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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Triste Fim de Policarpo Levy Quaresma: agora o diluvio? - Mansueto Almeida

Nelson Barbosa não é a catástrofe que seria Ciro Gomes, como aventaram durante algum tempo. Mas é alguém que desfruta da tolerância, senão da compreensão, do partido companheiro, ou seja que desfruta da inteira desconfiança dos mercados.
Talvez corresponda ao perfil companheiro de economia política, o que só pode redundar em mais desastre...
Vamos ter seis meses de descida para o caos, e depois, bem depois, ninguém pode dizer o que vai acontecer dentro de uma semana, dentro de um mês, quanto mais dentro de seis meses...
Esperar para ver, o desastre...
Paulo Roberto de Almeida

CRISE ECONÔMICA

O ministro da Fazenda saiu?

Joaquim Levy fez o que podia para tentar convencer o governo da necessidade de adotar um plano de ajuste fiscal que mostrasse algum resultado

O ministro da Fazenda saiu?
Levy não teve o apoio necessário de seus colegas ministros (Foto: EBC)
Noticia de hoje do repórter da Folha Valdo Cruz, sempre bem informado, diz que na última reunião do ano do Conselho Monetário Nacional o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se despediu e disse que não estará presente no próximo encontro no final de janeiro (clique aqui).
O episódio é triste, mas já era esperado. Joaquim Levy fez o que podia para tentar convencer o governo da necessidade de adotar um plano de ajuste fiscal que mostrasse algum resultado no curto e no longo–prazo. Não deu certo porque ele foi, desde o inicio, boicotado pelo PT e, muitas vezes, atacado pelo ex-presidente Lula. Além disso, não teve o apoio necessário de seus colegas ministros.
Joaquim Levy foi corajoso o bastante para colocar no debate temas extremamente inconvenientes para muitas pessoas. Não se furtou de defender limite para divida publica do governo federal e mostrou que o nosso sistema previdenciário não é sustentável. Tentou mostrar a população nossas anomalias, mas esse trabalho caberia a Presidente da República.
Confesso que o admiro. É um excelente economista e foi sempre boicotado. Lutou muito. Construiu pontes com a oposição para aprovar medidas de interesse do país e ganhou respeito de muitos senadores da oposição.
Se a saída do ministro for confirmada, e tudo indica que será, começa a especulação quanto ao seu possível substituto. As opções são duas. Primeiro, qualquer um que tente implementar a agenda do ministro Joaquim Levy sofrerá forte oposição da ala do PT que quer crescimento da despesa pública e da dívida. Ou seja, o seu sucessor, terá os mesmos problemas.
Segundo, se o novo ministro for alguém que conta com a simpatia do PT, será um grande desastre. Se for alguém que não tenha o poder de dizer não para a presidente e para o PT, esse ministro não terá força politica e nem tão pouco credibilidade para fazer nem metade do que Joaquim Levy fez. E vou arriscar um palpite. Se Joaquim tentou arrecadar R$ 32 bi com a criação da CPMF, o seu sucessor tentará arrecadar o dobro: R$ 64 bilhões.
A situação econômica do Brasil se deteriorou muito rápida. Não há perspectiva hoje de equilíbrio fiscal. O Governo não quer mais cortar gastos, não conta com apoio politico para aprovar medidas difíceis no Congresso, e nem tem convicção da necessidade de reformas estruturais. Enquanto isso, os indicadores econômicos e as expectativas do mercado vão piorando.
Muita incerteza. Lava Jato ainda pode implicar muita gente. Difícil saber agora quem está do lado negro da força. O Brasil já está em uma trajetória de crescimento da divida que é insustentável. Governo e parte da classe politica passam a impressão que há tempo para estudar alternativas. Não há tempo nem alternativas.
Mercado olha com ceticismo e fica à espera do que irá acontecer. Brasil é comparado com tudo de ruim que outros países fazem ou fizeram. Estrangeiros têm dificuldade de entender como brasileiros aceitam passivamente um “equilíbrio” ruim que poderá agravar a crise.
E assim vamos terminar o ano com elevada incerteza, mas torcendo para que alguma mudança positiva ocorra no futuro próximo. Mas, por enquanto, é apenas esperança.

*Mansueto Almeida é economista do Ipea e titular do Blog do Mansueto
 

segunda-feira, 30 de março de 2015

Economia brasileira: nova decada perdida? - Entrevista Marcos Lisboa (OESP)

Um amigo e colega de carreira me manda a entrevista publicada neste domingo no Estadão, sobre a (péssima) situação atual da economia brasileira, ou seja, na verdade, sobre as políticas econômicas alopradas adotadas pela soberana ignorante em economia, mas arrogante mesmo assim.
Eis o que ele escreveu: 

On Mar 29, 2015, at 19:52, renato l. r. marques <xxxxxx@hotmail.com> wrote:
Entrevista dura e realista. Não deve agradar aos ouvidos da FIESP, onde estão situados os principais interesses na preservação da política de desoneração fiscal, subsídios e altos impostos de importação, como forma de sobreviver apesar de sua reconhecida falta de competitividade .
E São Paulo é vilão até na área agrícola e extrativista. Os altos preços do açúcar e a taxa da borracha, sempre anunciados com vistas a viabilizar a combalida lavoura açucareira do Nordeste e a preservação dos seringueiros, beneficiam sobretudo a Paulisteia, onde se concentra a maior lavoura açucareira e os maiores seringais.
Mas eu diria que o problema econômico é até solúvel, se comparado ao problema político e social , onde o equilíbrio federativo evita a tomada de decisões acertadas e a ausência de valores de eficiência e produtividade nos condena a uma mão de obra despreparada ( mas reivindicativa) e à adoção de políticas sociais de desestímulo ao mérito. Tudo isso com um contingente crescente de imigrantes (haitianos, ganenses, sírios, palestinos) que, por coincidência (!), é dirigido para áreas de tradição política antipetista , como forma de virar os votos regionais.
Enfim, nada que promova o otimismo e restabeleça a credibilidade do país. Abraço

 Renato Marques


 Ao que eu (PRA) respondi:
    Concordo com a parte política. Na parte econômica, também concordo, mas os capitalistas corporativos da FIESP, que são realmente protecionistas e tudo o mais, poderiam argumentar que não conseguiriam se manter sem esses favores especiais do Estado por causa, justamente, da alta carga fiscal com que são extorquidos.
    Deveriam, então, se organizar conjuntamente para barrar o Estado e reverter a carga fiscal, mas não conseguem, por isso vão setorialmente a Brasilia, pedir, cada um do seu lado, essas medidas paliativas. Também compram os seus políticos, etc.
    Ou seja, tanto o sistema político quanto o econômico estão completamente viciados e distorcidos.
    Como resolver isso numa federação, com uma classe política totalmente inepta, incompetente (o que é a mesma coisa), mas perdulária, rentista, extrativista, é muito difícil. Precisariamos de uma crise muito forte, e estadistas de visão.
    Mas o que vamos ter é uma longa e lenta decadência, apenas isso. Está na nossa vez de nos argentinizarmos em médio prazo, se não for pior…
    Esté parece ser o nosso futuro (ou falta de) previsível.
Paulo Roberto de Almeida 


O autor do envio, escreveu um resumo, e uma crítica implacável, em CAIXA ALTA, que reproduzo como está, pois também coloca em perspectiva, numa linguagem crua, todo o mal cometido pelos petralhas incompetentes contra a economia do país e contra os brasileiros.

EXCELENTE ENTREVISTA DE MARCOS LISBOA ELE ANALISA O PROBLEMA ECONOMICO BRASILEIRO SOB DOIS ANGULOS. O PRIMEIRO, DE MAIS CURTO PRAZO, DIZ RESPEITO AO ENFRENTAMENTO DO ENORME DESIQUILIBRIO FISCAL CAUSADO PELOS DESCALABROS DOS GOVERNOS PETISTAS, EM PARTICULAR PELO GOVERNO DE DILMA.
O PROBLEMA FISCAL É  UM PROBLEMA DE SANGRIA DESATADA,TEM DE LEVAR O PACIENTE PARA A UTI  COM URGENCIA, CASO CONTRARIO ELE MORRE - E CONDICAO NECESSARIA E URGENTE PARA UMA EVENTUAL RECUPERACAO ECONOMICA DO BRASIL.
E NECESSARIA, POREM NAO SUFICIENTE.

COMO LISBOA  DESTACA MUITO BEM, OS DANOS A ECONOMIA BRASILEIRA FORAM MUITO MAIS SERIOS E PROFUNDOS. OS" POLICY MAKERS" PETISTAS  TRATARAM, NA SUA ENORME IGNORANCIA, DE ENFRENTAR  UMA CRISE  CONJUNTURAL DE ESCASSEZ DE DEMANDA CONJUNTURAL COM MEDIDAS PERMANENTES, TIPICAS  DO MAL-FADADO NACIONAL-DESNVOLVIMENTISMO, MESCLADO  COM UM KEYNESIANISMO  CAIPIRA E COM  UM VERSAO ATUALIZADA DA MALFADADA  ADMINISTRACAO ECONOMICA "POR PACOTES" DA ERA DELFIM NETTO. 
DILMA E ASSECLAS RESOLVERAM RESSUCITAR, DE UMA SO VEZ : JK, CELSO FURTADO, PREBISH, MARIA CONCEICAO, GEISEL, BELLUZZO, MARIA CONCEICAO, LUCIANO COUTINHO,  NAKANO, BRESSER PEREIRA, DELFIM NETTO  E OUTROS JURASSICOS  MENOS VOTADOS DA ESCOLA ECONOMICA DA CEPAL, DE  CAMPINAS E DA FGV DE SAO PAULO.  
MUITA IDEIA ULTRAPASSADA  PARA UM PAIS SO!!
COMO MARCOS LISBOA DESTACA COM EXTREMA ACUIDADE, O CUSTO DA CORRUPCAO DA PETROBRAS É MINIMO COMPARADO COM O CUSTO DAS POLITICAS DE ISENCAO DE TRIBUTOS, DE SUBSIDIOS, DE FINANCIAMENTOS PUBLICOS FAVORECIDOS  E DE PROTECIONISMO INDUSTRIAL IMPLEMENTADOS POR ESTE GOVERNO.

COMO ELE DIZ, UM CUSTO  DE CENTENAS DE BILHOES DE REAIS.
QUANTO MAIOR O VOLUME DE INCANTIVOS, PIOR TEM SIDO A PERFORMANCE DA ECONOMIA, EM PARTICULAR DA INDUSTRIA.
ISTO FAZ LEMBRAR UMA CITACAO DE MARIO HENRIQUE SIMONSEN DE QUE É MAIS BARATO PAGAR OS DEZ POR CENTO DE PROPINA DE CORRUPCAO AOS  AGENTES POLITICO-GOVERNAMENTAIS, DO QUE PEMITIR QUE ESTES FAÇAM BOBAGENS CONCEITUAIS  QUE PREJUDIQUEM  OS  90 PORCENTO REMANESCENTES  DO GASTO TOTAL RELATIVO A POLITICAS E PROJETOS PUBLICOS .

MARIO HENRIQUE NAO SE DAVA CONTA DA IMENSIDAO DO PODER DESTRUIDOR DOS AGENTES PUBLICOS DOS GOVERNOS DO PT QUE ESTAVAM POR VIR.
ESTES NÃO SÓ CONSEGUIRAM ENTRAR  FUNDO NOS 90% COMO -- TRAGEDIA SEM TAMANHO -- CONSEGUIRAM TRANSFORMAR OS 90% EM VERDADEIRA MESCLA DE FRANKESTEIN COM VAMPIRO DEDICADO A COMPROMETER  A PERFORMANCE E SUGAR OS RECURSOS DA ECONOMIA POR UM FUTURO QUASE SEM FIM. 
DAI A  PRINCIPAL RAZAO DE PODERMOS  ESPERAR  POR UMA  DECADA PERDIDA  SEM MAIORES ESPANTOS.
SEGUNDO MARCOS LISBOA A REVERSAO DESTA SITUACAO SERA MUITO DIFICIL DEVIDO  A CONSTITUICAO  DE  SOLIDOS  GRUPOS DE INTERESSE QUE  FORAM CRIADOS  AO REDOR DO GOVERNO DE ORIGEM SINDICALISTA AO LONGO DE DOZE ANOS -- PRINCIPALMENTE NA INDUSTRIA, ATRAVES DE FIESP, CNI E CONGENERES E SINDICATOS OPERARIOS. 
NUNCA É DEMAIS LEMBRAR QUE QUANDO SE DA UM PIRULITO PARA UMA CRIANCA OU UMA" MEIA ENTRADA" PARA UMA CLASSE DE FAVORECIDOS (FINANCIADOS PELOS NÃO FAVORECIDOS) E DIFICILIMO TIRÁ-LO DE VOLTA, QUASE IMPOSSIVEL..
SERIA  PRECISO MAIS DO QUE  UM SERGIO MORO PARA CONSEGUIR O MILAGRE.

Entrevista. Marcos Lisboa
'Brasil corre o risco de viver anos de baixo crescimento econômico' 

Para vice-presidente do Insper, política econômica atual, parecida com a implantada nos anos 1970, precisa ser revista.
ALEXA SALOMÃO
LUIZ GUILHERME GERBELLI
RICARDO GRINBAUM
O Estado de S.Paulo, 29 Março 2015 | 02h 03

Marcos Lisboa faz parte da ala dos economistas mais desencantados com o futuro da economia brasileira. No curto prazo, vê a necessidade de a equipe econômica evitar uma crise aguda no Brasil. Se o País passar por esse sufoco, acha que a década de 1980 - chamada de perdida - pode se repetir. "Eu acho que o Brasil corre o risco de, escapando da crise aguda, viver muitos anos de baixo crescimento", afirmou Lisboa.

Na vice-presidência do Insper, Lisboa foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e participou da equipe que promoveu ajustes na economia com uma agenda de reformas que permitiu, por exemplo, o avanço do crédito no País.

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estado.

Como o sr. analisa a economia?
O momento é de preocupação. Há o descontrole fiscal que, nos últimos anos, levou a essa inflação elevada, à estagnação da economia e que começa a afetar de forma preocupante o mercado de trabalho. Todo o esforço que existe hoje por parte da equipe econômica tenta evitar uma crise aguda.

É possível evitar a crise aguda?
Vai depender da capacidade de o governo fazer o ajuste fiscal firme. Na medida em que for feito, ajuda no combate à inflação. Infelizmente, nessa área, o Banco Central perdeu um pouco de credibilidade nos últimos anos, não só pela leniência com a inflação, mas pela falta de agenda. O BC fez uma condução atabalhoada da política monetária. Faz anúncios de juros para cá. Comunica outra coisa para lá. Sem falar das decisões infelizes, como o processo contra o Alex (Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do BC que quase foi processado por ter criticado a instituição em seus artigos) e agora a história do Pastore (Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, fez avaliação negativa sobre a instituição em um evento e foi criticado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini). Com tudo o que a gente viu nos últimos anos, a sua capacidade de ter uma política eficaz é baixa. Perdi muitos amigos aqui.

O Tombini é amigo?  

Eu gosto de gente ali.

Quer comentar as polêmicas?
Não tenho muito a dizer. Acho lamentável. Já falei de passagem.

O sr. falou que é preciso ser firme com o ajuste fiscal. Está nos jornais a informação de que a presidente Dilma pode ceder em algumas medidas...
Há uma preocupação grande com a qualidade do ajuste. O descontrole que houve nos últimos anos foi grave. A gente saiu de um superávit primário de 3% do PIB para um déficit primário de 1,6% - sem levar em consideração receitas extraordinárias. Com as extraordinárias, são 0,6%. Estamos falando em R$ 200, R$ 300 bilhões de variação no gasto público. Reverter essa trajetória vai ser benéfico para tentar evitar uma crise aguda. Mas vai depender da capacidade de o governo negociar com o Congresso. Até agora, o que o Executivo conseguiu fazer são ajustes temporários. Agora, de fato, medidas estruturais são aquelas anunciadas em dezembro. Aquelas medidas, sim, vão gerar um ajuste fiscal sustentável para os próximos anos. Elas são suficientes? Não, estão longe de serem suficientes, mas vão na direção correta.

O sr. acredita que as medidas passam no Congresso?
Não sei, aí a entrevista teria de ser com um analista político (risos).

Política e economia estão se misturando. São duas crises paralelas e uma contaminando a outra.
Eu acho que isso é um pouco resultado da campanha. Venderam a ideia de que o Brasil teria recursos públicos para financiar de tudo, assim como teria água e energia. A má notícia? Os recursos públicos estão acabando, a água está acabando e a energia está acabando. Ao que parece, o governo ficou refém de um discurso, mas agora precisa trocá-lo. Vendeu uma coisa que não é capaz de entregar. É por isso que se faz um ajuste de maneira um pouco atabalhoada. Não há um plano claro, estruturado, com medidas de longo prazo que vão permitir não apenas evitar a crise aguda, mas retomar o crescimento. O que a gente tem é um conjunto de medidas que estão disponíveis para evitar o pior. São as melhores para o crescimento? Não. Mas são melhores do que não fazer. Infelizmente, vivemos o custo do que se vendeu na campanha eleitoral.

Para muitos, se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy conseguir parte do que está prometendo é sinal de que consegue reverter a situação.
Foi grave o que fizeram nos últimos anos. Um ajuste fiscal profundo e relevante evita uma crise aguda, mas não retoma o crescimento. Essa crise não é igual a 1999 e 2003. Em 2003, tivemos uma bendita herança. Pegamos um país arrumado. Houve erros na gestão do Fernando Henrique Cardoso? Claro. Erros levaram ao racionamento de energia, por exemplo. Mas o governo de FHC assumiu o problema de frente: "Erramos, fizemos bobagem". Tiveram hombridade e liderança pública - o que não temos tido recentemente. Basta ver o caso da água em São Paulo ou o da energia no governo federal. Todo mundo tenta dar um jeitinho para evitar o racionamento. Agora, o problema fiscal é apenas a superfície de uma política econômica equivocada, que gerou uma série de distorções na atividade econômica.

Por quê?
Enquanto vários países procuraram arrumar a casa para sair da crise, a gente inventou que a crise não iria chegar aqui. Retomamos os mesmos mecanismos dos anos 70. Retomamos o nacional-desenvolvimentismo aplicado lá atrás: fecha a economia, protege, concede subsídios. Foram essas medidas que geraram aquela década e meia de atrasos pelos anos 80. Mas aquela crise forçou o País a enfrentar a realidade. Nos anos 90 vieram a abertura econômica, privatizações, agências reguladoras, equilíbrio fiscal e política monetária equilibrada. Este é um ponto importante. O Brasil viveu - com idas e voltas, avanços e retrocessos - uma trajetória de continuidade desde 1990. Infelizmente, veio a crise em 2008 e qual foi a resposta? Repetimos a mesma de 74 que tinha dado errado.

O sr. está querendo dizer que vamos viver outra década perdida?
Eu acho que o Brasil corre o risco de, escapando da crise aguda, viver muitos anos de baixo crescimento. O estrago que foi feito na produtividade é imenso. As pessoas estão muito preocupadas com a corrupção. A corrupção é a franja do problema. O estrago que a política nacional-desenvolvimentista fez na Petrobrás é incomparavelmente mais grave do que os números apresentados até agora pela corrupção. Não estamos falando de alguns bilhões de reais, mas talvez de centenas de bilhões de reais.

O que o sr. está vendo é uma situação como a dos anos 80?
Salvo o descontrole fiscal e monetário, sim. A desorganização é menos grave, mas a direção é a mesma.

Como se desmonta isso?
Esse tipo de política cria grupos de interesse. Estamos vendo o drama da indústria naval. Pela terceira vez, o Brasil tenta fazer uma indústria naval. A gente protege, dá um incentivo, dá um subsídio e cria regra de conteúdo nacional. Ainda assim, a indústria não se desenvolve. Mas condenamos o resto da economia a pagar mais caro pelo transporte naval. É o Custo Brasil. A política de proteção é benéfica apenas para quem recebe. Para o resto do País, é maléfica. Por que escolher empresas e setores para ter benefício? O ministro Levy, que é mais elegante do que eu, falou em patrimonialismo. Eu falo da meia-entrada. Todo mundo quer algum tipo de benefício e este governo apoiou essa proposta. Em parte, a culpa do que está aí é do governo, mas também da sociedade. O governo respondeu aos pedidos de grupos empresariais, de sindicatos, de entidades como a Fiesp. Eles foram a Brasília e falaram: "Baixa os juros, sobe o câmbio, concede proteção e estímulo que o País voltar a crescer". Pois é. Deu errado.

Há sinais de desmonte dessa visão econômica?
É difícil desmontar incentivos. Cada vez que você tentar, vai mexer com um grupo e provocar algum tipo de manifestação. Olha a discussão que se gerou por causa da mudança na desoneração da folha de pagamento. Existem propostas boas para desonerar a folha, mas conseguiram escolher a pior. Fizeram uma desoneração tecnicamente incompetente. Agora, para desmontar, vão ter de enfrentar os grupos de interesse.

terça-feira, 17 de março de 2015

A frase da semana: capitalismo de Estado, pelo salvador dos companheiros...

A história, ou a vida, tem dessas ironias: mas precisaria ser um Chicago-boy a salvar os companheiros deles mesmos?
Leiam isto:

Capitalismo de Estado não dá muito certo para uma democracia.

 Quem é que disse? Ele mesmo: Joaquim "Mãos-de-Tesoura" Levy, o homem dos mercados financeiros, ou do capitalismo monopolista especulativo, como diriam os companheiros, o homem que veio para salvá-los do desastre que eles criaram para si próprios, com a sua proverbial incompetência, a sua inépcia várias vezes comprovada, a sua aversão a... capitalismo.
Capitalismo, para eles, só é bom para trazer todas aquelas coisas que eles não conseguem no socialismo: iPhones, iPads, filmes, moda, viagens, lazer, comodidades da vida, enfim, essas coisas corriqueiras, que vocês não conseguem encontrar em Caracas, em Havana, e que no Brasil custa muito caro (por isso, até os companheiros vão para Miami, New York, etc...).

Bem, eu também acho que capitalismo de Estado é coisa de fascismo, mas fascismo é tudo o que os companheiros gostam, certo?
Parece que eles vão ter de aturar o homem, que já ameaçou ir embora, e teve de ouvir as súplicas dos companheiros para ficar. Afinal de contas, eles não têm ninguém que entenda de capitalismo, e muito menos de economia. Só de corrupção, isso eles têm demais.
Quando lhe perguntarem, caro leitor, porque você quer escorraçar toda essa corja do poder, diga simplesmente:
Porque eles roubaram demais...

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Politica economica: de Chicago para Joaquim Levy - Rubem de Freitas Novaes

Acho que tudo está dito, mas se me permite, talvez eu complete um pouco:
Caro Joaquim Levy,
Pense em sua biografia e em sua responsabilidade para com o povo brasileiro. Não participe de uma farsa ou da montagem de um espetáculo que pode respingar sobre sua própria reputação, de homem comprometido com o bem-estar da população e com o progresso do país, de economista coerente com certos princípios, que você aprendeu em Chicago, justamente.
Paulo Roberto de Almeida

De: CHICAGO     Para: JOAQUIM LEVY 
 Rubem de Freitas Novaes*
Caro Levy,
A você demos o título de Ph.D. em Economia e isto lhe impõe certas responsabilidades. Como bem sabe, nestes 45 anos que se passaram desde a criação do Prêmio Nobel para economistas, nada menos que 30 professores laureados eram de alguma forma associados à Universidade de Chicago. Milton Friedman e Friedrich Von Hayek, ex professores nossos, só ficam atrás de Karl Marx, Adam Smith e John Maynard Keynes nas citações na literatura, o que os coloca entre os 5 economistas mais influentes da História. Milton Friedman, seu mestre, é considerado por muitos, inclusive pelo keynesiano Gregory Mankiw, de Harvard, como “o economista do século XX”. Influenciamos sobremaneira a revolução liberal da segunda metade do século passado, ajudando a moldar a política econômica de Reagan e Thatcher e dando as bases para o processo de globalização que viria atingir inclusive a China. Aí, na sua América Latina, colegas seus, orientados por nossos professores, transformaram o Chile, de um país apenas mediano na década de 70, na economia mais rica da região em termos per capita e no país menos corrupto, já que a redução com simplificação do Estado é a melhor receita para o combate da corrupção. Nada impede que o mesmo processo saneador possa ocorrer no Brasil,
Ficamos satisfeitos em ver que, num momento de quase desespero, diante de tantos problemas acumulados por imperícia da atual equipe econômica, o nome de um típico “Chicago-boy” foi lembrado para correções de rumo e para evitar a perda do grau de investimento do Brasil. Entretanto, como você está bem ciente, a situação chegou a um ponto crítico onde não restam graus de liberdade para os gestores da economia. Seja na inflação, no crescimento, nas contas correntes, nas contas públicas, na confiança empresarial, para onde quer que olhemos, o quadro é preocupante. Até nas reservas externas passamos a correr riscos, caso não se altere a percepção das agências de “rating” em relação ao Brasil.
Pois bem, diante de um quadro dramático como este, um só Ministro ciente do que precisa ser feito não basta para a obtenção de resultados consistentes. É obra para todo um governo que precisa estar imbuído dos mesmos convencimentos sobre a natureza dos problemas e sobre as melhores medidas a serem implementadas. É aqui que começam nossas preocupações. A Presidente não acredita no nosso receituário e pode ser tida como adversária de nosso ideário liberal. Tememos que esteja usando o prestígio de um novo ministro perante o mercado apenas para evitar crises iminentes. Ao anunciar a sua escolha oficialmente, não se deu ao trabalho de prestigiá-lo comparecendo à entrevista. Seu companheiro de Ministério fez questão de lembrar a todos que você, Levy, seria Ministro de um governo reeleito pelo voto popular, sinal portanto de continuidade. Em lugar de uma posse com todas as pompas de praxe, onde comparece usualmente metade do PIB para o beija-mão e se faz a apresentação de uma equipe ministerial consistente, foi-lhe oferecida uma salinha de transição no terceiro andar do Palácio, onde você ficará dependente dos préstimos de ministros veteranos que, diga-se de passagem, não lhe dedicam qualquer apreço. Parece que você está sendo devidamente “enquadrado” num sistema pré-existente e tratado simplesmente como um assessor da “Presidenta” para assuntos de cortes orçamentários. Para quem imaginava que você chegaria com espírito de curador interventor, com total liberdade e autonomia para gerir a economia, foi uma decepção.
Caso se confirme um quadro de limitações e impedimentos para a adoção de uma administração nos moldes Palocci/Meirelles, sua gestão não terá êxito e os resultados negativos serão debitados a você e a seu liberalismo ortodoxo. Portanto, daqui de Hyde Park, Chicago, desejamos que você consiga contornar as dificuldades e honrar a tradição de coerência e sucesso no trato da economia que carrega em seus ombros. E que nunca abandone seus princípios!

*O autor é Ph.D. pela Universidade de Chicago
http://www.institutoliberal.org.br/blog/de-chicago-para-joaquim-levy/