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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Ah, esse “liberalismo colbertista” francês - Alexis Karklins-Marchay

 Les Echos, Paris – 4.11.2021

Zemmour, cet antilibéral qui feint de l'ignorer

Dans cette lettre ouverte à Eric Zemmour, l'essayiste Alexis Karklins-Marchay revient sur le libéralisme économique auquel le polémiste dit adhérer. En réalité, les écrits d'Eric Zemmour et ses prises de position passées montrent sa méfiance et son hostilité à un courant libéral qu'il n'a cessé de dénoncer.

Alexis Karklins-Marchay

 

 

Monsieur Zemmour,

Votre progression impressionnante dans les sondages ne laisse personne indifférent. Malgré les polémiques soulevées par vos prises de position, c'est un fait : vos idées rencontrent un véritable écho auprès de nombreux électeurs. Cela vous oblige désormais à avancer sur d'autres thèmes que le « grand remplacement » ou l'identité.

Sur l'économie, vos récents discours sur le travail, la fiscalité et les finances publiques vous ont immédiatement classé dans la catégorie « libérale », vous-même indiquant lors d'une interview que ce qualificatif ne vous gêne pas. Par transparence vis-à-vis de ceux qui seraient tentés de voter pour vous, en particulier dans le monde de l'entreprise, il semble indispensable de comprendre votre propre logique. Car, de la même façon que l'hirondelle aristotélicienne ne fait pas le printemps, l'annonce d'une baisse d'impôt ne saurait faire le libéral.

Vos derniers livres et vos déclarations démontrent que vous êtes en réalité un contempteur infatigable du libéralisme. Vous détestez le libéralisme qui fut, dites-vous, adopté par François Mitterrand et les élites françaises en 1983. Vous attaquez avec virulence « les apôtres du marché » et les tenants de la « modernité libérale ». Vous regrettez que la droite ait repris « les thèses libérales européistes » et moquez les technocrates qui défendent les « stricts équilibres budgétaires ».

Pour vous, la France serait victime de « l'alliance entre marché et progressisme, entre libéraux et libertaires ». Vous critiquez sans relâche le « libre-échange mondialisé » dont la « logique imparable détruit les peuples, les emplois, au profit d'une infime minorité qui s'enrichit ». Malheureusement, parfois, au mépris des faits historiques…

Conscient de devoir rassurer les entrepreneurs, vous évoquez bien sûr « l'enfer fiscal » et, suivant le mot de Georges Pompidou, vous souhaitez « qu'on cesse d'emmerder les Français ». Vous reconnaissez également le niveau vertigineux de nos prélèvements obligatoires et de nos dépenses publiques.

Mais plutôt que d'en tirer les conséquences sur la nécessité de réformer l'Etat pour le rendre plus efficace, vous rejetez la faute sur l'immigration, stigmatisez les défenseurs du « moins d'Etat », dénoncez la « main invisible » d'Adam Smith et les thèses de Milton Friedman. Vous soutenez même que le libéralisme serait responsable de la bureaucratisation française depuis quarante ans !

Relire Boisguilbert

Comme l'immense majorité des politiques français, de droite comme de gauche, vous affirmez « je suis colbertiste ». Au regard de votre indéniable culture et de votre passion pour notre civilisation, vous ne pouvez néanmoins ignorer que le protectionnisme mis en place par le contrôleur des finances de Louis XIV fut bien plus préjudiciable que la liberté du commerce pratiquée par la Hollande. Plutôt que Colbert, n'est-ce pas Boisguilbert, l'ami de Vauban et le premier des libéraux français, qu'il conviendrait de relire, surtout ses analyses sur les causes de la misère au temps du Roi-Soleil ?

Pourquoi faire l'impasse sur les enseignements de Turgot, Say, Dunoyer ou Bastiat ? Comment célébrer les succès économiques de Charles de Gaulle sans rappeler que ces derniers ont été rendus possibles grâce à l'adoption des réformes libérales proposées en 1958 par l'économiste Jacques Rueff ?

Je ne résiste pas, pour terminer, à partager avec vous deux citations de Balzac, cet authentique génie français que nous aimons tant : « Tout gouvernement qui se mêle du commerce et ne le laisse pas libre entreprend une coûteuse sottise » ; « En fait de commerce, encouragement ne signifie pas protection […]. L'industrie ne peut être sauvée que par elle-même, la concurrence est sa vie. Protégée, elle s'endort ; elle meurt par le monopole comme sous le tarif. » Et si, plutôt qu'une énième déclinaison de « plus d'Etat », la France essayait la liberté ?

 

Alexis Karklins-Marchay, essayiste, est l'auteur d'« Histoire impertinente de la pensée économique », 2016, et de « Notre monde selon Balzac », 2021 (Ellipses).

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Crescimento nem sempre é tudo: o paradoxo dos quatro "d"s - Paulo Roberto de Almeida (OESP, 1994)

 Acho que não preciso acrescentar mais nada no que já escrevi em 1994, em Paris, lendo a imprensa econômica francesa, dentro de minhas atribuições como chefe do setor econômico da embaixada do Brasil. O curioso é que na mesma edição do excelente jornal de negócios Les Echos eu tive quatro matérias diferentes, mas cada uma focalizando um aspecto da realidade econômica internacional. Cada uma reproduzia um problema que parecia exatamente do Brasil: só que não era.

Acho que isso destrói um pouco a famosa teoria do Celso Furtado sobre o desenvolvimento, cujas características seriam diferentes nos países ricos e nos países em desenvolvimento. Sempre fui contra isso, dentro dos meus parcos conhecimentos de economia – sou da tribo dos sociólogos – e achava que apenas os resultados eram diferentes, mas que processos, mecanismos e ferramentas do crescimento econômico eram fundamentalmente os mesmos, provocando DESENVOLVIMENTO, e alguns casos, e POUCO desenvolvimento, em outros.

Os nossos desenvolvimentistas rezam pela cartilha furtadiana, o que eu nunca fui, ainda que admirando sua capacidade analítica e explicativa. Mas, como sempre pratiquei o CETICISMO SADIO, sempre mantive um pé atrás em qualquer argumento sociológico e até ECONÔMICO.

Fica aqui o artigo de 1994, para conferir se alguma realidade ou problema mudou, no Brasil e em outros países.

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 29/12/2020

Crescimento nem sempre é tudo

 

Paulo Roberto de Almeida

O Estado de São Paulo, 11/09/1994, Opinião, p. 2.

 

Desenvolvimento, desigualdade, desemprego e desequilíbrio: esses quatro “d”s podem apresentar-se como paradoxos no caso de uma economia em crescimento, como a do Brasil.

Comecemos pelo editorial de um jornal econômico: “É lógico que dirigentes ressaltem dados que demonstram o sucesso de sua política. Os indicadores convergem: o desemprego baixa, a inflação está controlada, o produto bruto está em alta. Mas, eles divulgaram também uma pesquisa sobre a renda das famílias. Descobre-se que um quarto das famílias e uma criança em três vivem hoje na pobreza. Seus recursos não alcançam o limite mínimo fixado pelas autoridades. A renda média progrediu 36% em 15 anos, mas os 20% mais pobres nunca foram beneficiados. Quanto aos 10% mais pobres, a renda média real baixou em 17%. Tal contradição obriga a perguntar qual o sentido da noção de desenvolvimento: esse agravamento das desigualdades traz o risco de uma explosão social sobre a qual os índices de crescimento não dão a mínima ideia”.

Brasil? Não! Trata-se da Grã-Bretanha, que passou à frente dos demais países europeus em crescimento e redução do desemprego. Mas, a combinação de crescimento e de aumento das desigualdades sociais e da concentração de renda apresenta um curioso aspecto “brasileiro”.

Vejamos outra citação: “Se a produtividade de nossos trabalhadores fosse a mesma de seus homólogos americanos, o produto interno bruto poderia ser realizado com uma população ativa de apenas 40 milhões de pessoas, contra 60 milhões atualmente. Ou seja, nós teríamos 20 milhões de trabalhadores sobrando”.

Brasil, novamente? Não, trata-se do Japão. A “Nikkeiren”, federação patronal, publicou uma pesquisa que traz a angustiosa conclusão de que os progressos da produtividade no país podem condenar 1/3 da população economicamente ativa ao desemprego. É apenas uma ameaça, mas ressalta a necessidade de controlar a alta de preços e dos salários para manter a competitividade externa. Os japoneses estão preocupados: a alta do yen e as deslocalizações industriais podem acarretar o fenômeno relativamente desconhecido, para eles, do desemprego.

Terminemos pela luta entre o poder central e governos estaduais para “racionalizar” a divisão da receita: “A divisão proposta entre a União e os estados, visando aumentar os recursos do Governo central, ainda não foi aceita por vários governadores. Os dois estados mais ricos recusam-se a seguir as recomendações do Governo central ou contribuir em favor dos estados mais pobres. Mesmas dificuldades para a reforma das estatais no limite da falência e mantidas graças a subsídios. Todo mundo sabe que será preciso, mais cedo ou mais tarde, desfazer-se dessas empresas, que custam muito caro para o Estado. Mas, todos temem as consequências sociais dessas falências”.

Ah, agora trata-se do Brasil ! Ainda não... Trata-se da China, esse fenômeno mundial. Ela vem passando por altas taxas de crescimento, mas os desequilíbrios regionais vêm acentuando-se a ponto de colocar em risco a unidade política do país. E, claro, nenhum governador quer ceder recursos para o Governo central, que tem a seu encargo algumas pesadas estatais ávidas por subsídios públicos.

Desenvolvimento, desigualdade, desemprego e desequilíbrio: quatro fenômenos paradoxais, ilustrados com exemplos diversos, mas que demonstram, de maneira angustiante, que o crescimento e a produtividade não resolvem problemas de emprego e de bem-estar social.

Esses paradoxos não são exclusivos de países pobres, já que a Grã-Bretanha e a França estão descobrindo agora o fenômeno da exclusão social (que é a pobreza do Norte). A economia pode ir bem e a riqueza aumentar, deixando ao mesmo tempo uma parte da população nos limites da precariedade. O Japão precisa enfrentar os dilemas da produtividade e do pleno emprego. O caso da China, por outro lado, indica que toda reforma econômica é sempre difícil, pois ela implica redistribuir recursos escassos, nem sempre com o assentimento de quem está ficando rico. Em tempo: todos os casos e citações foram retirados da mesma edição do jornal econômico francês Les Echos (22/08/1994). 

 

Paulo Roberto de Almeida é mestre em economia internacional e doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas. 

 

450. “O Paradoxo dos 4 ‘d’s”, Paris, 23 agosto 1994, 2 p. Artigo com base em notícias econômicas sobre desigualdade, desemprego e desequilíbrio em outros países. Encaminhado por Alberto Tamer. Publicado, sob o título “Crescimento nem sempre é tudo”, em O Estado de São Paulo (11 setembro 1994, p. 2). Relação de Publicados n. 160.

 

sábado, 31 de janeiro de 2015

Petrobras: Le Monde diz que ela sinaliza todos os males do Brasil

Ingenuidade do reporter: ele ainda vai tomar conhecimento de todos os outros males dos petralhas, e não do Brasil principalmente, contra o país e contra os brasileiros.
Ademais dos crimes comuns, como esses da Petrobras (mas deve ser o mesmo em outras estatais e todos os demais órgãoa públicos), existem todos os crimes econômicos que derivam de políticas e medidas equivocadas e que provocam imensas perdas financeiras, além do chamado custo-oportunidade.
Paulo Roberto de Almeida

29 de janeiro de 2015

“Petrobras simboliza todos os males do Brasil”, afirma o jornal francês Le Monde

Olho do furacão – A corrupção e os maus resultados do balanço da Petrobras são tema de duas reportagens na grande imprensa francesa nesta quinta-feira (29). O diário econômico Les Echos afirma que o Brasil “se afunda no escândalo”, enquanto o vespertino Le Monde, em chamada de capa, afirma que “a Petrobras simboliza todos os males do Brasil”.
Ilustrada com uma foto da presidente Dilma Rousseff levando as mãos ao rosto, o artigo do correspondente no Rio de Janeiro afirma que a multinacional pagou propinas durante dez anos, “principalmente para a coalizão que está no poder”, notadamente o PT, o PMDB e o PP. “Nenhum grupo industrial personificou tanto a ascensão do Brasil, e nenhum se viu no coração de um escândalo. Atingido pela revelação de um sistema de corrupção e de propinas generalizado, o gigante petroleiro se tornou em alguns meses o símbolo de todos os males do Brasil”, afirma o repórter Nicolas Bourcier.
O artigo de página inteira faz um resumo da trajetória da empresa nos últimos anos, a partir do seu auge, no final dos anos 2000, com a descoberta do pré-sal – quando a presidente Dilma Rousseff chegou a afirmar que “Deus era brasileiro” –, até o atual estado, com a divulgação de um balanço, na última quarta-feira (28), revelando a deterioração das contas da empresa. O balanço omite os custos da corrupção e não contou com auditoria da consultoria PwC, que se recusou a avalizar o documento.
O Le Monde reproduz os três cenários possíveis para o futuro da empresa elencados pela revista brasileira Exame. No cenário otimista, o preço do barril do petróleo sobe, a empresa reconhece a corrupção e suas ações sobem 60%. No cenário intermediário, o preço sobe menos, o ritmo das construções de plataformas diminui, mas a produção de petróleo aumenta. No cenário pessimista, o valor do barril se aproxima dos US$ 75 e a empresa precisará pagar uma multa de R$ 340 milhões, contando com o BNDES para se salvar. “O risco de um desmantelamento da empresa ou de uma divisão das atividades com vistas em uma privatização parcial é evocado”, diz o Le Monde.
Les Echos: “Brasil afunda”
A publicação do balanço financeiro do terceiro trimestre de 2014 da Petrobras ganhou destaque no diário econômico francês Les Echos, que não poupa críticas à situação da empresa e suas repercussões para a imagem do país. O escândalo é revelador do nível de corrupção praticado no Brasil, diz o texto da reportagem publicada na edição desta quinta-feira (29).
“O Brasil se afunda no escândalo político financeiro da Petrobras” é o título de uma reportagem ilustrada com uma foto da presidente Dilma Rousseff e da presidente da Petrobras, Graça Foster, vestidas com o macacão da empresa durante a campanha presidencial, em setembro do ano passado.
“Foi durante a noite, quase na clandestinidade que o gigante brasileiro do petróleo publicou seu balanço… do terceiro trimestre de 2014!”, exclama o jornal, lembrando que a divulgação dos dados era aguardada desde novembro e havia sido adiada duas vezes.
No entanto, o balanço ainda é oficioso porque ainda não passou pelo crivo de auditores externos, informa o jornal. A presidente da empresa admitiu que ainda não é possível avaliar com precisão a extensão dos estragos provocados pela corrupção e sua depreciação nos ativos da empresa.
E não foi por falta de procurar, ironiza Les Echos. Os especialistas adotaram um método que identificou um buraco de R$61,4 bilhões, mas a empresa preferiu usar as regras e exigências das comissões de regulação das bolsas de valores do Brasil e dos Estados Unidos para exibir dados mais confiáveis. Nada disso deu garantias e resgatou a confiança dos investidores, constata o artigo.
O choque na Bolsa de São Paulo foi tão violento que o anúncio de que o lucro líquido da Petrobras caiu 38% em relação ao segundo trimestre do ano, e registrou queda de 9% na comparação com o terceiro trimestre de 2013, quase passou despercebido.
Situação desconfortável
Apesar do otimismo apresentado por Maria das Graças Foster com a chegada do executivo João Elek para pilotar o comitê de Governança, Risco e Conformidade da empresa, a situação atual da Petrobras não é nada confortável.
“Sem balanço oficial e muito endividada, a Petrobras não tem mais acesso aos mercados financeiros”, lembra Les Echos, que cita ainda o impacto negativo sobre os planos de investimentos e o abandono de vários projetos como a construção polêmica de duas refinarias.
Les Echos também destaca o pedido da presidente Dilma Roussef para que os envolvidos no escândalo de corrupção sejam punidos, “mas sem que a empresa saia prejudicada”. Descoberto há pouco menos de um ano, o escândalo da Petrobras continua provocando estragos e sua extensão se amplia a cada dia, enfraquecendo a maior empresa do país. “O caso Petrobras é revelador do alto grau da corrupção que persiste no Brasil”, afirma Les Echos. (Com RFI)