Stalin vive!
O que não quer dizer Viva Stalin!
Ou talvez sim, mas dito de outro lado.
Os camaradas, companheiros, militantes, devotos da causa, compagnons de route, fellow travelers, profissionais do ramo que se instalaram no Itamaraty a partir de 1o. de janeiro de 2019 estão revivendo o Guia Genial dos Povos, em suas técnicas mais conhecidas.
Stalin primeiro apagava seus inimigos ou competidores das fotos e dos livros de história, depois ele os apagava tout court: julgamento sumário, expulsão, condenação ao Gulag, fuzilamento, forca, veneno ou a picareta, como aconteceu com Trotsky.
O Itamaraty ainda não chegou a essa segunda etapa, mas eles já estão seguindo o Stalin da primeira etapa.
Depois que eu fui exonerado do IPRI, numa segunda-feira de Carnaval – o que me deixou livre para aproveitar plenamente o tempo livre para escrever um livro inteiro –, os novos censores, tão stalinistas quanto os apparatchiks que serviam servilmente o Guia Genial do Povos, estão limpando o IPRI e a Funag de todas as más influências que eu possa ter deixado por lá, um pouco de marxismo cultural certamente, mais trotskismo que outras vertentes, uma condenação do lulopetismo diplomático também, acompanhado da condenação à ditadura militar, a nossa e a todas as demais ditaduras do mundo, civis ou militares, enfim, um espírito libertário que não combina com qualquer tipo de pensamento único, de direita ou de esquerda.
Comecei a constatar isso desde o primeiro dia deste ano, quando se opuseram ao número deixado pronto, em dezembro de 2018 da revista do IPRI, Cadernos de Política Exterior.
Como Stalin fazia com as edições sucessivas da História do Partido Comunista da União Soviética, sobretudo depois dos grandes expurgos e fuzilamentos dos anos 1930, quando não só os nomes dos principais bolcheviques de 1917 – com exceção de Lênin, e Djerjinsky, da Tcheca, mas esse fez o favor de morrer antes, do contrário seria eliminado igual –, mas também os próprios foram sumariamente eliminados da face da terra: Bukharin foi um dos primeiros, mas todos os outros passaram pelo moedor de carne stalinista.
Pois não é que o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário geral do Itamaraty nos governos Lula, foi sumariamente apagado dos registros da série "Percursos Diplomáticos", que eu havia criado com o embaixador Stanislau, diretor do Rio Branco, para homenagear os grandes embaixadores aposentados da carreira?
Descobri isso recentemente, ao tentar acessar um a um os vídeos gravados.
Descobri que vários vídeos também sofreram cortes seletivos, para eliminar aquelas más influências que eu mencionei antes.
Tentem vocês mesmos, no site do IPRI:
http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/percursos-diplomaticos
Este vídeo não está disponível.
Preciso avisar meu amigo Samuel para que ele se precavenha.
Vai que o stalinismo dos novos companheiros do Itamaraty passe à segunda etapa...
Nunca se sabe...
Paulo Roberto de Almeida
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