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sábado, 5 de novembro de 2016

Os mandarins da republica que estao destruindo a Republica, e a Nacao - Reinaldo Azevedo

Há muito tempo que eu digo que o Brasil é um país fascista, ou, ao menos, dominado por corporações privatizantes do Estado (das quais eu não excluo o Serviço Exterior).
São essas corporações, na sua sanha extrativa (dos recursos da coletividade) que estão afundando os orçamentos públicos, e com isso inviabilizando qualquer gestão racional desses escassos recursos (por definição) e obstando ao crescimento da prosperidade geral dos cidadãos (ou seriam eles apenas súditos de um Estado extrator?).
Fizemos progressos, é verdade. Desde os tempos em que Raymundo Faoro (um fundador equivocado do PT, mas que teria certamente assinado o pedido de impeachment de Madame Pasadena, com Hélio Bicudo, outro fundador do partido degenerado), desde os tempos em que esse jurista proclamava que um dos males do Brasil era a preservação do velho patrimonialismo português, as corporações (políticos e burocratas) fizeram progressos na construção de um patrimonialismo weberiano, ou seja, aparentemente moderno, modernoso e moderninho (a partir da era Vargas e sob o regime militar), mas no fundo preservando as oligarquias, os donos do poder, os coroneis atualizados, os manda-chuvas de sempre.
Continuamos a fazer progressos, vejam vocês, especialmente a partir de 2003, quando o velho patrimonialismo português insepulto, e o novo patrimonialismo corporativo da era varguista se transformaram, por obra e graça do nosso peronismo de botequim, num patrimonialismo de tipo gangsterista, perfeitamente mafioso no fundo e na forma.
Lewandowski é exatamente o representante desse patrimonialismo gangsterista dentro da corporação dos magistrados, aqueles mesmos magistrado que representam, para Faoro, o cerne do patrimonialismo tradicional.
Estou quase aderindo à teoria circular de Arnold Toynbee para explicar como é que nós demos tantas voltas para chegar no mesmo lugar, ou pior...
Paulo Roberto de Almeida

Aí não dá, Lewandowski! Falta decoro! Falta pudor!
Reinaldo Azevedo,  04/11/2016
Ministro do Supremo resolve se comportar como líder da CUT em encontro de magistrados. É o fim da picada!

Se alguém me perguntar o que mais me irrita na vida pública brasileira além da roubalheira, da incompetência, da desídia — essas coisas que irritam toda gente —, a minha resposta será esta: a falta de decoro. As autoridades brasileiras, com raras exceções, estão perdendo qualquer senso de solenidade — muito especialmente a solenidade do cargo que ocupam. É um dos aspectos que admiro no presidente  Michel Temer: encarna o que me parece ser a correta neutralidade do estado. “Ah, ninguém é neutro etc. e tal…” Eu sei. Mas deixemos isso para ser decodificado por analistas, cientistas sociais, críticos profissionais, jornalistas… Que a autoridade se esforce!

Infelizmente, não é o que temos visto. O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, comportou-se muito mal nesta quinta na abertura, em Porto Seguro, do 6º Encontro Nacional de Juízes Estaduais, que é realizado a cada três anos pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros). Ah, sim: com direito a show de Ivete Sangalo e Diogo Nogueira. Tá certo… Não faria muito sentido um encontro de magistrados, sei lá, na periferia de Salvador, de São Paulo ou do Rio, onde estão os que têm fome de Justiça, certo? Pareceu demagógico? Só estou evidenciando como é fácil fazer demagogia, outra das práticas corriqueiras no Brasil que me causam asco.

Pois bem! Lá estava o ministro do Supremo, certo? Um dos 11 varões e varoas de Plutarco da República. O único discurso que lhe cabe é o institucional. A única coisa aceitável é falar dos consensos que nos unem. Até os dissensos devem ser guardados para a Corte. A única tarefa de quem presidiu o Supremo até outro dia era falar em favor do povo brasileiro.

Mas não foi isso o que fez Lewandowski. A voz que se ouviu era a de um militante sindical, e do tipo que carrega no sotaque cutista. Disse ele, diante da categoria que compõe a elite salarial do Brasil, sobre a reivindicação dos magistrados por aumento de vencimentos: “Não há vergonha nenhuma nisso, porque os juízes, no fundo, são trabalhadores como outros quaisquer e têm seus vencimentos corroídos pela inflação (…). Condomínio aumenta, IPTU aumenta, a escola aumenta, a gasolina aumenta, o supermercado aumenta, e o salário do juiz não aumenta? E reivindicar é feio? É antissocial isso? Absolutamente, não”.

Foi aplaudido com entusiasmo. Ele tinha mais a declarar:

“Para que possamos prestar um serviço digno, é preciso que tenhamos condições de trabalho dignas e vencimentos condizentes com o valor do serviço que prestamos para a sociedade brasileira”.

Não quero parecer amargo, mas, se o brasileiro pobre fosse convidado a dizer quanto vale, na média, o serviço da Justiça, as palavras poderiam não ser as mais doces.

Notem: é claro que acho que juízes têm o direito de reivindicar reajuste de salário e que defendo que tenham vencimentos dignos. E eles têm! Mas disso devem cuidar as múltiplas associações de magistrados. As há mais no Brasil que queijos na França. É de um ridículo ímpar que um ministro do Supremo vá falar como líder de corporação.

Mais: é claro que ele sabe o peso dessas palavras num momento em que se discute a MP 241. Parece que Lewandowski está expressando uma opinião política, não? Ele sabe que também o Judiciário vai ter de lidar com algo que lhe era estranho: teto de gastos. Um ministro do Supremo tem a obrigação moral de falar para pacificar a nação e as contendas, não para exacerbá-las. Um ministro do Supremo não pode ter grupo.  Nem lado.

Que os senhores da AMB e os presentes se manifestassem nesses termos, vá lá. Que o homem que compõe a cúpula de um Poder, que ele próprio presidiu até outro dia, resolva discursar como sindicalista, bem, aí não dá.

Falta decoro.
Falta pudor.

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