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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 29 de julho de 2021

O globalismo dos tecnocratas que não é o globalismo dos imbecis: reflexões sobre matéria do FMI - Paulo Roberto de Almeida

Tecnocratas internacionais são acusados pelos malucos paranóicos das teorias conspiratórias do antiglobalismo de serem os principais agentes – "burocratas internacionais não eleitos pelo povo", dizia o Robespirralho, o aspone diminuído do inepto presidente que temos –, junto com milionários de esquerda como o George Soros, mais a "esquerdalha mundial", de um suposto projeto mundial para retirar soberania aos Estados nacionais. Esse é o globalismo dos imbecis, aqueles que pretendem matar as instituições multilaterais e deixar o poder com os Estados nacionais, ou seja, com as super potências. 

Reproduzo abaixo um artigo no blog do FMI sobre moedas digitais, que vai justamente no sentido contrário ao pretendido pelos antiglobalistas, mas também ajuda a entender a distinção que eu sempre faço entre globalização micro (a verdadeira) e a globalização macro (que é, na verdade, uma antiglobalização).

A globalização micro é essa feita por indivíduos e empresas que trabalham de forma livre e quase desimpedida, criando produtos e serviços, e depois os lançam nos mercados mundiais, para uso e usufruto de quem queira se servir de inovações, entre elas as moedas digitais, por exemplo, que ESCAPAM do controle dos governos. Temendo a perda de senhoriagem, os Estados nacionais – EUA, China, etc. – querem criar os seus próprios bitcoins e continuar com o monopólio das moedas oficiais, as únicas com poder liberatório e de circulação.

A globalização macro é essa feita pelos Estados e organismos internacionais, que sempre tentam CONTROLAR a livre expressão de indivíduos e empresas que fazem concorrência ao monopólio estatal com produtos e serviços que não DEVEM NADA aos governos, e isso é insuportável aos olhos de burocratas nacionais e internacionais. A globalização macro tenta REGULAR as transações, de qualquer tipos, e cobrar impostos em cima desses fluxos livres que se estabelecem entre indivíduos e empresas, POR CIMA das fronteiras. 

Os imbecis do antiglobalismo não percebem que os burocratas internacionais atuam justamente com o mesmo objetivo dos Estados nacionais: controlar atividades, fluxos, pagamentos, inovação, o que me parece impossível, mas eles atrapalham um pouco o que é feito na globalização micro, que é o mesmo que LIBERDADE!

Sou pela liberdade, e portanto sou pelo globalização, pelo globalismo, pela TOTAL ausência de controles estatais, que não sejam aqueles que se destinam a garantir, a segurança, a saúde, a vida, a propriedade e a LIBERDADE dos indivíduos, que para mim sempre passam ANTES dos Estados. Por isso, não sou patriota, não sou nacionalista, não sou estatizante; apenas reconheço que Estados existem e vão continuar existindo enquanto o mundo for desigual, assimétrico e violento. Vai demorar para que a realidade mude no mundo, afinal de contas só temos pouco mais de 10 mil anos de civilização, ou seja, vida organizada em comunidades pacíficas. Mas existem ainda violência dispersa no mundo, não apenas derivada das assimetrias econômicas, mas também de instintos primitivos e até nobres: poder, ódio, amor, desejos, interesses e paixões. 

Sendo o mundo como é, os Estados estão aí para garantir um pouco de segurança entre os indivíduos e no interior das jurisdições estatais, que é a forma que temos, nos últimos 4 ou 5 mil anos, para a constituição e manutenção de comunidades estáveis, com todas as diferenças que ainda existem entre "tribos" humanas. Em alguns milhares de anos, quando toda a humanidade estiver totalmente mesclada, misturada e supostamente unida, tudo isso pode mudar, mas por enquanto é isso.

Por isso, sou globalófilo e universal: desejo a mistura mais ampla possível entre povos e nações, e isso só pode ser alcançado pela globalização micro, aquela que se desenvolve naturalmente, e mais rapidamente, saída do espírito empreendedor de indivíduos e empresas, não a macro, regulada por burocratas estatais e internacionais, que só atrasa a primeira.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 29/07/2021


Making The Digital Money Revolution Work for All

By Tobias Adrian and Tommaso Mancini-Griffoli

IMF blog: July 29, 2021

History moves in uneven steps. Just as the telegraph erased time and distance in the 19th century, today’s innovations in digital money may bring significant changes in the way we lead our lives. The shift to electronic payments and social interactions brought on by the pandemic may cause similarly rapid and widespread transformations.

But we must look beyond the dazzle of technology and the alluring image of futuristic payment services. At the IMF, we must identify and help countries solve the deeper policy tradeoffs and challenges that are arising.

The rapid pace of change is a call to action—for countries to guide, and not be guided by, today’s transformations. It is also important for the IMF to engage early with countries, and usher in reforms that will contribute to the stability of the international monetary system, and foster solutions that work for all countries. There is a window of opportunity to maintain control over monetary and financial conditions, and to enhance market integration, financial inclusion, economic efficiency, productivity, and financial integrity. But there are also risks of stepping back on each of these fronts. We must enact the right policies today to reap the gains tomorrow.

We emphasize this in two papers published today, one on the new policy challenges, and one on an operational strategy for the Fund to engage with countries on the digital money revolution.

Digital money developing rapidly

Digital forms of money are diverse and evolving swiftly. They include publicly issued central bank digital currencies (CBDC)—think of these as digital cash, though not necessarily offering the same anonymity to avoid illicit transfers. Private initiatives are also proliferating, such as eMoney (like Kenya’s mobile money transfer service MPesa) and stablecoins (digital tokens backed by external assets, like USD-coin and the proposed Diem). These are digital representations of value that can be transferred at the click of a button, in some cases across national borders, as simply as sending an email. The stability of these means of payment, when measured in national currencies, varies significantly. The least stable of the lot, which hardly qualify as money, are cryptoassets (such as Bitcoin) that are unbacked and subject to the whims of market forces.

These innovations are already a reality, and growing rapidly. According to IMF data, CBDCs are being closely analyzed, piloted, or likely to be issued in at least 110 countries. Examples range from the Bahamas’ Sand Dollar already in use, to the People’s Bank of China’s eCNY pilot project, to countries like the United States where the benefits and drawbacks of a digital dollar are still being studied. Stablecoins, still esoteric two years ago, tripled in value in the last six months (from $25 billion to $75 billion), while cryptoassets doubled (from $740 billion to $1.4 trillion). And adoption is global. eMoney accounts are not only growing much more rapidly in low- and middle-income countries than in the rich ones, but are now also more numerous. Africa, in particular, is leading the way.

Opportunities are immense. A local artisan can receive payments more cheaply, potentially from foreign customers, in an instant. A large financial conglomerate can settle asset purchases much more efficiently. Friends can split bills without carrying cash. People without bank accounts can save securely and build transaction histories to obtain micro-loans. Money can be programmed to serve only certain purposes, and be accessed seamlessly from financial and social media applications. Governments can tax and redistribute revenues more efficiently and transparently.

Policy implications—opportunities and challenges ahead

We may well reap these benefits, but we must be aware of risks, and—importantly—of the bigger policy implications and tradeoffs. The challenges to policymakers are stark, complex, and widespread.

The most far-reaching implications are to the stability of the international monetary system. Digital money must be designed, regulated, and provided so that governments maintain control over monetary policy to stabilize prices, and over capital flows to stabilize exchange rates. These policies require expert judgment and discretion and must be taken in the interest of the public. Payment systems must grow increasingly integrated among countries, not fragmented in regional blocs. And it is essential to avoid a digital divide between those who gain from digital money services and those left behind. Moreover, the stability and availability of cross-border payments can support international trade and investment.

There are also implications for domestic economic and financial stability. The public and private sectors should continue to work together to provide money to end-users, while ensuring stability and security without stifling innovation. Banks could come under pressure as specialized payment companies vie for customers and their deposits, but credit provision must be sustained even during the transition. And fair competition must be upheld—not an easy task given the large technology companies entering the world of payments. Moreover, governments should leverage digital money to facilitate the transfer of welfare benefits or the payment of taxes. Scope even exists to bolster financial inclusion by decreasing costs to access payment and savings services.

Finally, new forms of money must remain trustworthy. They must protect consumers’ wealth, be safe and anchored in sound legal frameworks, and avoid illicit transactions.

The challenges are significant, and so is the potential reward. But policy action must begin immediately. This is the time to establish a common vision for the future of the international monetary system, to strengthen international collaboration, and to enact policies and establish legal and regulatory frameworks that will drive innovation for the benefit of all countries while mitigating risks.

Choosing the right path now is critical. Regulation, market structure, product features, and the role of the public sector can quickly ossify around less desirable outcomes. Backtracking later can be very costly.

The IMF has a mandate to help ensure that widespread adoption of digital money fosters domestic economic and financial stability, and the stability of the international monetary system. We plan to engage regularly with country authorities to evaluate country-specific policies, provide capacity development to avoid a digital divide, and develop analytical foundations to identify policy options and tradeoffs.

To do so, the IMF must deepen its expertise, widen its skillset, ramp up resources, and leverage its near universal membership. Still, we cannot do this alone. The challenges are so complex and multifaceted, that collaborating closely with other stakeholders is necessary. The World Bank, the Bank for International Settlements along with its Innovation Hub, international working groups and standard-setting bodies, as well as national authorities, are all complementary partners, each with its specific mandate and skillset. By joining hands, we will help households and firms leverage the benefits and avoid the pitfalls of the digital money revolution.

Tobias Adrian is the Financial Counsellor and Director of the IMF’s Monetary and Capital Markets Department.

Tommaso Mancini-Griffoli is a Division Chief in the IMF's Monetary and Capital Markets Department.



quinta-feira, 18 de março de 2021

Shanghai Express: um blog mantido por Paulo Roberto de Almeida, entre 2009 e 2012, sobre a NOVA CHINA!

Um blog para ser relido, inteiramente: 

Shanghai Express

 Em 2009, preparando-me para partir para a China, para trabalhar no Pavilhão do Brasil durante a Shanghai Universal Exhibition (May-October 2010), em missão transitória junto ao Consulado do Brasil em Xangai, eu comecei um blog, chamado Shanghai Express, para transcrever todas as minhas leituras, estudos, pesquisas, leituras sobre a China, que funcionou de 2009 a 2012 (depois encerrei).

Os interessados no blog podem consultá-lo neste link: 

http://shangaiexpress.blogspot.com/

Ele tinha esta apresentação: This blog is devoted to the emerging region of Asia Pacific, in special China and the surrounding countries. Shanghai Express was the title of a novel (1935) by the Chinese writer Zhang Henshui (1895-1967), settled in a train, during the "roaring twenties", symbolizing modernity, rapidity and progress.

Esta foi a primeira postagem, logo seguida, abaixo, pela última, que indico apenas pelo seu link (URL) pela extensão do arquivo. Depois interrompi, uma vez que já estava em licença prêmio do Itamaraty, a que recorri para dar aulas em Paris, no Institut de Hautes Études de l'Amérique Latina, na Sorbonne 3, em Paris, em 2012, já que eu continuava sem cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), durante o lulopetismo diplomático no Itamaraty.

http://shangaiexpress.blogspot.com/2012/12/the-dragon-dance-us-china-security.html

No total, estas foram as 560 postagens efetuadas nos quatro anos de leituras e notas, a maioria de leituras minhas, algumas de comentários pessoais sobre as matérias, em grande medida concentradas enquanto estivemos na China, eu e Carmen Lícia Palazzo, durante a Shanghai Universal Exibition:

BLOG ARCHIVE

Um dia vou escrever sobre essa experiência, absolutamente essencial em nossa experiência conjunta sobre uma experiência excepcional na China.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18 de março de 2021

THURSDAY, JULY 30, 2009

01) Shangai Express: um novo blog para acompanhar o trepidante Oriente, em especial a China

Dou início, nesta quinta-feira, dia 30 de julho de 2009, a um novo blog, chamado Shanghai Express, para acompanhar e debater temas gerais, geralmente de caráter econômico e internacional, relativos ao Oriente emergente, em especial assuntos da China e adjacências.
Acredito que a China, de modo específico, e a Ásia Pacífico, de maneira geral, são suficientemente importantes no plano regional e internacional, para justificar a criação de mais um blog, no meu conjunto de blogs, através do qual pretendo postar, informar, interagir e discutir os mais variados temas relativos a esse mundo emergente, extremamente dinâmico, que promete retomar sua antiga posição relevante no contexto da economia mundial e das correntes mais dinâmicas de intercâmbios de todos os tipos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30 de julho de 2009

No total, foram  560 postagens, extremamente interessantes, do meu ponto de vista, sobre uma experiência única de conhecimento direto sobre a realidade chinesa.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18 de março de 2021

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A última mensagem do ano do FMI é uma homenagem à globalização e ao globalismo; Leu EA?

 

IMF Blog Logo
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Dear Colleague,

We just published a new blog—please find the full text below. 


 

Reclaiming Our World Post-2020

By Atish Rex Ghosh

As 2020 draws to a close, many of us cannot wait for this annus horribilis to end. And for good reason: this year has seen more than a million and a half COVID-19 deaths; an economic collapse far greater than that of the 2008 financial crisis; a boiling-over of resentment against decades of racial and social injustice; record numbers of wildfires decimating millions of acres of pristine forests; and locust plagues of Biblical proportions.

Yet, 2020 also gives us reason for hope. The development, within a few short months, of at least three COVID-19 vaccines that promise a high degree of efficacy is nothing short of miraculous: a great triumph of medical science, technology, and yes, globalization.

Consider how impossible the discovery and distribution of these vaccines would have been without the cross-border exchange of ideas, goods, and services. Between the research labs and the researchers as well as the testing and manufacturing (including the various ancillary materials such as glass vials and syringes and special refrigerants), at least a dozen or more countries have already been involved in the development and production of these vaccines.    

Toward a Better World

One hundred years ago, the famed Spanish artist José Marià Sert laid out a vision for a better world on the walls of the Council Chamber in the Palais des Nations in Geneva, Switzerland—seat of the first great experiment in international cooperation, the League of Nations, and the current European offices of the United Nations. His murals depict all that separates fellow human beings—war, hatred, cruelty, vengeance, exploitation, injustice—and all that brings them together—peace, liberty, and freedom from drudgery and enslavement.

There is Hope, a mother and child standing astride defunct cannons, reveling in peace while crowds joyously hurl away their guns now that wars have ended; Scientific Progress, doctors liberating humanity from the scourge of disease; Social Progress, slaves shattering their chains; and Technical Progress, technology relieving humans from physical toil and bringing the promise of economic prosperity. On the ceiling, towering above the chamber, are five great, sinewy giants, allegories of the continents, reaching across the room with clasped hands, drawing the peoples of the world together—as the only means of achieving a brighter future for all.

Of course, it was the end of a war that gave birth to the IMF—an institution dedicated to international monetary cooperation, thus helping to avoid trade and currency wars, and providing the basis for jobs for people across the world amid sound economic growth. The form of that cooperation—and the nature of the shocks impinging on the world economy—has evolved considerably in the 75 years since the IMF was established.

The great insight of the founders was that, regardless of the specific disturbances—the oil price hikes of the 1970s, the developing country debt crisis of the 1980s, the capital account crises and the transformation of the centrally planned to market economies in the 1990s, the current account imbalances, global financial crisis, and the Great Recession in the 2000s, or the pandemic and Great Lockdown this year—both the shocks themselves and the national policy responses to them inevitably create cross-border spillovers that often result in tensions between countries.

Resolving them requires cooperation, not confrontation: when each country tries to be first, all end up as last.

Onward and upward

As the COVID-19 pandemic unfolded, the IMF went into overdrive—even as it scrambled to re-organize operations for its staff to work from home—helping its members secure urgent financing and facilitating debt relief so countries could prioritize health expenditures. But the IMF’s work—and that of its membership—is just beginning.

Once there is widespread distribution of the vaccine and the recovery gets underway, there are bound to be economic and financial dislocations as governments and societies grapple with the legacies of the global financial crisis, the pandemic, and the Great Lockdown, and strive to rebuild a better, more equitable, and more environmentally sustainable world. Helping to manage the international economic repercussions of these dislocations—manifested through exchange rate dynamics, net and gross capital flows, and asset price movements—is very much the bread and butter of the IMF’s work, and will be a vital part of its contribution to crafting a better world for tomorrow.

Atish Rex Ghosh is the IMF’s Historian. 

*****

Thank you again for your interest in IMF Blog. Read more of our latest content here.

Take good care,

Glenn


Glenn Gottselig
Blog Editor, IMF
GGottselig@IMF.org

terça-feira, 26 de maio de 2020

Uma nação à deriva - Entrevista Alberto Aggio (Blog Germano Martiniano)

Importante entrevista de Alberto Aggio a um blog de política. Concordo no essencial e no particular. Sim, a nação está sob ataque e à deriva, os dois fenômenos simultaneamente e explico porque. 
O presidente e sua pequena tropa de alucinados querem implantar um regime autoritário, mas não têm capacidade para construir esse regime, por isso o presidente genocida está empenhado em DESTRUIR todos os seus adversários, em qualquer vertente do leque político, da extrema esquerda à própria direita e extrema-direita. 
Sua obsessão demencial é manter o poder, de modo exclusivo, como pretendem todos os ditadores e candidatos de tiranos. Apenas que o presidente é um boçal e rústico, e não tem planos precisos para o seu projeto, daí a legitimidade de se falar de "nação à deriva", conceito que já usei em trabalhos anteriores, ou comentários rápidos no meu blog.
Também concordo em que o PT já não tem mais o apoio popular que pretende ter, por absoluta corrupção e inépcia administrativa, com um presidente-tirano que já deveria estar na cadeia – e só não está por conivência de juízes do STF, alguns mais contra a Lava Jato do que pró-PT – e não pode liderar nenhum processo de impeachment e retomada do caminha democrático.
Mas, os "democratas" – sinceramente não sei quem são, a despeito de Alberto Aggio citar alguns verdadeiros liberais – não têm praticamente nenhum respaldo na sociedade ou nos meios políticos, este dominados por oportunistas (de todos os matizes, inclusive os direitistas que subiram na onda bolsonarista) que só pensam na mesma coisa: conquistar o poder, no Executivo ou outras esferas, em 2022.
Ou seja, continuamos no pântano, por ABSOLUTA INCAPACIDADE DAS ELITES de se unirem em torno da defesa de UM regime democrático – que NÃO PODE ser com Bolsonaro no poder – e em torno de um programa de governo com dupla tarefa: enfrentar a pandemia e assegura as condições mínimas de funcionamento da atividade econômica. 
Não acredito, sinceramente, que isto ocorrerá, pois essas "ELITES" são MEDÍOCRES, e aqui estou falando dos responsáveis pelos dois outros poderes e pelos chefes das FFAA, pois elas são – ao terem autorizados tantos militares a participarem do governo – as patrocinadoras diretas ou indiretas do regime celerado do capitão desmiolado e autoritário.
Infelizmente, acredito que a nação continuará à deriva, esperando que o próprio presidente genocida e demencial cometa ERROS suficientes para incitar essas "elites" a atuar, no sentido de IMPEACHMENT (o que no momento é difícil, dado o Centrão), ou no sentido de forçar a renúncia do celerado presidente. 
Acredito que essas elites deveriam "renunciá-lo", pois a nação não aguenta o descalabro, o desmonte, a desagregação das instituições. Elas o farão?
Não acredito, pelo menos não por enquanto.
Ou seja, a nação continuará à deriva, em desagregação, até algo de mais grave ocorrer.
Como todo acadêmico, sempre tenho meus "sonhos", que obviamente não vão se realizar.
Meu sonho é que o Brasil ultrapasse o "momento Alemanha 1933", ou seja, a montagem do fascismo (o que é exagerado, eu sei), e entre no "momento Ceausescu", que é quando a massa se revolta contra o líder (o que só pode ocorrer com o empilhamento de cadáveres como resultado da postura do capitão genocida). Isso vai ocorrer? Não sei...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de maio de 2020

UMA NAÇÃO À DERIVA
Entrevista Alberto Aggio

Entrevista concedida a Germano Martiniano. 
Ao entrevistador interessava discutir a partir da caracterização do governo Bolsonaro e dos riscos à democracia. Partimos do seguinte ponto: Bolsonaro “fez uma opção estratégica pelo confronto e isso gera uma sensação de ameaça e insegurança permanentes em relação à manutenção da democracia”. Por todos os descaminhos do governo diante da pandemia da Covid-19, não há como não responsabilizar o presidente, uma vez que “Bolsonaro minimiza a epidemia, confronta governadores e prefeitos, mantem os ataques à mídia, demite dois ministros da saúde e outro que é símbolo da luta contra a corrupção”. 
Além dessas questões, ao final, falamos sobre Democracia Liberal, Social Democracia, Liberalismo além de outros temas. 
Confiram!

Como você avalia o governo Bolsonaro, antes da crise, e agora na forma como está lidando com o Covid-19?
Alberto Aggio – O governo Bolsonaro é resultado de uma eleição legítima, uma rotina em qualquer democracia. Contudo, desde o início, o presidente se pauta por uma estratégia de “destruição” de tudo o que o país construiu nos últimos 30 anos, ou seja, tudo que vem do processo de democratização assentado na Constituição de 1988. Bolsonaro diz que seu objetivo é acabar com a “esquerda”. Na sua versão, com as instituições sociais, politicas e culturais que deram curso à democratização do País. É um equívoco. A democratização foi compartilhada para além da esquerda. Com essa concepção, Bolsonaro expressa a visão da ala mais reacionária do regime militar (1964-1985), aquela que quer repor um regime autoritário por meio de mecanismos democráticos. A estratégia de Bolsonaro é a do confronto. Ele não governa, é um ativador de tensões que busca construir inimigos, muitas vezes imaginários (como a exumação do comunismo como ameaça). Ele instaura um clima de ameaça, afastando-se da ideia basilar de que numa democracia há adversários e não inimigos que precisam ser eliminados. É uma dinâmica que não pode ser parada só pode ir adiante. É o que chamei em um artigo de “guerra de movimento” (https://blogdoaggio.com.br/isso-e-bolsonaro/). 
A “obra de destruição” que busca Bolsonaro não pode ser realizada em apenas um mandato. Por isso, seu horizonte é a reeleição. Quando vem a crise sanitária provocada pelo coronavírus, tudo fica mais crispado pois suas consequências, principalmente econômicas, ameaçam sua reeleição. O que faz então Bolsonaro? Minimiza a epidemia, confronta governadores e prefeitos, mantem os ataques à mídia, demite dois ministros da saúde e outro que é símbolo da luta contra a corrupção, apoia e vai a manifestações públicas que pedem o fechamento do STF e do Congresso, ou seja, radicaliza sua “guerra de movimento”. O resultado é a queda de popularidade nas pesquisas. Começa-se a se falar em impeachment. Bolsonaro é obrigado a rever, pelo menos em parte, a estratégia de confronto. Move-se em direção ao Centrão no intuito de constituir uma base parlamentar para evitar o impedimento. 
É aí que estamos: incerteza, insegurança, preocupação com a continuidade da democracia no Brasil e com a licitude dos recursos públicos uma vez que, como disse Sérgio Abranches, Bolsonaro visa formar com o Centrão não uma “coalizão de governo” mas uma “colusão”, ou seja, um arranjo para enganar (http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2020/05/19/sergio-abranches-bolsonaro-em-modo-defesa/). 
Se o governo se sustenta na “ala ideológica” de extrema-direita mais a dos militares, agora Bolsonaro dá passos em direção a um campo que contradiz o seu discurso de campanha contra a alegada “velha política”, promovendo um claro “estelionato eleitoral”. Mas pode bloquear o impeachment, que é o objetivo da operação.


As mortes no Brasil estão crescendo, no entanto, proporcionalmente, por milhões de habitantes, estamos atrás de muitas nações desenvolvidas. Ou seja, mesmo países como Inglaterra, Espanha, Itália etc., não souberam lidar da melhor forma com o vírus. Neste ponto, você não acha que existe uma tentativa da oposição política e parte mídia em responsabilizar o governo Bolsonaro por um problema que tem sido difícil combater até mesmo nas nações mais avançadas?

A.A. Não, não acho. Embora o enfrentamento da pandemia seja complicado porque se trata de algo desconhecido, não creio nem que o Brasil esteja se saindo melhor que países europeus, nem que a mídia atue contra o governo Bolsonaro. O exemplo europeu (e chinês, antes) mostra que a quarentena foi obrigatória, uma imposição, e não uma escolha. Os países europeus, agora, estão saindo dela enquanto o Brasil está entrando na pior fase, com o aumento expressivo do número de mortos. 
Cabe a pergunta: quem seria o principal responsável no combate à epidemia no Brasil? O governo Bolsonaro, quem mais seria? O Ministério da Saúde deveria fazer a mediação dos entes federativos para enfrentar a epidemia. Mas Bolsonaro atacou de saída os governadores que tinham que dar respostas imediatas à enfermidade. Criticou Mandetta quando o ex-ministro, em meados de março, esteve em São Paulo reunido com o governador João Doria discutindo providências diante da pandemia. Foi Bolsonaro quem politizou o combate a epidemia da Covid-19. Pensou que iria prejudicar sua reeleição, se sentiu ameaçado. Bolsonaro não fez outra coisa senão atrapalhar as ações da saúde, abandonando qualquer relação positiva com os governadores e prefeitos. 
Jamais convocou o país para juntos – congresso, sociedade civil, mídia, etc. –, enfrentar a epidemia. Ele não acredita nas indicações científicas, não aceita o isolamento social e se fixou obcessivamente nas supostas virtudes da cloroquina para curar os contaminados. Minimizou as mortes com o patético “E daí?”. Estimulou seus apoiadores a irem às ruas defender a volta ao trabalho, adotando a estratégia de opor economia e vida. E mais: na dantesca reunião de 22 de abril (como corretamente a definiu Vera Magalhães (https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/05/vera-magalhaes-o-inferno-de-dante.html), Bolsonaro propôs um decreto para armar a população com o suposto intuito de enfrentar decisões de dirigentes eleitos democraticamente a respeito do isolamento social.  
E aqui estamos, ultrapassando a casa dos 22 mil mortos e isso vai se acelerar. Bolsonaro é sim o responsável por essas mortes provocadas pela Covid-19. Seria dele que os brasileiros deveriam esperar liderança, apreço e convicção na ciência além de compaixão nesse momento tão difícil. Mas ele só ofereceu deboche, desorientação e morte.


Aggio, a economia brasileira é marcada pela informalidade, milhares de pessoas não possuem nem CPF para receber o auxílio emergencial. Nossa realidade é bem distinta dos países mais avançados que permitem ações mais restritas quanto o isolamento social. Como lidar com essa situação na qual as pessoas necessitam, como diz o jargão popular, de vender o almoço para garantir a janta?
A.A. – Esse país conseguiu criar um “cadastro único” para os mais pobres receberem mensalmente as várias bolsas, desde FHC, e o bolsa família. Não conseguiria fazer algo similar nessa situação de emergência? É uma “desculpa deslavada”, como se diz popularmente. Isolamento social não é coisa de rico, como o discurso bolsonarista quer fazer crer. Inclusive, nenhum prefeito ou governador propôs isolamento total (lockdown). Atividades essenciais continuam a operar e por isso se fala que o ideal seria um isolamento entre 50% e 70%; ninguém falou em 100%. Claro que existem dificuldades, mas onde elas existem, como na favela Paraisópolis, em São Paulo (quer um lugar onde tenha mais pobreza e necessidades?), os moradores se organizaram para se ajudar e garantir algum isolamento. Recentemente se inaugurou um hospital de campanha na área para atender aquela população. 
E de Bolsonaro veio o quê? A noção de “isolamento vertical”, que é uma falácia: imagina-se que confinando os grupos de risco (idosos e quem tem comorbidades) se diminui o contágio e possíveis complicações. Isso não é verdade. As pessoas que convivem com eles levam o vírus para dentro das casas. Além disso, no Norte do país, no Amazonas, está morrendo gente jovem de coronavírus; perto de 40% ou mais não são de grupo de risco. Os problemas da pandemia podem ser enfrentados com solidariedade, ciência e espirito público. Mas isso o governo Bolsonaro parece que não carrega como uma de suas virtudes, se é que em alguma.

Aggio, embora Bolsonaro fale grandes bobagens e possua algumas ações que flertam com a ditadura brasileira, como ter comparecido em um movimento de rua que pedia a volta do AI-5, vemos que os poderes legislativo e judiciário continuam agindo de forma independente, nossas instituições parecem preservadas e a opinião pública livre e independente para se manifestar. Mediante ao que escrevi acima, para você, o governo Bolsonaro representa uma ameaça à democracia brasileira? Se sim, por que?


A.A. – Como eu disse acima, o governo Bolsonaro fez uma opção estratégica pelo confronto e isso gera uma sensação de ameaça e insegurança permanentes em relação à manutenção da democracia. As instituições da democracia só continuam funcionando em função de atores políticos, sociais e culturais que dão vigor a elas. Bolsonaro não apenas diz bobagens. Ele dirige e orienta ações contra a democracia. Vide suas posições em relação à imprensa (creio que não preciso mencioná-las), ao meio ambiente, à cultura, ao patrimônio histórico, às universidades, etc.. Está claro que é um governo extremista de direita, nada liberal e que atenta contra direitos básicos que estão da Constituição. 
Pior, ele isola o país internacionalmente, faz com que a sociedade regrida em inúmeras pautas civilizatórias e humanistas que tínhamos avançado em termos sociais e culturais, como as dimensões de gênero, a questão da violência, da solidariedade, da laicidade do Estado, etc. Uma das marcas de Bolsonaro é o seu antiintelectualismo e isso faz com que todo o governo seja impactado por essa visão. Contra a Constituição de 1988, Bolsonaro retira (ou expulsa) do Estado a sociedade organizada, que é um dos elementos de sua desoligarquização, ou seja, da ampliação do próprio Estado, pela via da democracia. Com Bolsonaro, a democracia está bloqueada e regride. E isso gera uma sensação de retrocesso que é sentida no conjunto da sociedade. Não é à toa que ele despenca nas pesquisas e mantem seu apoio apenas no núcleo mais radical, que o apoia cegamente.

Existem elementos suficientes que justifiquem um possível pedido de impeachment? Caso existam, você acredita que ele possa ocorrer?
A.A. – Inúmeros especialistas em direito constitucional já disseram que sobram elementos para o impedimento de Bolsonaro. Em geral, os crimes contra o decoro lideram a lista. Tentar utilizar, por exemplo, a Polícia Federal para defender a família e os amigos é prevaricação, ou seja, é mais do que intervenção, o que já é inconstitucional. Manter um sistema de informações privado (que não se sabe muito bem o que é) está fora das atribuições constitucionais de um presidente da República, é um outro exemplo. Contudo, a questão é política, antes de tudo. Olhando a situação com as lentes de hoje, creio que não existe maioria suficiente na Câmara dos Deputados para avançar um processo de impeachment. Lançá-lo poderia reforçar Bolsonaro ao invés de enfraquece-lo. 
A operação realizada em direção ao Centrão surtiu efeito. Por outro lado, a crise sanitária e a necessidade de isolamento social impedem que o sentimento de desencanto com o governo transborde para as ruas numa contestação massiva. Penso que a ameaça de existência ou de criação de uma “milícia armada” dentre os apoiadores de Bolsonaro é outra coisa preocupante. Ambos os fatores definem muito da situação complicada para o impeachment, em termos políticos. O processo de crime comum que seria encaminhado pela PGR ao STF, aparentemente mais rápido, tem outros obstáculos. É difícil dizer hoje por onde esse processo irá ser encaminhado ou se será encaminhado.

Aggio, em 2018 você participou do Ato do Polo Democrático Reformista, um movimento de políticos e intelectuais de centro que, naquela ocasião de eleições, visava combater os chamados extremos, Bolsonaro e o PT. Em recente artigo (https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/05/mathias-alencastro-vida-e-morte-da.html), Mathias Alencastro, doutor em Ciência Política por Oxford, disse que na Europa partidos políticos, até de diferentes vertentes, têm se unido para combater o extremismo de direita, citando a “Geringonça” de Portugal. Pois bem, em 2018 e trazendo para os dias atuais, se os partidos de centro, e até mesmo o Polo Democrático Reformista, estavam tão preocupados em “salvar” a democracia dos considerados extremos, por que não houve uma união entre os nomes e partidos democráticos de centro, como Ciro, Alckmin e Marina?
A.A. – É difícil responder a isso. É claro que cada opção eleitoral feita deve se responsabilizar por suas consequências. Creio que houve muitos erros de encaminhamento e de opções. Havia um clima muito desfavorável à política. Eu mesmo escrevi sobre a antipolítica como um caldo de cultura antidemocrático naquela conjuntura. E todos nós perdemos. Mas mesmo assim, continuamos preocupados em “salvar” a democracia. A sua conquista no Brasil foi muito custosa e difícil. É justo que nós a defendamos. 
É verdade que na Europa existiram articulações que impediram, em alguns países, a ascensão da extrema-direita ao poder. Na Itália isso é bastante claro. Matteo Salvini imaginou que poderia conquistar “plenos poderes”, mas fez uma manobra desastrada que abriu a possibilidade de retirá-lo do poder. É um caso especifico. 
Na Espanha houve uma espécie de renascimento do PSOE e o Podemos, depois de muitas reviravoltas, moveu-se para uma aliança de “governo de esquerdas” e o VOX (extrema-direita) foi anulado. Creio que a Geringonça, em Portugal, pelas informações que tenho, nunca foi uma coalisão eleitoral e sim uma colisão de governo. Hoje ela não existe mais. Mas em Portugal, a extrema-direita é fraquíssima.


Você enxerga a necessidade de uma união dos partidos para vencer Bolsonaro e/ou o PT, assim como colocou Mathias Alencastro?
A.A. – Mais do que união de partidos, creio que será necessário unir todos os democratas, da direita à esquerda, para vencer Bolsonaro. O PT não está no governo. Ele já foi derrotado. O PT representa setores importantes das classes populares, mas não é um sujeito democrático confiável, além de ter um passivo terrível no que se refere à corrupção e ao aparelhamento do Estado. Além de uma liderança ancilosada, que é o Lula. 
O problema do Brasil hoje é Bolsonaro e não o PT, que está em declínio, enfraquecido, embora tenha alcançado um bom desempenho nas majoritárias de 2018. De qualquer forma, a sociedade reconhece a polarização entre Bolsonaro e o PT. 
O problema é superar esse reconhecimento, indicar que a situação hoje é outra. Bolsonaro nos leva para o precipício. O vídeo revelando a reunião ministerial de 22 de abril é pavoroso, nos enche de vergonha, demonstra que o Brasil precisa ultrapassar o erro de 2018 e voltar a pensar em novas possibilidades, novas lideranças, que sejam capazes de unir o país e voltar a pensar no seu futuro.

Aggio, quando você vê a ascensão de grupos denominados de extrema direita no mundo, como um todo, você acredita que isso é parte da democracia, dar voz a pluralidade de ideias políticas, ou você analisa como uma ameaça ou crise “DA” democracia liberal?
A.A. – Essa extrema-direita que está aí é iliberal. Foi Viktor Orban, primeiro ministro da Hungria, que criou a expressão “democracia iliberal” para caracterizar esse movimento. D. Trump e J. Bolsonaro a representam à sua maneira e em seus países. Isso é público e insofismável. Essa corrente política é contra o pluralismo que caracteriza a democracia liberal que conhecemos. Contradita também as diversas correntes do liberalismo democrático que vicejou no final do século XX nos países mais avançados e que ainda está aí. Essa extrema-direita é visceralmente contra a democracia como civilização. 
A ascensão da extrema-direita não é resultado do pluralismo, justamente o contrário, é resultado de uma fragilidade e de equívocos que permitiram que isso ocorresse. A virtude da democracia aponta para a ampliação da emancipação humana e não para um projeto de individualismo exacerbado e de guerra de todos contra todos. 
Penso que o crescimento dessas forças políticas expressa uma crise da e na democracia ocidental; uma coisa não exclui a outra, como pensam alguns. E se prende a conflitos políticos e econômicos da nossa contemporaneidade e não a batalhas ideológicas simplesmente. É um problema que tem que se abordado pela política e não pela gramática da ideologia.




Viktor Orban e Jair Bolsonaro

Admitindo a radicalidade desses extremos, qual autocritica que os democratas liberais poderiam fazer e quais mudanças poderiam realizar para contornar este cenário?
A.A. – Creio que autocrítica devemos fazer todos, pois perdemos eleitoral e politicamente. Mas devemos continuar a defender a democracia. Estamos num momento defensivo e para melhor defendê-la é preciso também avançar. A democracia não é um sistema ou regime político que possa existir sem uma defesa intransigente dos seus princípios e valores: liberdade, emancipação, deveres e direitos, compromisso político, institucionalidade, transparência, justiça social, etc… Dois pontos são importantes. 
Primeiro, pensar a democracia como complexidade. Ela não se materializa, não se concretiza, não se torna real, a partir da simplificação, uma visão branco e preto, com todas as perversões do pensamento binário. Essa visão da política, no nosso caso, leva rapidamente para as ideias sempre estúpidas de um “salvador da pátria” ou de um “mito” que muitos seguem cegamente. 
Segundo, que a democracia só se vitaliza, só avança com “mais democracia” ou, em outros termos, democratizando a democracia. Essa é uma formulação presente nos liberais progressistas que se aproxima bastante de formulas progressistas da esquerda democrática, socialdemocrática e reformista.

Aggio, a analista econômica, Renata Barreto, em artigo para o InfoMoney, disse para “não confundirmos o modelo nórdico com socialista”. Durante o artigo, ela discorre que apesar das altas taxas de impostos cobradas pelo governo, a Dinamarca, por exemplo, tem várias características de um país liberal. Pois bem, este debate Liberalismo versus Social Democracia ainda existe? Os países nórdicos são, de fato, sociais democratas?

A.A. – Tem que se olhar o liberalismo do ponto de vista histórico. Lembro que Harold Lask, historiador inglês, dizia, que o socialismo seria uma consequência natural da aplicação do liberalismo. Muito pouca gente sabe que o liberal G. Mazzini, um dos líderes da unificação italiana e o comunista K. Marx, publicavam seus escritos pela mesma editora londrina, por volta de 1846/48, a “Northern Star”, que se notabilizou pelos debates sobre democracia e o movimento operário às vésperas das revoluções de 1848. 
Os socialdemocratas que, no final do século XIX, começaram a participar das eleições e ascenderam ao governo em países que cada vez mais se tornavam democracias liberais, como E. Beirstein e K. Kautsky, foram criticados como liberais e traidores de classe. Por conta deles e de outros, passou-se a se falar em “socialismo liberal”. 
Veja, são exemplos históricos que anulam a versão de que há uma contradição antagônica entre liberalismo e socialdemocracia. O liberalismo é uma concepção de mundo enquanto a socialdemocracia foi e é uma política de massas no contexto do Estado Ampliado. Para finalizar, a noção de “regulação” nasce nos países nórdicos com os socialdemocratas entre as duas guerras e era uma alternativa tanto ao fascismo quanto ao comunismo nos anos 30. Não há dúvida que os países nórdicos são socialdemocratas e que o liberalismo não seja algo estranho àquela construção histórica. O que é certo é que eles não permanecerão congelados historicamente.

O nacional desenvolvimentismo petista trouxe grandes prejuízos ao Brasil, sem falar do grande “projeto” de corrupção descortinado pela Lava-Jato. Depois do petismo, do excesso de Estado e funcionalismo público, temos visto muitas pessoas (inclusive eu) defendendo menos Estado e mais mercado. Como você avalia as ideias liberais, hoje até mais representadas pelo Partido Novo e pelo ministro Guedes, na sociedade brasileira como um todo?
A.A. – Veja, o PT não adotou o nacional-desenvolvimentismo durante todo período dos seus governos. O primeiro governo Lula e o último de Dilma são completamente distintos nesse sentido.  A questão da hipertrofia do Estado em nossa história é muito anterior a isso. 
O nosso estatismo forma parte de uma espécie de tradição que nos acompanha deste a colonização portuguesa, se acentuou no Império e não pode ser excluída de nenhuma fase de nossa história republicana. 
O regime militar foi ao mesmo tempo estatista e liberal, dando vazão aos apetites empresariais no período do chamado milagre brasileiro (1968-1973), o tal “espirito animal” ou “selvagem” do empresariado a que se referia Delfim Neto, ex-ministro da Fazenda do regime militar. Contudo, nos dias de hoje, pensar de forma apartada e até oposta os conceitos de Estado e mercado talvez não faça mais sentido e nem seja produtivo. 
O pensamento neoliberal quer mantê-los apartados. Mas não tenho dúvidas que as ideias liberais no Brasil vão muito além das referências ao partido Novo ou a Paulo Guedes. Aconselho a se visitar as páginas de um grande jornal liberal, O Estado de São Paulo, para ver como uma das mais importantes linhagens do nosso liberalismo avalia o país sob Bolsonaro. 
Por outro lado, há diversos liberais que pensam de forma independente e são muito críticos tanto ao Novo e mais ainda ao Guedes, um neoliberal que, formado em Chicago e inspirado no caso chileno do período pinochetista, distancia-se da tradição das linhagens mais importantes e relevantes do liberalismo aqui no Brasil, que podem ir de Pedro Malan, Bolivar Lamounier até Monica de Bolle e Elena Landau, para citar apenas alguns da boa cepa que esse país já produziu.

Para encerrar, falando em projeto de poder para o Brasil e frente a este debate de mais ou menos Estado, o que você considera ser essencial para o nosso país mediante toda a nossa realidade socioeconômica?
A.A. – Este talvez seja um tema para uma outra entrevista de tão complexo que é elaborar um projeto aqui, em poucas linhas. De qualquer forma, creio que temos que ultrapassar essa situação terrível que estamos vivendo, acossados por uma pandemia e submetidos à deriva que nos é imposta por um governo como o de Bolsonaro. 
Temos que resgatar a nossa capacidade de diálogo, de nos atualizarmos ao mundo e de olharmos para as nossas particularidades enquanto país que se modernizou carregando inúmeros déficits que expressam a nossa dramática desigualdade bem como nossa miséria cultural e moral, sérios obstáculos à democracia. 
Não há salto a ser dado nem “fuga para frente” a ser seguida, como se pensou no passado. O nosso destino está dado aqui e agora. Esse é o desafio.

Fonte:


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O que e', exatamente, um professor universitario? - Marco Mello

Postado aqui, desformatado, um ano atrás, alguém viu e me lembrou. Vale a pena ler.
Paulo Roberto de Almeida


O que é um professor universitário?
Marco Mello
Blog Sobrevivendo na Ciência, em 12/02/2015

No Brasil, é comum ouvir bizarrices como “O Prof. Fulano reclama de dar aulas demais, mas o cargo dele é de professor, né?”. Ou seja, há muita confusão sobre quais seriam as reais atribuições de um professor universitário. Como esse é o cargo mais importante na carreira acadêmica, vale a pena dedicar um post inteiro a esclarecer essa questão.

É claro que, na prática, o que cada professor faz no dia a dia varia muito entre universidades. Na verdade, há uma enorme variação mesmo entre professores de uma mesma universidade. As atribuições também vão mudando, conforme se progride verticalmente na carreira: substituto > assistente > adjunto > associado > titular. Aqui não vou tocar em problemas como concursos-gincana, acomodação, estabilidade fácil, isonomia salarial, salário defasado em relação à inflação etc., que merecem outros posts. Vou focar no sentido maior do cargo.
Em outros idiomas e culturas, a diferença entre um professor universitário e outros tipos de professor fica clara já no vocabulário. Por exemplo, no inglês, o termo professor se aplica apenas ao professor universitário, enquanto teacher é o professor de escola e lecturer é o docente universitário, geralmente com doutorado, mas sem título de professor. Sim, nos EUA, Inglaterra e outros países, professor, mais do que um cargo, é um título. No alemão também se diferencia o professor universitário através do termo Professor, enquanto quem dá aulas em escolas é um Lehrer e quem dá aulas na universidade sem ter o título de professor é um Dozent. Não é uma questão de qual tipo de professor é melhor do que o outro, blablabla. Cada professor tem o seu papel no sistema educacional e todos são importantes. É apenas uma questão de diferenciar as carreiras e títulos, para se definir claramente o que se espera de cada professor.
Então o que diferenciaria o professor universitário dos outros? Simples: esse cargo foi inventado para ser ocupado por profissionais que associam pesquisa e ensino. Sim, essas duas atividades são indissociáveis no conceito original de professor universitário. Mas, por que, Marco? Porque espera-se que um professor universitário esteja sempre na vanguarda da sua área. Espera-se que ele atue na formação de profissionais de nível superior, ensinando-lhes não apenas o conhecimento já sedimentado, mas também as novidades e macetes.
Para se formar em uma profissão de nível superior, o aluno tem que ser apresentado tanto aos fundamentos quanto à vanguarda. Acima de tudo, espera-se que um professor universitário produza ele mesmo algumas novidades. Sim, um professor universitário tem a obrigação não apenas de transmitir, mas também de produzir conhecimento. E a transmissão de conhecimento se dá principalmente em sala de aula, passando informações  consolidadas para os aspiras, e também divulgando descobertas em revistas técnicas indexadas e revisadas por pares. Então um professor universitário tem que fazer pesquisa também? Sim, claro! Ninguém se atualiza tanto em uma área, quanto alguém que precisa disso para fazer as próprias pesquisas, porque ama a ciência.
And the plot thickens… Pelas leis brasileiras federais e estaduais, a carreia de professor universitário envolve, em geral, cinco pilares:
§  Ensino: coordenação e participação em disciplinas de graduação e pós-graduação, presenciais ou à distância.
§  Pesquisa: investigação científica ou tecnológica para produção de conhecimento. Na verdade, a área da pesquisa envolve mais um monte de coisas além da investigação e publicação, como revisão de artigos, editoração de revistas científicas, organização de congressos, administração de sociedades científicas, consultoria para agências de fomento, assessoria à imprensa, assessoria política dentro da área em que é perito e muito mais.
§  Orientaçãoformação de novos cientistas através de estágios e projetos orientados de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
§  Extensão: assessoria e divulgação de conhecimento científico e técnico para o público externo à universidade através de consultoria, palestras, cursos, exposições, museus etc.
§  Administração: cargos de chefia em geral, cargos em órgão representativos da universidade (câmaras, conselhos, congregações), gerenciamento de projetos, captação de verbas externas, contabilidade, direção de laboratórios, etc.
Dependendo da universidade e do seu regimento interno, espera-se que o professor universitário envolva-se com no mínimo dois ou três desses pilares. Os melhores professores acabam se envolvendo com todos. O único pilar obrigatório é o ensino. Só fica desobrigado parcial ou totalmente de dar aulas quem ocupa altos cargos administrativos, como chefe de departamento, diretor de instituto, pró-reitor ou reitor. Significa que, na prática, nem todo professor universitário é obrigado a fazer pesquisa.
Vamos destrinchar um exemplo mais concreto: as universidades federais brasileiras. De acordo com a lei que rege essas instituições, o professor universitário “padrão” (sem cargo de chefia ou outras condicionantes) é obrigado a dar de 8 a 12 créditos por semestre. Cada crédito representa mais ou menos 15 h em sala de aula. Ou seja, o sujeito é obrigado a passar dentro de sala entre 120 e 180 h por semestre. Um professor dedicado, que de fato gasta tempo e energia com as aulas, precisa de no mínimo 2 h de preparação (slides, leituras, material biológico para aulas práticas, preparação de computadores etc.) para cada 1 h em sala. Vamos considerar que uma disciplina obrigatória de graduação tem 4 créditos (60 h) e costuma ser organizada de forma a ocupar 4 h em sala por semana. Logo, das 40 h de trabalho semanais determinadas por lei, o professor acaba passando pelo menos 12 h envolvido com a disciplina. Isso, fora as horas gastas com atendimento de alunos e correção de trabalhos. Assim, a conta pode facilmente chegar a 16 h por semana ocupadas com cada disciplina e piora na época das provas e entrega de trabalhos, se o professor não contar com ajudantes. Supondo uma turma com cerca de 60 alunos, imaginem a seriedade da ralação. E, já que o mínimo são 8 créditos, o que nós, professores, enfrentamos é isso vezes dois, pelo menos.
Para se ocupar com 2 disciplinas de 4 créditos por semestre, totalizando 8 créditos, e realmente ministrá-las com qualidade, o professor universitário não poderia se envolver com mais nada! A quem estamos enganando? A única forma de aliviar essa carga é através da ajuda de pós-graduandos que atuam como tutores e graduandos que atuam como monitores. Mas nem todo professor ou toda disciplina contam com o apoio de auxiliares. Os tutores remunerados conhecidos internacionalmente como “TAs” (teaching assistants), comuns nos EUA, Alemanha, França e UK, chegaram a ter uma versão brasileira temporária durante o Reuni. Só que o programa foi planejado para durar apenas cinco anos. Só para variar, nada é pensado a longo prazo neste país, tudo é paliativo, tudo é jeitinho. Como alguém pode se dedicar de verdade à pesquisa de ponta tendo sobre os ombros o peso de uma carga didática massacrante como essa? Como alguém pode fazer extensão e atender de outras formas o mundo real fora da Academia, sendo obrigado a dar aulas igual a um burro de carga? Na verdade, como seria possível conciliar qualquer um dos outros quatro pilares da carreira com um ensino de qualidade em grande quantidade?
O Brasil tem um verdadeiro fetiche pela sala de aula! Em universidades de ponta, a carga semestral obrigatória do professor não ultrapassa 4 créditos. Na prática, os professores e alunos passam muito menos tempo em sala, justamente porque se dá mais valor à independência dos aspiras. O bom aluno do ensino superior gasta a maior parte do seu tempo estudando por conta própria, sozinho ou em grupo, através de tarefas orientadas ou leitura espontânea. O momento em sala com o professor na aula teórica (lecture ouVorlesung) serve para apresentar ou consolidar o conteúdo principal, receber orientações, tirar dúvidas e passar tarefas.
No Brasil, castramos a individualidade, a criatividade, a autonomia, a iniciativa e o livre pensamento, porque insistimos em adestrar os alunos em cativeiro. Ok, estou divagando. Voltando ao ponto de vista do professor, dá para entender porque nunca chegaremos ao mesmo nível de qualidade em ensino e pesquisa do primeiro mundo? Ficou claro porque estamos fadados a enxugar gelo e ficar sempre dois passos atrás dos nossos colegas mais afortunados?
Por favor, nunca mais diga que um professor universitário brasileiro não pode reclamar de dar aulas demais, porque “tem cargo de professor”. Isso é tão estúpido quanto dizer que um professor universitário que tem bolsa de produtividade está desrespeitando a dedicação exclusiva, porque é também “pesquisador do CNPq”.
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 Fonte: PRISM.
Blog criado em 2012, onde publico textos escritos por mim, Prof. Marco Mello, e colaboradores eventuais. A origem do blog está em pequenos manuais que eu escrevia para os meus alunos desde 2007.

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