Em 2001, e isso foi explorado na campanha do PT em 2002, o Brasil enfrentou uma crise de energia elétrica, exatamente pelos mesmos motivos atuais: a não colaboração de São Pedro. Com os reservatórios em níveis historicamente baixos, o país teve de amargar os dissabores do racionamento.
O PT fez de tudo para demonizar o "apagão tucano". Não por isso vou desejar que o Brasil tenha, agora, um "apagão petista", mas os motivos são sempre os mesmos: falta de investimentos na produção e na transmissão, o que obriga a recorrer a pequenas centrais térmicas, mais caras e mais poluentes.
Bom racionamento, companheiros...
A energia elétrica tende,
cada vez, a ser um grande problema para o Brasil em 2013 e não mais uma
solução, como desejava a presidente Dilma Rousseff, que concentrou
esforços para reduzir em 20%, em média, a conta de luz dos brasileiros a
partir deste ano.
A falta de chuvas nas principais bacias e a queda dos níveis dos
reservatórios das hidrelétricas para níveis críticos fizeram com que os
custos de operação do sistema elétrico disparassem para R$ 555 por MWh
na sexta-feira, aproximando-se dos patamares alcançados somente no ano
de 2001 e em janeiro de 2008, períodos em que o país também atravessou
uma crise na oferta de energia hidráulica.
Analistas dizem que os riscos de um racionamento, hipótese
rejeitada até o momento pelo governo, aumentaram na última semana com a
piora das condições climáticas. Em fevereiro de 2008, as chuvas se
normalizaram e afastaram a necessidade de que o consumo fosse racionado,
medida que precisou ser adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso
em 2001.
Em relatório para investidores, os analistas do banco BTG Pactual
Antonio Junqueira e Gustavo Gattass afirmam que uma eventual restrição
na oferta de energia afetará o crescimento do PIB neste ano. "Os riscos
[de racionamento] são maiores do que eram antes e a situação é
delicada", escrevem os analistas. Mesmo que não seja necessário recorrer
à contenção do consumo, considerada uma medida extrema, os analistas do
BTG dizem ser provável que as térmicas fiquem ligadas por meses
seguidos.
Os gastos com a queima de combustível para garantir o abastecimento
energético, dizem eles, vão neutralizar uma parcela relevante do corte
de 15%, aproximadamente, que deveria ser obtido com a redução dos
encargos setoriais e das tarifas das usinas e linhas de transmissão
antigas, cujas concessões foram renovadas em dezembro
Dessa forma, em vez de contribuir para uma desaceleração da inflação,
a energia elétrica pode agravá-la. "Antes de cair, o preço da energia
vai subir", previu a economista Tereza Fernandez, da MB Associados, em
apresentação promovida na semana passada pela Fenabrave, entidade que
reúne as concessionárias de veículos. Segundo ela, aumentos nos preços
de combustíveis, carros, alimentos e passagens aéreas também podem
distanciar a inflação do centro da meta a ser perseguida pelo Banco
Central.
"Quanto mais crescer o PIB, mais altos serão os riscos [de
racionamento] e mais cara ficará a energia em 2013", escreveram os
analistas do BTG.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevou na sexta-feira o
custo marginal de operação (CMO) do setor de R$ 341 para R$ 554,95 por
MWh na região Sudeste para a próxima semana. Isso fez com que o Preço de
Liquidação das Diferenças (PLD), ou o valor da energia no mercado
disponível, também disparasse para R$ 554,82 por MWh no Sul e Sudeste,
acumulando na semana um alta de 62%.
"Este é certamente um indicador de crise [de abastecimento]", afirmou
Paulo Mayon, da comercializadora de energia Compass. Segundo ele, em
janeiro 2008, o país enfrentava problemas com fornecimento de gás
natural da Bolívia, que não ocorrem neste momento.
Em compensação, o consumo de energia elétrica pelas residências e
pelo setor de serviços cresceu significativamente. Há ainda outros dois
agravantes, diz Mayon. Os reservatórios na região Sudeste estão só 29%
cheios, enquanto, em 2008, esse percentual era de 46%. Neste ano, não há
ainda a ocorrência de um padrão climático definido - La Niña ou El Niño
-, o que aumenta as incertezas em relação ao comportamento das chuvas.
O Brasil, afirma Mayon, poderá recorrer a alguns planos alternativos
para garantir uma maior oferta, entre eles buscar energia da Argentina,
com a qual já há um intercâmbio, e da Venezuela, país com o qual foi
feita uma conexão por Manaus e Boa Vista, mas que nunca foi utilizada
até o momento. "São 'cavalarias' que podem ser chamadas para salvar a
situação".
(Colaborou Eduardo Laguna)