Um crítico contundente da atual "gestão", como acontece de acontecer nessa classe de humoristas profissionais.
Paulo Roberto de Almeida
quinta-feira, 18 de março de 2021
ESTEREÓTIPOS BOLSONARISTAS
A gestão de Bolsonaro, a despeito de sua nocividade às ciências, às artes, à cultura, à educação, ao meio-ambiente e de levar o Brasil a tornar-se o epicentro mundial da pandemia, conserva um respeitável grupo de apoiadores, em torno de 30% da população.
Mas de quem estamos falando? É costume referir-se ao apoiador de Bolsonaro como se fosse uma entidade homogênea, apelidado genericamente de ‘GADO’. Ledo engano. Uma atenta abordagem sociológica revela que esse personagem tem perfil bastante diversificado.
Elencamos 12 categorias em que ele pode se classificar. Se você é bolsonarista, certamente vai se identificar com um dos estereótipos abaixo.
1) MISERÁVEL: Tem simpatia por quem lhe deu o ‘auxílio emergencial’ que podia ser o ‘bolsa-família’ ou qualquer quantia minguada que lhe possibilitasse comer a refeição do dia. Agradece ao ‘benfeitor’ Bolsonaro, que podia ser Lula, Ciro ou Lampião. Não tem a menor noção das injunções políticas, econômicas e sanitárias que resultaram na graninha que permitiu complementar sua escassa renda mas é muito grato por ela. Não tem acesso a informações, (sobre)vive alheio ao mundo que o cerca. Representa uma fatia importante da base de apoio ao presidente pois é um contingente expressivo da população deste país, miserável como ele. Não pode ser responsabilizado por sua opção pois, como miserável, não teve opção.
2) MOTOBOY: Morador da periferia das grandes cidades, ganha por entrega. Alguns têm consciência social e percebem que são explorados até a alma pelas firmas de delivery, mas são minoria. Prevalecem os bolsonaristas. Não têm sentimento de classe e competem entre si. Ficam irritados com o governador e o prefeito por decretarem medidas de restrição, melando os pancadões de fim de semana. Machistas, acham as mulheres safadas. Não estão nem aí com o coronavírus. No trabalho, ignoram as regras de trânsito e aplaudem as medidas de Bolsonaro para aliviar os infratores.
3) CRÉDULA: Também chamada de CRENTE, predominantemente mulher e evangélica. É crédula não apenas em relação às pregações que recebe nos cultos mas também quanto à figura mítica de Bolsonaro, que acredita ser provido de uma aura celestial, enviado por Deus com uma metralhadora israelense em punho, com a missão divina de exterminar os comunistas ateus. A ministra Damares é sua porta-voz no primeiro escalão.
4) SIMPLÓRIO: outra categoria das camadas mais pobres que apoia Bolsonaro. Prestigia artistas midiáticos (quase todos bolsonaristas) e programas de auditório especialmente as pegadinhas onde vibra com as humilhações vexatórias a que pessoas de sua condição social (a quem paradoxalmente despreza) são submetidas. Delira quando o presidente aparece com chinelo e camiseta de time de futebol falando palavrões como se estivesse num botequim: “um homem do povo” que corajosamente passa por cima dos especialistas e recomenda cloroquina, a droga milagrosa.
5) ALIENADO: Embora com perfil semelhante ao do SIMPLÓRIO, distingue-se por sua melhor condição social. Detesta jornais, livros e ciências humanas. Suas ilações sobre a sociedade têm a profundidade de um pires. Facilmente cooptado pelas redes sociais, é um contumaz difusor de fake-news. Acredita que a terra é plana e que o nazismo foi um movimento esquerdista, porque seu cunhado escreveu no whatsapp.
6) PIT BOY: De classe mais alta, cultua o corpo, só assiste filmes de ação politicamente incorretos, pratica artes marciais e gosta de arrumar confusão em bares por não usar máscara. Os exemplares do sexo feminino (PIT GIRLS), alternam suas tardes entre cabeleireiro, shopping e academia. Abominam o movimento feminista e adoram ser subjugadas pelo macho.
7) RURALISTA: Residente e líder político em cidades menores do Norte e do Centro-Oeste, regiões onde o Capitão é muito bem avaliado. É eternamente grato pelo governo por devastar as florestas, liberar todo tipo de agrotóxico cancerígeno e facilitar o acesso a armas para proteger suas propriedades e exterminar índios. De nada adianta explicar a esse troglodita sobre a importância do meio-ambiente. Só lhe interessa o preço da arroba do boi e da saca de soja no mercado de commodities.
8) EMPRESÁRIO: ao contrário do que ocorre na Europa, onde esse personagem urbano é dotado de responsabilidade social e ambiental, o equivalente brasileiro tem ideias retrógradas, e é, entre todos os tipos, o mais entusiasta na defesa de Bolsonaro (e Paulo Guedes). Promove manifestações contra o STF e carreatas em carros de luxo onde luta pelo direito do pobre de se amontoar no transporte público para não faltar ao emprego. É contra a corrupção no Parlamento mas compra produto falsificado no Xing Ling e não respeita vagas de cadeirantes.
9) TIRA: Classe formada por delegados, policiais militares, seguranças particulares e profissões congêneres. Categoria que cresceu muito nos últimos anos em virtude do aumento dos efetivos, devido à expansão da violência urbana. Embora uma minoria seja estritamente cumpridora da lei e tenha apreço pelos valores da democracia, grande parte pede a volta da ditadura. Regozija-se em surrar pobres, pretos e homossexuais nas favelas.
10) NOUVEAU RICHE: Grupo heterogêneo composto por jogadores de futebol, artistas populares, pastores charlatães, negociantes ilegais e políticos corruptos que têm em comum a característica de em pouco tempo terem adquirido muita grana e nenhuma cultura. Adoram esbanjar dinheiro em festanças onde exibem mansões, carrões de luxo e caríssimas roupas de grife. Tripudiam sobre os pobres que já foram um dia e dos quais querem distância. Congratulam-se com os filhos do presidente quando estes elogiam a ‘meritocracia’ que chancela sua ascensão social.
11) COXINHA: Foge do padrão geral, por serem mais instruídos, fizeram boas faculdades e acabaram se bandeando para a direita obscurantista por medo do comunismo. Dar carteirada no segurança do shopping ainda lhes dá a sensação de poder. Alguns mais sensatos se arrependeram de seu voto e chegaram à conclusão que colocar na presidência um ogro obtuso para combater o PT talvez não tenha sido a melhor saída. Mas não dão o braço a torcer. Entram em parafuso ao justificar a insanidade do dia cometida pelo presidente ou terem que explicar para o filho porque comprar um revólver é preferível a comprar um livro.
12) NAZI: Embora não sejam muito numerosos, é o grupo que exerce maior influência sobre o presidente, principalmente através do filho 03, seu proeminente representante, também conhecido como Dudu Bananinha. São fãs de Trump e do escritor Olavo de Carvalho e emplacaram nomes de relevância no governo como Weintraub que mesmo defenestrado do ministério da Educação pelo Centrão continua a proferir diatribes contra a China, e o bizarro ministro Ernesto Araújo que considera as mudanças climáticas um complô marxista para dominar o Ocidente.