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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 9 de maio de 2020

Do lulopetismo ao bolsopetismo: precisa de teoria?

No momento em que se propõe o conceito de "Bolsopetismo", lembrei-me dessa "Teoria geral do lulopetismo", que fiz quatro anos atrás, quando ele ainda estava vivo e ativo, e não moribundo como hoje. Agora, que um "valor mais alto se alevanta", é preciso propor algum exercício analítico sobre o Bolsopetismo. Mas eu começava meu mini-ensaio justamente pela afirmação de que o lulopetismo não tinha teoria, nem geral, nem parcial, e que ele era pura prática. O Bolsopetismo deve ser mais ou menos a mesma coisa, sem reflexão, sem doutrina, sem programa, puro instinto primitivo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de maio de 2020


sábado, 3 de setembro de 2016

Teoria geral do lulopetismo: treze teses preliminares - Paulo Roberto de Almeida


Teoria geral do lulopetismo: treze teses preliminares

Paulo Roberto de Almeida
 [Comentários sobre um cadáver insepulto, mas ainda ativo e presente nas mentalidades]


Mini-proposições improvisadas, sem desenvolvimento detalhado, por enquanto.

1) O lulopetismo não tem teoria, nem geral, nem parcial. Nada!

2) O lulopetismo é pura prática, da pior espécie. Repito: da pior...

3) O lulopetismo nasce da conjunção de um ego gigantesco, de uma personalidade megalomaníaca – com profundas deformações psicológicas, e uma raiva profunda vis-à-vis os “de acima” –, e do desejo de vingança de guerrilheiros reciclados, vis-à-vis aqueles que os derrotaram nos experimentos armados dos anos 1960-70. Some-se a isso, uma competição oportunista entre esses dois elementos por poder e dinheiro. Sobretudo dinheiro, mas para obtê-lo era preciso assegurar poder político.

4) O lulopetismo cresce na exploração das mazelas brasileiras, adubado por uma hábil propaganda mentirosa. O lulopetismo é uma imensa máquina de propaganda, financiada compulsoriamente por toda a sociedade brasileira.

5) O lulopetismo sempre procurou explorar o sentimento de inveja do “andar de baixo” contra os “privilegiados”, incitando o despeito, o ressentimento e o rancor das classes populares contra a “burguesia”. 

6) O lulopetismo perseguiu, incessantemente, poder e dinheiro, por todos os meios, os permitidos, e pelos não permitidos também. Sobretudo estes últimos...

7) O lulopetismo estabeleceu um método, ou vários, combinando declarações grandiosas em prol da justiça social e da ética na política, enquanto se encarregava, de um lado, de construir projetos de ascensão social de seus próprios líderes e apparatchiks, e, de outro lado, de conquistar o apoio dos piores bandidos da política brasileira para coloca-los a serviço dos objetivos exclusivos desses chefes, que não era nem justiça social, nem ética na política. Mas o lulopetismo conseguiu enganar muita gente dessa forma.

8) O lulopetismo ascendeu com a mentira e a corrupção, e se manteve durante bastante tempo no crime e na chantagem, dilapidando recursos públicos, desviando ativos das agências estatais, assaltando ou extorquindo empresários, conspirando com capitalistas promíscuos operando com compras governamentais, roubando inclusive a população mais pobre. Ele perseverou na mesma trajetória enquanto conseguiu comprar aliados nos meios políticos e econômicos mais propensos a participar dos seus esquemas fraudulentos e criminosos. O lulopetismo elevou a corrupção em escala e “qualidade”, tirando-a do seu nível “artesanal”, normal, e colocando-a num modo superior, “industrial”, de produção da corrupção, chegando ao estágio superior de uma organização criminosa de tipo mafioso, que é a conquista de todo o Estado.

9) O lulopetismo não tem teoria, mas seus “intelequituais (do partido, ou os chamados “gramscianos de academia”) se encarregaram de construir uma doutrina para essa construção única e singular da política brasileira, que é uma mistura de justiça social propagandeada de maneira mistificadora, com mentiras entranhadas, com arroubos de grandeza nacional que são, por sua vez, uma mistura de anacronismos patrioteiros e da falsa bandeira da defesa da soberania nacional. Na verdade, esta última foi constantemente sacrificada no altar da fidelidade canina que os chefes e cardeais do lulopetismo devotaram a seus chefes de fato, os comunistas castristas.

10) O lulopetismo não tem um pensamento econômico coerente, apenas prescrições ultrapassadas de políticas econômicas, retiradas de um cozido insosso fabricado a partir do keynesianismo vulgar que alguns dos seus quadros extraíram de orelha de alguns textos universitários produzidos por alguns gurus equivocados dessa seita. Eles aplicaram essa mistura incoerente da maneira mais desastrosa possível, produzindo então, e não apenas nos últimos anos, o grandioso espetáculo da recessão e do desemprego, com inflação e aumento da dívida pública, que pode ser chamado apropriadamente de Grande Destruição.

11) O lulopetismo não tem doutrina social, apenas prescrições assistencialistas mal concebidas e mal aplicadas – do tipo Fome Zero, Bolsa Família, etc. – que todas falharam em corrigir as graves distorções do Brasil. Ao contrário, elas mantiveram os grupos assistidos na mesma condição de origem, apenas que com algum subsídio ao consumo, mas o objetivo inicial, permanente, era esse mesmo, não resolver a questão social, mas constituir um curral eleitoral que mantivesse o lulopetismo no poder de forma indefinida.

12) O lulopetismo não tem nenhuma doutrina política – fora das mistificações produzidas por alguns servos do partido e por gramscianos de academia – mas pretende ser um caminho fora da política tradicional dos partidos e do congresso. Pela sua forte base sindical – que evoluiu do sindicalismo alternativo para uma convergência no mainstream do sindicalismo oficial, ou seja, empreendimentos de caráter quase mafioso – ele pode ser considerado um peronismo de botequim, ou seja, sem qualquer teorização justicialista, apenas baseado no carisma do grande chefe mafioso.

13) O lulopetismo foi a maior fraude política, e ideológica, que se abateu sobre o Brasil, desde muito antes de 2003, quando ele finalmente tomou de assalto o poder federal. Ele foi (parcialmente?) expelido desse poder, mas ainda permanece ocupando vastos espaços de poder parcial em dezenas, centenas, milhares de instâncias públicas, dada a gigantesca invasão de todos os interstícios e escaninhos do Estado, em todos os níveis, pelos apparatchiks, aliados inconscientes ou serviçais objetivos do vasto empreendimento lulopetista. Pior ainda: sua versão do cenário político, suas metas obsessivas, seus objetivos megalomaníacos, que só podem conduzir o Brasil a uma trajetória desastrosa de (não) desenvolvimento, permanecem vigorosamente presentes nos corações e mentes de muitos true believers, partidários do credo, tanto militantes ingênuos da causa social, quanto acadêmicos bem formados e supostamente bem informados. Essas características asseguram alguma sobrevivência política e ideológica ao lulopetismo, mesmo quando o grande chefe megalomaníaco for condenado a passar algum tempo na prisão.

Paulo Roberto de Almeida 
Porto Alegre, 3 de setembro de 2016

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Teoria Geral de Keynes faz 80 anos - Robert Skidelsky (e minha avaliacao: PRA)

Skidelsky é o biógrafo de Keynes e autor de muitas outras obras nessa área, inclusive de um dos livros que eu reputo a melhor explicação sobre o fracasso do socialismo no século: The Road From Serfdom, uma evidente alusão ao The Road to Serfdom de Hayek.
Não concordo com ele, por uma razão muito simples: Keynes não fez uma "teoria geral", e sim uma teoria particular ao momento de crise vivido pelas economias de mercado devido à excessiva intervenção dos governos na economia, inclusive e principalmente no que se refere à criação de inflação e de desemprego, pela imposição do monopólio sobre as moedas e de muitas regras afetando os mercados laborais (políticos sempre querem fazer bondades com os recursos alheios).
Não partilho da ideia de que mercados produzem desequilíbrios e que eles não são capazes de corrigir a si próprios. Mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, mesmo em detrimento dos agentes que interviram com pouca informação, com propósitos especulativos, ou "corretivos", como pretendem os governos. Os mercados simplesmente refletem o comportamento de pessoas, e as bolhas são SEMPRE corrigidas por uma destruição de riqueza artificial, ainda que alguns venham a perder ativos nesse processo.
A pretensão de pretender corrigir "desequilíbrios", ou "falhas de mercado" é justamente o fator que impede os mercados de se autocorrigirem.
O keynesianismo é uma pretensão fatal, no sentido hayekiano da palavra, embora combine com a arrogância dos "engenheiros sociais", que estão sempre querendo construir um "mundo melhor", como aprendizes de feiticeiro. Costuma dar errado.
Em qualquer hipótese, cabe ler Skidelsky.
Paulo Roberto de Almeida

Keynes’s General Theory At 80


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Project Syndicate
Robert Skidelsky
Robert Skidelsky lecturing on Keynes (photo: Screenshot YouTube)

In 1935, John Maynard Keynes wrote to George Bernard Shaw: “I believe myself to be writing a book on economic theory which will largely revolutionize – not, I suppose, at once but in the course of the next ten years – the way the world thinks about its economic problems.” And, indeed, Keynes’s magnum opusThe General Theory of Employment, Interest and Money, published in February 1936, transformed economics and economic policymaking. Eighty years later, does Keynes’s theory still hold up?
Two elements of Keynes’s legacy seem secure. First, Keynes invented macroeconomics – the theory of output as a whole. He called his theory “general” to distinguish it from the pre-Keynesian theory, which assumed a unique level of output – full employment.
In showing how economics could remain stuck in an “underemployment” equilibrium, Keynes challenged the central idea of the orthodox economics of his day: that markets for all commodities, including labor, are simultaneously cleared by prices. And his challenge implied a new dimension to policymaking: Governments may need to run deficits to maintain full employment.
The aggregate equations that underpin Keynes’s “general theory” still populate economics textbooks and shape macroeconomic policy. Even those who insist that market economies gravitate toward full employment are forced to argue their case within the framework that Keynes created. Central bankers adjust interest rates to secure a balance between total demand and supply, because, thanks to Keynes, it is known that equilibrium might not occur automatically.
Keynes’s second major legacy is the notion that governments can and should prevent depressions. Widespread acceptance of this view can be seen in the difference between the strong policy response to the collapse of 2008-2009 and the passive reaction to the Great Depression of 1929-1932. As the Nobel laureate Robert Lucas, an opponent of Keynes, admitted in 2008: “I guess everyone is a Keynesian in a foxhole.”
Having said this, Keynes’s theory of “underemployment” equilibrium is no longer accepted by most economists and policymakers. The global financial crisis of 2008 bears this out. The collapse discredited the more extreme version of the optimally self-adjusting economy; but it did not restore the prestige of the Keynesian approach.
To be sure, Keynesian measures halted the global economy’s downward slide. But they also saddled governments with large deficits, which soon came to be viewed as an obstacle to recovery – the opposite of what Keynes taught. With unemployment still high, governments returned to pre-Keynesian orthodoxy, cutting spending to reduce their deficits – and undercutting economic recovery in the process.
There are three main reasons for this regression. First, the belief in the labor-market-clearing power of prices in a capitalist economy was never wholly overturned. So most economists came to view persistent unemployment as an extraordinary circumstance that arises only when things go terribly wrong, certainly not the normal state of market economies. The rejection of Keynes’ notion of radical uncertainty lay at the heart of this reversion to pre-Keynesian thinking.
Second, post-war Keynesian “demand-management” policies, credited with having produced the long post-1945 boom, ran into inflationary trouble at the end of the 1960s. Alert to a worsening tradeoff between inflation and unemployment, Keynesian policymakers tried to sustain the boom through incomes policy – controlling wage costs by concluding national agreements with trade unions.
Income policy was tried in many countries from the 1960s to the end of the 1970s. At best, there were temporary successes, but the policies always broke down. Milton Friedman provided a reason that jibed with growing disenchantment with wage and price controls, and that reasserted the pre-Keynesian view of how market economies work. Inflation, Friedman said, resulted from attempts by Keynesian governments to force down unemployment below its “natural” rate. The key to regaining stable prices was to abandon the full-employment commitment, emasculate the trade unions, and deregulate the financial system.
And so the old orthodoxy was reborn. The full-employment target was replaced by an inflation target, and unemployment was left to find its “natural” rate, whatever that was. It was with this defective navigational equipment that politicians sailed full steam ahead into the icebergs of 2008.
The final reason for Keynesianism’s fall from grace was the rightward ideological shift that began with British Prime Minister Margaret Thatcher and US President Ronald Reagan. The shift was due less to rejection of Keynesian policy than to hostility toward the enlarged state that emerged after World War II. Keynesian fiscal policy was caught in the crossfire, with many on the right condemning it as a manifestation of “excessive” government intervention in the economy.
Two final reflections suggest a renewed, if more modest, role for Keynesian economics. An even bigger shock to the pre-2008 orthodoxy than the collapse itself was the revelation of the corrupt power of the financial system and the extent to which post-crash governments had allowed their policies to be scripted by the bankers. To control financial markets in the interests of full employment and social justice lies squarely in the Keynesian tradition.
Second, for new generations of students, Keynes’s relevance may lie less in his specific remedies for unemployment than in his criticism of his profession for modeling on the basis of unreal assumptions. Students of economics eager to escape from the skeletal world of optimizing agents into one of fully-rounded humans, set in their histories, cultures, and institutions will find Keynes’s economics inherently sympathetic. That is why I expect Keynes to be a living presence 20 years from now, on the centenary of the General Theory, and well beyond.