Valores e princípios por ocasião de um aniversário
Paulo Roberto de Almeida
[a propósito de
meu natalício: 19 de novembro; em 19/11/2016]
Na impossibilidade de administrar
na devida forma todas as mensagens que recebi, pelos canais de comunicação social,
em suas diversas formas, ou pela via direta de telefonemas, assim como
pessoalmente, a propósito de meu aniversário, neste dia da Bandeira – ela vem
antes, e o seu dia também veio antes do meu nascimento, assim que tem a
precedência, embora já não vejo festividades comemorativas, o que ainda era muito
comum nas escolas de minha infância –, enfim, assaltado como venho sendo por
“plim-plims” a cada minuto, desisti, como vinha fazendo, aliás desde a
madrugada, de responder a cada um individualmente, por vezes com as mesmas,
rápidas e repetidas palavras, e resolvi escrever uma mensagem geral de
reconhecimento, de agradecimento, de simpatia por todas as manifestações
sinceras de amizade e de carinho que estão alongando as listas de e-mails e
mensagens em meus diversos aparelhos. Ainda não contei, mas parei de agradecer
pessoal e individualmente nas duas dezenas, tanto que dormi no meio da noite,
depois de ter escrito mais um texto daqueles que surgem “espontaneamente”.
Este é menos espontâneo,
e vem motivado justamente pelo imenso volume de mensagens recebidas, e que
demandariam praticamente um dia inteiro para responder da forma como gostaria.
O que vai abaixo, portanto, é uma espécie de declaração de princípios e
valores, feitos ao sabor do teclado, sem preparação e sem reflexão, apenas
juntando os elementos que acredito essenciais numa vida dedicada à leitura, à
reflexão, ao ensino, enfim, ao conhecimento e à inteligência. Ele passa por uma
mensagem unilateral e erga omnes, a todos os que se dedicaram a me escrever
neste dia.
Amor: a Carmen Lícia, e a toda a minha família,
que ainda vai crescer;
Atitude
geral: ceticismo sadio;
Paixão: pelos livros, em todas as suas formas, de
quaisquer idades, tempo e lugar;
Comportamento: contrarianista tranquilo;
Educação: de preferência autodidata, nas leituras,
nas viagens, na observação do mundo, tal como ele é, nas experiências da vida,
mais do que nas instituições regulares;
Dedicação: ao ensino, à transmissão do conhecimento,
pois é uma forma de aprender;
Ideologia: a da racionalidade, que também pode ser
uma mania ilusória;
Religião: nenhuma em especial, ou nenhuma tout court, ou seja, irreligiosidade
total e absoluta, mas profundo respeito pelas religiões (não todas, como podem
ser essas “teologias da prosperidade” ou aquelas muito intolerantes), pois elas
estão e estarão conosco por toda a existência humana, quer gostemos ou não;
Vocação: não muito bem definida: entre aprender,
ensinar, propor, enfim, aquela mania que tem todo letrado pretensioso de ser
conselheiro do príncipe, sem desejar sê-lo verdadeiramente, pois sabe que
príncipes não seguem os pretensos conselheiros;
Projeto
de vida: colaborar nesse
vasto empreendimento reformista para deixar o Brasil um pouquinho melhor,
quando eu o deixar (ou quando ele me deixar), do que o país que eu encontrei,
quando tomei consciência, na minha primeira adolescência, da porcaria que era
em termos sociais, humanos, educacionais e políticos;
Aspiração: que toda criança pobre, ou da
modestíssima condição social como era a da minha família, em minha infância,
pudesse ter, atualmente, uma educação pública comparável em qualidade à de que
eu desfrutei, em décadas passadas, e que me habilitaram, justamente, com a
biblioteca infantil que frequentei desde antes de aprender a ler, a adquirir as
alavancas necessárias para ascender na escala social, apenas pela dedicação ao
estudo, pelo conhecimento acumulado, pelo saber adquirido autodidaticamente, pelo
esforço próprio, enfim;
Alergia: à burrice, não à ignorância dos que não
tiveram chance de aprender, mas à obtusidade daqueles que tendo chance de o
fazer, preferiram ficar na escuridão;
Aversão: à estupidez de certos letrados, por
fundamentalismo, ideologia, oportunismo ou qualquer outro motivo não legítimo;
Objetos
de desejo: livros,
sobretudo aqueles antigos, não mais disponíveis em livrarias, e difíceis de
encontrar em bibliotecas medíocres como são as nossas;
Mania: de ler o tempo todo, em qualquer
circunstância, em qualquer lugar (menos no banho pois já fizeram livros
digitais mas ainda não impermeáveis, a não ser os de bebês), mania que pode
irritar quem me dirige a palavra nos momentos de concentração, e quando eu
respondo “sim, sim...”;
Escola
econômica: aquela que
apresenta os melhores resultados práticos, com pouca, ou até nenhuma teoria; já
passou da hora de aderir a este ou aquele guru das “melhores receitas
econômicas”, e se contentar com a modesta racionalidade dos procedimentos
testados e aferidos como efetivos; eles geralmente passam mais pelos mercados
livres do que pela regulação estatal (mas reconheço que parece impossível
desembaraçar-se desses ogros famélicos que nos dominam;
Filosofia
política: a da maior
liberdade individual, o que não chega a ser uma filosofia política, mas é um
princípio de vida a que se chega depois de se conhecer todas as construções
humanas que pretenderam organizar a vida em sociedade;
Política
prática: nunca fazer parte
de nenhum partido, nunca adentrar na política com ares de salvador da pátria,
mas observar e estudar a todos meticulosamente, pois dependemos todos, quer
queiramos ou não, da atividade daqueles que se dirigem à política por vocação,
por interesse pessoal, por oportunismo, ou por qualquer outro motivo não
confessado;
Time
de futebol: nenhum,
absolutamente nenhum; apenas apreciando alguns jogos;
Lei: a do maior esforço, ou seja, nunca se
contentar com as explicações simplistas, mas sempre questionar o fundamento de
qualquer afirmação ou argumento que lhe apresentarem;
Responsabilidade: totalmente individual, ou seja, nunca
atribuir à sociedade, ao Estado, ou até à família, aquelas bobagens que
cometemos, que são cometidas por seres totalmente adultos e absolutamente
responsáveis pelos seus atos;
Desafio
constante: procurar
defender o que se acha certo, aquilo de que se tem certeza de ser o melhor, mesmo
em detrimento da conveniência pessoal, ou de interesses momentâneos;
Princípio,
valor e finalidade de vida:
sempre aprender, sempre procurar transmitir o que se sabe (as vezes até o que não
se sabe exatamente também, mas que se desconfia que pode ser útil), sempre
fazer o melhor dentro das possibilidade de cada um, nos limites da capacidade
individual;
Finalizando: procurar fazer tudo o que me dá prazer
intelectual...
Addendum: ficaram faltando alguns elementos
indispensáveis na vida mundana:
Dinheiro: justo o necessário para comprar livros,
viajar, frequentar restaurantes italianos de
par le monde; o resto é mesada para pequenas despesas...;
Bebida: sem maiores vícios: taças de vinho nas
refeições, cervejinha nas horas vagas;
Outros
vícios?: quase nenhum: não
jogo, não fumo, não faço apostas, não assino correntes em favor ou contra
qualquer coisa, inclusive em prol de distribuição gratuita de livros; basta-me
uma velha mania...
Termino por um novo
agradecimento a todos os que me escreveram.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2016
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