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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Os "porcos" do jornalismo (da Globo) e os porcos que os atacam: carta de Ali Kamel (Globo)

Sem comentários. A carta de Ali Kamel diz tudo o que é preciso dizer.
Ou apenas um comentário, que vai por minha responsabilidade.
Creio que tudo está sendo preparado para paralisar a investigação sobre o caso Marielle, assim como já foram paralisadas várias outras investigações sobre a Bolsofamiglia.
Paulo Roberto de Almeida

CARTA DE ALI KAMEL, DIRETOR GERAL DE JORNALISMO DA GLOBO
Rio de Janeiro, 3 de outubro de 2019
Há momentos em nossa vida de jornalistas em que devemos parar para celebrar nossos êxitos.
Eu me refiro à semana passada, quando um cuidadoso trabalho da editoria Rio levou ao ar no Jornal Nacional uma reportagem sobre o Caso Marielle que gerou grande repercussão. A origem da reportagem remonta ao dia 1° de outubro, quando a editoria teve acesso a uma página do livro de ocorrências do condomínio em que mora Ronnie Lessa, o acusado de matar Marielle. Ali, estava anotado que, para entrar no condomínio, o comparsa dele, Elcio Queiroz, dissera estar indo para a casa 58, residência do então deputado Jair Bolsonaro, hoje presidente da República. Isso era tudo, o ponto de partida.
Um meticuloso trabalho de investigação teve início: aquela página do livro existiu, constava de algum inquérito? No curso da investigação, a editoria confirmou que o documento existia e mais: comprovou que o porteiro que fez a anotação prestara dois depoimentos em que afirmou que ligara duas vezes para a casa 58, tendo sido atendido, nas palavras dele, pelo “seu Jair”. A investigação não parou. Onde estava o então deputado Jair Bolsonaro naquele dia? A editoria pesquisou os registros da Câmara e confirmou que o então deputado estava em Brasilia e participara de duas votações, em horários que tornavam impossível a sua presença no Rio. Pesquisou mais, e descobriu vídeos que o então deputado gravara na Câmara naquele dia e publicara em suas redes sociais. A realidade não batia com o depoimento do porteiro.
Em meio a essa apuração da Rio (que era feita de maneira sigilosa, com o conhecimento apenas de Bonner, Vinicius, as lideranças da Rio e os autores envolvidos, tudo para que a informação não vazasse para outros órgãos de imprensa), uma fonte absolutamente próxima da família do presidente Jair Bolsonaro (e que em respeito ao sigilo da fonte tem seu nome preservado), procurou nossa emissora em Brasilia para dizer que ia estourar uma grande bomba, pois a investigação do Caso Marielle esbarrara num personagem com foro privilegiado e que, por esse motivo, o caso tinha sido levado ao STF para que se decidisse se a investigação poderia ou não prosseguir. A editoria em Brasilia, àquela altura, não sabia das apurações da editoria Rio. Eu estranhei: por que uma fonte tão próxima ao presidente nos contava algo que era prejudicial ao presidente? Dias depois, a mesma fonte perguntava: a matéria não vai sair?
Isso nos fez redobrar os cuidados. Mandei voltar a apuração quase à estaca zero e checar tudo novamente, ao mesmo tempo em que a Editoria Rio foi informada sobre o STF. Confirmar se o caso realmente tinha ido parar no Supremo tornava tudo mais importante, pois o conturbado Caso Marielle poderia ser paralisado. Tudo foi novamente rechecado, a editoria tratou de se cercar de ainda mais cuidados sobre a existência do documento da portaria e dos depoimentos do porteiro. Na terça-feira, dia 29 de outubro, às 19 horas, a editoria Rio confirmou, sem chance de erro, que de fato o MP estadual consultara o STF.
De posse de todas esses fatos, informamos às autoridades envolvidas nas investigações que a reportagem seria publicada naquele dia, nos termos em que foi publicada. Elas apenas ouviram e soltaram notas que diziam que a investigação estava sob sigilo. Informamos, então, ao advogado do presidente Bolsonaro, Frederick Wassef, sobre o conteúdo da reportagem e pedimos uma entrevista, que prontamente aceitou dar em São Paulo. Nela, ele desmentiu o porteiro e, confirmando o que nós já sabíamos, disse que o presidente estava em Brasília no dia do crime. Era madrugada na Arábia Saudita e em nenhum momento o advogado ofereceu entrevista com o presidente.
A reportagem estava pronta para ir ao ar. Tudo nela era verdadeiro: o livro da portaria, a existência dos depoimentos do porteiro, a impossibilidade de Bolsonaro ter atendido o interfone (pois ele estava em Brasilia) e, mais importante, a possibilidade de o STF paralisar as investigações de um caso tão rumoroso. É importante frisar que nenhuma de nossas fontes vislumbrava a hipótese de o telefonema não ter sido dado para a casa 58. A dúvida era somente sobre quem atendeu e só seria solucionada após a decisão do STF e depois de uma perícia longa e demorada em um arquivo com mais de um ano de registros. E isso foi dito na reportagem. Quem, de posse de informações tão relevantes, não publica uma reportagem, com todas as cautelas devidas, não faz jornalismo profissional.
Hoje sabemos que o advogado do presidente, no momento em que nos concedeu entrevista, sabia da existência do áudio que mostrava que o telefonema fora dado, não à casa do presidente, mas à casa 65, de Ronnie Lessa. No último sábado, o próprio presidente Bolsonaro disse à imprensa: “Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano".
Por que os principais interessados em esclarecer os fatos, sabendo com detalhes da existência do áudio, sonegaram essa informação? A resposta pode estar no que aconteceu nos minutos subsequentes à publicação da reportagem do Jornal Nacional.
Patifes, canalhas e porcos foram alguns dos insultos, acompanhados de ameaças à cassação da concessão da Globo em 2022, dirigidos pelo presidente Bolsonaro ao nosso jornalismo, que só cumpriu a sua missão, oferecendo todas as chances aos interessados para desacreditar com mais elementos o porteiro do condomínio (já que sabiam do áudio).
Diante de uma estratégia assim, o nosso jornalismo não se vitimiza nem se intimida: segue fazendo jornalismo. É certo que em 37 anos de profissão, nunca imaginei que o jornalismo que pratico fosse usado de forma tão esquisita, mas sou daqueles que se empolgam diante de aprendizados. No dia seguinte, já não valia o sigilo em torno do assunto, alegado na véspera para não comentar a reportagem do JN antes de ela ir ao ar. Houve uma elucidativa entrevista das promotoras do caso, que divulgamos com o destaque merecido: o telefonema foi feito para a casa 65, quem o atendeu foi Ronnie Lessa, tudo isso levando as promotoras a afirmarem que o depoimento do porteiro e o registro que fez em livro não condizem com a realidade. O Jornal Nacional de quarta exibiu tudo, inclusive os ataques do presidente Bolsonaro ao nosso jornalismo, respondidos de forma eloquente e firme, mas também serena, pela própria Globo, que honra a sua tradição de prestigiar seus jornalistas. Estranhamente, nenhuma outra indagação da imprensa motivada por atitudes e declarações subsequentes do presidente foi respondida. O alegado sigilo voltou a prevalecer.
Mas continuamos a fazer jornalismo. Revelamos que a perícia no sistema de interfone foi feita apenas um dia depois da exibição da reportagem e num procedimento que durou somente duas horas e meia, o que tem sido alvo de críticas de diversas associações de peritos.
Conto tudo isso para dar os parabéns mais efusivos à editoria Rio. Seguiremos fazendo jornalismo, em busca da verdade. É a nossa missão. Para nós, é motivo de orgulho. Para outros, de irritação e medo.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Governo Bolsonaro: existe algum risco de melhorar? Parece que não...

"Poder, influência… o que está por trás da “fritura” do porta-voz de Bolsonaro

Monica Gugliano, especial para a Gazeta do Povo São Paulo [22/07/2019] [21:12] 


Porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros foi duramente criticado no fim de semana pela ala ideológica do governo.

O porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, virou o novo alvo da "frigideira" de Carlos Bolsonaro, o filho "02" de Jair Bolsonaro. O vereador já conseguiu "fritar" dois ministros palacianos em sete meses de governo: Gustavo Bebianno e Santos Cruz, este último general do Exército. O desgaste de Rêgo Barros se acentuou após o desastroso café da manhã com jornalistas estrangeiros, na última sexta-feira (19).

Carlos culpa o general pelos problemas na comunicação de Bolsonaro que, segundo ele, expõe o pai desnecessariamente. Desta vez, as críticas contaram com a ajuda do deputado pastor Marcos Feliciano (Pode–SP), vice-líder do governo no Congresso, que chegou a chamar Rêgo Barros de "mal intencionado e incompetente".

Militares próximos ao presidente se mobilizaram durante o fim de semana para defender o porta-voz. Alguns viram nos ataques nas redes sociais uma tentativa de atingir também o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que também sofreu críticas recentes do filho de Bolsonaro.

A mais recente disputa territorial no Planalto envolve muito mais do que o cargo do porta-voz e os cafés da manhã com a imprensa que ele vem organizando. Aparentando sempre a paciência e a calma de um monge budista, Rêgo Barros tem mantido um bom relacionamento com os jornalistas desde que chegou ao cargo pelas mãos de Augusto Heleno, e do ex-comandante do Exército, Villas Bôas, de quem foi chefe da Comunicação Social.

Atualmente assessor especial do GSI, Villas Bôas se tornou um dos principais defensores do ex-subordinado nessa crise. E isso não apenas pelo enorme apreço e amizade que existe entre ambos, mas também porque o ex-comandante, hoje uma das vozes mais importantes no Exército, discorda e combate a forma de agir de Carlos. O general vê nos ataques muito mais do que um desrespeito aos colegas de farda, mas uma afronta à instituição que comandou. “Consideramos um absurdo que esses ataques se perpetuem e atinjam agora o porta-voz”, observou um influente militar do Planalto.

Em jogo, o controle da Secretaria de Comunicação

Ao atacar Rêgo Barros, Carlos Bolsonaro retoma os motivos que, de certa forma, o levaram a "fritar" o então ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz: o poder sobre a estrutura de comunicação social do Palácio do Planalto. Desde a posse do presidente, nunca se conseguiu chegar a um consenso sobre como deveria funcionar a Secretaria de Comunicação (Secom), um dos mais importantes instrumentos do governo no relacionamento com a população.

O presidente Jair Bolsonaro nunca quis manter o comando da Secretaria com terceiros – exceto foi quando pensou em nomear Carlos ministro da área – e muito menos seguir os moldes implementados no governos petistas, em que havia um ministro que chefiava a Secom e detinha o poder de decisão sobre a fabulosa verba da publicidade oficial.

Nesse sistema, o titular do ministério era o responsável pela secretaria que, abaixo dele, se dividia em uma área de imprensa propriamente dita (atendendo a mídia regional, nacional e estrangeira), a publicidade e um porta-voz que, diariamente, fazia os briefings (comunicados) com a posição oficial do presidente da República.

Bolsonaro optou por um esquema que subordinou toda a Secom à Secretaria de Governo. Não funcionou com Santos Cruz e o novo titular da pasta, o general Luiz Eduardo Ramos Pereira, cauteloso, ainda estuda como administrará a área. Em princípio, ele vem tentando manter a estrutura e é o responsável pelas verbas de publicidade que, para este ano, passam do R$ 200 milhões.

Entretanto, uma Secom em que o porta-voz tem autonomia e não se subordina ao secretário, neste caso Fábio Wajngarten, nunca existiu. “O porta-voz, do jeito que está, é uma entidade que só tem ligação com o presidente Bolsonaro”, explica um assessor do Planalto.

Por que cafés da manhã viraram motivo de polêmica

A situação ficou dessa forma porque Rêgo Barros chegou ao cargo muito antes do que Wajngarten. Nesse vácuo, coube a ele, portanto, formular estratégias de comunicação – uma função que seria do secretário – e tentar aproximar o presidente da imprensa.

Foram criados os cafés da manhã, encontros semanais com jornalistas escolhidos por ele e por Augusto Heleno que, dessa forma, tinham oportunidade de se aproximar de Bolsonaro e estabelecer algum relacionamento. Além disso, a relação entre Rêgo Barros e Wajngarten está longe de ser harmoniosa porque um integra a ala militar e o outro representa a família e a ala ideológica do governo.

O estilo informal de Bolsonaro e o fato de ele, na maior parte das vezes, conceder outras entrevistas (o chamado 'quebra-queixo') aos setoristas do Planalto, mesmo nos dias do café, tiraram um pouco do sentido dos encontros porque os jornalistas convidados não tinham informação exclusiva. Por fim, nesse último dedicado aos correspondentes estrangeiros e estopim da crise com Rêgo Barros, o encontro foi transmitido em uma live.

Enquanto era visto por milhares de seguidores, o presidente foi aumentando o tom e sendo mais enfático nas respostas. Disse que não existia fome no Brasil (corrigiu depois), investiu contra a jornalista Miriam Leitão, afirmou que os dados sobre desmatamento na Amazônia divulgados pelo Inpe eram falsos e, o pior dos estragos, fez um comentário pejorativo sobre os governadores do Nordeste sem saber que seu microfone estava aberto, portanto, tudo que dizia era ouvido e transmitido.

No sábado (20), Carlos Bolsonaro tuitou que esses cafés da manhã deviam acabar, pois só servem para prejudicar o presidente. "Sei exatamente o que acontece e por quem, mas não posso falar nada porque senão é fogo amigo", disse, referindo-se aos organizadores dos encontros.

Por enquanto, o café com os jornalistas continua. Nesta segunda-feira (22), Rêgo Barros evitou comentar os ataques de Carlos Bolsonaro contra ele, mas avisou que conversou com o presidente Jair Bolsonaro sobre os cafés da manhã e que eles não irão parar de acontecer. Como se vê, somente o passar dos dias poderá revelar quem, desta vez, venceu a última e mais recente briga no Planalto."


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quinta-feira, 16 de maio de 2019

Mini-reflexão sobre ineptos e corruptos, da esquerda e da direita - Paulo Roberto de Almeida

Em lugar de resolver os problemas do Brasil, a Bolsofamíglia fica falando em "armas nucleares".
Sou um crítico aberto desse governicho, e minha posição não tem nada a ver com ideologia, com o fato de eles serem (ou se pretenderem) de direita, ou de extrema-direita (embora sejam apenas idiotas, pois não têm nenhuma noção doutrinal do que seja o conservadorismo, no caso deles, são mesmo reacionários sem qualquer noção do que seja isso).
Eu já era um crítico feroz do lulopetismo, e não porque fossem de esquerda, uma posição política tão legítima quanto ser de direita.
Eu criticava o lulopetismo por duas características básicas desse regime destruidor das instituições: eles eram absolutamente ineptos em matérias econômicas e administrativas e IMENSAMENTE CORRUPTOS, sendo que o chefão é um mafioso completo (sem a ética da Mafia), que merece 200 anos de cadeia, por tudo o que roubou e permitiu que roubassem.
Eu critico o bolsonarismo, por ele ser absolutamente INEPTO, ainda mais inepto do que o PT – não, ainda, em política econômica, pois não deu tempo para o "Posto Ipiranga" realizar as maravilhas prometidas em campanha, como privatizações em massa, coisas que o PT nunca faria –, não exatamente da mesma forma, mas pior em quase todas as áreas, sobretudo em educação, a maior tragédia nacional, e que continua sendo uma tragédia tragi-cômica, se me permitem. Não estou seguro ainda quanto à corrupção, embora o que já se conheça da Bolsofamiglia augura grandes escândalos pela frente, nada de muito diferente do que fazem os demais políticos no seu modo artesanal de produção da corrupção (diferente, portanto, do PT, que tinha um modo industrial de produção de corrupção), mas talvez tão grande quanto outros personagens notórios da corrupção política. 
Como já disse alguém, esse pessoal perdeu a noção. Mas desconfio que, nos meses pela frente, eles não vão adquirir nenhuma noção racional do que seja administrar um país. Vão ficar brigando contra inimigos e aliados pelas redes sociais e pelas declarações improvisadas nos microfones dos jornalistas (aliás, hostilizados por eles, como ignaros que são).
Estamos entregues a um bando de bárbaros, no núcleo central, embora cercado por blocos e grupos de racionalidade que são os militares, a equipe econômica e alguns outros personagens aqui e ali. Mas a tropa do bolsonarismo é muito rústica, inepta mesmo, o que se manifesta na Educação, nos DDHH, nas relações exteriores e mais aqui e ali.
Vamos em frente, tentando sair do pântano...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de maio de 2019