Grande parte dos leitores interessados na história do comunismo já leu este livro, conhece a história, já ouviu falar, ou pelo menos tem uma ideia do que representou o sistema comunista em termos de mortandade, morticínio, assassinatos, gulags, trabalho forçado, fome induzida politicamente (como na Ucrânia, por Stalin), fome provocada por erros catastróficos de gestão econômica (como no Grande Salto para a Frente do presidente Mao), eliminação física de quaisquer "intelectuais", como no Camboja do Kmer Vermelho, enfim repressão de todos os tipos, em todas as formas, com as piores consequências possíveis.
Os autores cifram o número de mortos pelos diversos regimes comunistas ao redor do mundo se cifra em torno de 100 milhões de vítimas.
Mas, esse livro tem um problema, grave do nosso ponto de vista: ele sequer considera o caso brasileiro, ou porque os autores e coordenadores não encontraram alguém que pudesse escrever sobre o Brasil, ou porque eles desconheciam completamente o número de vítimas produzidas pelo comunismo brasileiro. De fato, esse número não foi muito elevado, mas ele existiu, e não apenas por ocasião da Intentona Comunista de 1935.
Ou seja, O Livro Negro do Comunismo no mundo ignorava completamente o fenômeno comunista no Brasil.
Não mais. A lacuna acaba de ser preenchida por este magnífico livro do historiador, colega diplomata, amigo de debates Gustavo Marques, para o qual tive o privilégio de oferecer um prefácio, que certamente não honra todo o conteúdo – ele é imenso, e não apenas por causa de suas 800 páginas – desta grande obra de pesquisa historiográfica, com uma bibliografia praticamente completa em torno do assunto, que em breve estará disponível aos interessados:
Transcrevo a seguir o sumário do livro, o meu prefácio e, finalmente, uma nota introdutória recente feita pelo próprio autor, para esclarecer sua posição em face da atual conjuntura.
O Livro Negro do
Comunismo no Brasil
Mitos e Falácias sobre
a História da Esquerda Brasileira
·
Sim, a Intentona foi comunista
·
Outras vítimas do
"tribunal revolucionário"
·
A farsa das "campanhas
pela paz"
·
De Partidão a partidinho: a
lenta agonia do PCB. 413
·
Tudo que é sólido desmancha no
ar: um fim melancólico
·
Os profetas do Apocalipse
·
A marcha da
insensatez
·
O caldeirão pernambucano
·
O mito do foco guerrilheiro
·
Uma luta antipopular
·
Os mortos esquecidos: as
vítimas do terrorismo
FOTOS
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Prefácio - Paulo Roberto de Almeida
O passado de uma ilusão que ainda não passou:
o comunismo
no Brasil
A primeira parte, de um total de sete, com incontáveis capítulos e
seções, deste livro de Gustavo Marques começa, em seu título, por uma alusão ao
famoso livro de François Furet, Le Passé d’une Illusion: essai sur
l’idée communiste au XXe siècle (Paris: Laffont/Calmann-Lévy, 1995),
que foi objeto, possivelmente, da mais longa resenha de um livro que eu
elaborei, dentre dezenas, centenas de outras resenhas, grandes e pequenas, ao
longo de uma vida quase toda ela feita nos livros, pelos livros, para os livros
e assoberbada por livros (não sei quantos tenho). Foram exatamente 22 páginas,
que, obviamente, trataram não apenas dessa obra de Furet, mas praticamente da
história da ideia comunista ao longo do século XX, ao estilo dos longos review-articles que
eu sempre li, e admiro, na New York Review of Books, uma das poucas
publicações esquerdistas americanas que mantém um alto nível intelectual.
Por sorte, eu era, à época
da redação, editor adjunto da Revista
Brasileira de Política Internacional, que então acolheu, em 20 páginas,
essa extensa resenha em seu número de janeiro-junho de 1995; sim, no mesmo ano
da publicação do livro, que eu devorei e imediatamente resenhei, na edição
original em francês. O livro deve ter sido publicado no Brasil, mas ignoro seu
sucesso editorial, se é que teve, entre nós, na medida em que, como revela
desde a sua introdução Gustavo Marques, quase toda a literatura sobre a
esquerda comunista no Brasil é de esquerda, portanto dotada de um inevitável
viés ideológico. Por isso mesmo, esse extensíssimo livro de Marques vem
preencher, segundo a expressão abusada, uma grande lacuna na literatura dessa
área, pois raramente se vê, em nossas editoras e livrarias, um livro-verdade
sobre a tragédia do comunismo no Brasil e no mundo; os de viés negativo, ou
simplesmente verdadeiro, são, ainda, uma raríssima raridade, com perdão pela
redundância.
O título desde logo evoca
outra obra importante, que já teve edição entre nós, mas não me lembro de ter
lido, salvo num artigo de Roberto Campos, resenhas sérias, focado que sou na
publicação de todo tipo de literatura nas ciências humanas e sociais: O Livro Negro do Comunismo: crimes, terror,
repressão, de Stéphane Courtois e colaboradores (1997), publicado no Brasil
pela Bertrand (1999). Esse livro trata do comunismo no mundo, com capítulos
regionais ou nacionais (exceto o Brasil), mas o grosso do tratamento está
obviamente reservado às nações que, infelizmente, sofreram décadas sob esse
regime, fonte de uma mortandade muitas vezes superior à dos regimes fascistas,
ou direitistas, embora ambos fenômenos sejam praticamente similares em seus
métodos e procedimentos voltados para a eliminação não apenas de dissidentes,
mas de seus próprios acólitos e servidores. O Brasil é um capítulo menor na
volumetria das vítimas, mas certamente figura entre os mais importantes países
a abrigar a ideia comunista, no sentido da dominação ideológica a que se refere
François Furet em seu brilhante ensaio de história de uma ideia, a mais
poderosa em um século dominado por ideologias, mas que ainda insiste em se
manter um princípio aceitável em nossos dias.
De fato, com exceção de
alguns poucos autores e pesquisadores – como Stanley Hilton, por exemplo – a
maior parte da literatura séria (quero dizer, aquela que não é simplesmente
opinativa ou ideológica, pois os há, na direita) sobre o comunismo no Brasil
mantém uma postura senão simpática, pelo menos neutra, em relação ao maior
desafio enfrentado por nosso país em sua trajetória política, desde aos anos
1920 até a atualidade. Cabe reconhecer, efetivamente, que a ideia comunista
constituiu, não só no Brasil, mas no mundo todo, o maior desafio ao
desenvolvimento natural das economias de mercado e dos regimes políticos
democráticos em progressiva ascensão em todas as regiões, continentes, países,
sociedades. Quando digo “desenvolvimento natural” é porque acredito que, na
ausência desse poderoso contendor, as democracias de mercado teriam predominado
mais precocemente, e de forma mais abrangente, do que o fizeram desde o final
do século XIX até nossos dias. Cabe desenvolver esse ponto.
Das três grandes ideias
que nasceram de cérebros vindos do século XIX, Marx, Freud e Einstein, o
marxismo prático (isto é, o comunismo), o freudismo aplicado (na psicanálise) e
a teoria da relatividade (que constituiu o mais poderoso complemento da física
newtoniana), junto com a teoria darwiniana da seleção natural, todas elas
dotadas de imenso potencial revolucionário em relação às teorias e crenças predominantes
até o final daquele século, foi o marxismo que ofereceu a maior, a mais
extensa, a mais profunda contestação à evolução natural das sociedades humanas
constituídas sob a forma de sistemas econômicos de mercado, em sistemas
políticos representativos, em sistemas culturais dotados de abertura de
espírito, na linha do que vinha sendo construído pelo Iluminismo, e que ainda
persiste, embora enfraquecido como um poderoso contendor ideológico das
sociedades abertas, em seu sentido popperiano.
Com efeito, a abolição dos
mercados e da propriedade privada, através de uma organização social da
produção baseada na apropriação coletiva (mais exatamente estatal) dos meios de
produção, a supressão da democracia representativa (vulgarmente apodada de
“burguesa”) em favor de uma “ditadura do proletariado” (de fato, a ditadura do
partido único ou, comumente, de um tirano) e a substituição da liberdade de
pensamento, de organização e de expressão pelas diretrizes vindas de cima,
emanadas desse mesmo partido clarividente e protetor, constituíram – e de certa
forma ainda constituem – a mais importante negação de uma tradição liberal que
vinha sendo construída duramente nas lutas democráticas dos séculos XVIII e
XIX, por meio de propostas políticas, sociais e econômicas emanadas de
filósofos iluministas e por estadistas dotados de valores e princípios
compatíveis com os atributos dos regimes abertos que estavam se firmando
paralelamente à consolidação do capitalismo, uma das formas (mas não a única,
como nos ensina Fernand Braudel) da economia de mercado em expansão desde a
primeira globalização, na era dos descobrimentos. A segunda globalização, durante a belle époque europeia,
ainda tinha reforçado os impulsos mais importantes do iluminismo filosófico
(com a disseminação de princípios de direitos humanos verdadeiramente universais,
presentes nos movimentos abolicionistas e contra a tortura nos processos
judiciais), do liberalismo político (representado pelas reformas tendentes à
ampliação das franquias eleitorais, até chegar, já no século XX, ao voto
feminino) e do livre comércio no plano econômico, que deveria consolidar e
estender os tentáculos das democracias de mercado até os mais distantes cantos
do planeta.
Tudo isso veio a termo com
a Grande Guerra e, na sua imediata sequência, com o surgimento dos irmãos
siameses do fascismo e do bolchevismo. O primeiro produziu o “Estado total”, impondo,
segundo Mussolini, “nada fora do Estado, nada contra o Estado”, o que aliás se
encaixava perfeitamente na concepção totalitária de Lênin e de Stalin. O
segundo fez algo que nem o fascismo ousou fazer: aboliu a sinalização de preços
pelo mercado, colocando em seu lugar burocratas do planejamento centralizado,
encarregados de substituir a lei maior da economia, a do equilíbrio entre a
oferta e a procura, por preços administrados. Como sinalizou imediatamente após
a decretação do socialismo na Rússia bolchevique o economista austríaco e
ex-socialista Ludwig von Mises, em seu panfleto O Cálculo Econômico na Comunidade Socialista (1920), foi o
equivalente econômico de fazer um elefante voar, ao eliminar a possibilidade de
uma avaliação realista da raridade relativa dos bens disponíveis para o
processo produtivo.
Na verdade, o elefante
voou, durante mais ou menos setenta anos, mas à custa de um novo escravismo que,
na era contemporânea, não teve paralelos, em sua dimensão, ao que se conhecia
nas sociedades antigas. A historiadora Anne Applebaum, autora de uma famosa
história do Gulag – citada neste livro – diz que este chegou a representar
parte significativa do PIB soviético, sobretudo nos setores da infraestrutura,
indústrias florestais, mineração, trabalhos penosos em geral. Essa mesma
escravidão continua a existir na Coreia do Norte e em Cuba, os dois únicos
redutos que preservam os últimos resquícios do stalinismo econômico (e
político) do planeta. Todo ano, por ocasião da safra de açúcar, os cubanos
repetem a piada, ao serem convocados compulsoriamente (à falta de equipamentos
mecânicos ou combustível) para a colheita manual: “La participación
es voluntaria, pero la voluntad es obligatoria.”
Impossível cobrir com toda
a riqueza de detalhes o imenso painel que Gustavo Marques traça do comunismo,
tal como ele existiu na prática no Brasil a partir dos anos 1920 (depois do
período inicial de dominação anarquista sobre o movimento operário). O autor
leu praticamente tudo o que se escreveu e se publicou de relevante sobre o
universo teórico e prático do comunismo no Brasil ao longo do século decorrido
desde as primeiras agitações políticas, passando pela intervenção dos agentes
brasileiros e estrangeiros do movimento, chegando aos dias que correm. Como em várias outras trajetórias
nacionais, o comunismo brasileiro registra o itinerário de uma parábola: um
início lento, um arranque em meados do século XX e um lento declínio até o seu
quase desaparecimento nas contestações práticas que ele pretendeu oferecer ao
“capitalismo realmente existente”, mas sem que se lograsse a eliminação de
todos os “resíduos mentais” da ideia comunista entre nós.
O marxismo no Brasil não
produziu grandes contribuições teóricas à doutrina, enquanto elaboração
filosófica ou teoria social (como no caso da Escola de Frankfurt, por exemplo).
Dois de seus representantes, Caio Prado Jr. e Nelson Werneck Sodré, produziram
contrafações da doutrina ainda na era do stalinismo triunfante ou declinante e que
não deixaram sequer algum resquício de contribuição ao campo. A melhor análise
do marxismo ocidental foi feita em um livro homônimo por um pensador liberal, o
diplomata José Guilherme Merquior, que aliás dialogou de forma inteligente com
os poucos marxistas não sectários da comunidade acadêmica.
O marxismo prático, isto
é, o comunismo, ao contrário de suas pretensões, não contribuiu em praticamente
nada para os avanços econômicos, sociais e políticos da classe que pensava
representar, mais bem contemplada por concessões populistas de um ditador ou de
presidentes abertos à “inclusão social” das massas trabalhadoras. Do lado
inverso, liderado por um militar positivista convertido a uma versão
especialmente vulgar do marxismo, o movimento comunista deu exemplos negativos
de tentativa de tomada violenta do poder, empurrado pela miopia da III
Internacional (1935), adotando depois uma reiterada postura de apoio às mais
execráveis ditaduras do século XX, aliás até hoje, como revelado no caso da
tragédia venezuelana, cuja ditadura de natureza fascista é apoiada pelos
partidos brasileiros que se acreditam de esquerda.
Em vista de tantas frustrações,
tantos equívocos, tantos crimes cometidos, tantas ilusões alimentadas em
milhões de jovens (e menos jovens) ao longo do último século, parece até
inacreditável que o comunismo tenha sobrevivido aos golpes de martelo da
realidade. De certa forma, ele só não colapsou de vez porque os cursos de
humanidades continuam a alimentar um fluxo contínuo de professores,
jornalistas, sindicalistas (em grande medida de funcionários públicos),
ativistas de movimentos sociais e outros seres deslocados do mundo real,
vivendo nas fímbrias do mercado, ou diretamente a serviço do Estado, ao abrigo
do qual eles repartem entre si recursos que extraem da parte ativa da sociedade
(empresários e trabalhadores do setor privado) numa espécie de redoma infensa
aos dados e informações do sistema produtivo de mercado. Gustavo Marques traz
aqui a sua contribuição única na literatura especializada brasileira a uma
história que ele estima ser, com razão, “ainda mal contada”.
O autor atribui essas
deficiências da bibliografia à má qualidade da literatura anticomunista no
Brasil; ou seja: se a esquerda deformou a verdade histórica, a direita tampouco
soube compor estudos sólidos sobre essa grande ilusão que ainda persiste. De
fato, mesmo se o anticomunismo é a doutrina oficial do Estado brasileiro desde
1935, os estudiosos não comunistas do fenômeno não conseguiram construir uma
obra que lograsse escapar do anticomunismo primário, do reacionarismo
antidemocrático e das mesmas simplificações que já conhecemos do lado da
literatura de baixa qualidade produzida pela esquerda e pelos simpatizantes do
marxismo.
Ao cabo de uma leitura
talvez extenuante, mas sumamente enriquecedora, não é possível emergir deste
livro com a antiga impressão geral de que a esquerda sempre foi, e continuaria
sendo, “moralmente superior” à direita, por defender ideais supostamente nobres
e elevados. Ao contrário, o comunismo, no Brasil como no resto do mundo, foi
devastador não só para as consciências, mas também para qualquer objetivo
prático de desenvolvimento material e de progresso espiritual da sociedade. Em
uma palavra, seus projetos de engenharia social foram, aqui e em todos os
lugares, apenas criminosos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de março de 2019
NOTA DO AUTOR: (agosto de 2019)
Este livro já estava
pronto e sua primeira versão já tinha sido enviada à editora – depois de mais
de dez anos de pesquisa – quando, em outubro de 2018, numa eleição democrática
porém atípica, a maioria dos votantes brasileiros, enfastiados com 13 anos de
corrupção desenfreada e cada vez mais descrentes da democracia, escolheram como
presidente da República um personagem vindo do submundo da política e
identificado com posições autoritárias e extremistas de direita (em particular,
com o regime civil-militar de 1964-85). Desde então, o anticomunismo, antes
marginal na política e na cultura, tornou-se parte do discurso oficial,
confundindo-se com posições populistas, reacionárias, obscurantistas e
liberticidas, resvalando para o fascistoide.
Diante do fato de que
tais atitudes em nada se assemelham aos princípios liberais e conservadores
(pelo contrário, são seu oposto exato, só contribuindo para desmoralizá-los), e
consciente de que o anticomunismo ou o antiesquerdismo, em tal conjuntura,
podem ser instrumentalizados politicamente, o autor gostaria de reiterar, de
antemão, seu total e veemente repúdio a qualquer tentativa de deturpar o
significado e o escopo desta obra, com o intuito de falsificar e/ou de
reescrever a História.
Tal como está na
Introdução, a denúncia dos crimes do comunismo só faz sentido se estiver
acompanhada da defesa intransigente das liberdades democráticas. Sem esta, o
anticomunismo, sincero ou não, longe de ser a expressão de ideais liberais ou
conservadores, não passa de uma caricatura destes, uma paródia grotesca que
serve somente para reforçar a narrativa ideológica oposta, ao mesmo tempo em
que copia as piores práticas dos que a sustentam. O autor, portanto, repele de
forma peremptória a substituição de um viés ideológico por outro, tão
antidemocrático e intolerante quanto o anterior, assim como não compactua, em
absoluto, com qualquer sectarismo, de esquerda ou de direita (sobretudo uma
histérica e caricatural). Os extremismos, no final, acabam retroalimentando-se,
sendo um, na realidade, o espelho do outro.
Os crimes e mentiras do
comunismo narrados neste livro de nenhum modo justificam, relativizam ou
minimizam os delitos e falsidades cometidos em nome do anticomunismo, e vice-versa.
Repudiar ambos os extremos é um dever de todo democrata.
G.M.
Brasília, agosto de 2019
4 comentários:
Muitíssimo obrigado, professor! Estou transcrevendo sua resenha em meu Facebook, junto com o link para o blog. Forte abraço de seu leitor, colega e amigo. Gustavo
PRA
Muito bom e gratificante o seu gosto em divulgar a verdadeira face deste movimento nefasto chamado comunismo, que agora disfarça-se com as pautas chamadas "progressista" e que continua a ludibriar a todos.
Parabéns pela iniciativa e espero que muitos leitores possam comprar este livro.
Abraços.
Bom dia,
Estava lendo esse livro e encontrei uma adulteração de informação da fonte.
Na pag 475,linha 14 diz:
"Um de seus filhos, Lutero, então morando na Alemanha, foi membro do 'conselho de pesquisas alemão que apoiou os experimentos com cobaias humanas nos campos de concentração nazistas'. Outro parente....
e aí remete para a nota 44. Acontece que a nota 44 remete ao livro Getúlio, de Lira Neto, pgs 355 e 360.
Bem, acontece que no livro de Lira Neto, na pagina 355 NÃO DIZ que o Lutero foi membro do tal conselho, diz que foi ALUNO DE UM PROFESSOR, ESSE SIM, QUE SERIA MEMBRO DO TAL CONSELHO:
"Em contrapartida, na temporada de estudos na Alemanha, Lutero Vargas foi aluno do dr. Ernst Ferdinand Sauerbruch, membro do Reichsforschungsrat, o
conselho de pesquisa alemão que apoiou os experimentos com cobaias humanas nos campos de concentração nazistas."
Um erro desse tipo num livro com esse título faz pensar que pode haver muitas outras adulterações tendenciosas que passariam despercebidas a quem não checar as fontes cuidadosamente, o que leitores de direita dificilmente fariam, pelo fato de pertencerem ao mesmo espectro ideológico do autor do livro.
Espero sinceramente que tenha sido um erro de boa fé, mas tendo a ser cético nesse ponto, porque mesmo sendo esquerdista eu costumo ler livros da direita, e é comum encontrar várias distorções desse tipo. O Olavo de Carvalho parece incapaz de interpretar o lê, tamanhas são as distorções que se encontra nos seus livros, mas que, claro, só quem checar as fontes poderá perceber. Parece que o público de direita não é muito chegado nesse trabalho de conferência, o que os torna vítimas fáceis de manipuladores.
Não me parece que seja o caso do Gustavo Marques, mas sempre checar as fontes quando são autores de direita escrevendo sobre a esquerda, e vice-versa. A má vontade para entender o o ponto de vista adversário costuma enevoar a percepção.
Sandro
Caro Sandro: Não consigo responder diretamente a você, mas como transmiti seu comentário ao autor, Gustavo Bezerra, ele agradece e enviou-me este comentário:
"Professor, a citação diz respeito ao meu livro, sim. O trecho integral que consta do livro de Lira Neto (Getúlio, vol. 2, p. 355), do qual retirei a citação, é o seguinte:
"Em contrapartida, na temporada de estudos na Alemanha, Lutero Vargas foi aluno do dr. Ernst Ferdinand Sauerbruch, membro do Reichsforschrungsrat, o conselho de pesquisa alemão que apoiou os experimentos com cobaias humanas nos campos de concentração nazistas".
De fato, o trecho original diz que Lutero Vargas foi aluno do referido dr., e não membro do conselho nazista. Relendo a citação, percebo que ela realmente dá a entender que Lutero foi membro do conselho. Nesse sentido, a informação está incorreta.
Vou pedir à editora para corrigir essa informação nas próximas reimpressões. Percebi que a edição contém alguns pequenos erros, inclusive gráficos, que passaram despercebidos pela revisão. Já pedi para corrigi-los todos, inclusive para o e-book e o audiolivro que a editora pretende lançar.
Obrigado por chamar a atenção para esse detalhe. Não acredito que esse tipo de lapso comprometa o conteúdo e a essência do livro, mas, mesmo assim, faço questão de corrigir.
Nesse caso, o erro de fato existe, e acredito que o autor do comentário agiu de boa-fé, ao contrário do que fez um discípulo do Guru da Virgínia, que me acusou de "desonestidade intelectual" porque não citei o ídolo dele numa citação (quando esta foi feita por outro autor). Se possível, transmita meu agradecimento ao autor do comentário.
Abraços,
Gustavo"
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