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domingo, 4 de agosto de 2019
Japão-Coreia do Sul: as feridas não cicatrizadas da ocupação, agora em guerra fria econômica
O Estado de S. Paulo, 3/08/2019
O governo do Japão decidiu ontem aumentar o controle sobre produtos tecnológicos de ponta exportados para a Coreia do Sul. A medida, que segundo analistas deve aumentar a tensão diplomática entre os países vizinhos, afetou diversas bolsas de valores pelo mundo. O episódio é o mais recente na escalada de desconfiança provocada pela decisão da Suprema Corte sul-coreana de autorizar vítimas de trabalho forçado da ocupação japonesa do país durante a 2.ª Guerra de buscar indenizações junto a empresas do Japão. A decisão da Justiça sul-coreana provocou protestos no Japão, para quem as disputas da ocupação foram resolvidas em um acordo de 1965, no qual os japoneses pagaram uma indenização de US$ 500 milhões aos sul-coreanos.
Com a medida, a partir do dia 28 a Coreia do Sul estará fora da lista de países que recebem tratamento preferencial para importar produtos tecnológicos de ponta, essenciais para a indústria sul-coreana. O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, condenou a decisão, que qualificou de sabotagem. “Se o Japão prejudicar intencionalmente nossa economia, também sofrerá os danos”, disse. “Nunca perderemos para o Japão outra vez.” Ao anunciar o veto às importações sul-coreanas, o governo japonês disse ter preocupações relacionadas à segurança nacional com o uso militar do material por empresas sul-coreanas, sem detalhar qual seria esse uso.
Entre as possíveis reações de Seul à decisão japonesa está a interrupção do compartilhamento de inteligência militar com o Japão, segundo o assessor de segurança nacional Kim Hyunchong. “Não faz sentido compartilhar segredos de inteligência com um país que não confia na gente”, disse. As bolsas de valores caíram num reflexo da medida, com o temor dos investidores de que o veto japonês prejudique o fluxo de produtos sul-coreanos para outros países. Autoridades japonesas, no entanto, relativizaram o impacto da decisão, em uma tentativa de acalmar os mercados. “Não haverá efeito nas redes de fornecimento globais ou nos negócios japoneses”, disse o ministro da Economia do Japão, Hiroshige Seko. Os Estados Unidos, por sua vez, temem que a disputa amplie a influência da China no Leste Asiático e prejudique as negociações com a Coreia do Norte. Em Washington, há o temor de que a disputa prejudique a cooperação militar entre Coreia do Sul e Japão, segundo a especialista em Leste Asiático Celeste Arrington, da Universidade George Washington.
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