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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 1 de novembro de 2022

Depoimento de Paulo Roberto de Almeida a Luiz G. Maluf (Mundo em Análise)

Diplomacia econômica e política comercial: entrevista de Paulo Roberto de Almeida a Luiz G. Maluf

Uma conversa com Luiz G. Maluf sobre a diplomacia econômica do Brasil, sua política comercial e outros aspectos suscitados pelo entrevistador: Luiz G. Maluf, do Mundo em Análise.


A CONVERSA - DIPLOMATA PAULO ROBERTO DE ALMEIDA - PT 1 [Bio + Intersecção com a História Brasileira]

Desenho de um círculo

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Mundo em Análise

 

Como um apaixonado por biografias e trajetórias, tenho um prazer especial em poder acompanhar as histórias e os "causos" daqueles vultos que com certeza marcarão época. É um grande prazer poder ouvir do próprio sujeito, algo muito raro, e ainda interagir. 

 

PARTE I: Paulo Roberto de Almeida permite que em pouco menos de 50 minutos tenhamos a intersecção do que vivenciou em uma longa trajetória diplomático-acadêmica, perpassando o regime militar, o comunismo, as fronteiras políticas, a democracia brasileira e os meandros políticos do PT até desembocar na lastimável política externa do Gov. Bolsonaro.

LINKhttps://www.youtube.com/watch?v=QM7Iz8B0odQ

 

Na PARTE II, A MENTALIDADE PROTECIONISTA VS MULTILATERALISMO, Paulo Roberto de Almeida traz nesta pílula um pouco dos fatores importantes e concepções que marcam os posicionamentos estratégicos que regem a mentalidade tacanha do protecionismo x os avanços multilaterais da esfera político-econômica. AQUI teremos um aprofundamento da visão dos grandes fatos e atores que ditam nosso cotidiano, ainda que não tenhamos plena ciência disso. Nada melhor do que a prática para desmontar as ficções teóricas que rodeiam os acadêmicos.

LINKhttps://www.youtube.com/watch?v=8IHeYolx39U

 

PARTE III: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DIPLOMACIA BRASILEIRA E SUAS MENTALIDADES

Paulo Roberto de Almeida traz nesta pílula um pouco da evolução contemporânea da diplomacia brasileira e permeia a mentalidade / postura para alguns posicionamentos.

LINKhttps://www.youtube.com/watch?v=M38g3LiqNsE

 

PARTE IV: O QUE SABOTA O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO; digressões sobre nosso protecionismo renitente e nosso eterno mercantilismo.

LINKhttps://www.youtube.com/watch?v=xE7lCPslKY4

 

Seu site éhttp://pralmeida.org/

Sua biografia: Doutor em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles, 1984), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), Licenciado em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles, 1975). É diplomata de carreira, por concurso direto, desde 1977; serviu em diversos postos no exterior e exerceu funções na Secretaria de Estado, geralmente nas áreas de comércio, integração, finanças e investimentos. Foi professor de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília (1986-87) e, desde 2004, é professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). É editor adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional, colabora com várias iniciativas no campo das humanidades e ciências sociais, e participa de comitês editoriais de diversas publicações acadêmicas. De agosto de 2016 a março de 2019 foi Diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), do Ministério das Relações Exteriores. 

Seus Livros Publicados: Seleção de livros publicados: Apogeu e demolição da política externa brasileira (Curitiba: Appris, 2021) Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020); Um contrarianista na academia: ensaios céticos em torno da cultura universitária (Brasília: Diplomatizzando, 2020; 363 p.); A ordem econômica mundial e a América Latina: ensaios sobre dois séculos de história econômica (Brasília: Diplomatizzando, 2020, 308 p.); O Mercosul e o regionalismo latino-americano: ensaios selecionados, 1989-2020 (Edição Kindle, 453 p.) Marxismo e socialismo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea (Brasília: Edição de Autor, 2019); Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (Boa Vista: Editora da UFRR, 2019); Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Curitiba: Appris, 2019); A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018); O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017); Révolutions bourgeoises et modernisation capitaliste: démocratie et autoritarismo au Brésil (Sarrebruck: Éditions Universitaires Européennes, 2015); Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht: Essays über die Auslandsbeziehungen und Außenpolitik Brasiliens (Saarbrücken: Akademiker Verlag, 2015); Nunca Antes na Diplomacia…: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014); Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013); O Príncipe, revisitado: Maquiavel para os contemporâneos (Kindle edition: 2013); Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: GEN, 2012); Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011); O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado) (Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010); O estudo das relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE, 2006); Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo: Senac, 2001; 2005); Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2002); Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: LTr, 1998). Editou ou coordenou a publicação de diversos outros livros, e participou de várias dezenas de obras coletivas, com capítulos sobre os temas preferenciais de pesquisa. 

Blog : http://diplomatizzando.blogspot.com/

CV-Latteshttp://lattes.cnpq.br/9470963765065128

Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

Research Gatehttps://www.researchgate.net/profile/Paulo_Almeida2

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A Diplomacia do Liberalismo Econômico: As relações econômicas internacionais do Brasil durante a Presidência Dutra (1992) - Paulo Roberto de Almeida

 Um trabalho antigo, mas ainda válido, pois que "revisionista" em relação a certa literatura consagrada, e que configurou um dos meus primeiros trabalhos de historiografia econômica da diplomacia brasileira.

Eu tinha praticamente esquecido esse trabalho, um dos primeiros que fiz na historiografia da diplomacia econômica do Brasil - para participar de um projeto começa nos anos 1080 por Ricardo Seitenfus, no momento em que eu começava a pesquisar a ordem econômica internacional desde Bretton Woods – e preparei essa contestação fundamentada ao mito de que teríamos sido "alinhados incondicionais" dos EUA durante todo o pós-guerra. A diplomacia NUNCA foi entreguista, a despeito de que alguns diplomatas possam ter sido excessivamente pró-americanos (eram os únicos que poderiam nos fornecer o que precisávamos: combustíveis, máquinas, capitais). Os "entreguistas", mas no seu interesse "nacional", eram os comerciantes importadores e outros setores da economia vinculados estreitamente aos EUA, o que também é legítimo: tínhamos, entre os diplomatas, desde marxistas até liberais, mas todos tinham de seguir as instruções de governo (ou seja, dos lobbies cercando o presidente).

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30/12/2020 

223. “A Diplomacia do Liberalismo Econômico: As relações econômicas internacionais do Brasil durante a Presidência Dutra”, Montevidéu, 05 janeiro 1992, 61 p. Versão revista do trabalho n. 208, sobre a diplomacia econômica no imediato pós-guerra. Publicado em José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), Volume I: Crescimento, modernização e política externa (São Paulo: Cultura Editores associados, 1996), p. 173-210. Relação de Publicados n. 197. 


 

NOVA EDIÇÃO: “A diplomacia do liberalismo brasileiro”, in José Augusto Guilhon de Albuquerque, Ricardo Seitenfus, Sergio Henrique Nabuco de Castro (orgs.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), 2a. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006; vol. 1: Crescimento, Modernização e Política Externa, p. 211-262. Relação de Publicados n. 647.


Disponível na plataforma Academia.edu, link:

 https://www.academia.edu/44801763/223_A_Diplomacia_do_Liberalismo_Economico_as_relacoes_economicas_internacionais_do_Brasil_durante_a_presidencia_Dutra_1992_


A DIPLOMACIA DO LIBERALISMO ECONOMICO

AS RELAÇÕES ECONOMICAS INTERNACIONAIS

DO BRASIL DURANTE A PRESIDENCIA DUTRA

 

Paulo Roberto de Almeida

Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas.

Mestre em Economia Internacional pela Universidade de Antuérpia.

Professor de Sociologia Política na UnB e no Instituto Rio Branco.

 

 

Sumário:

 

Introdução

1. O Governo Dutra: um paradigma do modelo associado ?

 

I. O Mundo Restaurado...e Dividido 

2. Guerra e democracia: das Nações Unidas ao grande cisma

3. A reorganização econômica do mundo no pós-guerra

4. O desenvolvimento econômico sacrificado pela guerra fria

 

II. A Diplomacia do Liberalismo Econômico

5. Redemocratização política e ortodoxia econômica no Brasil

6. A "abertura econômica" do liberalismo

7. A diplomacia econômica durante o Governo Dutra

8. A grande ilusão americana

9. O mito da relação especial

 

Conclusões

10. Liberalismo ma non troppo

 

Fontes

Bibliografia

 

[Trabalho preparado para o projeto de pesquisa coletiva "Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990)", desenvolvido conjuntamente pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do MRE e o Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo. Publicado como “A Diplomacia do Liberalismo Econômico”, in José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), Volume I: Crescimento, modernização e política externa (São Paulo: Cultura Editores associados, 1996), pp. 173-210. Relação de Trabalhos nº 223. Relação de Publicados nº 197]


[Montevidéu, 2ª versão, revista: 27/09/1991;

3ª versão, final: 05/01/1992]


Ler a íntegra neste link:

https://www.academia.edu/44801763/223_A_Diplomacia_do_Liberalismo_Economico_as_relacoes_economicas_internacionais_do_Brasil_durante_a_presidencia_Dutra_1992_


terça-feira, 23 de junho de 2020

O Mercosul e o regionalismo latino-americano: ensaios selecionados, 1989-2020 - novo livro Paulo R. de Almeida

O Mercosul e o regionalismo latino-americano
ensaios selecionados, 1989-2020

Paulo Roberto de Almeida
Doutor em ciências sociais.
Mestre em economia internacional.
Diplomata.



Brasília
Diplomatizzando
2020

Sumário: 

Prefácio – O Mercosul e a integração latino-americana
Prólogo – A América Latina: entre a estagnação e a integração (1989)

Primeira Parte
O Mercosul em sua fase de crescimento
1. Mercosul: o salto para o futuro (1991)
2. Mercosul e Comunidade Econômica Europeia (1992) 
3. Dois anos de processo negociador no Mercosul (1993) 
4. O Brasil e o Mercosul em face do Nafta (1994) 
5. Mercosul e União Europeia: vidas paralelas? (1994) 
6. O futuro do Mercosul: dilemas e opções (1998) 
7. Coordenação de políticas macroeconômicas e união monetária (1999)
8. O Brasil e os blocos regionais: soberania e interdependência (2001)
9. Trajetória do Mercosul em sua primeira década, 1991-2001 (2001) 

Segunda Parte
Crises e desafios do Mercosul
10. O Mercosul em crise: que fazer? (2003) 
11. Relações do Brasil com a América Latina desde o século XIX (2004)
12. Mercosul: sete teses na linha do bom senso (2005) 
13. Problemas da integração na América do Sul (2006) 
14. Mercosul e América do Sul na visão estratégica brasileira (2007) 
15. O regionalismo latino-americano vis-à-vis o modelo europeu (2009) 
16. Seria o Mercosul reversível? (2011) 
17. Desenvolvimento histórico do Mercosul aos seus 20 anos (2011)
18. Perspectivas do Mercosul ao início de sua terceira década (2012) 
19. Os acordos extra-regionais do Mercosul (2012) 

Terceira Parte
Estagnação do processo integracionista
20. A economia política da integração regional latino-americana (2012)
21. O Mercosul aos 22 anos: algo a comemorar? (2013)
22. O megabloco do Pacífico e o Brasil (2015) 
23. O Mercosul aos 25 anos: minibiografia não autorizada (2016) 
24. Regional integration in Latin America: an historical essay (2018)
25. O Brasil isolado na América do Sul (2019)

Epílogo – Conflitos Brasil-Argentina, paralisia do Mercosul (2020)

Apêndices:
Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor 

Prefácio – O Mercosul e a integração latino-americana


Uma das temáticas mais frequentes em meus escritos, desde que dei início a uma coleta organizada de meus trabalhos de natureza acadêmica, e já em atividade profissional na carreira diplomática, foi a da integração latino-americana, em especial em conexão com o Mercosul, como reflexo de um precoce interesse intelectual pelo assunto, mas sobretudo como resultado do seguimento dessas questões no contexto da política externa regional do Brasil. Numa criteriosa seleção dos trabalhos enfeixados sobre os conceitos de “integração” e de “Mercosul”, detectei a existência de duas centenas de escritos tratando desses assuntos, sob os mais diferentes aspectos e formatos: ensaios históricos, artigos conjunturais, entrevistas e respostas a questionários submetidos por jornalistas e pesquisadores, resenhas voluntárias, capítulos em colaboração ou prefácios (a convite) a livros sobre esses temas, ademais de um breve papel como organizador de documentação sobre os primórdios do Mercosul e editor de periódico sobre o bloco em seus primeiros momentos, do nascimento a uma fugaz consolidação. 
De todos esses trabalhos, excluídos os livros sobre o assunto, selecionei pouco mais de um décimo do total para compor este volume, aqueles que me pareceram mais representativos de meu pensamento, de minhas pesquisas, ou dotados de certa resiliência temporal, para escapar ao julgamento implacável da conjuntura. Não entraram aqui, por exemplo, as muitas notas introdutórias que fiz ao Boletim de Integração Latino-Americana, que criei e dirigi, enquanto estive trabalhando sob a liderança do embaixador Rubens Antônio Barbosa nos primeiros anos de existência do bloco. Exclui desta coletânea, por natural, os diversos trabalhos que elaborei em seu nome, por fazerem parte de minhas obrigações funcionais naquele contexto, assim como também deixei de fora prefácios e resenhas a livros desse universo de estudo e de desempenho institucional. 
Muitos desses trabalhos se beneficiaram de uma prolífica, embora curta, estada em Montevidéu, entre 1990 e 1992, durante a qual eu dei início ao estudo dos problemas da integração econômica regional, inclusive no contexto de uma abordagem institucional comparada (no caso com a então Comunidade Econômica Europeia, que pouco depois se transformaria em União). O período passado em Montevidéu, país vizinho ao Brasil, permitiu-me, oportunamente, algumas rápidas incursões ao Brasil, para seminários ou mesmo para pesquisa, sempre resultando em trabalhos sobre as relações econômicas internacionais do Brasil, dos quais resultaria, algum tempo mais tarde, um livro de historiografia sobre a Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (já na terceira edição: 2001, 2004 e 2017). Mas, meu primeiro livro, hoje de livre acesso, foi exatamente sobre a grande iniciativa estratégica da diplomacia regional do Brasil: O Mercosul no contexto regional e internacional (1993). A ele se seguiram um segundo, já na fase de consolidação do bloco – Mercosul: fundamentos e perspectivas (1998) – e um terceiro, dirigido ao público externo: Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud (2000). Entre eles, e mesmo depois, elaborei incontáveis artigos conjunturais e vários outros trabalhos mais permanentes, alguns dos quais figuram neste volume. 
Do ponto de vista diplomático, a curta estada em Montevidéu – trabalhando como representante alterno do Brasil junto à Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), sob a liderança e a convite do embaixador Rubens Barbosa – ofereceu-me uma excelente oportunidade de afirmação profissional, na medida em que eu deixava um foro negociador de caráter relativamente assimétrico, Genebra (no contexto da recém iniciada Rodada Uruguai de negociações comerciais multilaterais, então no âmbito do GATT, entre 1987 e 1990), para um outro foro, a Aladi, no qual a legítima expressão de nossos interesses se inseria num contexto de igualdade soberana entre as nações, senão de relativa preeminência do Brasil, em vista de seu peso econômico e comercial nas relações continentais. Com efeito, nas diversas instâncias negociadoras de Genebra, o Brasil, apesar de bastante importante (sobretudo no quadro das organizações internacionais de caráter econômico), era, na maior parte dos casos, apenas “mais um país em desenvolvimento” no meio de dezenas de outros participando do que era, até então, um “diálogo Norte-Sul”. Na verdade, assistia-se, na maior parte dos casos, a um diálogo de surdos (a caracterização é válida sobretudo para as demandas em favor de “transferência de tecnologia” no âmbito da Unctad ou da Ompi, por exemplo). Em Montevidéu, ao contrário, o Brasil aparecia quase como uma “grande potência”, em todo caso como um país razoavelmente avançado, senão já “desenvolvido”, num continente ainda marcado por profundos desequilíbrios sociais e regionais, desigualmente industrializado e historicamente especializado em algumas poucas commodities de exportação.
Grande parte dos trabalhos então elaborados – alguns poucos compilados neste volume – se referiam, assim, ao estudo e à exposição dos problemas da integração regional, ainda num contexto multilateral muito difuso, o da Aladi, pois que elaborados à margem do processo de integração bilateral Brasil-Argentina (que era dirigido diretamente das capitais), ou anteriormente à constituição do Mercosul, processo também negociado exclusivamente nas capitais, sem a “interferência” ou a participação da delegação junto à Aladi. Muitos desses trabalhos foram também elaborados para terceiros – até para ministros ou presidentes – no quadro dos compromissos funcionais ou atendendo a solicitações diversas para participação em seminários e colóquios. Praticamente nenhum deles chegou a ser divulgado em meu próprio nome, embora eu tenha resgatado para este volume um artigo que fiz para ser publicado pelo presidente Fernando Collor, por ocasião da primeira reunião de cúpula do bloco, após a aprovação e rápida ratificação do Tratado de Assunção, ao final de 1991. Alguns outros, deixados em “banho-maria”, me serviriam mais tarde, já em Brasília, a partir do final de 1992, no intenso trabalho que passei a desenvolver como organizador e divulgador de informações sobre os processos de integração regional, em especial sobre o Mercosul.
O novo e curto período de estada em Brasília (apenas um ano e meio, de 1992 a 1993), poderia ser praticamente caracterizado como “monotemático”, tendo em vista o monopólio que sobre ele exerceram os assuntos do Mercosul e os temas da integração regional de modo geral, não fosse minha tradicional vocação dispersiva nas lides intelectuais e um certo espírito touche à tout, que me levaram, a despeito dessas intensas obrigações funcionais centradas sobre o Mercosul, a continuar ocupando-me de questões tipicamente acadêmicas, geralmente em pesquisas históricas, das quais resultariam aquele primeiro volume sobre a diplomacia econômica do Brasil no século XX (embora contendo um longo capítulo final sobre o período republicano). Ao assumir em Brasília uma coordenadoria executiva – primeiro no Departamento de Integração, depois no que veio a constituir-se a Subsecretaria-Geral de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior – passei a ocupar-me de um sistema de informações institucionais e econômicas sobre os diversos processos de integração regional, montado sob minha direta supervisão e aberto o mais possível às demandas das associações empresariais, da comunidade acadêmica e estudantil, enfim da sociedade civil, num sentido largo. 
Esse sistema baseou-se essencialmente, mas não exclusivamente, num periódico de informações e num banco de dados em computador. A publicação foi montada muito rapidamente: em menos de dois meses de Brasília, eu compunha, editava e distribuía o primeiro exemplar do Boletim de Integração Latino-Americana, cujas dimensões e tiragem cresceram assustadoramente nos meses e números seguintes. O Editor, eu, também servia de redator principal, corretor de provas, além de habitual resenhista de publicações nem sempre restritas aos temas de sua área. No terreno informática, os progressos também foram rápidos, ainda que não de todo satisfatórios: impaciente com a lentidão da burocracia do Itamaraty em colocar à disposição dos interessados um banco de dados eletrônico, funcionando em sistema de rede aberta, tratei eu mesmo de instalar, com a ajuda de um programador, um BBS – um Bulletin Board System, como na época se chamavam essas geringonças –, um foro de informações sobre o Mercosul, aberto a consultas externas, sem qualquer discriminação. O único inconveniente para os usuários era a necessidade de uma chamada telefônica a Brasília, uma vez que não foi possível conseguir as necessárias “portas externas” para conectá-lo às redes acadêmicas. Nessa época, estou falando do início dos anos 1990, a cultura informática do Itamaraty podia ser cronologicamente situada no Jurássico, talvez até no pré-Cambriano.
Outro aspecto de minhas atividades “mercosulianas” era, de um lado, a preparação de textos (discursos, artigos, papers de informação) para os superiores hierárquicos, inclusive os chanceleres, e de outro lado, a participação em seminários ou mesas redondas, atividades que desempenhava com grande prazer intelectual e uma certa heterodoxia em relação aos tradicionais parâmetros da linguagem oficial ou da discrição diplomática. Devo confessar que, mesmo contando com quase três lustros na carreira, nunca resignei-me à continência verbal ou à timidez formal da maior parte de meus colegas de profissão Como jamais fui adepto da chamada langue de bois, sempre pensei que todos os temas, mesmo os mais sujeitos a discussão e controvérsia – como era o da integração com os países vizinhos –, deveriam merecer uma discussão sem preconceitos políticos ou econômicos. Esta foi a orientação que prevaleceu na linha editorial do Boletim – não sem algumas dificuldades eventuais – ou nas palestras que pronunciava em todo o Brasil ou no exterior. Creio, modestamente, ter contribuído em algo para certa abertura do Itamaraty em relação à sociedade à sua volta.
A intensa atividade profissional como “editor do Mercosul” impediu-me de assumir compromissos acadêmicos regulares, na Universidade de Brasília ou no Instituto Rio Branco (como tinha sido o caso na estada anterior, entre 1986 e 1987), com exceção da participação em seminários específicos ou da redação de artigos para revistas especializadas. Muitos outros trabalhos produzidos nessa segunda estada, também curta, em Brasília, se referem, mais propriamente, a temas de história diplomática ou de economia internacional e, portanto, não compilados neste volume, que é dedicado exclusivamente ao Mercosul e à integração regional. Numa outra vertente de meus interesses pessoais, a maior parte das resenhas de livros reportou-se evidentemente ao Mercosul, mas várias outras seguiram a curiosidade intelectual do momento. As resenhas de livros, em todas as áreas já foram objeto de outros volumes em edição de autor, livremente disponíveis em minhas páginas na internet.
Permito-me, por fim, relatar também, não sem uma ponta de orgulho, o começo de uma bela aventura: o salvamento, a recuperação e a continuidade de um empreendimento exemplar de nossa história diplomática e editorial, a Revista Brasileira de Política Internacional, que tinha ficado órfã, no final de 1992, com a morte de seu editor de longa data, Cleantho de Paiva Leite: fui o principal animador de sua vinda a Brasília, junto com colegas diplomatas e professores da UnB, tendo sido igualmente, em período ulterior, presidente do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais. Mas, isso já foi motivo para um outro volume de trabalhos, igualmente disponível livremente em minhas bases de dados. 
No momento, pretendo apenas coletar e tornar públicos alguns trabalhos sobre uma das grandes prioridades do Brasil em épocas pregressas, mas que permaneceram numa relativa obscuridade desde seu período de maior relevância, nos distantes anos 1990. A reconhecida excelência profissional da diplomacia brasileira resgatará, em futura ocasião oportuna, a aventura do Mercosul e a da integração regional, no momento relegadas a um injusto limbo político, numa conjuntura política em que se afirmam, abertamente, a oposição ao multilateralismo e uma adesão a tresloucadas seitas conspiratórias que pregam o combate ao “globalismo”, um monstro metafísico que essa franja lunática nunca soube explicar em que consiste. 
As próximas etapas de meu trabalho intelectual, e prático, serão dedicadas a esse trabalho de resgate, que aliás já começou. Meus livros mais recentes, se ouso terminar por uma nota de divulgação em causa própria, tiveram como respectivos títulos: Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019, em duas edições, livremente disponíveis a partir do blog Diplomatizzando), Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea (2019) e O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira (2020), os dois últimos em formato Kindle. Continuarei no meu quilombo de resistência intelectual...


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de junho de 2020


quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Diplomacia economica - revista do IPRI (Portugal)

Uma excelente revista portuguesa, um excelente dossiê sobre diplomacia econômica:

IPRI, n 61 (IPRI, Portugal)
http://www.ipri.pt/index.php/pt/publicacoes/revista-r-i/arquivo-de-revista-r-i/2896-relacoes-internacionais-61

A diplomacia económica e os desafios da globalização no passado (séculos XIX e XX)
Brexit: referendo de 2016António Goucha Soares
Recensões
Migrações internacionais e insegurança humana no Mediterrâneo: Os anos recentes da Europa, João EstevensSusana Ferreira, Human Security and Migration in Europe’s Southern Borders. Cham, Palgrave Macmillan, 2018, 211 páginas
A memória enquanto instrumento de combate ao terrorismo, Diogo NoivoGaizka Fernández Soldevilla e Florencio Domínguez Iribarren (Coord.), Pardines: cuando eta empezó a matar. Madrid, Tecnos, 2018, 381 páginas

A revista Relações Internacionais está indexada na CSA PAIS, IBSS, IPSA, LATINDEX, SciELO Citation Index da Thomson Reuters e EBSCO.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Diplomacia economica brasileira contemporanea: aula no IRBr - Paulo Roberto de Almeida

Uma aula no Instituto Rio Branco, a convite do Prof. Ivan Tiago de Oliveira, em 6/12/2017, com base em capítulo final de meu livro:

Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império. 3ra. edição, revista; apresentação embaixador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras; Brasília: Funag, 2017, 2 volumes; Coleção História Diplomática; ISBN: 978-85-7631-675-6 (obra completa; 964 p.); Volume I, 516 p.; ISBN: 978-85-7631-668-8 (link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=907) e Volume II, 464 p.; ISBN: 978-85-7631-669-5 (link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=908). Relação de Originais n. 1351. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/formacao-da-diplomacia-economica-no_9.html) e disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1648798118516965).




Diplomacia econômica brasileira contemporânea: aula no IRBr
  
Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: aula no IRBr, 6/12/2017, a convite do Prof. Ivan Tiago de Oliveira]

Introdução: um saudável retorno, depois de uma longa ausência
Estou de retorno ao Instituto Rio Branco depois de mais ou menos 20 anos, ou seja, um pouco menos do que a idade de alguns de vocês. Minhas últimas aparições ocorreram na segunda metade dos anos 1990, quando eu chefiava a Divisão de Política Financeira e Desenvolvimento, temas que estão no centro de minhas reflexões intelectuais e de minha produção bibliográfica desde longos anos. Minhas últimas aparições ocorreram no final dos anos 1990, quando eu chefiava a Divisão de Política Financeira e Desenvolvimento, temas que estão no centro de minhas reflexões intelectuais e de minha produção bibliográfica desde longos anos. No início de 2003, recebi um convite do então Diretor do IRBr para dirigir o mestrado em diplomacia que então se iniciava, simultaneamente, aliás, com o começo do governo lulopetista, que resolveu vetar minha nomeação, não apenas para esse cargo, mas para qualquer outro na Secretaria de Estado pelos treze anos seguintes. Tratou-se de uma longa travessia do deserto, durante todo o período do lulopetismo diplomático e sob o lulopetismo econômico, as duas coisas mais nefastas que já foram infligidas ao Brasil durante toda a sua história. Tal afirmação pode parecer exagerada, dada a aura de prestígio de que podem gozar tanto a diplomacia companheira, quando seus alegados programas de distribuição de renda e de inclusão social, mas pretendo sustentar, e provar, por escrito, cada um de meus argumentos.
Minha exposição está centrada na era contemporânea, e ainda vai ser escrita, dentro de alguns anos, depois que eu terminar de escrever, e publicar, o segundo volume de minha trilogia em torno da formação da diplomacia econômica no Brasil, cujo primeiro volume, dedicado ao período monárquico, foi publicado em 3ra. edição pela Funag e encontra-se disponível em sua Biblioteca Digital (aqui: Volume I, link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=907; e Volume II, link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=908).
O primeiro volume da trilogia vai do período colonial, quando ainda não existia o Brasil enquanto nação independente, e mais especificamente a partir de 1808, quando passamos a ter relações exteriores a partir do Brasil, até 1889, ou seja, o final do Império. Mas esse volume também tem, ao seu final, um longo capítulo republicano, trazendo nossas relações econômicas internacionais até o final do século XX, ou até um pouco além, pois nesta 3ra edição estendi a informação factual até cobrir nosso ingresso oficial no Clube de Paris, como país credor, em outubro de 2016, bem como nossa demanda de adesão plena à OCDE, em junho de 2017.
O segundo volume está me dando certo trabalho, quanto à informação estatística serial, dadas as enormes rupturas econômicas ocorridas desde o deslanchar da Grande Guerra, em 1914, no decorrer das crises do entre-guerras, sobretudo a partir de 1931, mais até do que em 1929, e depois até o final da Segunda Guerra Mundial, ou até praticamente 1948, quando são instituídas as organizações primaciais da ordem econômica mundial contemporânea, as duas irmãs de Bretton Woods e o Gatt, tornado órfão com o fracasso da OIC, a primeira organização dedicada ao comércio multilateral, criada em Havana, ao final da terceira grande conferência econômica do pós-guerra. O terceiro volume trará a história de Bretton Woods aos nossos dias, e é sobre ele que eu deveria falar antecipadamente a vocês, mas o faço apenas com base em notas sintéticas, sem um grande suporte factual ou documental.
 (...) 
A ordem econômica internacional do pós-guerra e a economia brasileira
            (...)
O multilateralismo econômico do pós-guerra e o Brasil
            (...)
18 páginas


sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Diplomacia economica do Brasil, em debate no IHGB-RJ, 11/10/2017


 
Lançamento do Livro

“Edmundo P. Barbosa da Silva
e a Construção da Diplomacia Econômica Brasileira”

Auditório do IHGB, Instituto Histórico Geográfico Brasileiro
Av. Augusto Severo, nº 8, 9º/13º andar – Glória, Rio de Janeiro - RJ
11 de outubro de 2017

Programa
15:00-15:20
Abertura

§  Professor Arno Wehling, Presidente do IHGB
§  Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, Presidente da FUNAG
15:20-15:40
Palestra

§  Rogério de Souza Farias, autor do livro
15:40-15:50

15:50-17:10
Intervalo

Debate

§  Embaixador Marcílio Marques Moreira, prefaciador da obra
§  Embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa
§  Ministro Paulo Roberto de Almeida, Diretor do IPRI
§  Rogério de Souza Farias
§  Perguntas da plateia