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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Stalinismo no Itamaraty, não importa se de direita...

Camaradas:
Stalin vive!
O que não quer dizer Viva Stalin!
Ou talvez sim, mas dito de outro lado.
Os camaradas, companheiros, militantes, devotos da causa, compagnons de route, fellow travelers, profissionais do ramo que se instalaram no Itamaraty a partir de 1o. de janeiro de 2019 estão revivendo o Guia Genial dos Povos, em suas técnicas mais conhecidas.
Stalin primeiro apagava seus inimigos ou competidores das fotos e dos livros de história, depois ele os apagava tout court: julgamento sumário, expulsão, condenação ao Gulag, fuzilamento, forca, veneno ou a picareta, como aconteceu com Trotsky.
O Itamaraty ainda não chegou a essa segunda etapa, mas eles já estão seguindo o Stalin da primeira etapa.

Depois que eu fui exonerado do IPRI, numa segunda-feira de Carnaval – o que me deixou livre para aproveitar plenamente o tempo livre para escrever um livro inteiro –, os novos censores, tão stalinistas quanto os apparatchiks que serviam servilmente o Guia Genial do Povos, estão limpando o IPRI e a Funag de todas as más influências que eu possa ter deixado por lá, um pouco de marxismo cultural certamente, mais trotskismo que outras vertentes, uma condenação do lulopetismo diplomático também, acompanhado da condenação à ditadura militar, a nossa e a todas as demais ditaduras do mundo, civis ou militares, enfim, um espírito libertário que não combina com qualquer tipo de pensamento único, de direita ou de esquerda.

Comecei a constatar isso desde o primeiro dia deste ano, quando se opuseram ao número deixado pronto, em dezembro de 2018 da revista do IPRI, Cadernos de Política Exterior.
Como Stalin fazia com as edições sucessivas da História do Partido Comunista da União Soviética, sobretudo depois dos grandes expurgos e fuzilamentos dos anos 1930, quando não só os nomes dos principais bolcheviques de 1917 – com exceção de Lênin, e Djerjinsky, da Tcheca, mas esse fez o favor de morrer antes, do contrário seria eliminado igual –, mas também os próprios foram sumariamente eliminados da face da terra: Bukharin foi um dos primeiros, mas todos os outros passaram pelo moedor de carne stalinista.

Pois não é que o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário geral do Itamaraty nos governos Lula, foi sumariamente apagado dos registros da série "Percursos Diplomáticos", que eu havia criado com o embaixador Stanislau, diretor do Rio Branco, para homenagear os grandes embaixadores aposentados da carreira?
Descobri isso recentemente, ao tentar acessar um a um os vídeos gravados.
Descobri que vários vídeos também sofreram cortes seletivos, para eliminar aquelas más influências que eu mencionei antes.

Tentem vocês mesmos, no site do IPRI:
http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/percursos-diplomaticos

SamuelPinheiro

Este vídeo não está disponível.

Preciso avisar meu amigo Samuel para que ele se precavenha.
Vai que o stalinismo dos novos companheiros do Itamaraty passe à segunda etapa...
Nunca se sabe...
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Stalinismo diplomático em ação no Itamaraty - Clipping de notícias deliberadamente censurado

Sempre leio o Clipping do Itamaraty, uma vez que transcreve as principais matérias de imprensa que têm a ver com a política externa e a diplomacia brasileira, sem precisar ir a cada um dos órgãos que publicaram tais matérias.
Ontem, como transcrevi aqui, foi publicado um artigo meu no Estadão chamado "O Senado e a diplomacia", perfeitamente enquadrado, portanto, nesta seleção dos artigos dessa temática. Aliás, o artigo de Paulo Delgado aparecia ao lado do meu, na p. A2 do Estadão, que foi transcrito devidamente, como aparece nesta relação: 

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Seleção Diária da Imprensa Nacional
Quarta-feira, 14 de agosto de 2019

O artigo de Paulo Delgado, antigo deputado do PT por MG, hoje desfiliado do PT, tem a ver apenas marginalmente com a diplomacia e a política externa e tenho o prazer de transcrevê-lo in fine.
Antes, informo sobre a publicação da versão publicada pelo Estadão de meu artigo, e da versão completa, publicada pelo site do Livres, do qual sou membro do Conselho Acadêmico.

3497. “O Senado e a diplomacia”, Brasília, 3 agosto 2019, 3 p. Publicado em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/); republicado no blog Diplomatizzando (15/08/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/08/o-senado-e-diplomacia-paulo-roberto-de_15.html). Relação de Publicados n. 1319. 

Depois da censura absurda exercida contra um prefácio do embaixador Rubens Ricupero à biografia do Alexandre de Gusmão, escrita pelo embaixador Synesio Sampaio Goes, o Itamaraty confirma sua vocação censória.
Na terça-feira feira, depois que publicaram o anúncio de minha posse no IHG-DF numa versão matinal desse clipping, a mesma nota foi excluída logo em seguida, provavelmente pelas mesmas mãos censórias que se exercem contra mim no Itamaraty.
Não imaginei que o stalinismo diplomático se exercesse com tamanha prepotência no Itamaraty. Nem o prefácio do embaixador Ricupero, que tratava unicamente do século XVIII e do Alexandre de Gusmão, nem o convite à minha posse, na cadeira Tobias Barreto, um jurista do século XIX, têm algo a ver com a atual diplomacia olavo-bolsonarista.
Trata-se apenas de vocação censória e sectária dirigida a pessoas, não à matéria substantiva.
Paulo Roberto de Almeida



PAULO DELGADO SOCIÓLOGO

Blow-up é a ampliação do negativo. Ao revelar a cena e desconfiar da aparência do presidente, que fala em mudança e age como se não a quisesse, o Parlamento entendeu o recado. Partiu para agenda própria e precisa de ímpeto pontual e permanente diante do quotidiano disperso e ambíguo do Executivo.

Tem ainda a temporada no inferno por que passam o Judiciário e o Ministério Público. Seria bom os dois interromperem por um momento a troca de ofensas para explicarem, em nota conjunta, o que é mesmo a justiça para todos.

Convenhamos, não dá mais para alguém dizer essas coisas desse jeito. Sem modos nunca houve sociedade livre. Tem sido comum presidentes desfrutarem uma perigosa liberdade de expressão visando a dirigir os sentimentos da Nação para si próprios. Opiniões e atitudes nesse cargo deveriam ser fatos políticos extraordinários, e não o retrato dos princípios pessoais que estão por trás deles.

Ninguém é herdeiro das lutas do povo por ganhar uma eleição. Especialmente numa época em que milhões de mensagens angulam a percepção do eleitor numa determinada direção, violando sua privacidade. O escondido embaralha os critérios da pessoa, o flagrante esconde o principal. O truque da eleição continua.

Perder o equilíbrio da aparência para ser notícia contém uma carga de orgulho que, contrariada, pode desabar em violência. O insulto é uma forma de defesa. Nomear os outros para segregá-los, simplificando o sentido de tudo, revela um Brasil gigante anêmico.

Nada do que só fecha a porta ao entendimento é liberalismo. Tudo esconde seu oposto, especialmente venenosas atitudes cênicas. E ao deixar a economia se conduzir liberal, enquanto deixa claro que o que vale são acertos de contas, o presidente revela um mal inconsciente em sua compreensão das coisas. Explica a seus eleitores o que quer condenar supondo a rendição do País, que não gosta. Mais rígido, mais se enrola no paradoxo.

Se o Executivo não encara a imensidão de possibilidades que são a liberdade e a diversidade humana, sendo ela a única que pode realmente produzir o resultado econômico e cultural que faz qualquer governo dar certo, melhor o Congresso dar as cartas.

Querer prosperar economicamente sob um governo liberal e ao mesmo tempo ampliar o sectarismo sobre a sociedade é uma equação inexistente. A estagnação econômica permanecerá se não for enfrentada com a árdua missão de governar com autoridade, discernimento e sacrifício. Aqui é assim: a dificuldade no poder ampara o emocionalismo retrógrado do populismo brasileiro.

O coração do povo é mais vasto do que se supõe. Mira o futuro. Polêmicas políticas são piadas velhas. Provocam emoção num tipo de mercado paralelo onde opera uma cabeça de negócios superada.

Polêmicas morais, de querer costurar a letra escarlate em pessoas e instituições, nenhum governo transitório pode se pretender senhor assim. O erro nessa área será devastador se a razão que vê em tudo uma desordem inexistente preparar a justificativa para uma ordem indesejada. É risco na veia governar por antagonismos.

Muitos equívocos entre nós são fruto do esquecimento, que vem depressa. Sempre ficamos sabendo tarde demais que a oportunidade criada pela idiossincrasia das autoridades costuma ser cozida e comida para ser entregue em endereço certo. Assim, tudo pode começar a deturpar o comércio de bens democráticos e ampliar a fragilidade da vida política.

O Parlamento é a principal instituição do País. Existe uma afinidade vocacional e originária no bom parlamentar que é ser responsável sem precisar ser governista em tudo. Sua urgência é romper o despreocupado estado de espírito com os grandes desafios da hora e exercer o papel de organizar o debate nacional compondo interesses conflitantes e legítimos.

Em relação à ordem econômica, é mantra dizer que as economias bem-sucedidas se diferenciam pela duração dos períodos de crescimento. Já é consenso que a boa economia nem deve ser tratada como uma peça de moralidade, nem deve ser imoral.

O País está paralisado por uma espécie de “fada da confiança” vestida pela incerteza que é a natureza do estilo do presidente. E continua dividido entre os economistas sociais, certos de que é a desigualdade que está refreando a demanda, esmagando nossa recuperação e mantendo a crise permanente; e os economistas liberais, convencidos de que a ideia do crescimento é uma onda, traduzida na velha imagem de que é a maré alta que levanta todos os barcos.

Há expectativa e temor no Congresso de que a recuperação do País não seja compatível com o calor que emana do controle político desse presidencialismo de atritos. Só esfriando os ânimos se diminui o potencial da combustão que está no ar.

Outro desafio para a ação parlamentar é deter a tendência de mais um presidente querer inventar uma política externa. Fato que mais nos afasta da hipótese de termos algum papel na balança de poder mundial. Situação possível se o Senado não impedir que o Itamaraty continue a acumular desequilíbrios. É um erro político centrar o debate da ocupação do posto de Washington como problema familiar.

Não se trata de ofender o presidente, mas salvá-lo do risco de sonhar com grandezas que não nos dizem respeito, que é embarcar na encruzilhada em que Trump meteu os EUA com essa ideia de reconstruir o “Sistema de Yalta”, redividir o mundo em áreas de influência e apostar em conflitos regionais.

Se isso acontecer, o Brasil assumirá contornos que podem esfacelar nossa ordem continental, enfraquecer nossa força de poder brando em temas transnacionais, pôr em dúvida nossa legitimidade em operações de paz e quebrar nossa agricultura na OCDE ao ampliar a repercussão desse proselitismo ambiental equivocado. Um Brasil big stick e antieuropeu é um contrassenso cultural e um irrealismo político-militar inédito em 130 anos de História da República.

Só esfriando os ânimos se diminui o potencial da combustão que está no ar