Transcrevo postagem de Joana Monteiro no Twitter (agora com esse horrivel X):
Joana Monteiro
Eu fiz o concurso do IPEA de 2008, quando o Pochmann era presidente da instituição. O concurso foi tão absurdo, que cheguei em casa revoltada e escrevi um artigo explicando o que tinha acontecido. Achei nos meus arquivos o texto que escrevi em dez de 2008. Segue:
Quem vem acompanhando os acontecimentos recentes do IPEA, iniciados desde que a nova diretoria assumiu, poderia esperar que o maior concurso da história da instituição tivesse algum viés ideológico e teria algumas excentricidades. ..
Entretanto, o que se viu no concurso realizado no dia 13/12/2008 supera de longe a expectativa mais pessimista. Não quero aqui julgar o viés ideológico da prova e sim a capacidade de selecionar pesquisadores de qualidade.
O que deveria ser exigido na seleção de um bom pesquisador aplicado em economia (para fazer jus ao nome da instituição)? Na minha opinião, conhecimentos sobre diversas linhas de pensamento, o instrumental básico de micro e macroeconomia e econometria. O edital da prova já adiantava alguns problemas. A palavra econometria não era nem citada e as vagas foram dividas em áreas de especialização, de conteúdo limitado, o que beneficia “concurseiros” em detrimento de economistas de formação ampla.
Escolhi por eliminação a área “Estruturas Produtivas, Tecnológica e Industrial”, que continha microeconomia e outros tópicos sobre a estrutura produtiva brasileira, e fui surpreendida com uma prova que nem condizente com o conteúdo anunciado era.
A prova é um festival de afirmações cheias de juízo de valor e de linguagem ininteligível que deveríamos julgar se eram certas ou verdadeiras. O que dizer sobre a frase: “A especulação financeira vislumbra como luz no fim do túnel o brilho do tesouro nacional”?
Ou sobre “Sem a conversão dos fundos públicos em pressuposto geral do capital, a economia produtiva capitalista é insustentável”? Fora isso, não faltaram adjetivos: “cidades saudáveis”, ou “..organização da atividade econômica que capciosamente ecoa...”.
Como se não existissem inúmeras teorias de economistas consagrados, fez-se referência a teoria de padrões de acumulação e oligopólios do sociólogo Francisco de Oliveira (que correspondeu a quase 10% da prova) e do conceito de burocracia do filósofo francês Claude Lefort.
Para ser justa, não posso ignorar que fizeram perguntas sobre as teorias de Schumpeter, Malthus e Adam Smith, mas será que mais nada foi pensado em economia que mereça menção na prova?
Outra excentricidade foi o grande número de perguntas sobre artigos de leis e instruções normativas sobre parcelamento do solo, IPTU, Estatuto das Cidades, posse de terras e acesso a terra que nem citados no programa estavam.
E o conteúdo de microeconomia, que correspondia a um terço da prova segundo o edital? Estes exigiam o conhecimento do passados no primeiro dia do curso de microeconomia: “O custo total médio da produção é a soma, para cada nível de produção dos custos fixos e variáveis”, ou “A teoria da firma se desdobra em Teorias da Produção, dos Custos e dos rendimentos e alicerceia a análise da oferta”, ou ainda “Como as quantidades procuradas (QP) não dependem diretamente do nível de preços (P), é correto afirmar que não há uma relação funcional de dependência entre as variáveis QP e P”.
A prova foi fechada com chave de ouro com a parte discursiva, onde as duas únicas questões eram sobre a teoria neo-shumpeteriana. Esses são os horrores da prova de “microeconomia”. Não faltam exemplos nas outras áreas.
O análogo a essa prova do IPEA é fazer um concurso para o IBGE, que irá acontecer em breve, com conteúdo ínfimo de estatística. Se isso, acontecer, estaremos caminhando a passos largos para destruir uma das instituições brasileiras de maior prestígio técnico.
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