Reunião Brasil-China sobre paz na Ucrânia termina com 13 aliados e quatro dissensões
Proposta bilateral rejeitada por Kiev e Washington foi tema de encontro de 17 países às margens da Assembleia-Geral da ONU
Marianna Holand e Ricardo Della Coletta
NOVA YORK Além de Brasil e China, 15 países participaram nesta sexta (26) da reunião para discutir um processo de paz na Ucrânia. Ao final do encontro, porém, quatro deles não assinaram o documento negociado no encontro.
A iniciativa é rejeitada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e considerada por Estados Unidos e aliados no Ocidente como favorável à Rússia.
Etiópia, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e Vietnã não apoiaram a declaração final, o que indica divergência em ao menos algum ponto da iniciativa. O México chegou a se dissociar da proposta na tarde desta sexta, mas voltou a apoiá-la após horas de negociação.
Além desses países, estiveram presentes Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Indonésia, Cazaquistão, Quênia, África do Sul, Turquia e Zâmbia. Três países europeus participaram como observadores: França, Suíça e Hungria.
A redação negociada após a reunião afirma que o conflito causou repercussões que afetaram muitos países, inclusive os do Sul Global, termo não oficial usado por esse grupo para se referir a nações em desenvolvimento.
Também defende princípios como o respeito à integridade territorial (um aceno à Ucrânia), e o reconhecimento de preocupações legítimas dos estados (aceno à Rússia, que diz estar ameaçada pela expansão da Otan, a aliança militar do Ocidente).
O comunicado divulgado após o encontro defende pontos como uma diminuição dos conflitos e a não expansão dos campos de batalha. "Pedimos a abstenção do uso ou da ameaça de uso de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares, bem como armas químicas e biológicas. Todos os esforços devem ser envidados para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma guerra nuclear".
Horas depois do encontro, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, recebe Zelenski e diz
Trump recebe Zelenski e diz querer 'acordo justo para todos' para encerrar guerra
Ao lado de Volodimir Zelenski, Donald Trump afirmou na manhã desta sexta-feira (27) que seu objetivo, caso eleito, é alcançar "um acordo justo para todos" para encerrar a Guerra da Ucrânia. O empresário novamente não respondeu se, para isso, apoiaria cessão de território ucraniano à Rússia.
Zelenski tampouco entrou em detalhes sobre o que esse eventual acordo seria, limitando-se a dizer que é preciso fazer de tudo para pressionar Vladimir Putin.
Os dois conversaram por cerca de uma hora em Nova York, durante passagem do ucraniano para a Assembleia-Geral da ONU.
Antony Blinken disse que qualquer proposta de paz precisa respeitar a Carta da ONU, numa crítica à proposta sino-brasileira. "Uma paz em que o agressor leva tudo aquilo que busca e em que a vítima não tem os seus direitos respeitados não é a receita para uma paz duradoura. Certamente não é justa", afirmou.
Brasil e China organizaram a reunião para divulgar a proposta conjunta de um plano de paz para a guerra entre Ucrânia e Rússia. O documento foi anunciado em maio, durante uma visita do assessor internacional de Lula, Celso Amorim, a Pequim. A proposta foi assinada por ele e por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China.
Nesta sexta-feira (27), Amorim minimizou a ausência de Rússia e Ucrânia da reunião. De acordo com ele, as partes diretamente envolvidas no conflito se juntarão à proposta "quando o momento certo chegar".
"É natural, vocês já estudaram história. Quantas vezes um país achava que ia ganhar a guerra com facilidade e depois ficou difícil? Às vezes tem que chegar esse momento e ainda não chegou, mas vai chegar. Estamos conversando. E, quando chegar, vamos dizer: 'olha, tem um caminho para voltar à paz'", disse Amorim, ao final do encontro.
O plano sino-brasileiro foi rejeitado por Zelenski - que chamou a proposta de destrutiva - e por aliados de Kiev no Ocidente.