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quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Juca Paranhos, Barao do Rio Branco - Emb. Luis Claudio Villafane - 23/11, 10hs

IPRI: palestra-debate “Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco”


O Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) tem o prazer de convidar para mais um evento da série “Diálogos Internacionais do IPRI” com a palestra-debate “Juca Paranhos, o barão do Rio Branco”, em torno da obra recentemente publicada do embaixador Luís Claudio Villafañe G. Santos. 
O evento será realizado em 23 de novembro, às 10h, no Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II do Ministério das Relações Exteriores.

domingo, 30 de setembro de 2018

Juca Paranhos, biografia do Barao do Rio Branco, de L.C. Villafanne G. Santos, por Mariana Alvim (BBC)

Caça a mapas antigos e espionagem: as aventuras do Barão de Rio Branco pelas fronteiras do Brasil

"Estão aí os traços característicos do segundo Rio Branco: genuíno patriotismo, culto amoroso ao pai, organização conservadora (...) São impulsos de um mesmo motor, o amor ao país."
As palavras do diplomata Joaquim Nabuco descrevem o Barão do Rio Branco, ou José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912) - filho do Visconde do Rio Branco, primeiro-ministro do Brasil e deputado conservador. Os elogios são o testemunho do momento em que o barão saía do desconhecimento para a exaltação após vencer uma disputa territorial contra a Argentina, em 1895 - cumprindo tardiamente um projeto de ascensão social traçado desde o nascimento pelo pai.
A imagem de um diplomata que só abre mão da timidez para colocar a erudição à serviço da pátria é pintada aí, perdurando até hoje na personificação do barão, uma das figuras históricas mais reverenciadas do país.

Mas um novo livro que acaba de chegar às livrarias mostra que essa é uma entre as várias versões possíveis do Barão do Rio Branco. Há também o Paranhos Júnior boêmio, decepcionado com seus rumos profissionais ou ainda às voltas com o sustento financeiro da família.
"Havia uma expectativa imensa em cima dele. Ele nasceu durante o Antigo Regime: naquele momento, a ideia de sucesso era fazer com que as famílias transcendessem. O pai, o visconde, é um filho ilegítimo que consegue uma ascensão social muito grande mas que só poderia ser completa ao transformar os Paranhos em uma das grandes famílias do império. Ele não conseguiria fazer isso sozinho, precisava dos filhos. E era (o barão do) Rio Branco quem seria o próximo patriarca da família", explica Luís Cláudio Villafañe, autor da biografia Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco, da Companhia das Letras.
A história de Juca Paranhos se entrelaça com marcos de importantes mudanças no Brasil - da transição da monarquia para a República ao fim da escravidão. Mas é só depois dos 50 anos de idade, em sua atuação em disputas por fronteiras contra a Argentina, França e Bolívia, que o barão do Rio Branco consegue imprimir sua digital na história do país.

Deputado pelo Mato Grosso sem nunca ter pisado lá

A biografia escrita por Villafañe detalha como, desde pequeno, cada passo de Juca Paranhos foi planejado com esmero pelo visconde. Esta trajetória incluiu a formação em Direito e o patrocínio do pai à carreira parlamentar, em que o barão assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Mato Grosso sem sequer pisar naquela província - algo que só seria feito na véspera de um segundo mandato. O voto censitário se reduzia a algumas dezenas de pessoas: homens e com rendimentos acima de uma determinada faixa.
Membro do Partido Conservador, Juca carregaria consigo este posicionamento ideológico ao longo da vida. Era monarquista convicto também, tendo que se conformar e readaptar à chegada da República em 1889.
"Os Paranhos chegam no final da festa do Antigo Regime, e esta festa está acabando. Tudo o que eles não querem é que isso aconteça: eles partilham dos valores daquele regime e querem validá-los", explica Villafañe, que pesquisa a biografia do barão desde 2012. "O Barão do Rio Branco é uma grande janela deste mundo que está caindo e aquele que está surgindo."
'O Barão do Rio Branco é uma grande janela deste mundo que está caindo e aquele que está surgindo', aponta Luís Cláudio Villafañe
Nessa transição, o fim da escravidão expõe também a postura conservadora e aversa às rupturas de Juca. A promulgação da Lei do Ventre Livre levava a assinatura do pai, o visconde - correspondendo a uma vertente do Partido Conservador que via riscos de violência e imprevisibilidade na insistência à manutenção do trabalho escravo.
O filho teve atuação discreta neste processo e, posteriormente, defendeu uma transição gradual ao fim da escravidão - para ele, idealmente extinta somente com a morte do último cativo nascido antes da Lei do Ventre Livre. Nisso também foi vencido, já que a Lei Áurea é assinada em 1888.

Casamento tardio e a contragosto

Sem sorte no jogo da política, as coisas também não eram pacíficas no amor.
Se nos grandes planos do visconde para o filho estava a ascensão social, o casamento era um ponto crucial nesta trajetória. A realidade mostrou, porém, um cenário muito diferente da expectativa.
Juca Paranhos frequentava aquela que era uma das casas de espetáculos mais polêmicas do Rio de Janeiro, o Alcazar Lyrique du Père Arnaud, fundado na década de 1860 na atual rua Uruguaiana e uma afronta ao moralismo da época. Ali, Juca conheceu a jovem belga Marie Philomène Stevens, que foi tentar a vida no Rio se apresentando no palco do cabaré. Começou ali um relacionamento que nunca seria aprovado pelo visconde e se estendeu por mais de duas décadas, até a morte dela.
Eles tiveram cinco filhos, mas a belga nunca foi celebrada com uma parceira à altura por Juca. Por muitos anos, o barão era "oficialmente" solteiro e mantinha a família em outra casa. O casamento só veio 17 anos depois de relacionamento. No fim da vida, uma carta de Marie reproduzida na biografia escrita por Villafañe expõe as dores de um relacionamento conturbado - pelo qual, em outro documento, diz ter "pago muito caro por sua coroa de baronesa". 
"Eu já sofri tanto por ti que me é impossível responder com calma, já que tu só sabes me dizer coisas desagradáveis como quando me disse que todos seus filhos são desequilibrados porque eu sou a mãe deles e, além disso, não se discute com uma mulher que se crê louca", diz a carta.
A biografia mostra também que a vida privada e a fama de farrista pesou no círculo social e político no entorno de Juca - sendo quase um consenso que emperrou, por exemplo, sua nomeação como cônsul-geral do Brasil em Liverpool, posição que acabou por ocupar por quase duas décadas.

Visconde: morte com desgosto

É esta página da vida do filho a última que o Visconde do Rio Branco pôde ver. Há sinais de que ele morreu frustrado em suas expectativas de ascensão familiar, vendo o filho como um obscuro cônsul e longe de um "bom casamento".
"Tem até uma coisa até freudiana. O barão só vai brilhar depois que o pai morre", aponta Villafañe, atualmente diplomata do Brasil na Nicarágua.
Buscando uma recolocação na República e o contorno de dificuldades financeiras, o barão acaba conquistando de forma improvável a chefia da defesa do Brasil em uma arbitragem contra a Argentina, mediada pelos Estados Unidos, na disputa conhecida como a Questão de Palmas.
A Argentina reivindicava os territórios que hoje compõem parte do oeste do Paraná e Santa Catarina, argumentando que tratados do século 18 apontavam para uma divisão entre Portugal e Espanha definida pelos rios Jangada e Chapecó, e não pelo Pepiri-Guaçu e Santo Antônio - como seria favorável ao Brasil.
Com a assistência de auxiliares, o barão recuperou documentos e mapas em locais como o Arquivo Geral de Simancas, na Espanha, e o Depósito Geográfico do Ministério dos Negócios Estrangeiros da França. Com cálculos matemáticos e interpretações historiográficas - como a de que a cartografia portuguesa era mais avançada que a espanhola no século 18 -, Juca conseguiu reunir evidências para a versão brasileira. 

Depois de se debruçar sobre montanhas de papéis em meio a noites mal dormidas, o barão tratou de conquistar também, nos Estados Unidos, autoridades e a opinião pública. Para isso, contratou um consultor jurídico nos EUA, John Bassett Moore, que abriria espaço para o acesso a membros da arbitragem americana.
"O lobby, como se comprova, é uma atividade com larga tradição nos Estados Unidos", diz a biografia de Villafañe.
Com o "trabalho inegavelmente brilhante", como classifica o autor, Paranhos Júnior foi vitorioso na disputa e finalmente consagrado por seu talento como geógrafo e historiador. Para um Brasil que se via às voltas com a violenta Revolução Federalista, a vitória contra a Argentina veio como uma redenção para o país e o presidente Floriano Peixoto. Juca foi recebido como herói nacional em meio ao carnaval de 1895, em que foi homenageado pelo Clube dos Fenianos, uma das grandes sociedades carnavalescas do Rio.
"Obviamente, ele era um grande erudito, mas ninguém sabia. Ele foi atrás (dessa conquista). E não é ilegítimo: ele foi se reconstruir como personagem. Isso é contrário às biografias em que ele aparece como um sujeito que nasceu pronto", aponta o escritor de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco.

Frente a frente com o maior geógrafo do mundo

A fama com a Questão de Palmas o impulsionaria como principal representante brasileiro em outro imbróglio: a Questão do Amapá.
Tratava-se também de uma guerra de versões sobre rios acordados em tratados. Na prática, o Brasil poderia perder parte importante da região Norte, sobretudo na fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa. Em arbitragem mediada pela Suíça, Brasil e França foram à mesa. 
Rio Branco enfrentava um jogo mais desafiador do que o de Palmas: a proximidade histórica e cultural entre França e Suíça; além do verdadeiro exército de diplomatas, advogados e especialistas no outro lado da mesa, incluindo Vidal de la Blanche, o maior geógrafo da época.
O barão dedicava horas sem dormir desvendando documentos antigos 
Juca também empreendeu mais uma caça a mapas por arquivos na Inglaterra, Espanha e França; no caso do Amapá, adotou ainda uma nova estratégia. Infiltrou Emílio Goeldi, naturalista suíço estabelecido no Pará, para assessorar os conselheiros da Suíça em sua decisão - sanando dúvidas ou coletando impressões desfavoráveis.
"Por ora o que desejo é que v. sa. Trate de ir fazendo relações em Berna (...) é indispensável que v. sa. Não seja considerado um auxiliar meu, e sim como um cientista que apenas veio tratar de estudos ou trabalhos que nenhuma relação têm com a causa que vai ser julgada", diz um documento reproduzido na biografia, que classifica a atuação de Goeldi como um "espião sem licença para matar, mas eficaz".
"Rio Branco atuava como um exército de um só homem nas questões dos limites. Era ao mesmo tempo o pesquisador que escarafunchava arquivos em busca de velhos mapas e documentos empoeirados, o historiador que desvendava os manuscritos e criava uma narrativa consistente (...) e o advogado implacável, munido da jurisprudência e do conhecimento do direito para construir argumentos irrefutáveis", afirma o livro.
Na Suíça, a arbitragem foi favorável ao Brasil, mais uma vez fazendo do barão o centro de uma aclamação geral.
"Do Amazonas ao Prata há um nome que parece irradiar por todo o círculo do horizonte num infinito de cintilações: o do filho do emancipador dos escravos, duplicando a glória paterna com a de reintegrador do território nacional", diria Rui Barbosa sobre a conquista em 1900.

Disputa por fronteiras como chanceler

Dali para frente, Rio Branco imaginava um futuro em confortáveis postos europeus, mas teve que ceder à pressão do presidente Rodrigues Alves para assumir o Ministério das Relações Exteriores.
O Acre, região que o Brasil reconhecia como pertencente à Bolívia por três décadas, passou a atrair hordas de brasileiros pela extração da borracha. Os planos do país andino em arrendar aquele território a uma companhia com capital americano e britânico catalisou a pressão para que o Brasil reivindicasse-o. Para completar, parte daquela região era demandada também pelo Peru.
Diferentemente dos outros episódios em que foi consagrado, Paranhos apostou em um acordo direto, e não na arbitragem, para o caso. O Tratado de Petrópolis previa o pagamento, pelo Brasil, de indenização, favores e até cessão de partes do território à Bolívia. Este aceno, com perdas para o Brasil, colocou o barão sob forte escrutínio na imprensa e na opinião pública.
Rio Branco resolveu, então, escrever artigos para jornais sob um pseudônimo. "Kent", entre outros argumentos, defendia que a arbitragem seria demorada e teria um resultado incerto. Afinal, o Brasil havia reconhecido a soberania da Bolívia sobre aquele território de 1867 a 1902.
Após muitas quedas de braço, o Congresso aprovou o Tratado de Petrópolis - depois também de forte mobilização política empreendida por Rodrigues Alves e por Rio Branco.
"Sem dúvida alguma a negociação do Acre foi o desafio mais difícil enfrentado pelo chanceler; a solução alcançada, vista à distância de mais de um século, pode ser considerada um sucesso espetacular", diz Villafañe na biografia. 
O próprio Barão registraria em um dos seus escritos: "para mim vale mais esta obra (...) do que as duas outras, julgadas com tanta bondade pelos nossos cidadãos".

Um barão para a posteridade

A "bondade" a que se referiu Jucá de fato corresponde à imagem heroica que ficou de sua figura. Para Villafañe, isto é tributário de suas inegáveis qualidades, mas também é perpetuada por outras condições históricas do país.
"Uma ideia base da nacionalidade brasileira é a do território. O Rio Branco está muito associado a essa ideia. Nesse sentido, Rio Branco é um grande pai da pátria, deslocado um século (após a independência)", aponta o biógrafo.
Villafañe afirma também que, como Winston Churchill fez em relação ao conhecimento sobre a Segunda Guerra, o Barão de Rio Branco também pautou a historiografia à sua maneira - interpretação endossada com o fortalecimento do Itamaraty e a formação do Estado Novo.
Se empresta a sua figura ao país, Juca também se preocupou durante toda a vida com a imagem do país no exterior.
"Ele era elitista, mas seria injusto dizer que isso fosse pura vaidade. Nessa Era dos Impérios (expressão cunhada pelo historiador Eric Hobsbawm para resumir a dinâmica geopolítica do período entre 1875 e 1914), a visão que determinado país projetava no mundo dizia como esse país seria tratado. A África foi partilhada pelas potências europeias com a ideia de que ali não tinha nada de civilizado, então era terra de ninguém", aponta o diplomata.
"Para Rio Branco, era importante projetar para o Brasil uma ideia de estabilidade, modernidade, civilização - isso garantia uma tratamento melhor nesse mundo."

Rio Branco reenquadrado, por Luis Claudio Villafane (entrevista na IstoÉ)

Luís Cláudio Villafañe G. Santos traça um perfil pouco heroico do patrono da diplamacia brasileira, revelando segredos, como suas aventuras amorosas e envolvimento com jogatina e espionagem

Crédito: Alexia Fidalgo
O escritor Luis Claudio Villafañe (Crédito: Alexia Fidalgo)
O diplomata carioca Luís Cláudio Villafañe G. Santos, de 58 anos,  pesquisou ao longo de mais de dez anos para concluir o livro “Juca Paranhos, O Barão do Rio Branco” (Companhia das Letras). O volume tem mais de 500 páginas, mas é o contrário da típica biografia monumental, em que o biografado surge como vulto da pátria. Para Santos, trata-se de evitar o heroísmo e assim fazer surgir o perfil realista de José Maria da Silva Paranhos Filho (1845-1912), o barão do Rio Branco. Santos traça um perfil nada heroico do patrono da diplomacia brasileira. Revela segredos de alcova, caça e conflitos internacionais. Mas também apresenta uma interpretação do papel e do legado do Barão.
Ainda é possível dizer algo de novo ou encontrar novidades em uma das personagens mais biografadas do Brasil como o Barão do Rio Branco?
Claro que sim. Para começar, as boas biografias do Rio Branco são antigas – a do Álvaro Lins é de 1945 e a do Viana Filho de 1959. De lá para cá, há alguns ensaios de qualidade, mas nenhuma biografia propriamente dita. Além de documentos revelados na pesquisa, o livro faz um resgate de histórias que caíram no esquecimento e reinterpreta os diversos episódios à luz das discussões historiográficas atuais. E, também, a própria abordagem biográfica mudou muito, já não cabe a construção de um herói da nacionalidade, com uma trajetória linear, sem contradições, erros, inseguranças e incertezas. O Rio Branco real acerta, erra, se reinventa, trai e é traído, etc.
Que fatos novos você revela no livro?
Em relação às biografias existentes há uma coleção de novidades. Algumas estavam enterradas em livros antigos ou documentos esquecidos, outras conhecidas apenas pelos raros estudiosos e algumas que identifiquei ao longo da pesquisa. Dou exemplos. Eu resgatei um tratado secreto que o Rio Branco assinou com o Equador para uma ação militar conjunta em uma eventual guerra contra o Peru, algo que nenhum biógrafo anterior jamais mencionou. Eu publiquei o texto desse acordo em uma revista especializada em 2017, mas o tema era desconhecido na historiografia brasileira. Desencavei no Arquivo Histórico do Itamaraty um minucioso estudo que não chegou a ser publicado de um bibliotecário do Ministério sobre as anotações que o Barão fazia nos livros de sua vasta biblioteca, com muitas coisas interessantes. Resgatei histórias esquecidas como a do genro-espião, o quase assassinato de um colega de faculdade pelo jovem Juca, o uso de lobistas e mesmo de informantes infiltrados junto aos juízes nas arbitragens sobre os territórios de Palmas e do Amapá, entre outras.
Você corrobora a interpretação tradicional que atribui a Rio Branco um papel fundamental tanto no estabelecimento das fronteiras do Brasil como da definição do papel do Brasil na geopolítica americana. Há outros aspectos a acrescentar nessa interpretação?
O papel do Rio Branco na definição das fronteiras é inegável e transcendente. Trata-se, sem dúvida, de seu maior legado. Mas, mesmo essa história está mal contada. No livro eu aprofundo essa questão das negociações de limites, cuja interpretação está até hoje muito baseada na narrativa que o próprio Rio Branco criou. Por exemplo, a negociação com o Peru, onde se poderia ter perdido todo o Acre, mesmo depois de pago – em dinheiro e territórios – para a Bolívia, é sempre apresentada como uma coisa quase burocrática, quando demorou mais de cinco anos e quase resultou em uma guerra que teria sido muito complicada. É o próprio Rio Branco que dá origem a essa interpretação porque ficava melhor para ele, conforme explico no livro.
O Rio Branco viveu mais de vinte anos na Europa e um par de anos nos Estados Unidos. Ele compartia plenamente a visão das elites desses países em relação ao sistema internacional. O que almejou fazer na América foi, de alguma maneira, reproduzir o arranjo europeu, criar uma espécie de “concerto americano” em que os Estados Unidos, o Brasil, a Argentina, o Chile e o México se entenderiam para manter o continente em paz e longe das intervenções europeias.
Muitas vezes, Rio Branco parece ter agido de forma maquiavélica para beneficiar um país aliado ou uma situação favorável ao Brasil?
Em termos de relações internacionais, Rio Branco foi o que hoje chamaríamos de um realista. Ele entendia que o poder é o elemento mais importante nas relações entre os países e agiu de acordo com esse entendimento. No livro, eu dou elementos para que o leitor ou leitora faça seu próprio julgamento em cada episódio. Por exemplo, a questão da retificação das fronteiras com o Uruguai, em que o Brasil cedeu, sem compensação, o condomínio da Lagoa Mirim e do rio Jaguarão teve também um elemento de cálculo político para constranger a Argentina; mas definir em que medida pesou mais a vontade de remediar uma situação injusta ou se foi por causa da rivalidade com a Argentina fica por conta de quem interpreta a questão.
Você adentra um terreno desafiador que coloca em nexo a diplomacia e a moldagem de conceitos de identidade nacional. De que forma essa relação se altera com as mudanças de regime e de modelo de Estado e Nação no Brasil do Império à Nova República?
Eu tratei especificamente dessa questão da ligação entre política externa e identidade nacional em um livro anterior, que, pelo papel do Rio Branco nesse processo, acabou se chamando O Dia em que Adiaram o Carnaval (UNESP, 2010). Por ter sido uma monarquia por quase sete décadas, com a conservação de muito do imaginário, das relações socias e das formas de legitimação do Antigo Regime – em contraste com os Estados Unidos e com os países vizinhos – nas bases como se entende o fenômeno hoje em dia, o nacionalismo foi tardio no Brasil e, assim, ainda que tendo atuado quase um século depois da independência, pode-se dizer que o Rio Branco tem um papel relevante como formador da nacionalidade. Mas isso eu exploro mais a fundo nesse outro livro de 2010.
Nesse processo, Rio Branco ofereceu um modelo de nacionalidade? Quem entre os seus sucessores exerceram o mesmo papel, sem esquecer o antecessor Joaquim Nabuco?
O papel do Rio Branco como formador da nacionalidade está muito ligado a seu desempenho, político e discursivo, na consolidação das fronteiras. A questão do território – que precederia a nação, um legado da natureza que a colonização portuguesa nos teria transmitido – está na base da construção da ideia de nacionalidade no Brasil. O Rio Branco resgatou e atualizou esse mito fundador e, assim, destaca-se entre seus contemporâneos nesse processo de fortalecimento do sentimento nacional. A política externa tem um papel importante na construção da nacionalidade, pois afinal é a política pública que lida especificamente com o “outro” e a alteridade é fundamental na construção da identidade.
Rio Branco defendia a aliança íntima com os Estados Unidos. A diplomacia brasileira posterior buscou se afastar dessa intimidade? Houve uma espécie de angústia da influência em relação a essa convicção no Itamaraty ao longo do século XX?
Essa interpretação é um mito que o livro desafia. A suposta prescrição invariável de Rio Branco em favor de um alinhamento com os Estados Unidos não se sustenta. Antes de mais nada, a ideia de priorizar as relações com os Estados Unidos precede Rio Branco; foi uma política perseguida de forma estridente já imediatamente depois da proclamação da república e, inclusive, vinha do Manifesto Republicano de 1870. De fato, em determinados momentos, Rio Branco entendeu que seria importante ao menos aparentar uma sintonia com os Estados Unidos, principalmente como proteção contra ingerências das potências europeias. Essa política, que teve seu ponto máximo na III Conferência Pan-americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906, desandou a partir da Conferência da Paz na Haia em 1907 e ao fim do período de Rio Branco as relações com os Estados Unidos estavam em seu ponto mais baixo em muitas décadas. Foram os sucessores do Barão que, para legitimar suas escolhas, passaram a atribuir ao Rio Branco essa ideia de uma aliança incondicional com os Estados Unidos. Essa visão durou ao longo de grande parte do século XX e se reforçou com a tese da “aliança não escrita”, inventada na década de 1960 muito mais para legitimar a política daquela década, depois do golpe de 1964, do que como descrição válida das relações entre os dois países no início do século XX.
Você poderia descrever em poucas linhas a pessoa de Juca Paranhos, como personalidade, gostos, aspecto físico e psicológico? Ele não parecia ser um grande intelectual, apesar de inteligente.
Uma das coisas que diferencia o livro das biografias anteriores é, justamente, mostrar a evolução do personagem ao longo de sua vida. Minha análise atende a prescrição de Pierre Bourdieu de desmascarar o que ele chamou de “ilusão biográfica”: mostrar os biografados como personagens planos, cujas principais características sociais, pessoais e de caráter permanecem praticamente inalteradas durante toda sua trajetória. Ao contrário, eu procuro mostrar as transformações do Rio Branco ao longo de sua vida, suas contradições, inseguranças, recuos e momentos em que ele se reinventou.
Quanto à questão do legado intelectual, o Rio Branco não deixou uma obra “acadêmica” de relevo; ficaram muitos textos dispersos, de diversos tipos, que inclusive eventualmente têm contradições entre si. Foram, na maior parte dos casos, escritos de circunstância. Isso não deixou de ser uma vantagem para os que, desde então, passaram a atribuir ao Barão a paternidade de suas políticas como forma de legitimá-las. Mas, vale dizer, mesmo sem ter escrito obras de maior fôlego, o Rio Branco foi um grande erudito nas áreas de história e geografia do Brasil, conhecimento que ele aproveitou muito bem para sustentar sua atuação diplomática e política.
Você busca traçar um perfil menos monumental desse vulto pátrio, símbolo da hegemonia (rural) oligárquica o Império que não hesita em defender e consolidar a República Velha. No que ele fraquejou, errou e acertou? 
O livro, em suas quinhentas e tantas páginas, está aí para responder a essa pergunta. Não me furto em mostrar as hesitações, erros de avaliação e contradições; e também os grandes acertos e vitórias, bem como as polêmicas que enfrentou. A trajetória do Rio Branco é uma janela extraordinária para acompanhar as transformações que o Brasil e o mundo passaram durante as várias décadas de sua atuação política, do fim do Império ao início da República, e não somente na política externa. O livro explora também a relação entre a política interna e a política externa e a atuação do Rio Branco na política interna; desfaz o mito de sua suposta autonomia na condução da política externa. Então, como hoje, a política externa reflete a situação interna e os debates políticos e mesmo partidários.
 Que lição Paranhos legou ao Brasil, e que pode ainda hoje pode ser considerada fundamental para a instauração de um Estado e uma Nação brasileiras? O “concerto americano” esboça de alguma forma os tratados atuais entre os países do continente?
A ideia de um “concerto americano” que ele tinha em mente é muito distinta do que se pode propor hoje. Sua visão das relações internacionais, na linha dos seus contemporâneos, era essencialmente oligárquica. Vale dizer que é nesse período em que a noção de uma hierarquia entre os países como uma coisa natural e legítima começa a ser posta em questão. A ideia da igualdade das nações teve na Conferência da Haia de 1907 um marco importante. É um episódio que eu exploro no livro e aí se vê que, ao contrário do Rui Barbosa, o Barão aceitava com muito mais naturalidade a preponderância das grandes potências. Esse exercício de buscar na atuação e nas ideias do Rio Branco antecedentes ou justificativas para políticas atuais foi usado e abusado pelos seus sucessores no Itamaraty, mas não resiste a uma análise mais detida.
Num exercício de especulação fantasiosa, como Rio Branco reagiria ao papel atual do Itamaraty?
Não cabe muito essa especulação. A agenda das relações internacionais hoje é muito diferente. Qual seria a posição do Rio Branco sobre mudança climática, exploração dos fundos marinhos? Mesmo temas que já existiam – comércio, direitos autorais, transportes, etc. – são profundamente diferentes hoje.
Quais foram as principais surpresas e dificuldades durante esses (talvez seis) anos de pesquisas em arquivos?
São mais de dez anos de pesquisas. Já para o livro sobre o papel da política externa na construção da nacionalidade, publicado em 2010, estava trabalhando com o Rio Branco. As investigações para aquele livro vêm, naturalmente, de antes e assim acho que passo já dos dez anos pesquisando, direta ou indiretamente, sobre o Rio Branco. Investigar um tema é sempre descobrir coisas novas que, muitas vezes, mudam a interpretação que se tinha. O resultado nunca é como se imaginou que seria no início, o que é o melhor sinal de que a pesquisa valeu a pena. Não tive nenhuma dificuldade específica de acesso à documentação e as surpresas foram surgindo naturalmente pelo caminho.
Você poderia estabelecer uma comparação entre sua interpretação de Rio Branco e as de outros biógrafos, como Luís Viana Filho e outros que aparentemente praticaram a biografia-exaltação?
As biografias falam dos biografados e de suas épocas, mas também refletem o momento em que foram escritas. Um dos grandes desafios do biógrafo é dar elementos para que os leitores e as leitoras possam se relacionar empaticamente com o biografado. No caso, foi necessário um esforço para situar a visão de mundo, as inseguranças, as expectativas, os dilemas e a teia de relações sociais de um personagem que nasceu em 1845 e se socializou e atuou em um contexto bastante diferente do nosso, um mundo que sofreu transformações importantes durante sua existência. Esse esforço tem de ser atualizado a cada releitura. Explicar o Rio Branco em 1945, como fez o Álvaro Lins, é muito diferente do desafio enfrentado pelo Viana Filho, em 1959, e da tarefa de mostrar esse personagem, complexo e muitas vezes contraditório, para o público de hoje.

sábado, 5 de agosto de 2017

Biografia do diplomata Edmundo Penna Barbosa da Silva - Rogerio SouzaFarias

Biografia excepcionalmente bem elaborada, posso garantir, preparada por um pesquisador confirmado, que fez uma obra equivalente, em importância para a historiografia econômica da diplomacia brasileira, às memórias de Roberto Campos.
Paulo Roberto de Almeida

FUNAG lança biografia do diplomata Edmundo Penna Barbosa da Silva


A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) publica a obra “Edmundo P. Barbosa da Silva e a construção da diplomacia econômica brasileira”, do doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, Rogério de Souza Farias. Diplomata de carreira, Edmundo Penna Barbosa da Silva (1917-2012) exerceu papel crucial nas negociações em favor do comércio externo brasileiro, sendo personalidade central do desenvolvimentismo da década de 1950. Foi articulador da diplomacia econômica na busca de capital estrangeiro, na elevação das tarifas aduaneiras, no aumento de laços com os vizinhos, bem como na reabertura das relações comerciais com a União Soviética. A obra tem o prefácio assinado pelo embaixador Marcilio Marques Moreira.

O livro está disponível para download gratuito na biblioteca digital da FUNAG.

O próprio autor disponibilizou o seu livro na plataforma Academia.edu, neste link:
https://www.academia.edu/33793852/Edmundo_P._Barbosa_da_Silva_e_a_constru%C3%A7%C3%A3o_da_diplomacia_econ%C3%B4mica_brasileira


sexta-feira, 7 de julho de 2017

Historia economica brasileira: biografia de Edmundo P. Barbosa da Silva - Rogerio S. Farias

Recomendo vivamente. Podem downloadar neste link: 
 http://funag.gov.br/index.php/pt-br/component/content/article?id=1986


Rogério de Souza Farias:
       Edmundo P. Barbosa da Silva e a construção da diplomacia econômica brasileira
       (Brasília: Funag, 2017, 589 p.; ISBN: 978-85-7631-682-4)

Assim como as memórias de Roberto Campos, Lanterna na Popa, constituem, bem mais que mera autobiografia, uma verdadeira história econômica do Brasil, esta densa biografia de um dos grandes construtores da diplomacia econômica no Itamaraty representa, igualmente, uma verdadeira reconstrução historiográfica de toda a história econômica do Brasil na segunda metade do século XX, sendo, como a obra de Campos, de leitura obrigatória por todos aqueles que pretendem abordar, doravante, as relações econômicas internacionais do Brasil, e as políticas econômicas, em especial a comercial e a industrial no período. Enriquecida por um belo e substantivo prefácio do colega de Edmundo, embaixador Marcílio Marques Moreira, a biografia se estende do século XIX ao XXI, e representa um monumento à inteligência econômica, como feita no Itamaraty.
Paulo Roberto de Almeida 


A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) publica a obra “Edmundo P. Barbosa da Silva e a construção da diplomacia econômica brasileira”, do doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, Rogério de Souza Farias. Diplomata de carreira, Edmundo Penna Barbosa da Silva (1917-2012) exerceu papel crucial nas negociações em favor do comércio externo brasileiro, sendo personalidade central do desenvolvimentismo da década de 1950. Foi articulador da diplomacia econômica na busca de capital estrangeiro, na elevação das tarifas aduaneiras, no aumento de laços com os vizinhos, bem como na reabertura das relações comerciais com a União Soviética. A obra tem o prefácio assinado pelo embaixador Marcilio Marques Moreira.
O livro está disponível para download gratuito na biblioteca digital da FUNAG.


sexta-feira, 17 de março de 2017

Macchiavelli: ecce homo, ou ecco l'uomo, o patriota, numa nova biografia




Be Like a Fox by Erica Benner review – was Machiavelli really not Machiavellian?


The Prince was meant ironically, and its author was really a nice guy, argues this compulsively readable study

The Guardian, Wednesday 15 March 2017 

One has grown used to reading the kind of revisionist history in which the Renaissance was a myth, the Reformation never happened and the great Irish famine was a spot of food shortage. Britain blundered into ruling India by a series of unfortunate oversights, and Attila the Hun was by no means as bad as he has been painted.

It was inevitable, then, that someone would come up with a book arguing that Machiavelli was not Machiavellian. In one sense, to be sure, we have known this all along. The renowned 16th-century diplomat and politician was a staunch republican and reformer who denounced corruption in high places and detested tyrants, which was not the best recipe for a quiet life in the Florence of the Medici family. As a humanist in the mould of Livy and Cicero, he urged his fellow citizens to question conventional wisdom and take nothing on authority. Rulers were not to be deceived by false glory, and high birth was by no means a guarantee of virtue. The public good took precedence over private interests and political sectarianism. You should treat your enemies justly, uphold the rule of law and show respect to others, if only to win them over to your side.
Yet Machiavelli was writing at a time when this ancient humanist heritage was running up against the more sceptical vision of the modern age. If he thought despots were despicable, it was not because he believed that people could be trusted to run their own lives. On the contrary, his drastically low estimate of their abilities is typical of political conservatism. Conservatives tend to believe that human beings are flawed, limited creatures who need to be strictly disciplined if anything useful is to be squeezed out of them. Liberals, by contrast, place their faith in the more generous instincts of humanity, which will flourish if only they are allowed free rein.
There is no doubt about which camp the author of The Prince belongs to. We are entering an era of realpolitik, suspicious of grand ideals and noble motives; and what is striking about Machiavelli’s work is that this disenchanted view of politics is now becoming part of political philosophy itself. Thinking should be based on how men and women are, not how one would wish them to be. Princes should govern virtuously if they can, but if they can achieve their ends only by fraud, treachery and cruelty, then so be it. If necessary they should break their oaths, cheat their allies and assassinate their rivals. It is a stunning deviation from the classical tradition.
Erica Benner’s lively, compulsively readable biography finds this kind of stuff a problem. She sees Machiavelli not only as non-Machiavellian but as a good-hearted, Gary Lineker-type guy. This is revisionism with a vengeance. Hardly a word of rebuke for this admirer of the bloodstained Cesare Borgia passes Benner’s lips. She adopts a now-fashionable biographical mode, in which it is obligatory to refer to your subject by his or her first name and invent gestures or snatches of dialogue that make them seem more human. The mildly patronising assumption that the reader will be bored by history unless it is brought alive in this pseudo-fictional way lurks behind many a recent piece of life-writing. As a result, criticism gives way to empathy.
Despite her remarkably charitable treatment of “Niccolo”, Benner does not overdo the fake dialogue and dreamed-up scenarios. There are a few clunky moments in this respect – “‘I think,’ [his mother] Bartolommea says in low tones so their children can’t hear, ‘that Nencia might be pregnant.’” On the whole, though, the book avoids too much fictional embroidery, not least because 16th-century Florentine history is dramatic enough in its own right. There are some fascinating accounts of conspiracies and intrigues, political trouble-making and diplomatic trouble-shooting, fanatical friars and military disasters.
So what of the Machiavelli who advocates force and fraud? Most of this inconvenient stuff is to be found in The Prince, and in Benner’s view is meant to be ironic. The book is dedicated to Lorenzo de’ Medici, and commends, tongue in cheek, just the kind of unsavoury conduct that is likely to bring him and his kind low. There are problems with this explanation. For one thing, the biography has been seen as a kind of job application by its author for a post as political counsellor to the Medici, and even Benner has to admit that the family could hardly be expected to look benevolently on a man who advised them to act as villains, however much they did so anyway. For another thing, some of the discreditable attitudes of The Prince can be found elsewhere in Machiavelli’s writing, not least the view that the end justifies the means.
Demonising Machiavelli does no justice to the complexity of his life and work, though idealising him isn’t the answer either. Even so, Be Like a Fox is a valuable demolition-and-salvage job, fluently written and unshowily erudite. One awaits Martin Luther: Servant of the Pope with a certain sense of fatality.
 Terry Eagleton’s Materialism is published by Yale. Be Like a Fox is published by Allen Lane. To order a copy for £17 (RRP £20) go to bookshop.theguardian.com or call 0330 333 6846. Free UK p&p over £10, online orders only. Phone orders min p&p of £1.99
Sobre o livro:

One needs to be a fox to recognize snares, and a lion to frighten the wolves Niccolo Machiavelli lived in a fiercely competitive world, one where brute wealth, brazen liars and ruthless self-promoters seemed to carry off all the prizes; where the wealthy elite grew richer at the expense of their fellow citizens. In times like these, many looked to crusading religion to solve their problems, or they turned to a new breed of leaders - super-rich dynasties like the Medici or military strongmen like Cesare Borgia; upstarts from outside the old ruling classes. In the republic of Florence, Machiavelli and his contemporaries faced a choice: should they capitulate to these new princes, or fight to save the city s democratic freedoms? Be Like the Fox follows Machiavelli s dramatic quest for political and human freedom through his own eyes. Masterfully interweaving his words with those of his friends and enemies, Erica Benner breathes life into his penetrating, comical, often surprising comments on events. Far from the cynical henchman people think he was, Machiavelli emerges as his era s staunchest champion of liberty, a profound ethical thinker who refused to compromise his ideals to fit corrupt times. But he did sometimes have to mask his true convictions, becoming a great artist of fox-like dissimulation: a master of disguise in dangerous times. 



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Stefan Zweig: o escritor que sonhava de um mundo sem fronteiras - BBC

Vou fazer, como Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag-MRE, um encontro, "Stefan Zweig e o Brasil", com a apresentação de seus livros, ideias, inspirações e sentimentos, com a participação do ex-chanceler Celso Lafer, que introduziu um dos livros publicados, "A Unidade Espiritual do Mundo" (uma conferência que Zweig fez no Rio de Janeiro, em 1936, quando de sua primeira passagem pelo Brasil), de Israel Beloch, o organizador da obra, e de Kristina Michahelles, tradutora de Zweig e diretora da Casa Stefan Zweig de Petrópolis. Será feito no Instituto Rio Branco, em Brasília, no dia 21 de março, às 15hs, com o patrocínio da Embaixada da Áustria. Sejam todos bem-vindos...
Eu me permitiria agregar, em relação à matéria abaixo, que a melhor biografia de Stefan Zweig, NO PLANO UNIVERSAL, é, sem dúvida alguma, a de Alberto Dines: Morte no Paraíso. Busquem nos sebos...
Paulo Roberto de Almeida

http://www.bbc.com/culture/story/20170221-zweig-the-writer-who-dreamed-of-a-world-without-borders?ocid=ww.social.link.email

 Zweig: the writer who dreamed of a world without borders
The exiled author killed himself in despair over Nazism. But before he did, he said Brazil had become what he hoped Europe could be, writes Benjamin Ramm.

Seventy-five years ago, in February 1942, Europe’s most popular author committed suicide in a bungalow in the Brazilian town of Petrópolis, 10,000 km (6,200 miles) from his birthplace in Vienna. In the year before his death, Stefan Zweig completed two contrasting studies – The World of Yesterday: Memoirs of a European, an elegy for a civilisation now consumed by war, and Brazil: Land of the Future, an optimistic portrait of a new world. The story of these two books, and of the refugee who wrote them, offers a guide to the trap of nationalism and the trauma of exile.
Austria-Hungry provided Zweig with a template of cultural plurality in the face of nationalism
Zweig was born in 1881 into a prosperous and cultured Jewish family in Vienna, capital of the multi-ethnic Habsburg empire, where Austrians, Hungarians, Slavs and Jews, among many others, co-existed. Their ruler was the polyglot Franz-Joseph I, who decreed at the start of his reign in 1867 that “All races of the empire have equal rights, and every race has an inviolable right to the preservation and use of its own nationality and language”.
Franz-Joseph was a stiff-necked autocrat, and his reign should not be romanticised, but it provided Zweig with a template of cultural plurality at a time when Europe was consuming itself in nationalism. His biographer George Prochnik notes that Zweig called for the foundation of an international university, with branches in every major European capital and a rotating exchange programme that would expose young people to other ethnicities and religions.
(Credit: Alamy)
Before settling in Brazil, Zweig lived for a while in Ossining, New York – where he was photographed in 1941 (Credit: Alamy)
Zweig began to write The World of Yesterday after leaving Austria in 1934, anticipating the Nazification of his homeland. He completed the first draft in New York in summer 1941, and posted the final version, typed by his second wife Lotte Altmann, to his publisher the day before their joint suicide. By then, the Habsburg empire had “vanished without trace”, he writes, and Vienna was “demoted to the status of a German provincial town”. Zweig became stateless: “So I belong nowhere now, I am a stranger or at the most a guest everywhere”.
(Credit: Emma Bridget Byrne)
Zweig settled in Petrópolis, just north of Rio de Janeiro – the town was named after Pedro II, the last emperor of Brazil (Credit: Emma Bridget Byrne)
Zweig’s memoir is illuminating in its portrait of the disorienting nature of exile. In the cities in which Zweig had been celebrated, his books were now burnt; the golden era of “security and prosperity and comfort” had given way to revolution, economic instability and nationalism, “the ultimate pestilence that has poisoned the flower of our European culture”. Time itself was ruptured: “all the bridges are broken between today, yesterday and the day before yesterday”.
Without a trace
One of Zweig’s greatest anxieties was the loss of his linguistic home. He expressed “a secret and tormenting shame” that Nazi ideology was “conceived and drafted in the German language”. Like the poet Paul Celan, who committed suicide in Paris, Zweig felt that the language of Schiller, Goethe and Rilke had been occupied by Nazism, and irredeemably deformed. After moving to England, he felt “imprisoned in a language, which I cannot use”.
Zweig writes of a time you could visit India and the US without a passport or visa
In The World of Yesterday, Zweig describes the ease of borderless travel prior to 1914 – of visiting India and the US without the need for a passport or visa – a situation inconceivable to the interwar generation. Now he, like all refugees, faced the humiliation of negotiating an unwieldy bureaucracy. Zweig described his intense “Bureauphobia” as immigration officials demanded ever more proof of identity, and he joked to a fellow refugee that his job description was “Formerly writer, now expert in visas”.
(Credit: Alamy)
Zweig was among Europe’s most popular writers during the 1920s and ‘30s and film-makers adapted his works – his novel Fear became Roberto Rossellini’s La Paura (Credit: Alamy)
As Hitler’s forces spread across Europe, Zweig moved from his lodging in Bath in the UK to Ossining, New York. There he was almost unknown to all but his fellow refugees, who lacked his connections and material comforts, and frequently appealed to his legendary generosity. Zweig never felt at home in the US – he regarded Americanisation as the second destruction of European culture, after World War One – and hoped to return to Brazil, which enchanted him during a lecture tour in 1936.
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Perhaps Zweig’s best-known novel was Letter from an Unknown Woman, which became a film by Max Ophüls in 1948, starring Joan Fontaine and Louis Jourdan (Credit: Alamy)
Brazil: Land of the Future is a lyrical celebration of a nation whose beauty and generosity profoundly impressed Zweig. He was surprised and humbled by the country, and admonished himself for his ignorance and “European arrogance”. Zweig outlines Brazil’s history, economy, culture and geography, but the real insight of the book comes from the perspective he gains about his own continent.
There is no colour-bar, no segregation, no arrogant classification – Zweig
Brazil becomes, in Zweig’s description, everything he would like Europe to be: sensual, intellectual, tranquil and averse to militarism and materialism. (He even claims that Brazilians lack the European passion for sport – a bizarre assertion, even in 1941). Brazil is free of Europe’s “race fanatics”, its “frenzied scenes and mad ecstasies of hero-worship”, its “foolish nationalism and imperialism”, its “suicidal fury”.
(Credit: Fox Searchlight)
Wes Anderson paid tribute to Zweig in the end credits of The Grand Budapest Hotel, a film which Anderson says the writer inspired (Credit: Fox Searchlight)
In its cadences and colours, Brazil was radically different from Zweig’s repressed image of Habsburg Vienna, but the beauty of its hybrid identity seemed to vindicate his outlook. In Brazil, the descendants of African, Portuguese, German, Italian, Syrian and Japanese immigrants mixed freely: “all these different races live in fullest harmony with each other”. Brazil teaches ‘civilised’ Europe how to be civilised: “Whereas our old world is more than ever ruled by the insane attempt to breed people racially pure, like race-horses and dogs, the Brazilian nation for centuries has been built upon the principle of a free and unsuppressed miscegenation... It is moving to see children of all colours – chocolate, milk, and coffee – come out of their schools arm-in-arm… There is no colour-bar, no segregation, no arrogant classification... for who here would boast of absolute racial purity?”
‘Paradise’
This paean proved hugely popular with the public, and thousands of Brazilians attended Zweig’s lectures, while his daily itinerary was printed in every major newspaper. But the book was lambasted by critics: Prochnik notes that, for three days in a row, Brazil’s leading newspaper published withering reviews, accusing Zweig of ignoring the country’s industrial and modernist innovations.
(Credit: Wikipedia/Eduardo P)
Zweig’s writing in praise of Brazil made him popular there – several locations are even named after him (Credit: Wikipedia/Eduardo P)
More controversial was Zweig’s fulsome praise for Brazil’s dictator, Getúlio Vargas. In 1937, Vargas had declared the Estado Novo (New State), inspired by authoritarian rule in Portugal and Italy. Vargas shut down Brazil’s congress and imprisoned left-wing intellectuals, some of whom assumed that Zweig had been paid for his praise, or at least offered a visa. Vargas’ government had curtailed Jewish immigration on racial grounds – but made an exception for Zweig, due to his fame.
This troubling episode reveals Zweig’s political naivety. A pacifist and conciliator by nature, Zweig feared inciting hostility at a crucial moment (Vargas finally sided with the Allies in January 1942). Seeking seclusion, Stefan and Lotte ensconced themselves in the elegant former German settlement of Petrópolis, 40 miles (64 km) outside Rio.
Zweig believed in a world beyond borders, but he became defined by them
“It is Paradise”, wrote Zweig of the lush Alpine landscape, which “seems to be translated from the Austrian into a tropical language”. Zweig sought to forget his old books and friendships, and seek “inner freedom”. But at Carnival in Rio, he learned of Nazi advances in the Middle East and Asia, and a sense of doom descended. Zweig felt he could never be free, or free from fear. “Do you honestly believe that the Nazis will not come here?” he wrote. “Nothing can stop them now.”
Zweig believed in a world beyond borders, but he became defined by them: “My inner crisis consists in that I am not able to identify myself with the me of my passport, the self of exile”. This haunted Zweig (“We are just ghosts – or memories”), and he wrote in his suicide note of being “exhausted by long years of homeless wandering”. Stefan and Lotte shared this resignation: “We have no present and no future… We decided, bound in love, not to leave each other”.
In Petrópolis, I visited Zweig’s bungalow, which now serves as an “active museum”, according to Tristan Strobl, who works there on national service as an Austrian Holocaust Memorial Servant. He showed me an interactive display of all the refugees that came to Brazil between 1933 and 1945, highlighting their contributions. “This period was such a loss for the intellectual life of Europe”, says Tristan, “but for Brazil and the other countries that received these exiles, it was hugely positive”. The darkest decade of the old world brought light to the new.