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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Resenha: História da Política Exterior do Brasil, de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno - Paulo Roberto de Almeida

 A segunda versão desta resenha, preparada para uma revista acadêmica, nunca foi publicada. Esta é a oportunidade. Em todo caso, o essencial foi integrado a um artigo mais amplo, publicado depois na RBPI e também inserido em outros trabalhos na mesma área: 

240. “A Nova História Diplomática”, Brasília: 15 abril 1992, 4 p. Apresentação do livro de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno, História da Política Exterior do Brasil (São Paulo: Editora Ática, 1992, 432 p.), discutindo o contexto em que se insere e evidenciando diferenças em relação aos trabalhos precedentes. Publicado, sob o título “A nova história da diplomacia brasileira em edição ampliada”, no Correio Braziliense (Brasília: 25 de abril de 1992, Caderno 2, Armazém Literário, p. 7). Relação de Publicados n. 077.

259. “A Nova História Diplomática”, Brasília: 6 julho 1992, 4 p. Versão revista da apresentação do livro de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno, História da Política Exterior do Brasil (São Paulo: Editora Ática, 1992, 432 p.). Encaminhado para “Revista de Estudos Ibero-Americanos”, editada pelo Departamento de História da PUC/RS. Inédito.

346. “Estudos de Relações Internacionais do Brasil: Etapas da produção historiográfica brasileira, 1927-1992”, Brasília: 02 junho 1993, 37 p. Artigo para a Revista Brasileira de Política Internacional (nova série), tratando das grandes obras de história diplomática brasileira (Pandiá Calógeras, Hélio Vianna, Delgado de Carvalho e Amado Cervo-Clodoaldo Bueno. Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (Brasília: ano 36, nº 1, 1993, p. 11-36). Relação de Publicados n. 136.


A NOVA HISTÓRIA DIPLOMÁTICA

 

Paulo Roberto de Almeida

 

Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno:

História da Política Exterior do Brasil

São Paulo, Editora Ática, 1992, 432 pp.

 

 

Os pesquisadores Amado Cervo e Clodoaldo Bueno há muito vêm trabalhando num setor pouco cultivado entre nossos historiadores profissionais: a história diplomática. Ambos já tinham assinado um utilíssimo (ainda que breve) livro de haute vulgarisation sobre A Política Externa Brasileira, 1822-1985 (São Paulo, Ática, 1986), uma espécie de ensaio geral a esta obra mais completa. Eles podem ser considerados como típicos representantes das novas correntes da pesquisa universitária, combinando rigor na consulta às fontes primárias e um tratamento propriamente “social” (no seu sentido amplo, isto é, compreendendo também os aspectos políticos e econômicos) da história diplomática, considerada como parte integrante da história “global” do País. 

O Professor Amado Luiz Cervo já tinha publicado um primeiro trabalho exaustivamente documentado sobre o importante papel do Parlamento na condução das relações exteriores do Brasil, desvendando, em O Parlamento Brasileiro e as Relações Exteriores, 1826-1889 (Brasília, Editora da UnB, 1981), o envolvimento do Legislativo na formulação, implementação e controle da política externa durante o período monárquico. É dele também o mais recente Relações Históricas entre o Brasil e a Itália: o papel da diplomacia (Brasília, Editora da UnB; São Paulo, Istituto Italiano di Cultura, 1992), um excelente “racconto storico” sobre os altos e baixos do relacionamento bilateral, sobretudo do ponto de vista dos homens (diplomatas e popolo minuto) que o fizeram. É dele igualmente um estudo original sobre a conquista e colonização espanholas das Américas, ostentando o título — “politicamente correto” — de Contato entre civilizações (São Paulo, McGraw-Hill, 1975).

O Professor de História da UnB e seu colega da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), campus de Marília, estão, assim, mais que credenciados para inaugurar uma nova etapa na historiografia diplomática brasileira. E, com o perdão dos antecessores, como fazia falta uma história diplomática digna desse nome: afinal de contas tanto a “História Diplomática” de Delgado de Carvalho como a de Hélio Vianna datavam de finais dos anos 50.  Foi uma longa travessia do deserto para todos nós, estudiosos ou simples diletantes da política externa brasileira.

Para aqueles que, durante o espaço de mais de uma geração, foram embalados pelo estilo “bem-comportado” de um Hélio Vianna ou de um Delgado de Carvalho, o surgimento de um novo manual de referência nesse terreno pouco explorado da história diplomática aparece como um oásis refrescante num imenso deserto historiográfico frequentado tão somente por alguns poucos donos de caravanas (os historiadores tradicionais) e muitos nômades das mais diversas cores ideológicas (os jovens pesquisadores acadêmicos).

A história diplomática “tradicional” — que sempre havia primado pelo “oficialismo” e pelo “bom-caratismo” de seus ilustres autores — cumpriu um papel útil enquanto o Brasil não dispunha de outra história senão a governamental, isto é, aquela que se comprazia em descrever as ações dos mandatários como encarnação legítima da vontade popular e como correspondendo fielmente aos interesses da Nação.  José Honório Rodrigues foi o primeiro pourfendeur dessa tradição “elitista”, ao denunciar, com todas as letras, as diversas variantes da história “oficial” do País, em contraposição ao que ele considerava como a verdadeira história “social” e “política” da Nação, isto é, o itinerário de lutas e conflitos populares em torno dos grandes objetivos nacionais, sempre desconsiderados ou traídos pelas classes dominantes. Nossos dois autores se situam na continuidade histórica de José Honório, ao recusar a simples linearidade descritiva da historiografia oficial, enfatizando ao contrário as grandes linhas de ação da política externa brasileira enquanto instrumento do desenvolvimento (ou do atraso) nacional. 

Com efeito, os trabalhos mais conhecidos no gênero — sejam os de finalidade essencialmente didática, como os manuais de Delgado de Carvalho e de Hélio Vianna, sejam os de cunho tradicional, como os de Pandiá Calógeras, que fez obra grandiosa e detalhada, embora restrita cronologicamente — concentraram-se essencialmente nos processos de natureza estratégica ou diplomática, isto é,  negociações políticas entre os poderes envolvidos, episódios militares, celebração de atos internacionais, atuação das chancelarias e dos dirigentes do Estado, enfim aquilo que os representantes da chamada école des Annales  designariam sob a rubrica histoire événementielle.

Na elaboração de uma nova metodologia para o estudo da política exterior do Brasil, os Autores operaram, antes de mais nada, uma reorientação da ênfase conceitual em que se basearam até aqui os estudos nessa área, deslocando o eixo analítico da tradicional “história diplomática” — e, portanto, privilegiando excessivamente as “relações entre Estados” — para o terreno mais amplo das “relações internacionais” da Nação, em seu conjunto, englobando, assim, os processos econômicos e as forças sociais em ação no caso brasileiro. 

Os autores dão maior atenção aos processos de natureza estrutural que sustentam a trama das relações internacionais do Brasil, buscando seus fundamentos nas chamadas “forças profundas” da história, para retomar o clássico conceito introduzido pelo historiador Pierre Renouvin, que Amado Cervo costuma citar em suas aulas de história das relações internacionais.  Eles explicitam seus objetivos da seguinte forma: “consolidar o conhecimento elaborado sobre as relações internacionais do Brasil e revestir a síntese resultante desse esforço com uma nova interpretação histórica” (p. 10).

A “consolidação do conhecimento” é realmente impressionante: são mais de 400 páginas de exposição rigorosa sobre as grandes tendências de nossa política externa, de 1822 ao final dos anos 80, com um tratamento sistemático dos grandes problemas estruturais e uma apresentação criteriosa dos fatos que dão sentido a cada conjuntura histórica particular.  À base desse trabalho monumental, mais de 340 títulos de obras diretamente relacionados com o objeto da pesquisa, cuidadosamente referenciadas em cada capítulo.  A organização do trabalho entre os dois autores evidencia uma divisão do trabalho segundo o princípio das “vantagens comparativas”: Amado Cervo, um especialista do período imperial, responsabilizou-se pela primeira parte, sobre a “conquista e o exercício da soberania”, que vai de 1822 a 1889.  Clodoaldo Bueno, cujos trabalhos de mestrado e dissertação doutoral cobrem o primeiro período da República Velha, trata do longo período republicano até o golpe de 1964, resumindo-o sob os conceitos de “alinhamento” e de “nacional-desenvolvimentismo”.  Amado Cervo, finalmente, retoma a pluma para a descrição do período recente, pós-64, caracterizado em política externa como o de um “nacionalismo pragmático”.

As conclusões dos Autores são um testemunho da “nova interpretação histórica” que eles procuraram oferecer: a política externa, num país como o Brasil, tem um caráter supletivo, dados os condicionamentos objetivos e a vontade política (ou sua ausência) que atuaram no processo de desenvolvimento nacional nestes últimos 200 anos.  Em outros termos, os avanços ou atrasos desse processo estão mais bem correlacionados com as fases de expansão ou mudança no sistema capitalista do que com um projeto nacional de desenvolvimento dotado de uma política internacional coerentemente aplicada pelas elites ao longo do tempo.  Estamos longe da visão triunfalista dos autores tradicionais. Mas, como diria o jovem Marx, na compreensão histórica de um problema, a crítica radical de seus fundamentos é condição essencial de sua superação.

 

Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais

e ex-Professor de sociologia Política na UnB e no Instituto Rio Branco.

 

[Brasília, 2ª versão: 06.07.92]

[Relação de Trabalhos nº 259]





domingo, 19 de janeiro de 2014

Pensamento Diplomatico Brasileiro: Introducao Metodologica e capitulo sobre Oswaldo Aranha - Paulo Roberto de Almeida

Atualizei as fichas relativas a dois dos capítulos de um livro, com trabalhos meus, ambos disponíveis no site Academia.edu, sob o meu nome, ou no próprio site da Funag, onde figuram os três volumes, em arquivo zipado, ou epub, como informado abaixo:

2503. “Pensamento diplomático brasileiro: introdução metodológica às ideias e ações de alguns dos seus representantes”, Hartford, 27 Julho 2013, 19 p. Texto de introdução geral para a publicação do livro objeto do projeto “Pensamento Diplomático Brasileiro”, da Funag. Revisão ampliada em 5/08/2013 e final em 14/10/2013. Publicado in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 15-38; Livro completo disponível no link: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip ou http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub.. Relação de Publicados n. 1109.

2502. “Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco”, Hartford, 25 Julho 2013, 29 p. Nova versão, consideravelmente ampliada, do trabalho 2467, com pesquisa original e redação pessoal, para o projeto “Pensamento Diplomático Brasileiro” da Funag. Revisto em 2 de agosto de 2013. Enviado. Revisto novamente em 13/08/2013, para complementar bibliografia. Publicado in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 3, p. 667-711; Livro completo disponível no link: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip ou http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub. Relação de Publicados n. 1110.




segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Funag publica Historia da Politica Exterior do Brasil (1945) de Renato Mendonca; Introducao PRAlmeida

Vejam neste link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=512

História da Política Exterior do Brasil

História da Política Exterior do Brasil
Modelo: Livros
Disponibilidade: Em Estoque

Download gratuito

Neste livro, publicado pela primeira vez no Brasil pela Fundação Alexandre de Gusmão – sua única edição havia sido no México, em 1945 –, o Embaixador alagoano Renato Mendonça trata essencialmente da análise histórica da nossa diplomacia exterior. Agora acompanhado de apresentação do diplomata Paulo Roberto de Almeida, numa valiosa contribuição que a obra merecia, reconhecendo os abrangentes aspectos da pesquisa desenvolvida e focalizando o que há de essencial nos fatos da história da política exterior do Brasil.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Renato Mendonca: um pioneiro da historia diplomatica - republicacao de livro, introducao de PRAlmeida

Meu mais recente trabalho publicado, uma introdução ao livro do diplomata Renato Mendonça, publicado pela primeira vez em 1945, agora republicado pela Funag.



1113. Renato Mendonça: um pioneiro da história diplomática do Brasil”, In: 

Renato Mendonça: 
História da Política Exterior do Brasil (1500-1825): Do período colonial ao reconhecimento do Império 
(Brasília: Funag, 2013, 248 p., p. 11-44; ISBN 978-85-7631-468-4). 
Relação de Originais n. 2529.


Sumário

Lista de mapas e ilustrações....................... 9
Renato Mendonça: um pioneiro da história diplomática do Brasil.........11
Paulo Roberto de Almeida

Prefácio.......................... 45

Primeira Parte
O PERÍODO COLONIAL
Capítulo I
Antecedentes da política portuguesa na América ......... 51
Capítulo II
Diretrizes do Tratado de Madri............67
Capítulo III
O Tratado de Santo Ildefonso e a demarcação da fronteira...... 81
Capítulo IV
A abertura dos portos ao mercado internacional. O Primeiro Tratado Comercial do Brasil....93
Capítulo V
As ambições de D. Carlota Joaquina no rio da Prata. A diplomacia de D. João e a ocupação da Guiana
Francesa............ 105
Capítulo VI
O Brasil no Congresso de Viena. A incorporação da Província Cisplatina ......117

Segunda Parte
A FASE DO IMPÉRIO
Capítulo VII
As ideias liberais na América e a Santa Aliança. O reconhecimento do Império pelos Estados Unidos da América ......135
Capítulo VIII
O Marquês de Barbacena e a diplomacia do Império. O liberalismo econômico de Canning e a Missão Stuart .......147

Bibliografia............167

APÊNDICE
Rio Branco, o demarcador da grandeza territorial do Brasil .........175

ANEXOS
A – Bula Inter Coetera de Alexandre VI, de 4 de maio de 1493...... 191
B – Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494..........197
C – Tratado de Madri entre Portugal e Espanha de 13 de janeiro de 1750.......215
D – Tratado de Paz e Aliança entre Portugal e Brasil, de 29 de agosto de 1825......235
E – Quadro cronológico do reconhecimento da Independência do Brasil......... 241

MAPAS
Mapa 1
Linha de marcação fixada pela Bula de 4 de maio de 1493..................53
Mapa 2
Linha de demarcação de Tordesilhas........... 61
Mapa 3
A fronteira sul e o Tratado de Santo Ildefonso......... 92
Mapa 4
Mapa da fixação da fronteira do Brasil, vendo-se assinalados os territórios do Amapá, Acre e Missões....... 187
Mapa 5
Mapa das Cortes, 1749...... 245

ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Alexandre de Gusmão, negociador do Tratado de Madri............ 77
Figura 2
D. João VI, rei de Portugal e do Brasil..........123
Figura 3
O imperador do Brasil, D. Pedro I........151
Figura 4
Lord Stuart, apresentação de credenciais na Corte do Rio de Janeiro...........152


Renato Mendonça: um pioneiro da história diplomática do Brasil
Paulo Roberto de Almeida 

Os que conhecem a edição original deste livro, aliås, única (publicada sob os auspícios do Instituto Pan-americano
de Geografia e História, no México, em 1945), sabem que ela trazia, logo em seguida ao título, a advertência: “1o Tomo”, o que vinha confirmado nas primeiras linhas do Prefácio do autor: “O presente tomo constitui o primeiro de uma série de três, nos quais tentaremos uma visão de conjunto da História da Política Exterior do Brasil.”

(Íntegra será referenciada aqui tão pronto disponível o arquivo da Funag)