Intelectuais, segundo Paul Johnson, que a eles dedicou um livro inteiro, costumam fazer mais mal do que bem às sociedades. Não necessariamente porque sejam estúpidos, mas é porque se pretendem espertos demais. Estão sempre querendo reformar totalmente a sociedade, segundo princípios abstratos e outros projetos absurdos, que provocam, em alguns casos, prejuízos humanos monumentais. A começar por Lênin, continuando por Mussolini, Hitler e Mao Tsé-tung -- e sem considerar os menores, como Pol Pot, Fidel Castro e os norte-coreanos -- eles são capazes de eliminar milhões da face da Terra.
Paulo Roberto de Almeida
Tribunos, profetas e sacerdotes: intelectuais e ideologias no século XX
Em “Tribunos, profetas e sacerdotes” (Companhia das Letras, 2014), Bolívar Lamounier procura repensar a dicotomia entre liberalismo e antiliberalismo, ou democracia liberal e autoritarismo, em todo o transcurso do século XX, pela ótica dos intelectuais. Em abstrato, a resposta para tal escolha metodológica e de tema é perfeitamente justificável. Afinal não faz tanto tempo que Hitler tomou o poder na Alemanha e Stálin encenou os famigerados “julgamentos de Moscou”. Tampouco se requer uma pesquisa alentada para constatar que o século XXI choca ovos de serpente.
O desafio de como conduzir tal inquirição é de apreender em toda a sua complexidade a conexão entre a atividade reflexiva, as ideologias e a estrutura política, e estreitar analiticamente as relações entre a vida dos pensadores e o marco político real.
A proposta do autor desdobra-se em dois níveis. No nível individual, ele propõe o estudo da questão através de três papéis característicos que os pensadores costumam assumir na esfera pública: o tribuno, o profeta e o sacerdote. No nível coletivo, três tipos históricos de inserção na vida intelectual: pensadores individuais, intelligentsias e comunidades academicamente centradas. Uma leitura iluminadora em época de recidivas autoritárias e crise da democracia representativa.
“Ainda há muitos ovos de serpente por aí”
Para
Bolívar Lamounier,
é um equívoco pensar que o potencial autoritário do mundo acabou com o
fim do século XX. “Ainda há muitos ovos de serpente por aí”, diz o
cientista político, autor do livro “Tribunos, profetas e sacerdotes –
Intelectuais e ideologias no século XX” (Companhia das Letras, 2014). Na
obra, lançada em setembro, Bolívar faz uma contraposição entre
democracia e totalitarismo no século passado, por meio do pensamento
político dos intelectuais, tanto no Brasil, quanto em outros países,
como Rússia, Alemanha e Estados Unidos. O cientista político não acha
que a democracia representativa esteja em crise, mas acredita que o
Brasil enfrenta um período difícil. “Temos um momento em que as forças
políticas majoritárias no país resvalam para ideias antidemocráticas”.
Ouça. Acesse também a página especial do Instituto Millenium,
“Eleições 2014”.
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