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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: mentiras companheiras sobre FMI e desemprego

Parece que é uma obsessão: a candidata oficialista, mais bem oficiosa, continua exibindo seus fabulosos dotes para a mentira e a mistificação, não tanto por iniciativa própria, pois ela pouco entende do que está falando, mas porque segue determinações dos apparatchiks do partido totalitário e pelos marketeiros pagos a peso de ouro.
Ela ainda afirmou, nesta segunda-feira 20, a mesma mentira que vem propagando desde o início da campanha eleitoral, a saber, que o governo FHC "quebrou o Brasil três vezes", e que seus adversários criaram desemprego.
A matéria está aqui:

http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,em-carreata-no-rio-dilma-afirma-que-tucanos-se-ajoelharam-diante-do-fmi,1579647

Já ofereci minha contribuição sobre o tema das relações do Brasil com o FMI, mas me permito acrescentar aqui algumas considerações sobre  a questão do desemprego.
Sobre o Brasil e o FMI, recomendo, antes da leitura do material abaixo, visitar estes dois links deste blog:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/o-brasil-nao-quebrou-tres-vezes-mentira.html
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/eleicoes-2014-o-brasil-quebrou-3-vezes.html

Agrego mais algumas considerações:


A alegação de que o governo do PSDB “quebrou o Brasil três vezes”, e a de que o Brasil “teve de se humilhar frente ao Fundo Monetário Internacional, aceitando imposições na política econômica para receber milhões de empréstimo”, constituem deslavadas mentiras. Diversos economistas respeitáveis já desmantelaram essa mistificação, mas os companheiros e sua candidata continuam a repetir isso, como se uma mentira repetida diversas vezes pudesse virar uma verdade, como dizia Goebbels, o famigerado ministro da propaganda de Hitler. Como os antigos fascistas e nazistas, o PT também parece gostar desse tipo de propaganda mentirosa.
A verdade é a seguinte. Os anos 90 foram muito conturbados no plano financeiro. O Brasil estava recém saindo de uma inflação de 900% ao ano, tentando consolidar o Plano Real, quando o México, em dezembro de 1994, enfrentou graves problemas cambiais, que também  afetaram o Brasil. Três anos depois, em 1997, foi a vez dos países asiáticos entrarem em convulsão, inclusive com a queda de vários governos na região. Mas o mais terrível, para o Brasil, foi a moratória russa, em agosto de 1998, dando um calote monumental em vários bancos europeus e num grande fundo americano. Os mercados imediatamente se retraíram, e cessaram todos os tipos de financiamento internacional, até mesmo para operações de comércio exterior. Com essa retração, as reservas do Brasil diminuíram bastante, e embora não houvesse risco imediato, o governo FHC resolveu ampliar essas reservas apelando ao FMI e a diversos países credores. 
Seria preciso deixar bem claro que o Brasil NUNCA quebrou, nem uma, nem duas, nem três vezes. Em todas as oportunidades, o Brasil negociou acordos PREVENTIVOS com o FMI, que colocou à disposição do país alguns bilhões de dólares que reforçaram as reservas internacionais. Foram 20 bilhões de dólares da primeira vez, 10 da segunda e 30 bilhões da terceira vez.
Em 2001 a Argentina quebrou espetacularmente e isso afetou o Brasil também, já que muitos investidores externos não fazem muitas distinções entre mercados emergentes. O Brasil fez um novo acordo com o FMI, pois em 2000, passado o perigo da moratória russa, o Armínio Fraga, na época presidente do Banco Central, já tinha pago a maior parte do dinheiro emprestado no final de 1998. 
Finalmente, em 2002, novas turbulências surgiram, mas em escala muito mais vasta, e por uma razão muito simples: todo mundo temia o que pudesse acontecer no Brasil, depois de anos e anos que os "economistas" do PT pregavam ruptura dos contratos e calotes na dívida externa e até na dívida interna. Esta foi a razão de porque o Brasil teve de ir mais uma vez ao FMI, em 2002, diga-se de passagem, para negociar um acordo que foi feito para beneficiar o governo Lula. Este ficou tão agradecido que até falou em convidar o Armínio para continuar colaborando com o seu governo. Isso está documentado, no próprio livro que o ministro Palocci publicou sobre o seus anos como ministro.
  O Brasil quebrou, sim, uma vez mas foi em 1987, na moratória do Sarney, hoje aliado dos companheiros, uma decisão irrefletida, tomada por influência de muitos economistas que ainda hoje apoiam o governo companheior. Esse gesto deixou o Brasil isolado dos mercados internacionais de capitais durante vários anos. Nenhum país normal pode achar bom ficar sem a possibilidade de recorrer a mercados externos de capitais, e o  governo  companheiro faz isso, de forma contínua e normal, recorrendo aos mercados internacionais sempre quando necessário
Por fim, o empréstimo negociado em 2002 para ajudar o governo Lula, foi estendido duas outras vezes pelo ministro Palocci, que, aliás, sabiamente, ainda aumentou o superávit primário que tínhamos negociado com o FMI em mais meio ponto do PIB. O presidente Lula, num gesto bem mais demagógico do que de sapiência econômica, resolveu terminar esse acordo com o FMI em 2005, mais por razões eleitorais do que outra coisa: esse empréstimo poderia continuar por dois ou três anos mais, e o Brasil só pagava 4,5% de juros ao ano por ele; sem ele, o Brasil continuou a tomar dinheiro lá fora, mas em bases comerciais, custando o dobro disso. Ou seja, o gesto de Lula custou vários milhões de dólares ao Brasil.
 
Sobre a Taxa de Desemprego:
   A candidata vive dizendo que os governos lulo-petistas criaram milhões de empregos e que nunca antes na história do Brasil a taxa de desemprego foi tão baixa. A realidade não é bem essa, como explico a seguir.
A taxa de desemprego anunciada pelo IBGE não reflete a realidade do mercado de trabalho em nosso país. Ela é calculada unicamente sobre um quinto da população ativa do país, e apenas e tão somente em seis grandes regiões metropolitanas. Em números claros, estamos falando de pouco mais de 20 milhões de pessoas, num total de 113 milhões de brasileiros em condições de trabalhar. Ou seja, muito pouco para medir a taxa de desemprego real.
Os companheiros também se vangloriam de estar assistindo, por meio do Bolsa Família, 13 milhões e meio de famílias, ou seja, quase 55 milhões de pessoas. Não sei se é o caso de exibir orgulho pelo fato de o País ter praticamente um quarto da sua população como dependentes oficiais do Estado. Isso é uma Argentina inteira, com um cartão magnético, o que não tira ninguém da pobreza, apenas subsidia o consumo de pessoas pobres. Não sei tampouco se é normal um país ter um número tão elevado de assistidos, mas isso é uma outra discussão. Vamos à taxa de desemprego.
Pode-se calcular quantos, na população assistida pelo Bolsa Família, poderiam estar na população economicamente ativa, e trabalhando em empregos formais? Calculando por baixo, devem ser pelo menos três milhões de pessoas, que simplesmente estão fora do mercado de trabalho porque de outro modo perderiam o acesso ao esquema oficial de ajuda.
Pois bem, se juntarmos a taxa de desemprego do IBGE, já metodologicamente falha, mas que dá 5,7% da população economicamente ativa, a esse contingente de assistidos, a taxa de desocupação efetiva poderia subir para até 16%  do total, ou seja, quase três vezes a taxa oficial. A nossa taxa de atividade atualmente, segundo o IBGE, é de 57% da população em idade de trabalhar, mas ela deveria ser de pelo menos 64%.

Paulo Roberto de Almeida  
Hartford, 20/10/2014


 



segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Brasil NAO QUEBROU três vezes; MENTIRA da candidata - Paulo Roberto de Almeida

A despeito de já ter sido desmentida várias vezes, por vários economistas que inclusive publicaram artigos esclarecedores na imprensa sobre essa mentira deliberada (vejam, por exemplo, este aqui, Patranhas Petistas, da economista Monica De Bolle), a candidata oficiosa continua a repetir o que ela sabe ser mentira: que o Brasil quebrou três vezes sob o governo FHC.
Não apenas isso, um filhote do partido totalitário, que também deve ter recebido ordens do seu Goebbels para escrever algo contra Armínio Fraga na crise (provocada pelo PT) da campanha presidencial de 2002, acaba de publicar um artigo fraudulento e mentiroso sobre a deterioração do quadro econômico no decorrer daquele ano, atribuindo os problemas, não ao seu partido mentiroso, mas ao homem que estava procurando resolver os problemas criados pelas esquizofrenias tantas vezes repetidas pelos "economistas de botequim" companheiros.
Como eu sempre dou a palavra aos que escrevem sobre assuntos relevantes, mesmo contando mentiras, coloquei esse artigo vergonha neste blog, mas fazendo-o preceder da necessária retificação. Os interessados em ler, podem consultar este link.
Em vista, portanto, de tantas mentiras repetidas, permito-me colocar novamente neste blog, o trabalho que escrevi às pressas sobre a questão das relações do Brasil com o FMI naqueles anos cruciais.
Os que desejarem maiores detalhes sobre todos esses episódios, podem se referir ao capítulo sobre o Brasil e o FMI, neste meu livro: Relações Internacionais e Política Externa do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

O Brasil quebrou três vezes sob FHC?
Mentira da candidata!

Paulo Roberto de Almeida

É normal, no curso de uma campanha tão acirrada quanto a atual, que os candidatos exagerem um pouco em suas afirmações, com o objetivo de enfatizar os erros, equívocos, ou até traições dos seus competidores, e para realçar suas próprias virtudes e qualidades.
Não é normal, contudo, nem aceitável, sob qualquer critério, que eles deformem as posições dos competidores, que eles veem como adversários ou até como inimigos, ou que eles recorram a MENTIRAS DELIBERADAS para tentar acusar os adversários de algum pecado grave, antinacional.
É isso, no entanto, que vem fazendo os companheiros desde muito tempo, praticamente desde os próprios eventos, agindo de forma que eles sabem ser totalmente desonesta, mas ainda assim insistindo na mentira.
A candidata governista abusou de sua capacidade de mentir ao recorrer novamente a essa mistificação, ainda tão recentemente quanto esta semana.
Como eu acompanhei, muito de perto, a história financeira do Brasil desde o final dos anos 1970, e como estive envolvido em assuntos do FMI durante as próprias negociações -- mas mesmo que não estivesse, como qualquer outro eu leio jornais e sei distinguir a mistificação da realidade, permito-me contar a história verdadeira aqui abaixo, ainda que de forma resumida, para não cansar os leitores.

O que dizem, em síntese esses mentirosos reincidentes, esses fraudadores da história? Eles tendem a repetir a mesma conversa, sempre em tom simplista, e derrogatório, como se todos no Brasil fossem idiotas e não soubessem distinguir a mentira da realidade.

No governo neoliberal de FHC, o Brasil quebrou 3 vezes e nessas 3 vezes FHC teve que se humilhar perante o FMI e aumentar a dívida externa do Brasil.

MENTIRA
Simplesmente não é verdade que o Brasil quebrou três vezes sob FHC.
Esta é uma afirmação de cunho político, totalmente equivocada e que merece uma correção historicamente verificável, além e acima das querelas políticas. Vou relatar exatamente como o processo se passou, desde o início.

No final de 1994, ocorreu uma primeira crise financeira no México,  – que se deveu a uma taxa de câmbio desajustada, que o governo vinha procurando manter estável, um pouco como o nosso atualmente – e que obrigou o governo de FHC a efetuar um ajuste na política cambial, introduzindo um sistema de banda (variação dentro de certos limites). 
Ocorreu também que, por opção do presidente Itamar Franco, a estabilização do Plano Real não pode ser feita com base num forte ajuste fiscal – pois ele dizia que não queria ter recessão, e de fato não houve recessão no Real, como se pode comprovar por dados objetivos – e teve de ser apoiada numa âncora cambial e em juros reais mais elevados (do contrário como dispor de financiamento a um governo que não queria fazer ajuste fiscal?). 
Quando sobreveio a segunda onda de crises financeiras, desta vez nos mercados asiáticos, em meados de 1997 –  também por motivos de câmbio – ocorreu um tremendo refluxo nos movimentos de capitais, o que afetou também o Brasil. Houve novos ajustes, que nos levaram a meados de 1998, quando a Rússia decretou moratória sobre sua dívida externa, dando um calote unilateral em muitos bancos europeu e até alguns americanos, atingindo grandes fundos de investimentos. 
Foi somente aí que a situação do Brasil se agravou, e o governo fez o que tinha de fazer, como fazem todos os países em situação temporária de desequilíbrio no balanço de pagamentos: negociou um acordo PREVENTIVO com o FMI e países credores, que permitiu justamente ao Brasil NÃO QUEBRAR, pois ele teve divisas para continuar cobrindo suas obrigações financeiras externas, sem precisar negociar uma moratória técnica como fez o México. 
Apenas para se ter uma ideia da magnitude dos pacotes de socorro a governos temporariamente inadimplentes (o que NÃO foi o caso do Brasil), o pacote do México envolveu um valor total de 48 bilhões de dólares (grande parte dinheiro americano do Exchange Stabilization Fund, o resto do FMI, BIRD, BID e outros governos). No caso do Brasil, o pacote de ajuda PREVENTIVA foi de 41 bilhões, mas do qual só foi usada uma metade, ainda assim como simples garantia (incorporação nas reservas cambiais, não para dispêndio efetivo). Esse pacote foi feito em outubro-novembro de 1998.
Em janeiro de 1999, o então governador Itamar, ao assumir o governo de Minas Gerais, declarou que não honraria, e não pagaria, as dívidas estaduais negociadas em 1996 e 1997, com o governo federal, que trocou velhas e impagáveis dívidas estaduais (e municipais), por novos bônus a 30 anos, eliminando um dos maiores “esqueletos” da situação anterior de todas as unidades sub-federadas. Ao fazer isso, a dívida pública do governo central naturalmente subiu de 32% do PIB para mais de 60% do PIB, o que constitui outra das acusações desonestas feitas pela oposição ao governo FHC: a dívida aumentou porque o governo federal assumiu imensos montantes de dívidas estaduais e municipais, a juros mais moderados. 
Pois bem, quando Itamar desafiou o governo federal, os mercados (ou seja, investidores em bolsa ou em títulos do governo) operaram um imenso movimento de retirada do Brasil – pois aquilo poderia significar o desmantelamento do Plano Real de estabilização – e que redundou na mudança da política cambial, do regime de banda para um de flutuação suja da moeda. Depois da desvalorização, os mercados se ajustaram rapidamente, tanto é assim que o novo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, pagou o que devia aos governos credores em abril de 2000, e ficou apenas com um crédito stand-by do FMI (ou seja, garantia, apenas, para usar se fosse preciso, de pouco mais de US$ 10 bilhões).
Pouco depois, porém, a Argentina entrou em crise terminal e os chamados mercados, não distinguindo muito bem entre nós e eles, nos puniram novamente, mas a situação foi relativamente tranquila: foi negociado um novo acordo stand-by, também PREVENTIVO, que nos repassou mais US$ 15 bilhões, enquanto durou a crise ao lado (e que se estendeu durante dois anos praticamente, desde a moratória de 2001, até o calote imposto por Kirchner em 2003). Ou seja, o Brasil NÃO quebrou pela segunda vez, apenas fez um novo acordo preventivo de empréstimo negociado.
Chegamos, então, à terceira “crise” e esta foi devida inteiramente à campanha presidencial de 2002.  Não se poderá negar que os “mercados” reagiram fortemente à possibilidade da chegada de Lula  ao poder, e isso não dependia absolutamente do governo FHC: o dólar saiu de 1,70 para quase 4 por dólar até setembro, e os títulos da dívida brasileira (renegociação de 1992-93) se vendiam a 48 centavos por cada dólar na bolsa de NY, tudo isso por causa das ameaças anteriores do PT de dar calote nas dívidas doméstica e externa, além de outras mudanças radicais na política econômica.
Pois bem, também se há de lembrar que o presidente FHC chamou ao Palácio do Planalto cada um dos candidatos presidenciais (e isso depois de Lula já ter apresentado sua “Carta ao Povo Brasileiro, em junho) para apresentar-lhes o pacote em negociação com o FMI, e TODOS deram o seu aval. O Brasil então fez o último dos três acordos, este igualmente PREVENTIVO, em agosto de 2002, pelo qual obteve um novo crédito stand-by por US$ 30 bi (o maior da história do FMI até então). Logo depois, já no governo Lula, o ministro Palocci determinou a elevação, decisão dele, do superávit primário, de 2,75% do PIB para 3,25%, e de fato fez muito mais do que isso durante seus três anos à frente da Fazenda).

Esta é a história REAL dos três pacotes de ajuda PREVENTIVA, totalmente em desacordo com a demagogia política em torno das três quebras, o que NUNCA ocorreu. Quem fez demagogia, aliás até contra o conselho do Ministro Palocci, foi o presidente Lula, que em 2005, por motivos puramente políticos e eleitoreiros, resolveu pagar antecipadamente o que devíamos ao FMI (pouco mais de 10 bi), quando Palocci havia negociado duas extensões e podíamos dispor desse dinheiro por mais 3 anos. 
Ora, Lula mandou devolver um dinheiro pelo qual o Brasil pagava no máximo 4,5% de juros ao ano, para depois ter de recorrer aos mercados comerciais de emissão de títulos governamentais, pelos quais passamos a pagar mais de 8% ao ano. Onde está a demagogia e a política aqui?

Nem FHC, nem Lula aumentaram a dívida externa do Brasil, que era basicamente de natureza comercial e privada, pois as dívidas governamentais foram sendo reduzidas ao longo de todo esse período. Apenas o primeiro pacote de ajuda PREVENTIVA foi feito durante a administração Clinton; os dois seguintes foram feitos sob o governo Bush, com que Lula aparentemente se relacionava muito bem, pelo menos ele assim o disse em diversas ocasiões.

Esta é a história real.
Os companheiros que continuarem fazendo falsas acusações deveriam ser processados por mentira e difamação. Mas o fato é que eles não se corrigem. Não conseguem viver sem trapaças e mentiras. Faz parte de sua natureza mafiosa viver nesse tipo de lodo moral.


Paulo Roberto de Almeida 

Hartford, 5/10/2014

Postagens mais populares: Não, o Brasil NAO quebrou tres vezes, MENTIRA da candidata

Novamente cai por acaso nas estatísticas do meu blog, e fiquei satisfeito ao constatar que a postagem desmentindo a candidata -- uma tarefa sempre recomeçada, já que ela não se corrige, e continua a mentir desbragadamente -- sobre os programas do Brasil com o FMI, entre 1998 e 2005 (e que beneficiaram enormemente o governo Lula, foi a mais acessada do período recente.

Vejam vocês mesmos:
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Em homenagem à presidente-candidata, ou candidata-presidente (whatever), que continua mentindo como nunca, e que vai continuar mentindo, porque mais desesperada (também, já pensaram, o medo de ir para a cadeia deixa esse pessoal apavorado), vou postar novamente o meu texto, por que é necessário que as pessoas saibam que ela está mentindo e conheçam a história real.
No post imediatamente subsequente a este.
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 5 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: o Brasil "quebrou 3 vezes" sob FHC e humilhou-se perante o FMI? MENTIRA! Eis aqui a historia correta - Paulo Roberto de Almeida

É normal, no curso de uma campanha tão acirrada quanto a atual, que os candidatos exagerem um pouco em suas afirmações, com o objetivo de enfatizar os erros, equívocos, ou até traições dos seus competidores, e para realçar suas próprias virtudes e qualidades.
Não é normal, contudo, nem aceitável, sob qualquer critério, que eles deformem as posições dos competidores, que eles veem como adversários ou até como inimigos, ou que eles recorram a MENTIRAS DELIBERADAS para tentar acusar os adversários de algum pecado grave, antinacional.
É isso, no entanto, que vem fazendo os companheiros desde muito tempo, praticamente desde os próprios eventos, agindo de forma que eles sabem ser totalmente desonesta, mas ainda assim insistindo na mentira.
A candidata governista abusou de sua capacidade de mentir ao recorrer novamente a essa mistificação, ainda tão recentemente quanto esta semana.
Como eu acompanhei, muito de perto, a história financeira do Brasil desde o final dos anos 1970, e como estive envolvido em assuntos do FMI durante as próprias negociações -- mas mesmo que não estivesse, como qualquer outro eu leio jornais e sei distinguir a mistificação da realidade, permito-me contar a história verdadeira aqui abaixo, ainda que de forma resumida, para não cansar os leitores.

O que dizem, em síntese esses mentirosos reincidentes, esses fraudadores da história?
Eles tendem a repetir a mesma conversa, sempre em tom simplista, e derrogatório, como se todos no Brasil fossem idiotas e não soubessem distinguir a mentira da realidade.



MENTIRA
Simplesmente não é verdade que o Brasil quebrou três vezes sob FHC.
Esta é uma afirmação de cunho político, totalmente equivocada e que merece uma correção historicamente verificável, além e acima das querelas políticas.
Vou relatar exatamente como o processo se passou, desde o início.

No final de 1994, ocorreu uma primeira crise financeira no México,  – que se deveu a uma taxa de câmbio desajustada, que o governo vinha procurando manter estável, um pouco como o nosso atualmente – e que obrigou o governo de FHC a efetuar um ajuste na política cambial, introduzindo um sistema de banda (variação dentro de certos limites). 
Ocorreu também que, por opção do presidente Itamar Franco, a estabilização do Plano Real não pode ser feita com base num forte ajuste fiscal – pois ele dizia que não queria ter recessão, e de fato não houve recessão no Real, como se pode comprovar por dados objetivos – e teve de ser apoiada numa âncora cambial e em juros reais mais elevados (do contrário como dispor de financiamento a um governo que não queria fazer ajuste fiscal?). 
Quando sobreveio a segunda onda de crises financeiras, desta vez nos mercados asiáticos, em meados de 1997 –  também por motivos de câmbio – ocorreu um tremendo refluxo nos movimentos de capitais, o que afetou também o Brasil. Houve novos ajustes, que nos levaram a meados de 1998, quando a Rússia decretou moratória sobre sua dívida externa, dando um calote unilateral em muitos bancos europeu e até alguns americanos, atingindo grandes fundos de investimentos. 
Foi somente aí que a situação do Brasil se agravou, e o governo fez o que tinha de fazer, como fazem todos os países em situação temporária de desequilíbrio no balanço de pagamentos: negociou um acordo PREVENTIVO com o FMI e países credores, que permitiu justamente ao Brasil NÃO QUEBRAR, pois ele teve divisas para continuar cobrindo suas obrigações financeiras externas, sem precisar negociar uma moratória técnica como fez o México. 
Apenas para se ter uma ideia da magnitude dos pacotes de socorro a governos temporariamente inadimplentes (o que NÃO foi o caso do Brasil), o pacote do México envolveu um valor total de 48 bilhões de dólares (grande parte dinheiro americano do Exchange Stabilization Fund, o resto do FMI, BIRD, BID e outros governos). No caso do Brasil, o pacote de ajuda PREVENTIVA foi de 41 bilhões, mas do qual só foi usada uma metade, ainda assim como simples garantia (incorporação nas reservas cambiais, não para dispêndio efetivo). Esse pacote foi feito em outubro-novembro de 1998.
Em janeiro de 1999, o então governador Itamar, ao assumir o governo de Minas Gerais, declarou que não honraria, e não pagaria, as dívidas estaduais negociadas em 1996 e 1997, com o governo federal, que trocou velhas e impagáveis dívidas estaduais (e municipais), por novos bônus a 30 anos, eliminando um dos maiores “esqueletos” da situação anterior de todas as unidades sub-federadas. Ao fazer isso, a dívida pública do governo central naturalmente subiu de 32% do PIB para mais de 60% do PIB, o que constitui outra das acusações desonestas feitas pela oposição ao governo FHC: a dívida aumentou porque o governo federal assumiu imensos montantes de dívidas estaduais e municipais, a juros mais moderados. 
Pois bem, quando Itamar desafiou o governo federal, os mercados (ou seja, investidores em bolsa ou em títulos do governo) operaram um imenso movimento de retirada do Brasil – pois aquilo poderia significar o desmantelamento do Plano Real de estabilização – e que redundou na mudança da política cambial, do regime de banda para um de flutuação suja da moeda. Depois da desvalorização, os mercados se ajustaram rapidamente, tanto é assim que o novo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, pagou o que devia aos governos credores em abril de 2000, e ficou apenas com um crédito stand-by do FMI (ou seja, garantia, apenas, para usar se fosse preciso, de pouco mais de US$ 10 bilhões).
Pouco depois, porém, a Argentina entrou em crise terminal e os chamados mercados, não distinguindo muito bem entre nós e eles, nos puniram novamente, mas a situação foi relativamente tranquila: foi negociado um novo acordo stand-bye, também PREVENTIVO, que nos repassou mais US$ 15 bilhões, enquanto durou a crise ao lado (e que se estendeu durante dois anos praticamente, desde a moratória de 2001, até o calote imposto por Kirchner em 2003). Ou seja, o Brasil NÃO quebrou pela segunda vez, apenas fez um novo acordo preventivo de empréstimo negociado.
Chegamos, então, à terceira “crise” e esta foi devida inteiramente à campanha presidencial de 2002.  Não se poderá negar que os “mercados” reagiram fortemente à possibilidade da chegada de Lula  ao poder, e isso não dependia absolutamente do governo FHC: o dólar saiu de 1,70 para quase 4 por dólar até setembro, e os títulos da dívida brasileira (renegociação de 1992-93) se vendiam a 48 centavos por cada dólar na bolsa de NY, tudo isso por causa das ameaças anteriores do PT de dar calote nas dívidas doméstica e externa, além de outras mudanças radicais na política econômica.
Pois bem, também se há de lembrar que o presidente FHC chamou ao Palácio do Planalto cada um dos candidatos presidenciais (e isso depois de Lula já ter apresentado sua “Carta ao Povo Brasileiro, em junho) para apresentar-lhes o pacote em negociação com o FMI, e TODOS deram o seu aval. O Brasil então fez o último dos três acordos, este igualmente PREVENTIVO, em agosto de 2002, pelo qual obteve um novo crédito stand-by por US$ 30 bi (o maior da história do FMI até então). Logo depois, já no governo Lula, o ministro Palocci determinou a elevação, decisão dele, do superávit primário, de 2,75% do PIB para 3,25%, e de fato fez muito mais do que isso durante seus três anos à frente da Fazenda).

Esta é a história REAL dos três pacotes de ajuda PREVENTIVA, totalmente em desacordo com a demagogia política em torno das três quebras, o que NUNCA ocorreu. Quem fez demagogia, aliás até contra o conselho do Ministro Palocci, foi o presidente Lula, que em 2005, por motivos puramente políticos e eleitoreiros, resolveu pagar antecipadamente o que devíamos ao FMI (pouco mais de 10 bi), quando Palocci havia negociado duas extensões e podíamos dispor desse dinheiro por mais 3 anos. 
Ora, Lula mandou devolver um dinheiro pelo qual o Brasil pagava no máximo 4,5% de juros ao ano, para depois ter de recorrer aos mercados comerciais de emissão de títulos governamentais, pelos quais passamos a pagar mais de 8% ao ano. Onde está a demagogia e a política aqui?

Nem FHC, nem Lula aumentaram a dívida externa do Brasil, que era basicamente de natureza comercial e privada, pois as dívidas governamentais foram sendo reduzidas ao longo de todo esse período. Apenas o primeiro pacote de ajuda PREVENTIVA foi feito durante a administração Clinton; os dois seguintes foram feitos sob o governo Bush, com que Lula aparentemente se relacionava muito bem, pelo menos ele assim o disse em diversas ocasiões.

Esta é a história real.
Os companheiros que continuarem fazendo falsas acusações deveriam ser processados por mentira e difamação.
Mas o fato é que eles não se corrigem.
Não conseguem viver sem trapaças e mentiras.
Faz parte de sua natureza mafiosa viver nesse tipo de lodo moral.

Paulo Roberto de Almeida 
5/10/2014

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Bretton Woods: 70 anos da criacao do FMI e do Banco Mundial - convite

Infelizmente, não vou poder estar, a despeito da vontade. Estive recentemente em Bretton Woods, onde adquiri o livro de Benn Steil: The Battle of Bretton Woods.
Mas, lerei as transcrições, depois, a partir dos materiais do CFS.
Paulo Roberto de Almeida

The Center for Financial Stability (CFS) cordially invites your participation at
"Bretton Woods 2014: The Founders and the Future." 

The conference will focus on the FUTURE of finance and the international monetary system via presentations, delegate discussions, and interactions as well as draw lessons from the astonishing leadership and vision demonstrated in 1944 for today and into the future.

Some speakers include:
- Ernesto Zedillo, President of Mexico (94-00);
- Eduardo Aninat, Deputy Managing Director of the IMF (99-03);
- Sheila Bair, Chair of the FDIC (06-11);
- Domingo Cavallo, Minister of the Economy, Argentina (91-96, 01);
- Charles Goodhart, Member of the Bank of England's MPC (97-00);
- Sean Hagan, General Counsel and Director of the Legal Dept at the IMF;
- Robert D. Hormats, Vice Chairman of Kissinger Associates Inc.;
- Otmar Issing, Member of the Executive Board of the ECB (98-06);
- Yves-André Istel, Senior Advisor and former Vice Chairman of Rothschild, Inc.;
- Takatoshi Ito, Member, Economic and Fiscal Counsel, Japan, MoF (06-08);
- Pedro Malan, Minister of Finance for Brazil (95-03);
- Jack Malvey, Chief Global Markets Strategist, BNY Mellon;
- Guillermo Ortiz, Governor, Bank of Mexico (98-09) / Finance Minister (94-98);
- Randal K. Quarles, Under Secretary for Domestic Finance, U.S. Treasury (05-06);
- William R. Rhodes, President and CEO of William R. Rhodes Global Advisors;
- Paul Saffo, Futurist; Stanford University;
- Richard Sandor, CEO, Envifi and “father of financial futures”;
- Siddharth Tiwari, Director, Strategy, Policy, and Review at the IMF;
- Paul Tucker, Deputy Governor (09-13) / Member of the MPC, Bank of England (02-13);
- Yu Yongding, Member of the MPC of the People’s Bank of China (04-06).

An agenda is available at http://centerforfinancialstability.org/bw2014_topics.php.

The entire Mount Washington Hotel in New Hampshire will be exclusively available for the conference, as it was in 1944. Bretton Woods 2014 will begin with a welcome dinner on Tuesday, September 2nd and continue with full day programs on September 3rd and 4th. On September 5th, delegates are invited to join us for recreational activities.

Complimentary shuttle transportation will be provided to and from Boston Logan International as well as the Mount Washington Regional Airport.

The gathering is by invitation only.  Enter the e-mail address to which this invitation was sent to begin the registration process from the conference website - www.BrettonWoods2014.org.

We are grateful to the Marriner S. Eccles Foundation, BNY Mellon, and the Citrone Foundation for their vision and support of Bretton Woods 2014.

Sincerely yours,
Larry Goodman

President
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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Brasil: uma forca perturbadora no FMI, segundo a Diretora-Gerente; e como...

Claro, ela estava brincando, e referindo-se à Copa do Mundo, mas é verdade que o Brasil sempre teve relações tempestuosas com o Fundo, e desde outros Carnavais: começamos com um acordo, em 1958, que foi denunciado demagogicamente pelo presidente Juscelino Kubitschek, "apenas" porque ele queria construir Brasília sem orçamento, à margem do orçamento, contra o orçamento. O FMI só queria que o Brasil colocasse suas contas em ordem, mas a consequência foi o início da inflação no Brasil, que resultou em 1964, e depois na voragem dos anos 1980 e início dos anos 1990. Parece que, agora mesmo, os companheiros, que já chamaram a diretora-gerente do FMI de "presidenta" do FMI, e que também denunciaram, demagogicamente um acordo com o Fundo (o de 2002, renovado em 2003, e que poderia ir até 2007, mas interrompido por eles em 2005, a um grande custo para o Brasil), estão provocando mais inflação, para desgosto de todos nós que já sofremos bastante sob os ciclos inflacionários anteriores.
Enfim, hoje mesmo acabo de terminar um artigo sobre as relações entre o Brasil e o FMI, nestes 70 anos de história desde Bretton Woods. Aliás, começo antes, como revelado neste resumo do artigo que transcrevo abaixo, mais o sumário do artigo. Mais adiante, darei conhecimento da íntegra.
O Brasil e o FMI desde Bretton Woods: 70 anos de História”.

Resumo: Ensaio sobre a inserção do Brasil no sistema monetário internacional, desde antes de Bretton Woods: uma conferência interamericana no Rio de Janeiro, em 1942, já previa o estabelecimento de um Fundo Internacional de Estabilização. O ensaio retraça o itinerário do FMI, com destaque para a mudança de padrão cambial em 1971, e segue as relações entre o Brasil e a instituição, com ênfase nos acordos contraídos sob diferentes políticas econômicas e em momentos diversos de crises nas transações externas; o primeiro acordo foi rompido por razões políticas em 1958, e o mais recente, de 2003, foi suspenso em 2005, antes de sua conclusão, também por motivos políticos. São destacados os problemas enfrentados pelo FMI no período – estabilidade cambial, liquidez, monitoramento das economias nacionais – e as circunstâncias que levaram o Brasil a contrair seus muitos acordos com a instituição; uma tabela final lista todos esses acordos e os valores envolvidos.
Sumário:
1. O FMI começou no Brasil, dois anos antes de Bretton Woods
2. Os Direitos Especiais de Saque também começaram no Brasil
3. Os desequilíbrios se acumulam e Nixon corta o Nó Górdio de Bretton Woods
4. Os choques do petróleo e a crise da dívida latino-americana dos anos 1980
5. Encontros e desencontros entre o Brasil e o FMI nas duas décadas perdidas
6. As crises asiáticas e a moratória russa: o Brasil volta ao FMI
7. A crise argentina e cenário eleitoral de 2002: as novas fases do drama
8. A esquerda anti-FMI e o fim dos acordos formais

Anexo: Brasil: acordos formais estabelecidos com o FMI, 1958-2010
Até lá
Paulo Roberto de Almeida

Brasil não está fazendo reformas estruturais, diz diretora do FMI

O Globo, 30/07/2014


Às vésperas do recesso de verão do Fundo Monetário Internacional (FMI), a diretora-gerente Christine Lagarde reuniu-se na manhã desta terça-feira com um grupo de jornalistas, na sede do organismo multilateral, para discutir as perspectivas da economia mundial. Ao falar do Brasil, brincou que o país foi “uma força perturbadora” dos trabalhos do organismo por um mês, devido à Copa do Mundo, durante a qual funcionários, diretores e ela própria pararam constantemente para acompanhar os jogos. Mas também falou sério. Questionada se, diante de 15 meses de prognósticos ruins e repetição das mesmas recomendações, o governo brasileiro estava falhando na adoção de políticas para corrigir fragilidades, diplomaticamente concordou:
— Temos reiterado as mesmas fortes recomendações para que reformas estruturais sejam feitas, gargalos sejam reduzidos na economia e que o potencial, a capacidade de o Brasil entregar crescimento seja liberada. E isso não vem sendo feito — afirmou a diretora-gerente, que colocou o Brasil ainda em estado de atenção em relação à expansão do déficit em conta corrente (que fechou em 3,6% do PIB, ou 2,9% justados, em 2013, para um patamar que o Fundo considera ideal entre 1% e 2,5%).
Lagarde reforçou a mensagem de que o mundo passa por um período de retomada desigual do crescimento, com tração nos motores dos países ricos e desaceleração sincronizada e sistemática das nações emergentes. Alertou para os riscos associados à normalização das políticas monetárias dos EUA e do Reino Unido, que pode provocar turbulências e desarrumar ainda mais a casa dos países em desenvolvimento.
O receituário para vencer os obstáculos, disse Lagarde, é inequívoco: reformas estruturais, conserto dos problemas macroeconômicos (inflação alta, déficits em contas externas, desequilíbrios fiscais) e muita coordenação entre autoridades.
Ela acredita ainda que a criação de mecanismos como o Arranjo de Contingência de Reservas (ACR) das nações que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não afronta o FMI, e sim convoca parceria entre os diversos agentes, refletindo um mundo multipolar mas interdependente. A diretora-gerente considera ainda que a falha do Congresso dos EUA em ratificar a reforma de governança do Fundo, que dará mais poder aos emergentes, não afeta a eficiência da instituição nem lhe retira credibilidade.
Sobre a iminência de default da Argentina, nesta quarta-feira, Lagarde afirma que os efeitos serão circunscritos ao país sul-americano, do ponto de vista de turbulências. Mas o episódio acentuará a necessidade de reavaliação dos processos de reestruturação de dívida, da eficiência da ação coletiva, “(d)a escolha de leis e outros critérios legais tipicamente encontrados nesses casos”. O próximo trabalho do FMI sobre o tópico será apresentado à diretoria-executiva do órgão entre o fim de setembro e o início de outubro, pouco antes da Reunião Anual da instituição e do Banco Mundial, em Washington.
Abaixo, alguns trechos da entrevista.
CONDIÇÕES GLOBAIS
“Estamos passando por uma recuperação desigual do crescimento global. O que estamos identificando é risco associado com a normalização das políticas monetárias dos países ricos, começando com EUA e Reino Unido. O Fed (Federal Reserve, BC americano) e o Banco da Inglaterra estão agora considerando o fim dos estímulos e a elevação dos juros. Banco Central Europeu e Banco do Japão provavelmente continuarão mais um tempo com a política acomodativa. Haverá consequências. Se a comunicação for bem calibrada e feita, acreditamos que os efeitos colaterais serão administráveis. Mas claramente temos em mente o que aconteceu em maio do ano passado e como apenas a comunicação da intenção afetou os mercados emergentes”.
Emergentes
“Também temos uma desaceleração mais sincronizada dos emergentes. Eu colocaria a China de lado, pois medidas tomadas vão segurar o crescimento de 7,5%. Mas demais emergentes, sim. Isso terá ‘consequências para a vizinhança’, no sentido de que os países que comercializam ou se beneficiam de investimentos dessas nações emergentes vão arcar com os efeitos desta desaceleração sincronizada. Se levarmos esses dois elementos em consideração (desaceleração e normalização monetária dos ricos), claramente haverá impacto na tentativa das autoridades tomarem medidas e realçar a fragilidade do crescimento”.
Setor externo e ações

“(Antes), era mais uma questão do superávit da China versus o déficit dos EUA no debate. O que vemos agora é menos desequilíbrio, mas esta questão está mais espalhada. Do lado superavitário, claramente vemos dois líderes, China e Alemanha. Do lado do déficit, temos os suspeitos de sempre, os EUA e alguns dos países europeus, mas também países como Turquia, África do Sul e Brasil. Está espalhando-se esse lado do déficit. Então, acreditamos que o caminho de políticas é manter a casa em ordem, cada um com suas particularidades no caso dos emergentes. O que é comum a todos é fazer reformas estruturais de diversas categorias. E nos frontes monetário e fiscal, cada um também tem políticas para adotar. A segunda recomendação é: falem uns com os outros. E a terceira é cooperem o quanto puderem. Parece incongruente recomendar cooperação em tempos em que você não vê muita cooperação, mas, economicamente, isso é o mais desejável, mais comunicação, mais cooperação, particularmente os banqueiros centrais, quando forem mudar o curso de política”.
Copa do Mundo

“O Brasil foi uma força perturbadora do trabalho do FMI recentemente, porque a Copa do Mundo mobilizou todo mundo nesta instituição, todos grudados na tela de TV por um mês e muitos jogos. Afetou todos os níveis da instituição, dos diretores-executivos ao staff, incluindo a diretora-gerente, embora eu não tenha assistido todos os jogos, mas vi alguns”.
Brasil

“É verdade que temos revisado para baixo nossas projeções para o Brasil e é verdade que todos temos reiterado as mesmas fortes recomendações para que reformas estruturais sejam feitas, gargalos sejam reduzidos na economia e que o potencial, a capacidade de o Brasil entregar crescimento seja liberada. E isso não vem sendo feito”.
Argentina
“Estamos obviamente monitorando a situação. A Argentina está fora dos mercados financeiros e de qualquer círculo financeiro há muito tempo e, embora defaults sejam sempre lamentáveis, nós não temos a visão de que teria grandes consequências significativas além daquela situação geográfica particular (…) (há) a questão significativa dos princípios da reestruturação de dívidas e qual seria o resultado das decisões legais que estão sendo tomadas em NY no momento, que têm significado mais amplo. Os princípios da reestruturação de dívidas e a eficiência da ação coletiva precisarão ser reavaliadas, junto com escolhas de leis e outros critérios legais tipicamente encontrados nesses casos. É neste ponto em que estamos trabalhando e continuaremos nos próximos meses”.

Reforma de governança e credibilidade o FMI

“Sobre (a redistribuição das) cotas, não acho que afete a eficiência do Fundo, a efetividade da diretoria. Quando olho para os nossos programas, linhas de crédito em vigor, a estabilidade que tentamos entregar por intermédio da nossa assistência técnica, da supervisão bilateral que oferecemos baseada em 70 anos de expertise em campo, não acho que a falha de alguns membros em aprovar a reforma de governança é um impedimento às nossas operações. Isso está corroendo a credibilidade da instituição. Alimenta algumas pesquisas acadêmicas e alguns editoriais de observadores, mas na minha vida cotidiana, nas nossas operações com o staff e os membros da diretoria, e, mais importante, nas minhas tratativas com as autoridades dos países, incluindo com as dos países do Brics, isso não afeta o Fundo e não corrói nossas ações”.

Iniciativas financeiras dos Brics

“O Arranjo de Contingência de Reservas (ACR) criado pelo Brics vem sendo construído nos últimos três ou quatro anos. Então, acho que é bastante independente da falha dos EUA em ratificarem a reforma (de governança). É atribuída uma ligação pelos observadores, mas o Brics já vinha falando disso há algum tempo, eles decidiram em um encontro deles, há alguns anos, os princípios (do ACR). Há uma cooperação intrínseca entre o ACR e o FMI. Dos US$ 100 bilhões que o Brics reservaram, cada membro pode sacar do que aportou até 30%. Para mais, tem que ter um programa em curso com o FMI. Quando se olha para a relação do FMI com essas novas agências, os acordos, é muito similiar ao Chiang Mai (mecanismo de contingência e reserva) criado pelos países asiáticos, que tem o FMI do outro lado. Não digo que foi um ‘corte e cola’. O Brics não é uma região, Brics é um agrupamento com interesses comuns. Embora, por interesses comuns, eu digo a mim mesma ‘eles não são a mesma coisa de forma alguma’…”.
Papel do FMI
“Estamos celebrando os 70 anos das instituições de Bretton Woods e há muita nostalgia expressa sobre os objetivos dos ‘fundadores’. O mundo mudou ao redor do FMI e o próprio Fundo mudou imensamente. E continuará a mudar. Esta é uma das belezas desta instituição, ela se ajusta, é flexível, mudamos os instrumentos e os programas ao longo do tempo, mudamos a supervisão, ampliamos massivamente a assistência técnica. E continuaremos a fazê-lo. Todo o mundo está mudando continuamente. O equilíbrio de poder está mudando, há confrontos e há poderes econômicos emergindo, se consolidando e cooperando, há efeitos sobre os vizinhos, que valerá a pena continuar explorando. O fato é que a rede de proteção que os coreanos particularmente demandaram no encontro do G-20 vem sendo construída, em torno do arranjo do Chiang Mai, do mecanismo europeu de estabilidade, do ACR, dos instrumentos de swap entre vários bancos centrais. Isso reflete o fato de que o mundo é vastamente global e interdependente e precisa, provavelmente, de diferentes camadas nesta rede de proteção. Mas não vejo nada que seja inconsistente com a missão do FMI, que acho que é coordenação, cooperação entre os pilares das redes de proteção internacionais – das quais o FMI é a peça central”.