No último mês de julho recebi a correspondência abaixo, da filha do ex-combatente na Guerra Civil Espanhola, que eu havia entrevistado 40 anos atrás para um trabalho de pesquisa histórica sobre aqueles voluntários, quase todos comunistas, que serviram como voluntários nas Brigadas Internacionais que lutaram contra as forças franquistas, apoiadas pelos dois regimes fascistas da Europa – Itália mussoliniana e Alemanha hitlerista – solicitando-me um depoimento sobre seu pai.
O trabalho, primeiro publicado sob um outro nome em 1980, depois sob meu próprio nome em 1999, é este aqui:
“Brasileiros na Guerra Civil Espanhola,
1936-1939: combatentes brasileiros na luta contra o fascismo”, revista Sociologia e Política (Curitiba; ano 4,
n. 12, junho 1999, Dossiê: Política Internacional, pp. 35-66; ISSN: 0104-4478, impressa: 1678-9873, online; links:
http://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39262; pdf: http://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39262/24081). Dois anos depois, uma versão resumida
desse artigo foi publicada sob este título: “O Brasil e a Guerra Civil
espanhola: participação de brasileiros no conflito”, Hispanista (vol. II, n. 5, abril/junho 2001; ISSN: 1676-9058; link:
http://www.hispanista.com.br/revista/artigo37esp.htm).
A correspondência que me foi dirigida vai reproduzida abaixo, e logo em seguida transcrevo o início de meu mais recente trabalho, com o link remetendo ao texto integral na plataforma Academia.edu.
Paulo Roberto de Almeida
De: Eliane Dutra Corrêa de Sá
Date: Sáb, 13 de jul de 2019 18:09
Subject: Alguma memória com meu pai
To: Paulo Roberto de Almeida
Caríssimo
embaixador Paulo Roberto,
Há
um ano escrevi-lhe a respeito da possibilidade do senhor me enviar algum
material que porventura ainda tivesse da(s) entrevista(s) feita com meu pai.
Calma! rs. Isso não é uma cobrança. É apenas o gancho para outro assunto.
De
lá para cá, revirando os vários depoimentos que ele deu no final da vida, e
conversando com os seus descendentes, eu me dei conta que os episódios
aventurescos e toda a sua trajetória política, são bem mais conhecidos por
esses descendentes do que a sua figura no ambiente familiar.
Em
suma, a sua vida pública é muito mais conhecida do que a vida privada, até
mesmo no seio da própria família (que já está na 5ª geração depois dele!).
Como
sou a filha mais velha e guardo ainda na memória alguns momentos das minhas
infância e adolescência em que meu pai teve uma participação marcante, decidi
contar alguns episódios que, a meu ver, revelam um pouco da sua personalidade.
O
texto está pronto, não tem cunho comercial pois visa apenas a família, mas o
editor sugeriu incluir uma pequena biografia e algum depoimento de quem o
conheceu pessoalmente.
O
senhor poderia escrever algumas linhas sobre a impressão que ficou do seu
contato com José Corrêa de Sá?
Eu
ficarei muito grata.
Estou
lhe enviando apenas a "Introdução" do meu pequeno trabalho, não quero
tomar o seu tempo com todo o material.
Um
grande abraço,
Eliane
Dutra Corrêa de Sá
==============
Homenagem a José Correia de Sá:
um combatente da liberdade
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: depoimento pessoal; finalidade: homenagem a um homem digno]
O século XX, na definição
de vários historiadores, foi a era dos extremos ideológicos, uma época de
enfrentamentos de uma terrível violência, entre potências conservadoras, ou de
extrema direita, um regime comunista e as democracias liberais de mercado. Começando
ao final da Grande Guerra, que seria posteriormente chamada de Primeira Guerra
Mundial, o primeiro desafio, praticamente mortal, levantado contra os sistemas
democráticos de mercado foi o bolchevismo, logo materializado na construção do
comunismo na Rússia e na criação de uma organização internacional, o Komintern,
para guiar a ação de outros partidos similares ao redor do mundo, e canalizar
financiamento direto desses outros partidos para objetivos que eram os da então
recém-inaugurada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Pouco depois, ou
praticamente simultaneamente, tomava impulso, primeiro na Itália, depois na
Alemanha, e posteriormente em diversos outros países também, a vertente
fascista das mesmas correntes autoritárias, antiliberais, coletivistas,
estatizantes, apenas que de sinal contrário. Se a vertente comunista se
identificava com o legado jacobino e os setores mais extremados do
igualitarismo radical da revolução francesa, por isso mesmo colocado no terreno
da esquerda, e isso desde meados do século XIX, a tendência fascista passou a
ser caracterizada como o ponto extremo da velha direita conservadora, mas ela
representou também a exacerbação de correntes reacionárias e racistas, ao
apelar para a violência e a eliminação física dos adversários políticos e de
minorias étnicas ou religiosas.
Em uma palavra: o mundo
político ascendeu aos extremos quando tais correntes conquistaram o poder em
países importantes daquela época, isto é, a Rússia comunista, de um lado, e a
Itália fascista e a Alemanha nazista, de outro lado, estes dois logo agregados por
uma outra potência fascista e militarista, o Japão expansionista dos anos 1920-1945.
A oposição, entre um e outro extremo, foi de uma incrível violência, já que
ambas correntes manifestavam apreço pela eliminação física e o esmagamento dos
adversários, e ambas patrocinavam golpes, revoluções e assaltos ao poder
estabelecido. Os comunistas queriam eliminar a burguesia e os grandes
proprietários enquanto classes sociais, os nazifascistas queriam eliminar “raças
inferiores” da simples existência terrena, em primeiro lugar os judeus, e
escravizar literalmente os eslavos e outros povos em favor de um sistema
absolutamente totalitário. A luta contra os comunistas, mas também contra os
liberais e até os socialistas democráticos, era, portanto, uma tentativa de
esmagamento e de submissão total, o que justificativa inteiramente a reação
defensiva e até o engajamento na luta direta contra a extrema direita de todos
os democratas sinceros e dos comunistas e socialistas.
(...)
Ler a íntegra neste link:
https://www.academia.edu/40158786/Homenagem_a_Jose_Correia_de_Sa_um_combatente_da_liberdade_2019_
2 comentários:
Seu texto foi esclarecedor até mesmo para mim que tinha como época da sua entrevista com meu pai, o final dos anos '80.
Um grande combatente internacional pela liberdade
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