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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ainda o affair Hobsbawm: o que irritou a Anpuh?

Eis a materia, abaixo transcrita, que gerou o ódio da Anpuh, como se todos devessem achar Hobsbawm genial!
A Anpuh, como entidade associativa que é, ou seja, como profissionais e historiadores de todas as tendências ideológicas, precisaria ser neutra em materia de avaliações políticas.

Seu manifesto anti-Veja (em um post anterior) apenas revela o sectarismo e a intolerância de certas pessoas, que deveriam ter vergonha de se considerar acadêmicas.
Paulo Roberto de Almeida
Addendum em 12/10/2012:
Tenho recebido vários comentários aos diversos posts em torno da morte do Hobsbwm, geralmente condenatórios dos ataques do jornalista da Veja. Parece que muita gente, a começar pela Anpuh, pretende defender a reputação do historiador contra ele mesmo, ou seja, o fato de sua grande desonestidade intelectual ao não ter condenado em termos mais veementes os imensos crimes cometidos pelo sistema soviético, e de ter confirmado sua adesão aos regimes socialistas -- para ele superiores, em princípio, ao regime capitalista -- mesmo contra todas as evidências.
Que ele tenha sido cego, é seu direito. Mas é nosso direito criticá-lo.
Que suas opções sejam defendidas por outros aderentes da crença, já escapa ao terreno do racional, e entra no da fé religiosa.

O historiador Eric Hobsbawm ( Roland Schlager/EFE)


Faleceu hoje Eric Hobsbawm, aos 95 anos de idade



Memória

A imperdoável cegueira ideológica de Eric Hobsbawm


Maior historiador esquerdista de língua inglesa, Eric Hobsbawn, morto na última segunda-feira, aos 95 anos, foi um idiota moral. Essa é a verdade incômoda que os necrológios, publicados em profusão, quase sempre fizeram questão de ignorar. Marxista irredutível, Hobsbawm chegou a defender o indefensável: numa entrevista que chocou leitores, críticos e colegas, alegou que o assassinato de milhões orquestrado por Stalin na União Soviética teria valido a pena se dele tivesse resultado uma "genuína sociedade comunista". Hobsbawn foi de fato um historiador talentoso. Nunca fez doutrinação rasteira em suas obras. Mas o talento de historiador, é forçoso dizer, ficará para sempre manchado pela cegueira com que ele se agarrou a uma posição ideológica insustentável.

Essa posição lança sombras sobre uma de suas obras mais famosas, A Era dos Extremos, livro de 1994 que, depois da trilogia sobre o século XIX composta pelos livros A Era das Revoluções,A Era do Capital e A Era dos Impérios, lançados entre 1962 e 1987, se dedica a investigar a história do século XX –  quando Hitler matou milhões em seus campos de concentração e os regimes comunistas empreenderam os seus próprios extermínios. Hobsbawm se abstém de condenar os crimes soviéticos, embora o faça, com toda a ênfase, com relação aos nazistas.
Outro eminente historiador de origem britânica, Tony Judt (1948-2010), professor de história da New York University que fez uma longa resenha do livro de memórias de Hobsbawm, Tempos Interessantes, advertia já em 2008 que o colega ficaria marcado por sua posição política. “Ele pagará um preço: ser lembrado não como ‘o’ historiador, mas como o historiador comunista”, disse em entrevista ao jornal The New York Times. Em texto publicado pela revista The New Criterion, o escritor David Pryce-Jones também apontou o prejuízo da ligação de Hobsbawm com o pensamento marxista. “A devoção ao comunismo destruiu o historiador como um pensador ou um intérprete de fatos.”
O entusiasmo com a revolução bolchevique, aliás, não foi a única fonte de tropeços morais para Hobsbawm. A conflituosa relação com as raízes judaicas – seu sobrenome deriva de Hobsbaum, modificado por um erro de grafia – o levou a apoiar o nacionalismo palestino e, ao mesmo tempo, a negar igual tratamento a Israel.
Biografia – A história pessoal de Hobsbawm ajuda a entender sua adesão ao marxismo. Nascido no ano da Revolução Russa, 1917, em Alexandria, no Egito, ele se mudou na infância para Viena, terra natal materna, onde perdeu ainda adolescente tanto a mãe quanto o pai, um fracassado negociante inglês que permitiu a ele ter desde cedo o passaporte britânico. Criado por parentes em Berlim na época em que Hitler ascendia ao poder, ele viu no comunismo uma contrapartida ao nazismo.
Da Alemanha, Hobsbawn seguiu para a Inglaterra. Durante a guerra, serviu numa unidade de sapeadores quase que inteiramente formada por soldados de origem operária - e daí viria, mais que a simpatia, uma espécie de identificação com aquela que, segundo Marx, era a classe revolucionária. Ele estudou em Cambridge, e se filiou ao Partido Comunista, ao qual se aferraria por anos. Nem mesmo após a denúncia das atrocidades stalinistas feita por Nikita Khrushchov em 1956, quando diversos intelectuais romperam com o comunismo, ele deixou o partido.
Hobsbawm só desistiu de defender com unhas e dentes o sistema após a queda do Muro de Berlim, em 1989. “Eu não queria romper com a tradição que era a minha vida e com o que eu pensava quando me envolvi com ela. Ainda acho que era uma grande causa, a causa da emancipação da humanidade. Talvez nós tenhamos ido pelo caminho errado, talvez tenhamos montado o cavalo errado, mas você tem de permanecer na corrida, caso contrário, a vida não vale a pena ser vivida”, disse ele ao The New York Times, em 2003, em uma das poucas declarações em que admitia as falhas do comunismo – porém, sem dar o braço verdadeiramente a torcer.

O caso Hobsbawm: a favor, atirando no mensageiro

Logo em seguida à morte do historiador Eric Hobsbwam, dezenas de obituários e de artigos elogiosos foram publicados na imprensa britânica e internacional. Ele possuía, obviamente, uma legião de admiradores, tanto mais fervorosos quanto sua identificação com as teses que ele defendia era, ou é, completa.
Eu mesmo escrevi o que penso a respeito dele, neste post: 

SEGUNDA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 2012


Depois, coloquei mais um artigo crítico, neste post: 

QUARTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2012


Já tinha lido o que escreveu o jornalista Eurípedes Alcântara a respeito dele, na Veja, condenando seu comunismo renitente, mas não sabia que esse artigo mereceria uma desaprovação em regra, mais exatamente uma condenação por completo por toda uma Associação de Historiadores, que na verdade deveria manter-se neutra nessas matérias de opinião. A Anpuh, aparentemente defende absolutamente um historiador como Hobsbawm e por aí se supõe que condenaria outros como Paul Johnson. Ou seja, ela não é uma associação neutra, e defende posições políticas bem identificadas. Creio que neste caso, em lugar de desmentir os argumentos do jornalista, a Anpuh me parece praticar a velha arte de atirar contra o mensageiro.
Limito-me a transcrever aqui a nota raivosa da Anpuh e, mais abaixo, uma nota ainda mais raivosa de um autor desconhecido.


RESPOSTA [da Anpuh] À REVISTA VEJA

09/10/2012
Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um "acadêmico", no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do "intelectual" como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de "idiota moral" (cf. o texto "A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm", publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Vejadesconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto "historiador esquerdista", dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a "análise" acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.
São Paulo, 05 de outubro de 2012
Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013
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Agora um artigo pavoroso colocado na Wikipedia
Eurípedes Alcântara é um jornalista brasileiro. Conhecido por ser o diretor editorial da Veja, revista semanal de maior cirulação no país onde trabalha desde [[1981]. Quando da morte do maior historiador do século XX, Eric Hobsbawm, escreveu o que podemos considerar como seu retorno mais escancarado ao protofascismo, presente na sua formação intelectual desde os tempos em que escamoteava as atrocidades da ditadura, durante a década de 1980 e 1990. Lamentavelmente, nesse artigo, faz uma análise superficial e apaixonada contra o historiador inglês e a favor da perspectiva histórica determinista e elitista daqueles que ele considera como historiadores de ponta, considerados assim apenas por aqueles que não compreendem as mudanças na produção histórica ocorrida no século XX, sob importante influência de duas escolas: a marxista e a Escola dos Annales]

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm, again - but not in praise of...

Eric Hobsbawm é chamado de mero escritor, não de historiador, por este crítico mordaz. Como ele é endeusado no Brasil -- soube que a ANPUH protestou contra o artigo na Veja criticando o próprio, como se alguém não tivesse direito de criticar quem quer que seja -- eu posto essa matéria aqui, já que isto corresponde a meu espírito iconoclasta, dissidente, anarco-intelectual e outros antis.
Cada um que reflita...
Paulo Roberto de Almeida 



Eric Hobsbawm, 1917–2012

The British Stalinist writer Eric Hobsbawm died on October 1, aged 95. I hesitate to refer to him as a “historian,” as other commentators doubtless will, given his extraordinary career as a purveyor of totalitarian lies. He was born in Alexandria, Egypt, but was orphaned and lived with his uncle and aunt in Vienna and Berlin before settling in Britain. He was awarded his doctorate at Cambridge before World War II, during which he served in the British armed forces. After the war he taught at Birkbeck College in the University of London, King’s College at Cambridge, and the New School for Social Research in New York. At his demise he was president of Birkbeck.
One may predict with considerable certainty that leftist public intellectuals and academics will outdo themselves in praising him; the British author and critic A. N. Wilson noted in the London Daily Mailon October 2 that the London Guardian spread Hobsbawm’s obituary across its front page and filled most of its G2 supplement with similar glorification of the Stalinist icon. Wilson pointed out that in the London Times, Tony Blair—who had named Hobsbawm a Companion of Honor, a major British distinction—and Ed Miliband, leader of the Labour Party in opposition, paid homage to him.
Hobsbawm was a personality embodying the hypocrisy of numerous, if not the great majority of, radical leftists during the Stalin era. As reported in the London Financial Times, he remained a member of the Communist Party of Great Britain until just before its collapse in 1991. By then he had embraced the “Euro-Communism” of the Italian Communists—but in its decrepitude, Communism had changed, not Hobsbawm.
He is best known among historians for a bulky output describing the emergence of modern industrial society: The Age of Revolution, 1789–1848 (1962), The Age of Capital, 1848–1875(1975), and The Age of Empire, 1875–1914 (1987). These were followed in 1995 by The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914–1991, his most controversial book in its treatment of the Soviet rulers and the crimes they committed, with the approval of Hobsbawm and others of his kind. In a perverse form of honesty—or a pride in flaunting corruption—he unrepentantly supported the prolific brutalities of the Soviet commissars.
These included policies today seldom-remembered, but which he did not hesitate to justify ardently: the Lenin-period abolition of independent political parties; the consignment of millions of innocents to slave labor camps and imprisonment; the economic nationalizations and forced collectivizations in agriculture (that may have killed more than 12 million people); the massive purges and public trials of framed-up state officials; the gross censorship of art, literature, religion, and science; the Hitler-Stalin pact of 1939-1941; the refusal to assist Polish patriots in their anti-Nazi rebellion in Warsaw in 1944; the deportation of whole ethnic groups to Central Asia; the postwar purges and mass suppressions in the puppet states of then-East Germany, Poland, Hungary, and the former Czechoslovakia.
The list of atrocities, and of Hobsbawm’s apologetics for them, at times seems incalculable. It must be extended to Asia under the dominion of Mao Zedong, the Khmer Rouge, as well as the Vietnamese Communists, and the North Korean dynasty of Kim Ilsong. One cannot overlook, in the 1980s, the comparable cruelties visited upon the African and Latin American satellites of the disintegrating Muscovite empire and its Cuban agent, Fidel Castro. The full roster of evil Communist actions, and Hobsbawm’s pleadings in their favor, would make up a useful curriculum. Such is not likely to emerge quickly from the present-day academy, and, as a sobering detail, the opening of Russian archives that began in the early 1990s was soon ended. Many more horrors remain unknown, or were lost to history by the destruction and disappearance of evidence. But they will no longer have Eric Hobsbawm to defend them.
Hobsbawm was incapable of critical reflection on these wicked episodes and those who idolized him accept no share in moral responsibility for them. As the Financial Times recalled, Hobsbawm told interviewers, and wrote, that he “had made his choice”—to advocate the lie that Nazism could only be defeated by a coalition led by the Communists and supported by Social Democrats, Liberals, and Conservatives. While such an alliance in Britain existed briefly during the World War II—led by Conservatives to whom the Communists were repeatedly disloyal—the Russian Communists Hobsbawm extolled were noticeably more concerned, before and after that conflict, with exterminating or sending to the Gulag any Social Democrats (then typically called “Mensheviks”), no less than “bourgeois” liberals and conservatives, that fell into their hands.
He opted for an ideological system that bore an unmistakable symmetry to the Hitler regime. Had the then-Trotskyists in America during the 1930s, some of who evolved into neoconservatives, lived in Western Europe, many of them might have been struck down in early adulthood, never to achieve distinction in a humanistic career. Several such cases were known, as Stalin ordered a homicidal assault on dissident leftists in the West, carrying out notable assassinations.
Additionally, in his Daily Mail contribution, Wilson quoted one of Hobsbawm’s most outrageous claims, advanced in his On History (1997): “Fragile as the communist systems turned out to be, only a limited, even minimal, use of force was necessary to maintain them from 1957 until 1989.” Such an offhand dismissal excludes from consideration, to repeat, the millions who died in Mao’s “Great Leap Forward” of 1958-61 and “Cultural Revolution” in 1966-76; those who were slain on political pretexts or were starved to death in Communist-ruled Ethiopia from 1974 to 1991; victims of Pol Pot and his cohort; the human losses caused by the Soviet occupation of Afghanistan from 1979 to 1989. The latter left an obscure mountain country in Central Asia vulnerable to usurpation by the radical Islamist Taliban and al-Qaeda, producing worse consequences with which we still must live. And more, and more. Once again, the fatal aspects of Communist terror appear beyond accounting.
Wilson predicted in the Daily Mail that Hobsbawm would be forgotten and his books would go unread in the future, as badly-written propaganda. Such may be a desirable, but a hasty judgment. With widening ignorance of the human disasters of Communism has come a denial that anybody outside the Communist dictatorships ever knew about them when they took place. The reality, the one veracity for which Hobsbawm was a witness, is that those who flocked to the banner of Communism did so in full possession of the facts—indeed, nobody was permitted to enter those ranks without voicing animated approval of the entire abominable catalogue.
One of Hobsbawm’s most egregious later acts comprised an assault, in the February 17, 2007 London Guardian, on the reputation of George Orwell, and Orwell’s experiences in the Spanish civil war of 1936–39, as reflected in the 1938 classic Homage to Catalonia. Orwell had gone to Spain to enlist in the volunteer militias of the Partit Obrer d’Unificació Marxista (POUM), a dissident Communist force that, following the leadership of anti-Stalinist socialists, anarchosyndicalists, and Catalonian nationalists, maintained armed resistance to the armies of General Francisco Franco. Franco had been provided with armaments, warplanes, and mercenary troops by Hitler and Mussolini. The POUM was charged with fascist collaboration by Soviet secret police agents operating within the bureaucracy of the Spanish Republic. The leader of the POUM, a gifted literary critic, Andreu Nin (1892–1937), was kidnapped, tortured, murdered, and buried in an unknown spot near Madrid.
The revolutionary leftist forces in the Spanish war were not unimpeachably altruistic; one must admit that atrocities were committed on both sides of the contest. But Orwell, who was hunted by Soviet spies in Spain and would have been sent to Moscow for execution if he had been caught, recounted truthfully the events of May 1937 in Barcelona, when the Stalinist Communists attempted to liquidate their leftist rivals. He was one of the first to perceive, and put into print, that the old and idealistic socialism inherited from the nineteenth century labor movements had given way to something new, soulless, and bloodthirsty. The anti-Stalin leftists, although capable of terrorism and violence, rejected the Communist principle of social change dictated by an omnipotent state. The Spanish anarchists were the first to popularize, in recent times, the political term “libertarian,” and advocated voluntary, rather than obligatory, collectivization.
Orwell’s escape from Communist agents and his observation of their methods in Spain further informed his best-known work, 1984. In his 2007 column, which like other Communist polemics was replete with falsehoods and distortions, Hobsbawm sneered at Orwell, pronouncing the judgment that “only in the cold-war era did Orwell cease to be an awkward, marginal figure.” Hobsbawm vociferously advocated the Communist line on the Spanish war, which held that the leftist forces not aligned with the Soviets were undisciplined and incapable of winning the war, and therefore deserving of elimination. As Hobsbawm put it, “It was not, as the neoliberal François Furet argued it should have been, a war against both the ultra-right and the [Soviet Communist International]. . . . The conflict between libertarian enthusiasm and disciplined organization, between social revolution and winning a war, remains real. . . . The Spanish civil war could not have been waged, let alone won, along Orwellian lines.” For the mass of literate readers today, “Orwellian” refers to statist tyranny; Hobsbawm’s use of the term to refer to anti-Stalinism was probably an unintended compliment.
Was Hobsbawm right about Spain? For decades, the Communist version of the Spanish war’s developments dominated views of the topic outside Spain and its Republican émigré community. The non-Stalinist left resisted their attempted destruction by the Russians and, after their defeat, the Republican militias withdrew into France. The Spanish Republic was referred to by the former POUM leader Julián Gomez Gorkín (whose work was translated in a volume edited by none other than Jeane J. Kirkpatrick, The Strategy of Deception, published in 1963) as the first European “test of a ‘people’s democracy,’” or Soviet puppet state. But the Spanish Republic did not succumb wholly to Soviet dictation. And the war was won by Franco. Superficially, Hobsbawm’s Stalinist allegations may appear just. Many “counter-factual” theories have been advanced suggesting that the anti-Franco side lost because of a lack of arms, and could only have won with more Russian-imported weapons and functionaries, and Russian-imposed “discipline.”
Then, the argument goes, the Hitler-Stalin pact would have turned Spain into an ally of Berlin against France, and handed Gibraltar to the Germans. Such musings are amorphous and banal. An anti-Franco victory in Spain might have inspired the French to better resist the Germans during the Second World War, but whatever may be hazarded as alternative history, the Spanish anti-Stalinists knew and proclaimed the truth. To paraphrase another ex-POUM writer, Joaquim Maurín (1896–1973), who died in exile in the U.S., the Spanish war was lost when it ceased to be perceived as a fight between Franco and the left and was seen by the Spanish supporters of the republic as a war between Franco and Stalin.
Few Spanish leftists, although they fought against Franco for three years, shared the rigid political culture of the Russians, or were prepared to see it introduced as a compulsory experiment on their soil. The Spanish revolutionary movement, with its Western flavor, including an association with high modernism in art, threatened the dense and dull uniformity characteristic of the Russians. After World War II, the POUM militants inside Catalonia abandoned their radicalism and joined the moderate Socialist party. The former pro-Soviet Communists are a negligible force in today’s Spain, gaining no more than seven percent of votes nationally; seldom are they praised for their role in, effectively, betraying the Spanish Republic.
The Catalonians have remembered the martyred Nin by erecting memorials and naming streets and schools after him, while dedicating a small public square in Barcelona to Orwell. One may hope, then, that the perspicacious A. N. Wilson is right, and as the opponents of totalitarian leftism are remembered, its repulsive hacks, with Hobsbawm worst epitomizing them, will be forgotten if not derided and disparaged in the manner they deserve. Hobsbawm attacked Orwell with lies, while the admirers of Orwell may respond with truth.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm: uma palavra (ou duas) sobre ele... - Paulo Roberto de Almeida


Eric Hobsbawm: um depoimento acadêmico

Paulo Roberto de Almeida


Como qualquer acadêmico bem informado, eu conhecia a obra de Hobsbawm, obviamente, inclusive porque, em um dado momento de minha vida, eu também partilhei das mesmas crenças no "poder liberador" do socialismo, a partir da justeza das teses marxistas sobre a perversidade natural do capitalismo e a inevitável sucessão dos modos de produção, que deveria jogar na lata de lixo da história o modo fundado na extração de mais valia e na exploração dos trabalhadores.
Bem, confesso que fui marxista, mas nunca fui religioso, ou seja: nunca me deixei engabelar pelos "livros sagrados". Assim, fui buscar na realidade, em outros livros, na observação honesta dos modos existentes de produção a comprovação, ou não, dos argumentos originais marxianos e suas derivações leninistas, stalinistas, gramscianas, fidelistas, guevaristas e outras (bem, acho que nunca fui stalinista, mas pratiquei um pouco todos os outros pecados). O que eu vi, visitando todos os socialismos reais, surreais e esquizofrênicos, foi um sistema de penúria, caracterizado por muita miséria material, mas ainda mais miséria moral, um sistema baseado em fraude, mentiras, violência, desonestidade, ou simplesmente na escravidão humana.
Enfim, o que tem isso a ver com Eric Hobsbawm?
Li seus livros de história, um pouco em várias edições: inglês, espanhol, francês, italiano e, também em português. Aqueles que tem como partida épocas pregressas, ou seja séculos 15 a 19, confirmaram bastante a visão marxista do mundo, que é a usual no meio acadêmico: exploração capitalista, miséria dos trabalhadores, crises, colonialismo, imperialismo,  isto é, nosso menu habitual de condenação do capitalismo e da burguesia. Normal, não é? 
A coisa se complica um pouco quando chegamos no século 20, o século por excelência do capitalismo triunfante, logo depois em crise, e o da ascensão do socialismo e seu desafio ao primeiro, quase vitorioso, mas finalmente derrotado, para desgosto de Hobsbawm (e de todos os órfãos e viúvas do socialismo). 

O que eu teria a criticar em Hobsbawm?
Primeiro, deixe-me dizer o que eu achei correto, em sua análise da Revolução francesa. Ele disse que ela atrasou o capitalismo na França, pois impediu o imediato triunfo do capitalismo no campo, como ocorreu na Inglaterra, com a concentração de terras e a expulsão dos camponeses para as cidades, onde foram obrigados a trabalhar para os capitalistas fabris. Acho isso basicamente correto, e não tenho objeções a sua tese.
Do que discordo, em sua análise?
Na monumental coleção "História do Marxismo", que ele dirigiu, editada originalmente em italiano pela Einaudi (que eu tenho), ele convidou basicamente marxistas; enfim, um pouco como pedir a cardeais da Igreja Católica para escrever a história do cristianismo. Alguns italianos, já aderindo ao chamado eurocomunismo, foram bastante independentes, como Massimo Salvadori, por exemplo, mas o tom geral era de "ode ao marxismo", como aliás convinha no período que antecedeu à derrocada completa do sistema que se buscava "elucidar". 
De sua obra histórica cobrindo o período anterior ao século 20, se destaca uma importância exagerada ao marxismo, como sistema filosófico capaz de fundar uma nova era. De fato, o marxismo cresceu muito acima de suas possibilidades teóricas e de sua capacidade prática de resolver os problemas detectados por Marx no capitalismo. Ele foi oversold, de certa forma, e Hobsbawm foi um dos que participaram dessa operação de legitimação de um sistema que sempre apresentou falhas estruturais, ademais de uma monumental inconsistência intrínseca, para não falar de seu profetismo indiferente aos dados da realidade.
Quanto ao século 20, ele também deu uma importância exagerada ao socialismo, e quero me expressar muito bem quanto a isso.
A Rússia era um grande país, que conduziu guerras contra o Império Otomano, contra outros reinos na Ásia central e meridional, contra a China, a Polônia, a Áustria e a Alemanha, confirmando sua vocação ao imperialismo. Não se tratava obviamente de socialismo, mas o socialismo bolchevique continuou essa tradição, e o fez com um sentido internacionalista que ultrapassava barreiras nacionais, as fronteiras jurídicas dos Estados burgueses, para se exercer, depois, como força material e política importante em várias democracias burguesas da Europa ocidental e do resto do mundo. Isso não tem nada a ver com o socialismo, e sim com uma política de poder, com a razão de Estado, no caso, o Estado stalinista. 
Hobsbawm confundiu esse poder do Estado soviético com o triunfo do socialismo, ainda que a ideia socialista tenha conseguido conquistar corações e mentes de intelectuais dos países capitalistas, além de muitas forças sindicais. Mas ele confundiu os processos históricos e equiparou o triunfo intelectual do marxismo com o triunfo estrutural do socialismo, no processo mais vasto dos "modos de produção" em vigor durante o século 20. Bem, a CIA também considerava que o socialismo crescia mais do que o capitalismo, e que a União Soviética seria um formidável oponente, militar, econômico, tecnológico, cultural e político.
Todos erraram, mas Hobsbawm errou muito mais, pois ele mesmo, ainda que reconhecendo que o socialismo representava uma parte pequena do PIB mundial (mesmo com grandes recursos naturais), uma parte ainda menor do comércio internacional, uma parte ínfima dos fluxos de capitais, e uma parte ainda menos expressiva das inovações tecnológicas, ainda assim ele continuou a atribuir ao socialismo um poder transformador que ele de fato não tinha.
Hobsbawm também errou ao preservar o limitado molde marxista em suas análises do sistema econômico dos países, e, portanto, em crer que o capitalismo estava condenado a crises irremediáveis, condutoras a seu fracasso enquanto sistema.
Ele pelo menos tinha alguma sofisticação em suas análises, ao passo que os marxistas vulgares se agitavam alegremente cada vez que ocorria uma crise setorial nos sistemas capitalistas.
Em resumo, Hobsbawm foi um bom historiador "pré-capitalista", mas um péssimo historiador "socialista", e deixou sua fé no marxismo embotar suas análises dos processos econômicos e políticos dos séculos 19 e 20. 
Deixo de lado sua condescendência com os crimes dos socialismos reais do século 20, o stalinista e o maoísta, pois nesse quesito ele teria de ser condenado pelo lado moral, algo relativo nos marxistas. 
Eu estava apenas considerando seu trabalho como historiador. Ele falhou, como falharam muitos outros intelectuais. Que tenha demorado tanto tempo em reconhecer seus erros, conta em seu desfavor, mas de fato ele nunca renunciou a seu anticapitalismo visceral e a seu socialismo ingênuo.
Descanse em paz, é o que lhe desejo.
O problema, para nós acadêmicos, é que suas análises vão continuar contaminando com seus equívocos os trabalhos nas nossas universidades por muito tempo ainda, pois seus livros são cultuados e seguidos nas Humanidades. A cegueira voluntária demora muito para se dissipar, se é que isso ocorre: muitos são infensos aos dados da realidade, e preferem continuar se alimentando de ilusões.
Eric Hobsbawm foi um dos grandes ilusionistas do século 20. 
Não será certamente o último, mas ele era um dos mais importantes.
Talvez voltemos agora a explicações mais razoáveis, como as de um Paul Johnson, de um Niall Ferguson, de um David Landes. Pelo menos, são os que me ocorrem de sugerir a alunos em busca de historiadores mais razoáveis (e honestos).

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8 de outubro de 2012

sábado, 20 de agosto de 2011

Hobsbawm: um crente entre os crentes (infelizmente nao apenas eles...)

Eric Hobsbawm é obviamente incensado pela esquerda e admirado por legiões de historiadores que não precisam necessariamente ser de esquerda, mas que guardam certas simpatias por causas "igualitárias" e uma correspondente antipatia pela exploração capitalista.
Mesmo para os que não concordam com seu marxismo fossilizado, existem muitos outros que reconhecem que seus manuais de história são livros "úteis" no pobre cenário bibliográfico disponível no Brasil. Ele passa, assim, por um grande historiador, e suas teses são aceitas quase inquestionavelmente em todas as áreas das humanidades e em muitos concursos públicos (mesmo nos que seriam supostamente mais exigentes, como os do Itamaraty).
A resenha abaixo de um de seus livros "memorialísticos" não é propriamente arrasador para a sua reputação porque ele mesmo se encarregou de arrasá-la, defendendo o socialismo contra todas as evidências de crimes e desastres, e acusando o capitalismo de todos os desastres e perversões, mesmo sem provas concretas em seu apoio.
Mas vale ler uma resenha-artigo que desmente cabalmente esse "grande" historiador, e o remete ao lugar que ele ocupa legitimamente: o dos ideólogos e o dos deformadores da História.
Paulo Roberto de Almeida

BOOKSHELF
How a True Believer Keeps the Faith
By MICHAEL MOYNIHAN
The Wall Street Journal, August 20, 2011

How to Change the World
By Eric Hobsbawm
Yale, 470 pages, $35
The British historian Eric Hobsbawm in 1976.

In 2003, the New York Times declared Eric Hobsbawm "one of the great British historians of his age, an unapologetic Communist and a polymath whose erudite, elegantly written histories are still widely read in schools here and abroad." The Spectator, a right-leaning British magazine, gushed that Hobsbawm is "arguably our greatest living historian—not only Britain's, but the world's." The Nation anointed him "one of Aristotle's 'men of virtue.' "

That the 94-year-old Mr. Hobsbawm has long championed dictatorial regimes hasn't diminished his standing among the intelligentsia or within the establishment he so obviously loathes. In 1998, Queen Elizabeth II bestowed upon him a Companion of Honour—"In action faithful and in honour clear." But even many of Mr. Hobsbawm's admirers find his slippery defenses of communism discomfiting.

To his critics, his ideological dogmatism has made him an untrustworthy chronicler of the 20th century. The British historian David Pryce-Jones argues that Mr. Hobsbawm has "corrupted knowledge into propaganda" and is a professional historian who is "neither a historian nor professional." Reading his extravagantly received 1994 book, "The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914-1991," the celebrated Kremlinologist Robert Conquest concluded that Mr. Hobsbawm suffers from a "massive reality denial" regarding the Soviet Union.

In "How to Change the World: Reflections on Marx and Marxism," Mr. Hobsbawm's latest attempt to grapple with Karl Marx's legacy of ashes, the author remains an accomplished denier of reality. Drawn from essays and speeches spanning the past 50 years, Mr. Hobsbawm's book ruminates on pre-Marxian socialism, the works of the Italian communist philosopher Antonio Gramsci, and a slew of internecine ideological battles that will be of interest mainly to academics and unreconstructed militants.

The more recent material in "How to Change the World," written after the fall of the Soviet Union, claims that regimes self-identified as Marxist shouldn't be allowed to sully the reputation of Marxism—despite all the statues of Marx that once dotted the communist world, the constant invocations of "Das Kapital" and "The Communist Manifesto," and the savage collectivization schemes.

For anyone who has visited an American college campus in the past half-century, Mr. Hobsbawm's core argument will be familiar: The Marxism practiced by Lenin, Stalin and Mao was a clumsy misinterpretation of Marx's theories and, as such, doesn't invalidate the communist project. True, the East Bloc societies practicing what was called "actually existing socialism" (which Mr. Hobsbawm determines, ex post facto, didn't actually exist) ended in economic disaster, but experiments in "market fundamentalism also failed," he says. It is unclear to which "fundamentalist" governments he is referring, but it's important for Mr. Hobsbawm to establish a loose moral equivalence between Thatcherism and the ossified economies controlled or guided by Moscow.

One wouldn't know it from "How to Change the World," but Mr. Hobsbawm wasn't always convinced that the Soviet Union, along with its puppets and imitators, was misunderstanding the essence of Marxism. He never relinquished his membership in the Communist Party, even after Moscow's invasions of Hungary and Czechoslovakia. Indeed, he began his writing career with a co-authored pamphlet defending the indefensible Soviet invasion of Finland in 1939. "To this day," he writes in his memoirs, "I notice myself treating the memory and tradition of the USSR with an indulgence and tenderness." There was some ugliness in the socialist states occupied by Moscow, he admitted in 2002, but "leaving aside the victims of the Berlin Wall," East Germany was a pleasant place to live. Other than that, how was the play, Mrs. Lincoln?

In a now infamous 1994 interview with journalist Michael Ignatieff, the historian was asked if the murder of "15, 20 million people might have been justified" in establishing a Marxist paradise. "Yes," Mr. Hobsbawm replied. Asked the same question the following year, he reiterated his support for the "sacrifice of millions of lives" in pursuit of a vague egalitarianism. That such comments caused surprise is itself surprising; Mr. Hobsbawm's lifelong commitment to the Party testified to his approval of the Soviet experience, whatever its crimes. It's not that he didn't know what was going on in the dank basements of the Lubyanka and on the frozen steppes of Siberia. It's that he didn't much care.

Readers of "How to Change the World" will be treated to explications of synarchism, a dozen mentions of the Russian Narodniks, and countless digressions on justly forgotten Marxist thinkers and politicians. But there is remarkably little discussion of the way communist regimes actually governed. There is virtually nothing on the vast Soviet concentration-camp system, unless one counts a complaint that "Marx was typecast as the inspirer of terror and gulag, and communists as essentially defenders of, if not participators in, terror and the KGB." Also missing is any mention of the more than 40 million Chinese murdered in Mao's Great Leap Forward or the almost two million Cambodians murdered by Pol Pot's Khmer Rouge.

When the bloody history of 20th-century communism intrudes upon Mr. Hobsbawm's disquisitions, it's quickly dismissed. Of the countries occupied by the Soviet Union after World War II—"the Second World War," he says with characteristic slipperiness, "led communist parties to power" in Eastern and Central Europe—he explains that a "possible critique of the new [postwar] socialist regimes does not concern us here." Why did communist regimes share the characteristics of state terror, oppression and murder? "To answer this question is not part of the present chapter."

Regarding the execrable pact between Nazi Germany and Stalinist Russia, which shocked many former communist sympathizers into lives of anticommunism, Mr. Hobsbawm dismisses the "zig-zags and turns of Comintern and Soviet policy," specifically the "about-turn of 1939-41," which "need not detain us here."

In one sense, Mr. Hobsbawm's admirers are right about his erudition: He possesses an encyclopedic knowledge of Marxist thought, specifically Italian communism and pre-Soviet socialist movements. But that knowledge is wasted when used to write untrustworthy history. Readers interested in a kaleidoscopic history of Marxist thought, its global influence and the reasons why regimes flying the red banner inevitably resorted to slavery and violence would be better served by Leszek Kołakowski's "Main Currents in Marxism." The three-volume classic (published in English in 1978 and in 2005 as a single volume) ably demonstrates that Stalinism is a feature of Marxism, not an aberration.

Mr. Hobsbawm closes "How to Change the World" by making a predictable admonition: With the world economy in turmoil, "once again the time has come to take Marx seriously." How the application of Marxist economics to the deeply indebted U.S. (or Greek) economy would reverse the current crisis is left unsaid. In Europe, where socialist parties and left-wing coalitions win elections, the electoral tide has turned dramatically in the other direction now that social-democratic policy has swamped the Continent in debt, with parties of the right controlling all of the major (and many minor) economies.

"How to Change the World" shows us little more than how an intellectual has committed his life not to exploring and stress-testing an ideology but to stubbornly defending it. The brand of Marxism that Eric Hobsbawm champions is indeed a way to "change the world." It already did. And it was a catastrophe.

Mr. Moynihan is an editor at Vice magazine.