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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 8 de abril de 2014

Mansueto Almeida e as verdades desagradaveis

Parece que o Mansueto, como naquela história do banqueiro central, é o cara que, no auge da festa, chega para colocar água no choppe e diminuir o volume do som.
Em todo caso, eu só o contesto numa coisa: economista deve sim falar sobre as consequências de um salário mínimo alto, aliás de qualquer salário mínimo, já que ele provoca desemprego e déficit público. 
Paulo Roberto de Almeida

Recordando – debates em aberto

by mansueto
(1) O otimismo dos ortodoxos na ANPEC 2011: Escrevei isso depois da mesa de conjuntura da ANPEC em 11 de dezembro de 2011 (clique aqui para o ler o post completo):
“.....Mas uma coisa para mim ficou clara, o debate morno que assisti na ANPEC não vai ajudar em nada ao governo na sua difícil tarefa de salvar a indústria, não mostrou de que forma o governo poderá aumentar substancialmente o investimento público e ainda entregar a meta de primário cheia no próximo ano e ninguém comentou que o “fabuloso” superávit primário deste ano vem de uma combinação de fatores que não deve ser repetir: (1) reajustes real do salario mínimo zero; (2) queda nominal na execução do investimento público; e (3) crescimento de receita à uma taxa de 20%, mais do que o dobro do crescimento do PIB.......Alguém acha que a receita continuará crescendo a uma taxa que é o dobro do crescimento do PIB nominal? Eu acredito que não e, portanto, o meu cenário está longe de ser tão cor de rosa e, na falta de espaço fiscal para o governo salvar a indústria, a salvação virá com maior proteção de mercado, o que significa produtos maios caros para nós consumidores.”
(2) O que queremos do BNDES? Em agosto de 2010 publiquei um artigo na pagina 2 do Estado de São Paulo com o título: o que queremos do BNDES? (clique aqui). Neste artigo destacava quatro perguntas técnicas e relevantes para o debate, referente, por exemplo, ao custo dos empréstimos entre outras coisas. Terminava o artigo com a seguinte provocação:
“Chegou a hora de a sociedade decidir o que quer do BNDES. Deve ser um banco voltado principalmente para o financiamento de projetos de infraestrutura? Que tipo de projetos? Qualquer projeto ou de preferência aqueles em que o retorno social seja maior que o privado? Que volume de recursos o banco deverá pôr à disposição para financiar as exportações e os investimentos de longo prazo? O BNDES deve financiar a internacionalização de empresas? Que tipo de empresas, em que condições e qual o volume de recursos alocados para essa finalidade? O BNDES deve financiar operações de fusões e aquisições? Em que setores e por quê?..... O mais interessante nesse debate é que os que se autodenominam "defensores do investimento" não querem debater como podemos fortalecer o BNDES que não seja pelo aumento da dívida pública”.
O debate hoje é exatamente o mesmo. Depois de quase quatro anos e das minhas provocações desde 2009, ainda não sei as repostas para as minhas dúvidas neste debate e, hoje, os empréstimos do Tesouro para os bancos públicos já chegam a quase 10% do PIB.
(3) Desindustrialização: Em 16 de novembro de 2010, publiquei aqui um post com o titulo - Sobre a Desindustrialização: o que fazer? (clique aqui). Neste post mostrava como seria difícil ter um equilíbrio macroeconômico que levasse a uma forte recuperação da indústria na participação do PIB e alertava que o governo flertaria com controle à entrada de capital externo e maior proteção comercial, o que de fato aconteceu. Eu pensava até que haveria um aumento da tributação sobre as commodities minerais, o que não ocorreu porque o novo Código de Mineração ficou parado no Congresso. Lá atrás falei o seguinte:
“É claro que a maior parte dos economistas de fora do governo acredita que a única forma de combater a valorização do real é por meio de um maior controle no crescimento dos gastos públicos, que reduziria a pressão de demanda, permitindo ao BACEN trabalhar com juros menores para atingir a meta de inflação. Adicionalmente, um aumento da poupança pública (economia do governo) significaria uma menor necessidade de poupança externa e, logo, saldo em conta corrente menos deficitário devido à queda da demanda.”
Em 2012, o BACEN reduziu a Selic para 7,25% aa, mas foi uma redução temporária aproveitando o excesso de liquidez no mercado internacional que não se sustentou. A taxa hoje voltou para 11% ao ano e a situação fiscal piorou. Assim, como precisaremos continuar arrecadando muito para pagar as contas, a indústria no Brasil vai continuar sofrendo com o peso dos impostos.
(4) Corte das despesas em 2011 e contingenciamento. Em 2011, logo no início do governo quando mercado estava super otimista com a suposta “forte redução das despesas de custeio” e manutenção do investimento, eu alertei em dois posts que isso seria impossível:  “O Improvável Corte do Custeio em R$ 50 bilhões” (clique aqui) e “Redução das Despesas: Algumas considerações” (clique aqui).
Depois de quatro anos voltamos ao ponto de partida neste debate. A tendência de crescimento da despesa no Brasil é maior que a tendência do crescimento da receita puxada pelo crescimento do PIB e, assim, precisaremos de um quebra estrutural. Do lado da receita (aumento da carga tributária) e/ou do lado da despesa (um ajuste fiscal com o controle do crescimento da despesa, inclusive, social).
Algumas pessoas acham que gosto de mostrar o que não está dando certo. De maneira alguma. Eu como todos vocês torço para o Brasil dá certo, mas acho que cada um de nós deve contribuir da melhor forma possível para a conscientização e solução dos problemas. O que fazer é decisão política negociada com o Congresso Nacional. Eu não vou dizer nunca qual deverá ser a política de salario mínimo ou qual deverá ser o controle no gasto fiscal. Isso é decisão política e não de economistas.
O que não quero é ser vendedor de ilusões como alguns “intelectuais” que falam que é possível atender imediatamente todos os anseios da sociedade com boa vontade e não abordam a questão do financiamento. Eu adoraria estar errado em tudo que escrevo de finanças públicas e de defender aumento do gasto com redução da carga tributária. Não o faço porque não vejo como.a

domingo, 6 de abril de 2014

Brasil: o lado ruim do distributivismo, os recursos nao bastam...

Parece que ainda vamos ter de passar por algum desastre fiscal antes de aprender que distribuir sem produzir só existe no mundo mágico dos keynesianos...
A verdade é que os recursos nunca bastam para fazer bondades sociais demagógicas como pretendem fazer políticos incompetentes, trapaceiros e mentirosos.
Não é normal que uma sociedade possa viver com um quarto de sua população -- repito: UM QUARTO -- vivendo de um mensalão estatal, dependentes do Estado assistencialista, que arranca recursos de todos os outros, dos três quartos de trabalhadores produtivos, para entregar a uma parcela da população, por mais frágil que esta possa parecer. Nunca ninguém se suicidou por falta de comida: no máximo o que acontece é roubar, mas na prática as pessoas começam a trabalhar, em qualquer coisa.
Isto é demagogia, isto é curral eleitoral, e é preciso denunciar.
Nunca o Brasil avançará por meio dessas políticas perversas, que transformam pessoas que poderiam trabalhar, e fazer a sua renda no mercado, em assistidos da caridade estatal (na verdade, do nosso dinheiro).
A deformação que o partido totalitário está fazendo no Brasil vai ser muito difícil de terminar, pois cria essa mentalidade de assistidos e de preguiçosos que fazem a massa de manobra fácil para seus propósitos eleitoreiros de monopolização do poder. Pode até não ser um valor relevante dentro do PIB brasileiro, mas os efeitos sobre o mercado de trabalho, e, sobretudo, no plano psicológico, são muito mais relevantes.
Os companheiros estão construindo a pior herança maldita que o Brasil vai ter pelos anos à frente...
Infelizmente, a oposição não conteve a maldade a tempo, aliás ela até promete continuar, oficializar, eternizar essa herança maldita.
Pobre Brasil, vai continuar pobre durante muito tempo, com sua economia e sociedade deformados por esse tipo de prática fisiológica, e detestável.
Paulo Roberto de Almeida 

Entrevista de Samuel Pessoa ao Estado de São Paulo

by mansueto
Dando continuidade à série de entrevistas com formadores de opinião, o Estado de São Paulo entrevistou hoje o economista Samuel Pessoa (clique aqui), que discorre sobre tamanho do Estado, intervenção do Estado na economia, etc.
O Estado de São Paulo tem feito um trabalho excepcional porque além das entrevistas com um número grande de economistas de visões diferentes, o jornal disponibiliza todas as entrevistas na página do jornal para assinantes e não assinantes.
Na visão de Samuel, há duas agendas bem definidas no debate sobre política econômico e tamanho do Estado. Primeiro, o crescimento do gasto do governo estaria ligado a demanda da sociedade brasileira por maior proteção. A maior prova disso é que o gasto público cresce ao longo dos mandatos de TODOS os Presidentes da República pós-1988.
No período imediatamente após a Constituição de 1988, o crescimento concentra-se em gasto com pessoal e previdência (previdência rural). Depois de 1995, o gasto com previdência continua a crescer em conjunto com outros programas de transferências de renda mais gastos com educação e saúde. Vale lembrar que, na década de 1990, o principal mecanismo de financiamento da educação foi a criação do FUNDEF pela Emenda Constitucional nº. 14, de 1996, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
No caso da Saúde, a grande revolução na área do financiamento do gasto veio com a Emenda Constitucional 29/2000, que estabeleceu a vinculação de recursos nas três esferas de governo para o financiamento mais estável do SUS e definiu, para o governo federal, que o gasto com saúde cresceria de acordo com o crescimento do PIB nominal.
No governo Lula, houve a ampliação do bolsa família, a criação do FUNDEB e a política de valorização do salario mínimo que puxou para cima o gasto social que já crescia desde a década de 1990. É esta agenda que Samuel liga ao que chama de contrato social.
Isso significa que não há o que melhorar? Claro que não. Há politicas que são mais distributivas e de custo menor do que outras. Assim, mesmo aceitando o argumento do contrato social é possível que haja espaço nesse debate para introduzir a questão da eficiência. O economista X levantou justamente este ponto no seu comentário (clique aqui). Um bom gestor pode ajudar à sociedade a entender o custo e beneficio das politicas sociais e pode até facilitar a formação de um consenso pró-mudança. Mas mudança real aqui vai exigir mudança de regras. O melhor gestor do mundo não poderá modificar as regras de pensões por medida administrativa.
O outro ponto levantado por Samuel é que a agenda nacional desenvolvimentista, imposta pelo governo desde 2009, é uma agenda top-down que não funcionou: o excesso de intervenção do governo na economia não nos trouxe maior crescimento com um agravante ainda maior: o custo das políticas setoriais fica escondido e parte dele (subsídios do PSI) está sendo postergado para o futuro. Na opinião de Samuel essa agenda é fácil de mudar. Eu vou um pouco além. Essa relação Tesouro-BNDES terá que mudar por necessidade e o governo demorou muito a perceber isso.
Leiam a entrevista e, em especial, notem que, ao contrário de muitos economistas que têm a solução para tudo, Samuel destaca muito bem que o papel de economistas não é tomar decisão do que fazer, mas explicitar o custo e benefício das escolhas para que os políticos e a sociedade tomem decisões.
Ou seja, crescer menos pode ser uma decisão legítima da sociedade. No entanto, a sociedade precisa compreender também que se a opção for crescer menos, não há como distribuir o que ainda não se tem. Ou seja, não adianta querer crescer menos e achar que poderemos gastar 10% do PIB com educação e ter um serviço de saúde com o padrão da Inglês. Os recursos são limitados.

Brasil: debate entre intervencionistas e sensatos sobre industria e desenvolvimento

A simples realização do debate já é um progresso, ainda que não ocorra um entendimento, o que não será possível, entre, de um lado, os intervencionistas keynesianos, que se acreditam desenvolvimentistas, e, de outro, não os "liberais" (pois essa é uma mercadoria rara no Brasil), mas simplesmente economistas menos presos a ideologias e teorias capengas, mas a evidências concretas a partir de dados da realidade.
De fato, como escreve Mansueto Almeida, o "objetivo de uma iniciativa deste tipo não é criar consensos, mas forçar a todos que participam deste debate a mostrar de forma mais clara suas ideias, levantar perguntas e mostrar a evidências para suas teses."
Espero que o panorama se torne mais claro...
Paulo Roberto de Almeida 

Indústria e Desenvolvimento Produtivo do Brasil – FGV

by mansueto
Anotem na agenda. Nos dias 26 e 27 de maio de 2014 haverá um grande debate na FGV de São Paulo sobre política industrial. Essa é uma iniciativa conjunta da Escola de Economia da FGV-SP e do IBRE/FGV-RJ. O evento é aberto ao público e contará com vários economistas com visões diferentes sobre política industrial.
A ideia é que todos expositores escrevam algumas poucas páginas sobre o tema que abordará no seminário e depois finalizem o texto para o capítulo de um livro sobre o tema. Acredito que por reunir um grupo tão diverso e com visões diferentes, este seminário tem tudo para ser muito bom.
O objetivo de uma iniciativa deste tipo não é criar consensos, mas forçar a todos que participam deste debate a mostrar de forma mais clara suas ideias, levantar perguntas e mostrar a evidências para suas teses.  Segue a lista dos palestrantes abaixo e depois coloco aqui em data mais próxima ao evento a programação final. Mas anotem na agenda: dias 26 e 27 de maio de 2014.
Painel de abertura
Coordenador:
  • Luiz Schymura (IBRE)
Participantes:
  • Yoshiaki Nakano (EESP)
  • João Carlos Ferraz (BNDES)
  • Rodrigo Loures (FIESP)
Indústria e Desenvolvimento Econômico
  • Coordenação: Nelson Marconi (EESP)
  • David Kupfer (UFRJ e BNDES)
  • Francisco Eduardo Pires de Souza (UFRJ e BNDES)
  • Rogerio Cesar de Souza (IEDI) e Cristina Reis (UFABC)
Política Macroeconômica e Desenvolvimento Industrial
  • Coordenação: Nelson Barbosa (EESP)
  • Luiz Carlos Bresser-Pereira (EESP)
  • Samuel Pessoa (IBRE)
  • José Luis Oreiro (UFRJ)
Comércio Exterior e Desenvolvimento Industrial
  • Coordenação: Nelson Marconi (EESP)
  • Vera Thorstensen e Lucas Ferraz (EESP)
  • Lia Valls (IBRE)
  • Eliane Araujo (UEM)
  • Celio Hiratuka (Unicamp)
Inovação e Competitividade Industrial
  • Coordenação: Laura Carvalho (EESP)
  • Mariano Laplane (Unicamp e CGEE)
  • João de Negri (IPEA e FINEP)
  • Gustavo Britto (UFMG)
  • José Eduardo Cassiolato (UFRJ)
Avaliação de Instrumentos de Política Industrial
  • Coordenação: Mauricio Canêdo Pinheiro (IBRE)
  • Mansueto Almeida (IPEA)
  • Jose Ricardo Roriz Coelho (FIESP)
  • Marcelo Miterhof (BNDES)
Estrutura Industrial e Competitividade
  • Coordenação: Laura Carvalho (EESP)
  • Regis Bonelli (IBRE)
  • Fabio Freitas e Marta Castilho (UFRJ)
  • Fernando Sarti (UNICAMP)
Desenvolvimento Produtivo além da Indústria
  • Coordenação: Nelson Barbosa (EESP)
  • Angelo Costa Gurgel (EESP)
  • Jorge Arbache (UnB e BNDES)
  • Lucas Ferraz (EESP)
  • Carlos Frederico Rocha (UFRJ)

sábado, 5 de abril de 2014

O Brasil é um país caro: o exemplo da ZARA - Mansueto Almeida (via Estadao)

Não é uma novidade. Dois fatores: impostos e mercado protegido, sem concorrência. Os brasileiros são reféns de um governo extorsivo e de carteis protegidos de produtores.
Paulo Roberto de Almeida



by mansueto, 5/04/2014

O Estado de São Paulo publicou hoje uma matéria sobre o preço dos produtos da loja “ZARA” no Brasil (clique aqui: Brasil tem roupas mais caras do mundo, aponta ‘Índice Zara’). Essa marca e o seu modelo de fast fashion com o lançamento várias coleções sucessivas é admirado no mundo todo e muitas empresas imitam o business model da ZARA.
Esse modelo implica em ter a cadeia de valor perto do ponto de venda para alimentar de forma rápida as novas coleções. É por isso que aqui no Brasil a loja trabalha com vários fornecedores locais, o que significa custo elevado. A matéria do Estadão baseada nos estudos do Fabio Monteiro e Thiago Andrade do BTG Pactual mostra que os produtos da Loja ZARA aqui são quase 50% acima do preço dos EUA (sem o efeito cambial) e, junto com a Polônia, temos os preços mais caros.

Fonte: Estado de São Paulo
Apesar do custo caro, possivelmente o modelo ZARA funciona no Brasil apesar dos custos elevados da produção porque o modelo de negócios da marca é fortemente voltado para o varejo – a empresa é muito menos indústria e muito mais varejo e “brand building”.
Como o mercado no Brasil é muito protegido, apesar do elevado custo de produção e dos preços a companhia consegue crescer no Brasil. Mas consegue porque a ZARA não é indústria. E mesmo empresas na área de caçados e confecção que são indústrias passaram a investir fortemente no varejo. Hoje, varias das lojas da Nike no Brasil são de uma fábrica calçados doméstica. O Brasil é um país caro para produzir e, como 49% de nossa arrecadação é via imposto indireto, os preços de produtos aqui são muito acima do resto do mundo.

O academico aloprado (petista, claro) e o economista sensato: o primeiro quer enganar, o segundo apenas explica...

Inacreditável como esses gramscianos petistas não sabem fazer contas. Com isso, eles vão enganando muita gente, como já enganaram, para ganhar. O problema, depois, é governar.
Como explica Mansueto, alguém precisa pagar a conta.
A herança maldita que está sendo deixada pelos companheiros já está pesada demais.
Paulo Roberto de Almeida


Mansueto Almeida, 5/04/2014

Fazia tempo que não lia um artigo tão “bom” em defesa do aumento da carga tributária, impostos indiretos e a continuidade do processo de desindustrialização como este do professor André Singer na Folha de São Paulo (clique aqui).
Explico. O professor explica algumas das demandas das centrais sindicais em passeata que ocorrerá esta semana como uma luta de “cada classe social no jogo que se arma em torno da eleição de outubro e do programa a ser executado pelo futuro governo, qualquer que seja ele”.
O que o professor não esclarece é que para atender integralmente essas demandas (legítimas) das centrais sindicais será necessário um brutal aumento da carga tributária. Quando falo “brutal” quero dizer elevar a carga tributária em pelo menos 10 pontos do PIB nos próximos 4 anos. Assim, não se trata de uma luta do bem contra o mal, como parece sugerir o professor da USP. Vamos ver os quatro pontos levantados pelo professor André Singer que são as demandas das centrais sindicais.
(1) Continuidade de valorização do salário mínimo (SM): Sim, o crescimento real do SM desde 2003 foi de 72%. Mas até mesmo as centrais sindicais reconhecem que não será possível continuar com aumentos reais acima do crescimento da produtividade. Com salários crescendo acima da produtividade, ganha quem consegue repassar aumento de custo para preços, ou seja, ganha o setor de serviços e perde a indústria. Adicionalmente, além dos efeitos no mercado de trabalho, crescimento do salário mínimo implica maior despesa previdenciária e assistencial, isso não ocorre nos outros países.
A sociedade quer manter a politica de valorização do salario mínimo nos moldes atuais? OK, mas então será preciso explicar quem pagará mais impostos. Como 49% da arrecadação de impostos no Brasil é imposto indireto, isso significa mais imposto indireto e produtos mais caros ainda. Em outra ocasião explico porque não dá para conseguir esse extra via imposto direto.
(2) Fim do fator previdenciário e valorização das aposentadorias: aqui vou confiar na declaração do próprio governo do PT. O ministro da previdência do governo Dilma, Garibaldi Alves, tem afirmado recorrentemente que é impossível acabar com o fator previdenciário sem estabelecer uma idade mínima para aposentadorias e o próprio ministro, em mais de uma vez, já falou da grande distorção que é o sistema de pensões no Brasil (ver aqui). O Brasil gasta com pensões em torno de 3% do PIB, o dobro da média de países desenvolvidos que gastam 1,5% do PIB.
Assim, quando Singer fala que: “cresce a exigência do capital para que se estabeleça uma idade mínima de aposentadoria e haja menos gastos com pensões por morte e com o seguro-desemprego” não está sendo honesto. Essa agenda não é do capital, mas sim do próprio governo que sabe que, se nada for feito, precisaremos aumentar mais ainda a carga tributária. Será que o ministério da previdência é um representante do grande capital?
(3) Redução dos juros e do superávit primário: Novamente o professor passa a impressão que o aumento de juros é injusto pois tira recursos públicos de outras áreas essenciais. O problema é que com uma inflação de 6% ao ano mesmo com o quase congelamento dos preços administrados, sem o aumento de juros a inflação estaria ainda maior. Se o governo não quer aumentar a taxa de juros, ele poderia fixar o centro da meta de inflação em 6,5% e não em 4,5%. Quanto maior for a meta de inflação, menor será a taxa de juros necessária para trazer a inflação para o centro da meta. Mas será que os trabalhadores querem isso? Será que é bom ter mais inflação para ter uma taxa de juros menor? será os trabalhadores votariam em um candidato que prometesse elevar a meta de inflação para 10% ao ano para reduzir os juros?
(4) Transporte público de qualidade, 10% do Orçamento da União para a saúde, 10% do PIB para a educação: Esse é o meu grupo preferido. Quem é contra essa agenda? Que eu saiba ninguém, mas o problema é sempre quem paga a conta. O Brasil gasta com educação algo perto de 5,5% do PIB. De onde vamos tirar 4,5% do PIB a mais? Aumentando impostos?
Transporte público de qualidade exige mais recursos. No âmbito dos municípios, prefeitos podem aumentar IPTU e, no caso do governo federal, é possível o governo aumentar novamente a CIDE (que hoje está com alíquota “zero”) e utilizar recursos para investir em transporte público. Novamente, estamos falando de aumento de carga tributária. É isso que a sociedade quer?
Por fim, o aumento do gasto com saúde para 10% do orçamento da União. O gasto com saúde do governo federal no ano passado, 2013, foi de R$ 83,3 bilhões, ou 9,1% da despesa total não financeira do Governo Central que foi R$ 914 bilhões. Chegar aos 10% em valores do ano passado significaria um gasto adicional de 8 bilhões. Esse valor que falta já está em restos a pagar, valor foi empenhado mas não gasto.
Agora se os 10% for em cima do orçamento total (que inclui as transferências para estados e municípios) o valor seria muito maior. Por exemplo, a receita primária esperada pelo Governo Central este ano é de R$ 1,3 trilhão. Logo, 10% disso significa R$ 130 bilhões; ou um crescimento de 56% em relação ao executado no ano passado para a função saúde. Esse crescimento seria equivalente a 1 ponto do PIB.
Conclusão:
Seria muito bom os trabalhadores entrarem nesta briga, mas seria bom que suas demandas fossem também seguidas de um debate sobre como financiar o aumento dos gastos. A agenda acima só é possível com um aumento brutal da carga tributária em mais de 10 pontos do PIB nos próximos quatro anos.
E os juros? O gasto do governo com juros, em 2013, foi de 5,2% do PIB. Mesmo com a hipótese heróica de um calote total na dívida pública, a economia seria de 5 pontos do PIB. Não seria suficiente para financiar a agenda acima e precisaríamos também de mais carga tributária. Infelizmente, sonho não resolve problemas. Essa foi a frase que faltou no artigo do professor André Singer.
Faltou também  na lista de demandas das centrais sindicais o fim imediato dos subsídios para os ricos, ou seja, acabar imediatamente com os empréstimos do Tesouro para bancos públicos e aumentar a TJLP. Não entendo porque as centrais sindicais não batem neste ponto. Ao que parece, todo mundo está querendo aumento de carga tributária ou, como fizemos no passado, que a inflação resolva nossos problemas. E ai, quando teremos a passeata em defesa do aumento de 10 pontos do PIB de carga tributária?

mansueto | 5 de abril de 2014 às 7:12 PM | Categorias: Economia | URL: http://wp.me/pAMib-11g

quinta-feira, 20 de março de 2014

Brasil desarrumado? Chame o batalhao dos "chatos" - Mansueto Almeida

Há um grupo de economistas no Brasil que, tradicionalmente, são apontados por muitos como chatos porque gostam de lembrar uma lei máxima da economia: “não existe almoço grátis”. Eu conheço todos eles por circunstâncias diferentes.
Um desses economistas é o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Quando fui estudante na USP eu era louco para conhecê-lo, mas tinha medo de me aproximar dele. A clareza de pensamento do Pastore e sua critica, quase sempre correta, intimida um estudante de 23 anos de economia. O meu trauma foi solucionado quando nos conhecemos, em 2011, graças ao blog, e desde então temos mantido contato. Pastore é um dos economistas mais técnico e brilhante do Brasil e, apesar de seu vasto conhecimento, deixa à vontade o seu interlocutor no debate. Os seus relatórios são agradáveis de ler e baseados em análises econométricas rigorosas. Pode-se até discordar dele, mas duvido que alguém tenha coragem de insinuar algo sobre a qualidade de suas análises.
Outro do grupo dos “chatos” é o Alexandre Schwartzman. Fomos contemporâneos de USP e, para infelicidade dos estudantes, a sala do Alexandre era vizinho ao local do café, o que significa que todos nós levávamos bronca dele que queria estudar e ficávamos fazendo barulho na porta da sala. Só voltei a encontra-lo, em 2009, por circunstância do Blog. Trocamos alguns e-mails e de vez em quando nos encontramos. Perdi o medo das broncas do cafezinho!
O terceiro do meu grupo de economista chatos é o Fábio Giambiagi. Já escutei muita gente criticá-lo pelas suas posições em relação à reforma da previdência e pelo fato dele escrever sobre tudo em economia. Fábio escreve sobre tudo por dois motivos. Primeiro, ele lê sobre  tudo. Segundo, eles conversa com os melhores especialistas em todas as áreas. Tem um talento natural de descobrir pessoas jovens competentes e é, sem dúvida, o melhor editor de economia. Dada a sua imensa facilidade e disciplina para escrever é uma das pessoas que mais contribuem para o debate econômico no Brasil. Nos conhecemos, em 2004, quando ele estava no IPEA e desde então matemos contato.
O quarto economista chato é o Armando Castelar. Apesar de ambos sermos do IPEA, há um mundo entre o IPEA Rio e o IPEA Brasilia. Eu devo conhecer no máximo 5 ou 6 pessoas do IPEA Rio. Nos encontramos em 2011 em uma reunião da FIESP, em São Paulo. Armando é outro economista que gosta de olhar cuidadosamente para os dados e faz suas análises de forma desapaixonada. Faz aquelas perguntas lógicas que “acabam com a festa”. Antes de começar o ciclo atual de concessões, advertiu que os empréstimos subsidiados do BNDES deveriam ter como indexador um índice de preço porque, em algum momento, o governo teria que aumentar a TJLP que se deslocou fortemente da Selic e isso alteraria os subsídios das empresas que apostaram em uma tarifa menor, contando com subsídios elevados dos empréstimos do BNDES. Esse problema já chegou e está sem solução. Uma diferença de mais de 5 pontos de percentagem entre TJLP e Selic é insustentável.
Mas por que estou falando desses quatro economistas? Porque nas últimas discussões que tivemos e baseado no que eles escrevem este grupo sempre esteve mais pessimista do que eu em relação ao comportamento da economia para os próximos anos. Nesses últimos dias, confesso que comecei a “comprar” o cenário deles. O Brasil, a partir do próximo ano, vai precisar conciliar o aumento do superávit primário para algo como 2,5% a 3% do PIB; e fazer frente ao inevitável crescimento do gasto público não financeiro ligado às áreas de educação e saúde e passivos a serem reconhecidos – subsídios do PSI via BNDES, conta de energia, etc.
O que tudo isso significa? Uma busca desesperada por receita cuja primeira tentativa foi justamente a MP 627/2013 que trata da tributação do lucro de empresas no exterior (o economista Marcos Jank da brf fez um bom resumo do problema – clique aqui). Qual será o tamanho da mordida do Leão dependerá do sucesso no controle no crescimento do gasto, que por enquanto é incerto.
O meu cientista político preferido, Marcus André Melo da UFPe, acredita que não dá mais para tentar equilibrar o desejo de maior gasto com a necessidade de aumentar o primário via carga tributária e o ajuste vem pelo lado da despesa – clique aqui. Acho que ele subestima a capacidade da Receita de extrair impostos da sociedade, o uso da contabilidade criativa e superestima a real convicção da sociedade por um ajuste da despesa.
Há meses falo que o meu cenário para o Brasil é moderadamente otimista. Não é mais. " Senhor, eu tenho dúvidas". O próximo governo, seja ele quem for, tem uma agenda difícil pela frente. Será preciso muita convicção para arrumar a casa como foi feito em 1994/95, 1999 e 2003. Assim, os nomes da nova equipe econômica serão essenciais. Não é só questão de nomes bons, mas de nomes de economistas com independência (como Armínio Fraga e Henrique Meirelles) para até discordar de quem seja o presidente, que precisará de um esforço redobrado para se comunicar com a sociedade e viabilizar (i) aumento de carga tributária; e/ou (ii) controle do gasto. Nos dois casos, muita gente vai ficar com raiva.
Infelizmente, os economistas “chatos” parecem estar corretos. O Brasil está quebrado? Claro que não e o grupo acima não fala isso. Não era preciso o Krugman falar isso por dezenas (ou centenas) de milhares de dólares. Eu e outros falaríamos de graça. Mas os economistas que falam que tudo está bem não dizem absolutamente nada de concreto sobre como resolver a situação de conciliar aumento do primário com o desejo da sociedade por maiores gasto em educação, saúde e transferências. Acho até que muito deles adorariam ver a reencarnação dos seus ídolos que já se foram (como Keynes por exemplo) para solucionar os problemas. Sim, se você não sabe fique sabendo que há um grupo de economistas que tentam adivinhar o que Keynes pensaria, o que  Milton Friedman faria, se duvidar até o que Marx hoje falaria sobre o problema da renda dos 1% nos EUA. Não seria melhor simplesmente olhar para evidência empírica?
O próximo governo precisará escutar com mais cuidado os economistas "chatos". E claro que esses economistas não têm nada de chatos, apenas um grande defeito para alguns: eles gostam de falar a verdade e têm convicção do que falam. Em geral, eles mais acertam do que erram e, por isso, são respeitados. Eles têm a solução para os problemas do Brasil? claro que não e nem se propõe a isso. Mas eles sabem apontar na área macro o que está errado e alertar para o duvidoso sucesso de planos mirabolantes. Muita gente reclama deles, mas ninguém deixa de ler o que eles escrevem ou de conversar com eles.
De quem eu gosto mais? claramente do grupo mais espírita que quer convocar o espírito de Keynes (e o espírito animal) para resolver os nossos problemas e que sempre nos enche de otimismo e não falam de custo algum. Mas aprendo mais com os "chatos".
Sentiu falta de alguns nomes na lista dos chatos? é porque esses outros nomes não participam muito do debate de conjuntura apesar da presença maior que passaram a ter pelo seus artigos (Pedro Cavalcanti e Renato Fragelli) ou porque estão no meu grupo dos quase chatos: Samuel Pessoa, Marcos Lisboa, Ricardo Paes de Barros, Edmar Bacha, etc.
PS: vem ai um livro de dois dos economistas aqui mencionados. Vou comprar. ler, criticar e fazer propaganda.


terça-feira, 18 de março de 2014

Politica economica: entrevistas com economistas, 2 - Blog MansuetoAlmeida

Debate na Revista Época Negócios -2

Neste post, completo minhas impressões das dez entrevistas da revista Época Negócios com economistas de diferentes visões.
(6) Otaviano Canuto: gosto muito do Otaviano por vários motivos, dentre os quais, ele sabe escutar e debater de forma extremamente elegante. Otaviano coloca corretamente que o principal desafio para o próximo governo é revisitar o gasto público, i.e. reduzir o crescimento da despesa não financeira. Se isso não for feito, o equilíbrio virá pelo aumento da carga tributária; exatamente o mesmo ponto destacado pelo economista Samuel Pessôa.
Canuto destaca o problema da burocracia de pagar impostos no Brasil que, segundo o Banco Mundial, exige 2,6 mil homens-hora por ano. Assim, da mesma forma que Samuel, Canuto mostra que reduzir o número de impostos e a burocracia no pagamento de impostos aumentaria a eficiência das empresas.
Canuto não avança muito sobre quais gastos do setor público deveriam ser controlados, mas corretamente aponta para um amplo levantamento da eficácia das políticas públicas. Como ele fala, “há no gasto público direitos conquistados, benesses resultado de intervenções no passado que não são mais justificáveis”. Para bom entendedor meia palavra basta.
(7) Luiz Carlos Mendonça de Barros: o economista mostra a complementariedade entre os governos FHC e Lula. Um vez as reformas necessárias para o Brasil crescer e o outro deu continuidade a política econômica e ampliou os programas de transferência de renda. O resultado foi uma década de crescimento inclusivo, com o apoio do boom das commodities.
O economista mostra que o governo Dilma errou no diagnóstico do problema de crescimento do Brasil, ao incentivar a demanda quando o problema não era mais escassez de demanda. Fala que a “turma do governo” por um tempo agrediu o setor privado, mas que no período recente houve algum aprendizado, como é o caso da política de concessões. Critica também a política fiscal expansionista do governo que, na sua visão, atrapalha a tarefa do Banco Central de reduzir a inflação.
Um dos grandes equívocos da entrevista do economista é falar que o senador Aécio Neves fala através do Samuel Pessôa: reduzir salários, fazer reforma, etc. Nunca escutei algo do tipo “reduzir salários”. Mas a preocupação do economista reflete bem algo que escutei recentemente de político já aposentado: “há um programa para ganhar eleição e há outro para governar”. Será que não há como ser mais honesto com o eleitor? É isso que a sociedade de fato quer? Ótimo, então vamos discutir princípios gerais na eleição e esquecer programas de governo. Mas acho que os jornalistas não aceitarão.
No mais, outro equivoco do economista e de muitos outras pessoas é afirmar que reformas são sempre ruins e impopulares. A única forma de manter a conquista da classe média não é com mais subsídios, mas sim com o controle do crescimento do gasto, o que exigirá mudanças de regras (reformas), para que não haja um novo aumento de carga tributária. O economista fala que facilmente se recompõe o superávit primário no Brasil. Sim, com aumento de carga tributária e reversão das desonerações; mas não sei se isso é fácil como ele Mendonça de Barros afirma.
(8) Paulo Rabelo de Castro: achei a entrevista um pouco confusa e parte de um pressuposto, equivocado, que o grande problema do crescimento do gasto público está ligado a um problema de gestão. Isso não é verdade para o Governo Central. De 1999 a 2013, mais de 80% do crescimento da despesa não financeira do Governo Central decorre dos programas de transferência de renda e previdência. Poderia chamar o melhor gestor do mundo e com as regras atuais ele não poderia fazer absolutamente nada.
Confesso que não entendo quando o economista fala que o mercado bate palmas para a política econômica e para o desequilíbrio macroeconômico. Não conheço ninguém no mercado que “bate palmas para a política econômica”. Todos xingam, principalmente em ambientes fechados.
O economista critica a ênfase no aumento do primário que, segundo ele, quanto maior pior. Como assim? Ele está propondo superávit primário “zero”? aumento da dívida pública? É essa a proposta do economista Paulo Rabello de Castro?  Não, parece que ele está criticando o aumento do primário via aumento de impostos quando o caminho deveria ser cortar o gasto.
OK, entendi. Mas cortar quais gastos? Bom, o economista fala que a despesa corrente do governo está descontrolada mas não fala exatamente “qual despesa corrente”. Passa a impressão que um choque de gestão resolve tudo e critica o senador Aécio por não falar como vai reduzir a despesa com juros do setor público para em seguida falar que o governo Dilma tentou reduzir os juros de forma voluntariosa e errou. Mas esse é o debate.
O Brasil só conseguirá reduzir juros com um superávit primário maior que reduza de forma mais rápida a divida bruta e líquida e é falacioso achar que o aumento do superávit primário virá integralmente de corte de gastos. Isso é impossível no curto prazo a não ser com um corte brutal dos gastos sociais. É esta a proposta de ajuste do economista?
Da mesma forma que o economista Bresser Pereira, Paulo Rabelo de Castro não acredita que nenhum dos candidatos tenha coragem de implementar o que ele defende. E o mais irônico é que tanto ele quando Bresser não concordam entre si, ou seja, não daria para eles se unirem e formarem um novo partido.
(9) Luiz Gonzaga Belluzzo: Bem no estilo Belluzzo fala que a indústria brasileira saiu derrotada nos últimos 35 anos e que adotamos políticas macroeconômicas ilusórias baseadas na valorização da taxa de câmbio e abertura da economia. Levando essa critica ao pé da letra, o ex-presidente Lula para ele foi tão ruim quanto os demais ao permitir a valorização do Real, que atrapalhou a indústria.
Esse é o problema dialético dessa turma: querem elogiar o presidente Lula mas têm vergonha da política econômica do presidente Lula baseado na expansão dos gastos sociais e do consumo com a valorização do Real. Eles queriam um Lula que tivesse olhado com amor para indústria com taxa de câmbio mais desvalorizada  e ampliado as políticas de transferência de renda e o consumo – uma combinação de políticas contraditórias. Exaltam a democracia mas sempre citam a política industrial da China como modelo.
Corretamente, o professor Belluzzo fica incomodado com o pouco esforço inovador do empresariado brasileiro. Por que será? Talvez porque não precise ser tão inovador dado o nível de proteção que temos. Mas ele tem razão quando fala da necessidade de incentivos à inovação a fundo perdido – todo mundo concorda.
O professor escorrega quando parte para afirmações vagas quando é questionado sobre inflação e diz que não vai entrar no fetichismo dos números. Pelo santo Deus o que é isso? Diz que a inflação não pode sair do controle, mas parece mostrar um certo saudosismo do crescimento com inflação de 10% ao ano!! Mas pelo menos reconhece a necessidade de um ajuste fiscal, embora não diga como fazê-lo.
Por fim, diz que não vê consistência nos candidatos da oposição e externa a esperança que a presidente Dilma seja “mais política e menos operacional”. O que isso significa? Será que o professor reprova a atuação de nossa presidenta como economista?
(10) João Paulo dos Reis Velloso: Tenho um grande respeito pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso e por continuar participando ativamente do debate econômico. Fala que no Brasil de hoje não temos uma visão estratégica e que há uma preocupação excessiva com o curto-prazo. É verdade.
Apesar de o seu foco em planejamento e no longo prazo, fala que temos problemas macroeconômicos e que a área fiscal está sendo mal conduzida. Acredita que qualquer um dos candidatos pode fazer as reformas necessárias, i.e. construir um plano estratégico de crescimento desde que haja vontade.
Comete um deslize ao ligar o problema do gasto público e o baixo investimento com o número de ministérios. O seu irmão Raul Velloso mostra como outros analistas que o que pesa são as transferências para famílias. Assim, fechar ministérios ajuda, dá um sinal positivo de austeridade, mas não resolve o problema. No mais, defende uma reforma trabalhista, algo que nenhum dos outros economistas falou.
Minhas considerações finais
O esforço da revista foi muito bom e, mais uma vez, gostaria de parabenizar os editores e os repórteres, dentre os quais José Paulo Kupfer, Cristiane Barbieri, Darcio Oliveira, David Cohen e Marcelo Cabral pelo trabalho.
Como já comentei antes, não vi ninguém elogiando a política macroeconômica do governo Dilma e notei que vários falam do resgate de credibilidade. A questão fiscal é minimizada por apenas dois dos dez economistas entrevistados: (1) Luiz Carlos Mendonça de Barros, que acredita ser fácil resolver o problema, e (2) Paulo Rabello de Castro que não aceita aumento do primário pelo aumento da receita.
Outros falam da importância de aumentar o primário mas não dizem como: (1) Reis Velloso, (2) Belluzzo, (3) Otaviano Canuto, (4) Bresser; (5) Delfim e (6) André Lara Resende.
Apenas dois entrevistados, Samuel Pessôa e Nelson Barbosa, são mais explícitos ao afirmar que há necessidade de controlar o crescimento dos gastos sociais, caso contrário, o equilíbrio virá exclusivamente pelo aumento da carga tributária. Coincidentemente ou não, os dois economistas conversam todas as segundas no IBRE-FGV.
Não podemos dizer que dessas entrevistas sai um modelo ou um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil. Luiz Carlos Mendonça de Barros fala em manter as conquistas de FHC e Lula mas não fala como; Bresser tem um modelo analítico na cabeça mas falta um político que compre a ideia e um eleitor que olhe mais para o futuro do que para o presente; Belluzzo insiste na importância da indústria e da taxa de câmbio desvalorizada na linha do professor Bresser; mas não entra em detalhes para escapar do fetichismo dos números e nem explica como renegociar o contrato social.
No final, chega-se facilmente a uma conclusão. Os políticos parecem ter uma ideia melhor do que fazer e o que não fazer do que os economistas. No mais, ninguém fez menção a “nova matriz econômica” que, como já comentei antes, é uma agenda cada vez mais sem paternidade. Em algum momento teremos que fazer um teste de DNA.

Politica economica: entrevistas com economistas, 1 - Blog Mansueto Almeida

Debate na Revista Época Negócios – 1

EpocaA última edição da Revista Época Negócios nas bancas traz dez entrevistas com economistas de diferentes tendências e afinidades eleitorais. Antes de comentar as entrevistas, é preciso enfatizar que a  revista está de parabéns por promover esse debate eclético com economistas que pensam de forma diferente. Infelizmente e, ao contrário do Estadão, as entrevistas não estão disponíveis no sitio da revista para não assinantes.
Pelo que li não vi ninguém elogiando a política macroeconômica do Governo Dilma e me assustei com alguns diagnósticos errados (vou falar quais) de economistas famosos e propostas sem candidatos, i.e. propostas de alguns economistas que não têm respaldo de nenhum dos candidatos, como eles próprios reconhecem.
Escrevo abaixo o primeiro post com a minha impressão pessoal das entrevistas. Repito, interpretação “pessoal”, a minha compreensão que pode ser diferente da sua que lê este post. A sua pode ser muito melhor do que a minha.
(1) André Lara Resende: o economista destaca os mesmos pontos que destacou na sua entrevista ao Estado de São Paulo da semana passada. Afirma que a poupança no Brasil é baixa e que há um excesso do crescimento do gasto corrente em detrimento do investimento. Adicionalmente, mostra que o Brasil está preso na armadilha da renda média e que ,para crescer mais rápido, precisa aumentar o investimento e aumentar a produtividade do trabalho através da educação de qualidade.
Em relação ao crescente esforço do governo Dilma para se aproximar do mercado, Lara Resende achou que foi uma tentativa tosca e insincera. O economista fala que não acredita em soluções heróicas em 2015 (mas quem acredita?) e que é preciso o país ter uma visão de longo prazo, que hoje não existe. No mais, o economista fala que defede uma alternância de poder e que confia nos dois candidatos da oposição para arrumar a casa, apesar de sua simpatia maior pelo candidato do PSB.
(2) Delfim Netto: começa falando que a situação não é trágica. Quem fala que a situação é trágica? Pelo que sei são muito mais pessoas simpatizantes do governo que acreditam que só poderemos crescer com uma taxa de câmbio de mais de R$ 3,20/US$ 1  (Bresser) e com uma forte recuperação da indústria (Belluzzo).
Economistas que fazem contas sabem que a situação atual do Brasil é muito melhor que em 1995 e 2002, e que poderia estar ainda melhor se não fosse o voluntarismo errado da política econômica pós-2009. Delfim critica a falta de diálogo do governo Dilma com o empresariado e critica menos a situação fiscal do que eu esperaria, dado o que ele escreve sobre o assunto.
Delfim, por exemplo, é um dos grandes críticos da contabilidade criativa e por mais de uma vez já externou preocupação com o uso excessivo que se fez de bancos públicos. E fala de forma clara e educada: “60% de divida bruta é um número um pouco alto para país emergente”. Na verdade, não é pouco é MUITO. O Brasil e Índia são os dois países emergentes de maior dívida bruta como porcentagem do PIB -olhem os dados do FMI.
O professor fala de forma clara que o governo precisa anunciar o superávit primário e cumprir, e fala que os três candidatos têm condições de fazer os ajustes. Aqui vou usar inside information. Em 2011 ,conversei com o professor Delfim em um dos nossos encontros na FIESP e ele estava absolutamente convicto que o governo Dilma retomaria a agenda de reformas do primeiro governo Lula.
Não retomou e apenas no final do mandato o governo começou o processo de concessões. Se em um eventual segundo governo Dilma a política econômica será mais do mesmo ou algo radicalmente diferente ninguém sabe, nem economistas do próprio PT que converso em encontros fechados. O professor Delfim fala que podemos crescer mais se “tomarmos as medidas certas”. Embora ele não detalhe quais são as medidas certas, sei que no diagnóstico do professor isso passa por redução do gasto público (o que pega programas sociais) e redução de carga tributária.
A propósito, vale a apena destacar que o professor Delfim junto com o economista Fábio Giambiagi tentaram implementar a ideia de uma juste fiscal gradual em 2005 que foi chamando pela então ministra Dilma Rousseff como um “plano rudimentar”.
(3) Nelson Barbosa: Na minha visão, Nelson aqui na Época Negócios foi muito mais crítico do que sua entrevista ao Estado de São Paulo. Para quem esperava uma defesa fervorosa da política macroeconômica do governo atual, Nelson critica a política de contenção de reajuste da energia e dos combustíveis; critica o fato de o custo das térmicas não ter sido repassado já este ano para os consumidores, fala que é preciso ter metas de primário e inflação como referências e mostra que “ajuste fiscal” vai exigir mexer nos programas sociais: abono salarial, seguro desemprego e previdência.
No mais, defende mudanças no uso excessivo do BNDES e quando perguntam se o candidato Aécio poderia cortar a carga tributária, Nelson fala que não no início do mandato mas talvez ao longo do mandato. Não entendi o porque da pergunta porque nunca vi Aécio defender corte imediato de carga tributária e todos sabem que Nelson Barbosa junto com Henrique Meirelles está no grupo que conversa frequentemente com o ex-presidente Lula e ainda tem forte interlocução com o governo (mas não com o Arno Augustin).
Ao contrário do que a imprensa pensa -que economistas de escolas diferentes se encontram para trocar socos- há pouco mais de um mês Eu, Samuel Pessoal e Nelson Barbosa participamos de um debate fiscal fechado na FGV e foi muito bom, com mais convergência do que divergência. O mesmo aconteceu em um debate que participei com Bernard Appy em Dezembro em São Paulo, mais convergência do que divergência.
No mais, Nelson enfatiza que o problema fiscal não é só de gestão, o que concordo 100%. Quem discorda disso é justamente que não olha os dados das contas públicas com cuidado, por isso que Nelson Barbosa passou a defender mudanças nos programas sociais e reforma da previdência!! Isso mesmo: REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Será que Nelson bebeu do veneno dos “neoliberais” e seu coração foi roubada pela bruxa do conto de fadas da terra dos economistas mágicos?
(4) Samuel Pessoa: Samuel destaca os pontos que já vem destacando nas suas entrevistas, enfatizando uma reforma tributária voltada para simplificação tributária e não para redução da carga tributária, pois  não há espaço fiscal para reduzir a carga tributária no momento. Tanto ele quanto Nelson Barbosa reconhecem que é preciso aumentar a arrecadação com a reversão de várias desonerações concedidas ao longo do governo Dilma.
Samuel mostra que o problema do crescimento do gasto público não é decorrente de um inchaço da máquina pública e sim de regras que determinam o crescimento do gasto social. Acho que todos os economistas que aprenderam fazer a contas e debatem sobre política fiscal – Eu, Samuel, José Roberto Afonso, Nelson Barbosa, Bernard Appy, Marcos Lisboa, Fernando Rezende, Raul Veloso, Fábio Giambiagi entre outros  temos o mesmo diagnóstico.
No mais, Samuel critica as politicas que ele chama de nacional desenvolvimentista e mostra que a visão desse tipo de política é o que diferencia as candidaturas. Quem quer que seja o próximo governante vai continuar com a agenda social mas com ajustes, caso contrário caminharemos para uma crise ou para um elevado aumento de carga tributária.
A propósito, quando Samuel fala a verdade irrita economista que falam da boca para fora em ajustar o modelo macroeconômico mas não falam do problema do crescimento do gasto social e nem da carga tributária. Se Samuel mentisse, esses economistas achariam muito bom. As pessoas gostam de economistas mentirosos.
(5) Luiz Carlos Bresser Pereira: Eu pensava que o ex-ministro Bresser fosse defender o governo Dilma como tantas vezes fez com o modelo Argentino. Para minha decepção ele fala claramente em desajuste macroeconômico decorrente do elevado déficit em conta corrente e do elevado déficit público. Ele bebeu do veneno neoliberal? não, mas comunga em parte com a agenda que tanto critica.
O interessante é que o  professor não acredita que nenhum dos candidato teria condições ou vontade de adotar o modelo que ele propõe: forte desvalorização da taxa de câmbio, com aumento do superávit primário e com imposto sobre commodities. Uma política de “issimos”: ajuste fiscal fortíssimo com um ajuste do câmbio fortíssimo. Critica a suposta política do senador Aécio porque acha que os “economistas liberais” que assessoram o candiato farão apenas um ajuste fiscal sem o ajuste cambial.
O engraçado é que o professor diz que é contra “cortar a previdência” mas não fala o que faria. Mas ninguém de bom senso fala em cortar previdência, mas sim em controlar o crescimento do gasto, inclusive sociais e previdência. O professor quer ajustes fortíssimos, mas não tem a mínima ideia do que fazer.  O que é engraçado é que a proposta de um pacote vem de um heterodoxo e não de um ortodoxo – o Plano Bresser para o crescimento é algo mais radical do que o que se discute em qualquer um dos partidos e ele sabe que o seu plano, no curto prazo, implica em queda do salário real. Será que o eleitor quer isso? Duvido porque na urna o eleitor que mais aumento de salário mínimo e quer consumir mais HOJE.
Vou parar aqui e, mais tarde, comento as outras cinco entrevistas que faltam. Como vocês podem notar, até agora nenhum dos entrevistados saiu defendendo a política macroeconômica do governo Dilma ou a “nova matriz econômica”. Assim, por enquanto, respondendo a provocação amigável do jornalista José Paulo Kupfer, o meu recibo continua sendo o mesmo que escrevi sobre as entrevistas do Estadão.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Eleicoes 2014: a equipe de Aecio Neves - Rodrigo Constantino

17/03/2014
 às 13:40 \ EconomiaPolítica

A equipe de Aécio Neves é um alento para os liberais

Anastasia. Fonte: Valor
Em uma reportagem do Valor de hoje, ficamos sabendo os nomes mais próximos que têm prestado consultoria nas diferentes áreas para o candidato tucano Aécio Neves. Trata-se de uma equipe de peso, com capacidade técnica inquestionável:
A sete meses das eleições, o senador e pré-candidato à presidência Aécio Neves (PSDB-MG) formou um grupo de colaboradores mais próximos para ajudá-lo na elaboração das propostas de sua campanha. Vários deles estiveram no primeiro escalão do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002); outros são acadêmicos e consultores conhecidos no meio empresarial.
Quem deve sistematizar as sugestões e coordenar o programa de governo é Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas Gerais. Seu nome é o mais citado no partido para a tarefa.
[...]
Entre as personalidades, o ex-presidente do Banco Central na gestão de FHC e sócio-fundador da Gávea Investimentos, é, segundo tucanos próximos ao senador, seu principal interlocutor para temas econômicos.
“O Armínio é um dos nomes com quem Aécio mais tem conversado”, disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
[...]
Além de acionar grande número de tucanos, Aécio tem entre seus interlocutores nessa pré-campanha alguns nomes de fora da política partidária.
É o caso de Mansueto Almeida e Samuel Pessôa. O primeiro é da Diretoria de Estudos Setoriais e Inovação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o segundo, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, é outro técnico que tem colaborado com Aécio com ideias sobre energia e infraestrutura.
Posso falar melhor da área econômica, naturalmente. E reconheço que são nomes muito bons que Aécio tem escolhido até agora. Samuel Pessôa e Mansueto Almeida são dois economistas com grande bagagem teórica, e vêm apontando para os equívocos do atual modelo econômico nacional-desenvolvimentista desde o começo. O blog do Mansueto tem derrubado várias falácias das contas públicas, por exemplo.
Adriano Pires tem muito conhecimento sobre o setor energético e tem sido um duro crítico do que o PT vem fazendo com a Petrobras, i.e., destruindo a estatal com sua interferência política e partidária. O próprio Pires admitiu que sua proposta para o setor é de cunho mais liberal, e merece todo apoio por isso.
E como principal interlocutor de economia, Aécio tem confiado bastante em Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. Trata-se de alguém que dispensa comentários, pois goza de profunda credibilidade entre os investidores do Brasil e do mundo.
Mas não é só a área econômica que parece alvissareira. O próprio Anastasia, que fez uma gestão eficiente em seu governo de Minas Gerais, é alguém visto como extremamente capaz e técnico, e ficará responsável pela governança, pelo aprimoramento da gestão pública. É, sem dúvida, um nome que permite alguma esperança com a melhoria do país.
Na política externa, o nome de Rubens Barbosa significa incrível avanço frente aos atuais petistas que têm transformado o Mercosul em uma camisa de força ideológica com viés bolivariano. Como comparar Barbosa a Marco Aurélio Garcia, por exemplo? É covardia.
Em suma, o que vimos até aqui é um alento para aqueles cansados do modelo econômico fracassado do PT. Como muitos sabem, costumo ser crítico aos tucanos, pois considero a social-democracia bastante inferior ao modelo liberal que julgo ideal. Mas em política o ideal pode ser inimigo do possível, assim como o ótimo do bom.
É inegável que Aécio Neves tem flertado com conselheiros de inclinação mais liberal, especialmente quando comparado às alternativas do PT nacional-desenvolvimentista e também de Eduardo Campos e Marina Silva. Quem pode permanecer indiferente diante deste quadro? Quem pode achar que tanto faz manter por 4 anos os petistas ou trocar por essa equipe de ponta montada até aqui por Aécio?
Rodrigo Constantino

domingo, 16 de março de 2014

Debate: um economista sensato e um keynesiano de botequim - Mansueto Almeida

Apenas transcrevendo, e me corrigindo. Não creio que Beluzzo seja apenas um keynesiano de botequim. Trata-se apenas de um sociólogo literário metido a falar de economia...
Tem piores na UniCamp, da qual aliás ele já se afastou para ganhar dinheiro numa fábrica de diplomas privada. E ainda tem coragem de meter o pau no capitalismo...
Paulo Roberto de Almeida 

O debate econômico de Samuel Pessoa e Luiz Gonzaga Belluzzo

by mansueto, 16/03/2014
Para aqueles que não sabem eu tenho uma grande admiração pelo economista Samuel Pessoa, economista do IBRE-FGV e colunista da Folha de São Paulo. Trabalhamos juntos no Senado Federal e, desde então, nos comunicarmos com certa frequência. Samuel tem quatro grandes qualidades profissionais invejáveis.
Primeiro, tem uma forte formação teórica como poucos que conheço. Segundo, tem uma vasta leitura que vai muito além de textos e livros de economia. Nas suas férias recente, por exemplo, aproveitou a beleza das praias de Maceió para ler um livro sobre a revolução Constitucionalista de 1932. Terceiro, propositadamente se afastou da sala de aula e passou a escrever com mais frequência nos jornais e a dar entrevistas. O que o tornou um qualificado formador de opinião. Escutei de um amigo da CEPAL esta semana o seguinte: “estou impressionado como o Samuel Pessoa faz boas provocações”.
Quarto, Samuel muda de opinião. Há pouco mais de dois anos mostrei a ele um texto que ele próprio havia escrito, em 2006, com comentários críticos do então Deputado Federal pelo PSDB na época e hoje prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes. Samuel ficou estarrecido com algumas posições do economista Samuel Pessôa de 2005/2006, muito mais normativo do que o atual que fala de pacto social e de escolhas da sociedade.
Gosto muito mais da sua versão moderna do que da sua versão de 2004/2005, quando ele em um debate com a ex-senadora Heloisa Helena na Câmara dos Deputados sobre salário mínimo falou que: “Senadora, no meu mundo não há espaço para o crescimento do salário mínimo acima do crescimento da produtividade”. O Samuel de hoje falaria que isso é uma escolha social com custo e benefícios e caberia aos políticos explicitar para a sociedade esses custos e benefícios para a tomada de decisão. Concordo 100% com ele. Eu não acredito em pessoas iluminadas por mais inteligentes que sejam e que acham que podem “resolver os problemas da sociedade”.
Por gostar de um debate o mais transparente possível, inclusive com pessoas que pensam diferente da sua forma de pensar, Samuel sai do sério com propostas do tipo: “controlar o crescimento do gasto público com choque de gestão”; quando alguns heterodoxos defendem uma maior desvalorização da taxa de câmbio e não falam que, no curto prazo, os salários reais diminuiriam; quando algum economista propõe aumento da poupança pública e ao mesmo tempo fala em expandir os gastos sociais, sem explicitar que seria necessário aumentar a carga tributária; etc.
Por que estou falando sobre Samuel Pessôa? porque o artigo que ele escreveu hoje na Folha de São Paulo (clique aqui) encaixa como uma luva na sua luta por um debate mais qualificado e transparente.
Samuel vem nas últimas semanas refletindo sobre o modelo nacional desenvolvimentista e a importância da indústria. Na visão do Samuel não é certo que, no mundo atual, o desenvolvimento esteja ligado ao tamanho da participação da indústria no PIB. Por exemplo, a única forma de o Brasil se tornar desenvolvido é aumentando a participação da indústria no PIB e modificar o mix da produção industrial? Samuel acha que não, mas está aberto ao debate.
Mas o economista Luiz Gonzaga Belluzzo tentou dar “uma aula” a Samuel mostrando a importância da revolução industrial no desenvolvimento de alguns países (clique aqui). O problema é que Belluzzo fugiu do debate e usou uma evidência histórica para tentar solucionar falsamente o debate que Samuel havia começado.
Se a crescente participação da indústria no PIB está ligado ao crescimento de algumas economias no sec. XIX e XX, então podemos concluir que, sem sombra de dúvidas, o Brasil precisa fazer um esforço descomunal para aumentar a participação da indústria no PIB pois essa é a única forma de o país se tornar uma economia desenvolvida?  Qual deve ser participação da indústria no PIB? quanto maior melhor? Será que é preciso aumentar a participação da indústria no PIB dos atuais 13% para 20% do PIB para que o país possa crescer de forma sustentável? E que tal 25% do PIB? por que não mais?
Ao invés de entrar no debate proposto por Samuel Pessôa e discutir experiências de política industrial do século XX vis-à-vis o tipo de política industrial que adotamos desde 2008, Belluzzo tentar dar uma aula de revolução industrial para explicar a importância da indústria hoje. Samuel raramente perde a calma mas, com razão, mandou um recado muito claro para Belluzzo:
“Sempre que se depara com alguém que pensa diferente, sua reação é presumir a ignorância do interlocutor, o que resulta em longas exposições por parte do professor, que procura desqualificar a divergência recorrendo à erudição ligeira.... o professor preferiu confrontar minhas ideias com uma longa exposição sobre a história econômica da Europa do século 18 ao 19 e a Revolução Industrial, com floreios de citações literárias.”
Esse debate mostra muito bem a dificuldade de se debater de forma transparente a atual política econômica. Se você questiona o benefício de determinados subsídios, você é chamado automaticamente de “neoliberal” de uma forma pejorativa ou de inimigo da indústria. O que me deixa particularmente inquieto é que alguém com a história e cultura do professor Luiz Belluzzo faça algo semelhante.