A despeito de já ter sido desmentida várias vezes, por vários economistas que inclusive publicaram artigos esclarecedores na imprensa sobre essa mentira deliberada (vejam, por exemplo, este aqui,
Patranhas Petistas, da economista Monica De Bolle), a candidata oficiosa continua a repetir o que ela sabe ser mentira: que o Brasil quebrou três vezes sob o governo FHC.
Não apenas isso, um filhote do partido totalitário, que também deve ter recebido ordens do seu Goebbels para escrever algo contra Armínio Fraga na crise (provocada pelo PT) da campanha presidencial de 2002, acaba de publicar um artigo fraudulento e mentiroso sobre a deterioração do quadro econômico no decorrer daquele ano, atribuindo os problemas, não ao seu partido mentiroso, mas ao homem que estava procurando resolver os problemas criados pelas esquizofrenias tantas vezes repetidas pelos "economistas de botequim" companheiros.
Como eu sempre dou a palavra aos que escrevem sobre assuntos relevantes, mesmo contando mentiras, coloquei esse artigo vergonha neste blog, mas fazendo-o preceder da necessária retificação. Os interessados em ler, podem consultar
este link.
Em vista, portanto, de tantas mentiras repetidas, permito-me colocar novamente neste blog, o trabalho que escrevi às pressas sobre a questão das relações do Brasil com o FMI naqueles anos cruciais.
Os que desejarem maiores detalhes sobre todos esses episódios, podem se referir ao capítulo sobre o Brasil e o FMI, neste meu livro:
Relações Internacionais e Política Externa do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
O Brasil quebrou três vezes sob FHC?
Mentira da
candidata!
Paulo Roberto de Almeida
É normal, no curso de uma campanha
tão acirrada quanto a atual, que os candidatos exagerem um pouco em suas
afirmações, com o objetivo de enfatizar os erros, equívocos, ou até traições
dos seus competidores, e para realçar suas próprias virtudes e qualidades.
Não é normal, contudo, nem
aceitável, sob qualquer critério, que eles deformem as posições dos
competidores, que eles veem como adversários ou até como inimigos, ou que eles
recorram a MENTIRAS DELIBERADAS para tentar acusar os adversários de algum
pecado grave, antinacional.
É isso, no entanto, que vem fazendo
os companheiros desde muito tempo, praticamente desde os próprios eventos,
agindo de forma que eles sabem ser totalmente desonesta, mas ainda assim
insistindo na mentira.
A candidata governista abusou de sua
capacidade de mentir ao recorrer novamente a essa mistificação, ainda tão
recentemente quanto esta semana.
Como eu acompanhei, muito de perto,
a história financeira do Brasil desde o final dos anos 1970, e como estive
envolvido em assuntos do FMI durante as próprias negociações -- mas mesmo que
não estivesse, como qualquer outro eu leio jornais e sei distinguir a
mistificação da realidade, permito-me contar a história verdadeira aqui abaixo,
ainda que de forma resumida, para não cansar os leitores.
O que dizem, em síntese esses
mentirosos reincidentes, esses fraudadores da história? Eles tendem a repetir a
mesma conversa, sempre em tom simplista, e derrogatório, como se todos no
Brasil fossem idiotas e não soubessem distinguir a mentira da realidade.
No governo neoliberal de
FHC, o Brasil quebrou 3 vezes e nessas 3 vezes FHC teve que se humilhar perante
o FMI e aumentar a dívida externa do Brasil.
MENTIRA!
Simplesmente não é verdade que o
Brasil quebrou três vezes sob FHC.
Esta é uma afirmação de cunho
político, totalmente equivocada e que merece uma correção historicamente
verificável, além e acima das querelas políticas. Vou relatar exatamente como o
processo se passou, desde o início.
No final de 1994, ocorreu uma
primeira crise financeira no México, – que se deveu a uma taxa de câmbio
desajustada, que o governo vinha procurando manter estável, um pouco como o
nosso atualmente – e que obrigou o governo de FHC a efetuar um ajuste na
política cambial, introduzindo um sistema de banda (variação dentro de certos
limites).
Ocorreu também que, por opção do
presidente Itamar Franco, a estabilização do Plano Real não pode ser feita com base
num forte ajuste fiscal – pois ele dizia que não queria ter recessão, e de fato
não houve recessão no Real, como se pode comprovar por dados objetivos – e teve
de ser apoiada numa âncora cambial e em juros reais mais elevados (do contrário
como dispor de financiamento a um governo que não queria fazer ajuste
fiscal?).
Quando sobreveio a segunda onda de
crises financeiras, desta vez nos mercados asiáticos, em meados de 1997 –
também por motivos de câmbio – ocorreu um tremendo refluxo nos movimentos de
capitais, o que afetou também o Brasil. Houve novos ajustes, que nos levaram a
meados de 1998, quando a Rússia decretou moratória sobre sua dívida externa,
dando um calote unilateral em muitos bancos europeu e até alguns americanos,
atingindo grandes fundos de investimentos.
Foi somente aí que a situação do
Brasil se agravou, e o governo fez o que tinha de fazer, como fazem todos os
países em situação temporária de desequilíbrio no balanço de pagamentos:
negociou um acordo PREVENTIVO com o FMI e países credores, que permitiu
justamente ao Brasil NÃO QUEBRAR, pois ele teve divisas para continuar cobrindo
suas obrigações financeiras externas, sem precisar negociar uma moratória
técnica como fez o México.
Apenas para se ter uma ideia da
magnitude dos pacotes de socorro a governos temporariamente inadimplentes (o
que NÃO foi o caso do Brasil), o pacote do México envolveu um valor total de 48
bilhões de dólares (grande parte dinheiro americano do Exchange Stabilization
Fund, o resto do FMI, BIRD, BID e outros governos). No caso do Brasil, o pacote
de ajuda PREVENTIVA foi de 41 bilhões, mas do qual só foi usada uma metade,
ainda assim como simples garantia (incorporação nas reservas cambiais, não para
dispêndio efetivo). Esse pacote foi feito em outubro-novembro de 1998.
Em janeiro de 1999, o então
governador Itamar, ao assumir o governo de Minas Gerais, declarou que não
honraria, e não pagaria, as dívidas estaduais negociadas em 1996 e 1997, com o
governo federal, que trocou velhas e impagáveis dívidas estaduais (e
municipais), por novos bônus a 30 anos, eliminando um dos maiores “esqueletos”
da situação anterior de todas as unidades sub-federadas. Ao fazer isso, a
dívida pública do governo central naturalmente subiu de 32% do PIB para mais de
60% do PIB, o que constitui outra das acusações desonestas feitas pela oposição
ao governo FHC: a dívida aumentou porque o governo federal assumiu imensos
montantes de dívidas estaduais e municipais, a juros mais moderados.
Pois bem, quando Itamar desafiou o
governo federal, os mercados (ou seja, investidores em bolsa ou em títulos do
governo) operaram um imenso movimento de retirada do Brasil – pois aquilo
poderia significar o desmantelamento do Plano Real de estabilização – e que
redundou na mudança da política cambial, do regime de banda para um de
flutuação suja da moeda. Depois da desvalorização, os mercados se ajustaram
rapidamente, tanto é assim que o novo presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, pagou o que devia aos governos credores em abril de 2000, e ficou apenas
com um crédito stand-by do FMI (ou seja, garantia, apenas, para usar se fosse
preciso, de pouco mais de US$ 10 bilhões).
Pouco depois, porém, a Argentina
entrou em crise terminal e os chamados mercados, não distinguindo muito bem
entre nós e eles, nos puniram novamente, mas a situação foi relativamente
tranquila: foi negociado um novo acordo stand-by, também PREVENTIVO, que nos
repassou mais US$ 15 bilhões, enquanto durou a crise ao lado (e que se estendeu
durante dois anos praticamente, desde a moratória de 2001, até o calote imposto
por Kirchner em 2003). Ou seja, o Brasil NÃO quebrou pela segunda vez, apenas
fez um novo acordo preventivo de empréstimo negociado.
Chegamos, então, à terceira “crise”
e esta foi devida inteiramente à campanha presidencial de 2002. Não se
poderá negar que os “mercados” reagiram fortemente à possibilidade da chegada
de Lula ao poder, e isso não dependia absolutamente do governo FHC: o
dólar saiu de 1,70 para quase 4 por dólar até setembro, e os títulos da dívida
brasileira (renegociação de 1992-93) se vendiam a 48 centavos por cada dólar na
bolsa de NY, tudo isso por causa das ameaças anteriores do PT de dar calote nas
dívidas doméstica e externa, além de outras mudanças radicais na política
econômica.
Pois bem, também se há de lembrar
que o presidente FHC chamou ao Palácio do Planalto cada um dos candidatos
presidenciais (e isso depois de Lula já ter apresentado sua “Carta ao Povo
Brasileiro, em junho) para apresentar-lhes o pacote em negociação com o FMI, e
TODOS deram o seu aval. O Brasil então fez o último dos três acordos, este
igualmente PREVENTIVO, em agosto de 2002, pelo qual obteve um novo crédito
stand-by por US$ 30 bi (o maior da história do FMI até então). Logo depois, já
no governo Lula, o ministro Palocci determinou a elevação, decisão dele, do
superávit primário, de 2,75% do PIB para 3,25%, e de fato fez muito mais do que
isso durante seus três anos à frente da Fazenda).
Esta é a história REAL dos três
pacotes de ajuda PREVENTIVA, totalmente em desacordo com a demagogia política
em torno das três quebras, o que NUNCA ocorreu. Quem fez demagogia, aliás até
contra o conselho do Ministro Palocci, foi o presidente Lula, que em 2005, por
motivos puramente políticos e eleitoreiros, resolveu pagar antecipadamente o que
devíamos ao FMI (pouco mais de 10 bi), quando Palocci havia negociado duas
extensões e podíamos dispor desse dinheiro por mais 3 anos.
Ora, Lula mandou devolver um
dinheiro pelo qual o Brasil pagava no máximo 4,5% de juros ao ano, para depois
ter de recorrer aos mercados comerciais de emissão de títulos governamentais,
pelos quais passamos a pagar mais de 8% ao ano. Onde está a demagogia e a
política aqui?
Nem FHC, nem Lula aumentaram a
dívida externa do Brasil, que era basicamente de natureza comercial e privada,
pois as dívidas governamentais foram sendo reduzidas ao longo de todo esse
período. Apenas o primeiro pacote de ajuda PREVENTIVA foi feito durante a
administração Clinton; os dois seguintes foram feitos sob o governo Bush, com
que Lula aparentemente se relacionava muito bem, pelo menos ele assim o disse
em diversas ocasiões.
Esta é a história real.
Os companheiros que continuarem
fazendo falsas acusações deveriam ser processados por mentira e difamação. Mas
o fato é que eles não se corrigem. Não conseguem viver sem trapaças e mentiras.
Faz parte de sua natureza mafiosa viver nesse tipo de lodo moral.
Paulo
Roberto de Almeida
Hartford, 5/10/2014
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