da Chambre des Pairs, protestando contra a revolução de 1830
e a posse de Louis-Philippe d’Orleans como novo rei. Condenado por complô
contra o Estado em 1832, ele consegue a anulação da sentença e retorna à
França, se instalando em Paris, voltando a escrever livros que confrontam o
novo regime. Em 1836, ele vende suas memórias a uma sociedade comercial, sob
promessa de que elas só seriam publicadas após sua morte. Em 1848, logo após a
revolução de fevereiro e a queda de Luis Felipe, as Mémoires d’Outre Tombe começam a ser publicadas sob a forma de folhetim no
jornal La Presse. Chateaubriand morre
em 4 de julho, aos 80 anos, em Paris, unanimemente reconhecido como um dos
maiores escritores da língua francesa em todos os tempos.
De minha parte, nunca
tive qualquer pretensão de ser um novo Chateaubriand, certamente não pela
política, e menos ainda pela literatura, a despeito de que, como ele, eu sempre
me coloquei contra as tendências do momento, ao afirmar minhas opiniões e
argumentos, mesmo quando eles podem provocar desconfortos ocasionais, ou até
perda de posições possíveis na corporação que é a minha. Como ele, também
enfrentei meus exílios, aliás dois: minha formação superior foi toda feita em
francês, ainda que eu não tenha conhecido, como Chateaubriand, un séjour
instructif dans un pays de langue anglaise, o que teria certamente ajudado a melhorar meu inglês,
que, até hoje, permanece um tanto quanto déplorable.
Mas como Chateaubriand, eu
me dediquei, ferozmente, às artes da escrita, não nos diversos gêneros literários
que ele cultivou, sem exibir, em qualquer momento, sua crença romântica em algum “gênio
do Cristianismo”, mas voltado unicamente aos temas da política, da economia e da
sociologia. À diferença dele, entretanto, nunca pretendi vangloriar-me da
beleza do meu estilo, que é terrivelmente pedante, em vez da elegância empolada
das frases de Chateaubriand. Paul Hazard, da Academia Francesa, que introduziu
a compilação das mais belas páginas das Memórias
de Além Túmulo, não hesita em dizer que o escritor confundia,
frequentemente, “verité avec beauté”
(p. 32).
Como sabem os que acompanham minha atividade de escrevinhador,
passei os quase três lustros do regime dos companheiros numa situação de ostracismo
absoluto, sem qualquer cargo na Secretaria de Estado, ganhando aproximadamente o
que ganhava um Secretario (já que sem qualquer “ajutório”), e fazendo da
Biblioteca meu escritório de preferência, de fato compulsório. Foi, digamos
assim, o meu segundo exílio, mas que durou o dobro do primeiro, que tinha sido
de “apenas” sete anos e meio, passado na Europa, durante a fase mais dura do
regime militar. Ao contrário de
Chateaubriand, no entanto, eu não precisei hipotecar a
minha tumba para sobreviver. Aliás, eu nem teria memórias para vender ou
hipotecar; a quase totalidade do que escrevo é gratuitamente colocada à disposição
dos interessados através de meu site pralmeida.org (atualmente em fase de reconstrução)
ou por meio do blog Diplomatizzando. Para compensar o prejuízo salarial
derivado da falta de alguma função na SERE, eu me exerci como professor, o que aliás
eu sempre fiz, com grande prazer e muita satisfação intelectual.
Em todo caso, foram 13 anos e meio de travessia do
deserto, durante os quais aproveitei para ler muito mais do que eu teria feito
se inserido na máquina burocrática da diplomacia profissional durante os anos
de dominação companheira sobre a política externa. Tal situação de ostracismo me
poupou, aliás, do desprazer de ter de defender causas enviesadas e iniciativas
míopes, ou ter de representar um governo totalmente inepto, notoriamente corrupto,
literalmente podre, ao nível do patrimonialismo de tipo gangster, como
infelizmente só descobrimos bem tarde. Aproveitei esse tempo de lazer
totalmente involuntário para escrever vários livros e muitos artigos, assim
como para reforçar o que eu chamei de meu “quilombo de resistência intelectual”,
que é o blog Diplomatizzando, mesmo se
muitos da Casa não gostem e achem que eu exagerei ou que ataquei demais a
política externa dos companheiros, essa diplomacia partidária, medíocre,
falsamente altiva e mentirosamente soberana, de fato, submissa a ditaduras.
Num dos muitos tournants
de uma carreira diplomática razoavelmente feliz, na qual pude desempenhar
funções profissionais, ou funcionais, durante muitos anos, temporariamente interrompidos
por circunstâncias alheias à minha vontade, e combinar essas atividades com
lides acadêmicas igualmente gratificantes, exclusivas no período recente,
retomo agora o curso normal de atividades corporativas. Desde meu quilombo de
resistência intelectual a desvios em algumas das políticas públicas que
constituem o foco principal de meus estudos, reflexões e escritos, pude
perceber, algumas semanas atrás, traços de terra na beira do oceano, vestígios
de vegetação e de habitat humano ao final do deserto. Ao assumir o
IPRI, espero poder oferecer à Casa algum retorno pelos bons momentos que
desfrutei no serviço exterior, antes da chegada dos companheiros.
Tenho alguns, poucos, bons hábitos, e muitos outros maus,
um dos quais, talvez péssimo, que é o de nunca pedir nada a ninguém, sequer audiências
à administração, para cuidar, ou pedir, por exemplo, cargos ou funções,
promoção, postos; nada, quase jamais. Sempre considerei que a Casa contasse com
burocratas conscienciosos, que saberiam desempenhar suas avaliações de
desempenho em total independência, sem interferências políticas externas e sem
a influência nefasta dos chamados “pistolões” e sem o famoso “quem indica”.
Durante todos esses anos, apenas tratei de fazer o meu trabalho, geralmente de maneira
silenciosa, embora por vezes estridente, mas bem mais pela pluma do que pela
voz. Posso contudo orgulhar-me de uma característica, talvez essencial em meu
itinerário profissional, para o bem e para o mal: jamais deixei o meu cérebro
em casa, quando saia para trabalhar, e nunca o depositei na portaria, quando ingressava
no trabalho. Existem riscos nesses hábitos, porém, como se tornou evidente.
Aqui chegamos, enfim, e depois de anos e anos – na
verdade os treze anos e meio da gestão lulopetista, quando fiz da Biblioteca,
quase todos os dias, meu escritório de trabalho –, volto a exercer uma função
na instituição diplomática, ainda que não de natureza executiva, simplesmente
acadêmica, talvez decorativa, como disse certa vez o vice-presidente, hoje
guindado à presidência interina. O cargo assumido não é porém isento de riscos,
pois um antigo diretor foi ingloriosamente defenestrado, como se sabe, em pleno
ancien régime “tucanês”. Achei
francamente exagerada, e muito autoritária, aquela decisão, contra quem, aliás,
não exercia nenhuma função executiva, certamente não relevante do ponto de
vista das principais definições de política externa, no caso, na política
comercial envolvida na questão das negociações em torno do projeto americano
para um acordo de livre comércio hemisférico.
Na ocasião eu solidarizei imediatamente, com o
defenestrado, para ser por ele reciprocado poucos meses depois ao ser, por
minha vez, sancionado pela mesma administração por ter concedido uma entrevista
sem a devida autorização prévia, que na época respondia à indecorosa circular
da censura prévia, apropriadamente conhecida como “lei da mordaça”. Minha
entrevista, ao contrário das tomadas de posição do ex-diretor do IPRI, se
conformava inteiramente à política oficial do Itamaraty, mas ainda assim a
administração resolveu me sancionar, sob a justificativa dúbia de que, tendo
“punido um”, não poderia “deixar de punir outro”. Essa é a lógica da Inquisição,
se me permitem a comparação totalmente indevida, nos efeitos práticos, mas
creio que similar em espírito, senão em intenção intimidante ou dissuasiva.
A despeito de minha solidariedade com o primeiro
punido pela “lei da mordaça” – que, ao sê-lo, converteu-se imediatamente num
dos mártires da causa justiceira, e como tal manipulada pelos propagandistas do
partido companheiro – tive a frustrante surpresa de ser vetado, um ano depois (já
no início de 2003), para um cargo no Instituto Rio Branco, de coordenar o
programa de mestrado, do qual eu já era professor orientador, desde 2001, programa
que só funcionou durante dez anos apenas. O veto ocorreu quando o mesmo ex-diretor
do IPRI, convertido em uma espécie de porta-voz das causas petistas em matéria
de política externa, justamente em virtude de sua ejeção pelos “neoliberais”,
foi guindado (depois de uma mudança nas regras em vigor) ao cargo real de
“oficial-maior” e virtual de ideólogo-mor da diplomacia lulopetista. Essa
diplomacia estranha e exótica, complacente com as ditaduras e desdenhosa das
grandes “potências hegemônicas”, se encontra hoje felizmente desativada, mas
provavelmente não de todo; como os irredutíveis gauleses, ela resiste, encore et toujours, nos corações e
mentes dos gramscianos de academia. De fato, a julgar pelos manifestos
divulgados recentemente por quase todas as entidades acadêmicas a propósito de
um “golpe” em curso no Brasil, acredito que o lulopetismo diplomático ainda esteja
plenamente ativo e altivo no plano das mentalidades gramscianas.
Fui vetado muitas outras vezes, ao longo do longo
período lulopetista, pois nunca deixei de exercer meu direito de expressar
minha opinião sobre as loucuras cometidas nestes anos bizarros, tempos de
diplomacia não convencional e de exaltação exagerada da figura do “nosso Guia”.
Não tenho porque esconder nada neste momento que poderia ser classificado de um
“renascimento profissional”; todo o meu itinerário pessoal a longo desses anos,
que eu chamei de um segundo exílio, apenas sobrevivendo no plano intelectual, encontra-se
perfeitamente documentado em minhas listas de trabalhos, tanto as de originais
quanto os publicados, disponíveis no meu site. Aliás, em apêndice a este texto,
vou listar os trabalhos mais contundentes a esse respeito.
Não tenho ainda um programa de trabalho, meu, para o IPRI,
mas existe um, já aprovado oficialmente, para secundar a diplomacia do governo,
atuando como um canal de interação com a comunidade acadêmica. Vou pensar em agregar
algumas outras coisas, talvez um pouco diferentes do programa que é desenvolvido
oficialmente, ou dos debates que ocorrem normalmente na academia, apenas com
certo comedimento, provavelmente. A razão da cautela é que, paradoxalmente, o
ambiente universitário não parece ser um exemplo de isenção e de equilíbrio, se
justamente medirmos os ânimos por todos esses manifestos divulgados nos últimos
tempos, em “defesa da democracia”, contra o “golpe”, e outras bobagens do
gênero. Vou tentar fazer algo em defesa dos valores e dos princípios da
diplomacia brasileira, tão lamentavelmente conspurcados, ambos, sob o regime
inacreditável dos companheiros. Digo inacreditável porque ainda não descobrimos
ou desvelamos todas as patifarias cometidas ao longo desses anos, talvez mesmo
no âmbito da política externa (não da diplomacia, cabe bem distinguir). Existe,
certamente, muita coisa a ser feita, num país que passou mais de uma década num
regime de mentiras constantes, propaganda fantasiosa, para nada falar dos
crimes – econômicos, políticos, comuns – praticados ao longo desses anos bizarros.
Não precisa ser uma repetição de projetos já feitos
anteriormente, mas pode-se pensar na continuidade do que foi feito em 2013, na
obra em 3 volumes Pensamento Diplomático
Brasileiro, 1750-1964 (disponível no site da Funag), que resultou de um
projeto original meu (embora não exatamente da forma em que foi desenvolvido).
Nessa obra assinei um primeiro capítulo, metodológico, e um outro sobre Oswaldo
Aranha, feito a partir de um texto do embaixador João Hermes Pereira de Araújo,
recentemente falecido. Começo agora a desenhar a continuidade cronológica desse
projeto, cujos contornos exatos não estão ainda perfeitamente definidos. Mas já
elaborei um projeto sobre os valores e princípios da diplomacia brasileira, que
pode resultar num trabalho de reflexão sobre o que fizemos, na República, em
matéria de formulação e de execução da diplomacia governamental, por meio das ações
e escritos de alguns dos profissionais e intelectuais que se desempenharam nesta
arena. Divulgarei quando possível.
Neste momento, cabe uma palavra final aos que não
esmoreceram na defesa de um serviço profissional, em condições por vezes
adversas de manutenção dos princípios permanentes da política externa
brasileira, e que lutaram pela preservação dos valores da carreira diplomática,
por parte deste colega que, por acaso, é também acadêmico, e que sempre levou
um duplo combate, nas duas frentes, em prol de valores tão simples como a ideia
de honestidade intelectual, ademais do princípio do interesse nacional. A minha
palavra é apenas esta: vale perseverar...
Talvez eu possa terminar com uma frase atribuída a
Talleyrand, contemporâneo quase exato de Chateaubriand: Quand je me regarde, je me désole. Quand
je me compare, je me console… Mas o próprio Chateaubriand
fez uma avaliação final de sua vida, nas páginas finais das Mémoires d’Outre Tombe:
Ainsi la vie
publique et privée m’a été connue. Quatre fois j’ai traversé les mers ; (…) Pauvre et riche, puissant et faible, heureux
et misérable, homme d’action, homme de pensée, j’ai mis ma main dans le siècle,
mon intelligence au désert ; l’existence effective s’est montrée à moi au
milieu des illusions, de même que la terre apparaît aux matelots parmi les nuages.
Si ces faits répandus sur mes songes, comme le vernis qui préserve des peintures
fragiles, ne disparaissent pas, ils indiqueront le lieu où est passé ma vie.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de junho e 7 de julho; São Paulo, 21 de julho de 2016.
Apêndice sobre fontes e leituras adicionais:
As obras de Chateaubriand encontram-se disponíveis na seguinte
Wikisource, embora eu tenha retirado excelentes edições na biblioteca do
Itamaraty, como esta informada ao início deste texto:
Georges Readers
(org.), Les Plus Belles Pages des
‘Mémoires d’Outre Tombe’ (Rio de Janeiro: Americ=Edit., 1945)
Almeida, Paulo Roberto
de, trabalhos sobre a política externa e a diplomacia lulopetista (em ordem
cronológica inversa de elaboração):
3004. “Crônica
final de um limbo imaginário?”, Brasília,
1 julho 2016, 2 p. Reflexões sobre o encerramento de uma etapa e o início de
outra. Divulgado no blog Diplomatizzando
(link: (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/07/cronica-final-de-um-limbo-imaginario.html).
2991. “Uma seleção de
trabalhos sobre a política externa brasileira na era Lula: Paulo Roberto de
Almeida, 2002-2016”, Brasília, 6 junho 2016, 13 p. Listagem seletiva, na ordem
cronológica inversa, dos trabalhos mais importantes, inéditos e publicados,
produzidos no período em apreço em temas da diplomacia e do sistema político
brasileiro. Disponível no blog Diplomatizzando
(http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/06/a-politica-externa-brasileira-na-era.html) e na plataforma Academia.edu (link: http://www.academia.edu/26393585/Trabalhos_PRA_sobre_a_politica_externa_brasileira_na_era_Lula_2002-2016_ (versão revista e atualizada); http://www.academia.edu/25901782/Trabalhos_PRA_sobre_a_politica_externa_brasileira_na_era_Lula_2002-2016_).
2983. “O
renascimento da política externa”, Brasília, 25 maio 2016, 14 p. Publicado na
revista Interesse Nacional (ano 9, n.
34, julho-setembro de 2016, link: http://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/o-renascimento-dapolitica-externa/).
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