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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A diplomacia ultra pessoal de Lula é um problema para a diplomacia profissional: Lula e o clube dos autoritários - Lourival Sant’Anna (OESP)

Introdução PRA:

A antiga diplomacia lulopetista (2003-2010) também tinha uma grande carga de personalismo de quem se acreditava o melhor de todos os diplomatas, com seus improvisos que frequentemente desprezavam os discursos burocraticamente bem escritos pelo Itamaraty. Mas ela conseguia preservar certo equilíbrio de racionalidade ideológica entre os três grandes formuladores e executores: Lula, Amorim e Marco Aurélio Garcia.

O que temos atualmente é personalismo em estado puro, sem qualquer controle de seres mais racionais, uma altíssima dose de histrionismo à base do “eu sei, eu faço”, que beira a loucura nos improvisos destrambelhados, o que prejudica enormemente a diplomacia profissional, o que era mais raro nos dois mandatos anteriores. O touro está solto e investe contra suas miragens e obsessões pessoais. Ainda não percebeu que prejufica a si próprio, ao país, e ninguém tem coragem para lhe dizer na cara: “Pare com as invectivas improvisadas!” Vai ser triste.

Lourival Sant’Anna demonstra cabalmente como Lula está fazendo mal a si próprio e ao pais. E isso começou lá atrás, ainda na campanha, no caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Pode continuar de maneira dramática para nós no caso de uma guerra de agressão da Venezuela contra a Guiana. Lula não têm conhecimento, nem estatura de estadista para conduzir a diplomacia da nação: ele está destruindo a sua reputação e credibilidade, a da diplomacia (ele nunca as teve, a não ser pelas mentiras populistas e altamente demagógicas, servidas e apoiadas por um bando de cortesãos mediocres e temerosos).

Paulo Roberto de Almeida 

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Lula ainda não percebeu que o mundo já se deu conta de sua minúscula estatura internacional, um ‘anão diplomático’, nas palavras de um porta-voz da chancelaria israelense em 2014. Uma das consequências disso foi a longa espera dos 34 brasileiros para sair da Faixa de Gaza, enfim encerrada hoje.

PS: o artigo foi publicado antes das notícias da saída deles esta manhã. (Walmir Buzzatto)

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Lula e o clube dos autoritários

Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo, 

12 de nov. de 2023

As manifestações de simpatia do presidente Lula pelos regimes do Irã, Rússia, China e Venezuela podem colocar em risco a segurança de cidadãos brasileiros e a reputação do País. Isso ficou claro mais uma vez na forma como os brasileiros ficaram no fim da fila de autorizações de saída da Faixa de Gaza e na revelação da Polícia Federal de que o Hezbollah poderia estar tramando ataques no Brasil.

Dez dias depois das atrocidades cometidas pelo Hamas em Israel, Lula telefonou para o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, para discutir a crise e a autorização para a saída dos 34 brasileiros e parentes. O Irã patrocina o Hamas e o Hezbollah. É o principal inimigo de Israel e adversário também do Egito, os dois países que têm a chave do posto de fronteira de Rafah.

SIGILO. A principal inimiga da ditadura militar egípcia, a Irmandade Muçulmana, inspirou a criação do Hamas, em 1987, e é sua aliada, com presença estratégica na Península do Sinai, que liga o Egito à Faixa de Gaza.

Se o presidente acreditava que essa gestão era absolutamente imprescindível para obter do Hamas a liberação dos brasileiros, ele deveria ter mantido a conversa em sigilo. Entretanto, como tem feito também em relação a outros governantes que desafiam o status quo e o direito internacionais, Lula fez alarde sobre a aproximação.

Aparentemente, o propósito era demonstrar sua estatura internacional e capacidade de articulação. Além disso, em uma live inflamada, Lula chamou de “insanidade” o bombardeio israelense à Faixa de Gaza. Para completar, o assessor do presidente para assuntos internacionais, Celso Amorim, acusou Israel de “genocídio”, em conferência internacional em Paris, na quinta-feira.

CRIMES. A discussão aqui não é isentar um dos lados do conflito. Como disse Volker Türk, comissário da ONU para os direitos humanos, tanto o Hamas quanto Israel cometeram crimes de guerra no mês que passou. É melhor deixar isso na boca de um especialista como ele. E, definitivamente, evitar palavras com uma grande carga de acusação.

No auge da crise nuclear iraniana, Lula tratava o então presidente Mahmoud Ahmadinejad como amigo. Junto com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, outro autocrata violador de direitos humanos, Lula negociou uma suposta solução para a crise que só atendia aos interesses iranianos.

Em 2014, durante uma das cinco guerras que o Hamas provocou com Israel, a então presidente Dilma Rousseff convocou seu embaixador de volta de Tel-Aviv, por considerar os bombardeios israelenses à Faixa de Gaza desproporcionais. Um porta-voz da chancelaria de Israel chamou o Brasil de “anão diplomático”.

O histórico de atritos entre Israel e os governos petistas contrasta com o período róseo do governo de Jair Bolsonaro,

interessado em agradar sua base evangélica. Essa corrente se identifica com o Velho Testamento, que define os judeus como povo escolhido, e profetiza que, quando eles construírem o Terceiro Templo em Jerusalém, o Messias voltará para o Juízo Final.

A exemplo de Donald Trump, Bolsonaro prometeu transferir a embaixada de TelAviv para Jerusalém, o que viola a lei internacional. Segundo inúmeras resoluções da ONU, Israel ocupa Jerusalém ilegalmente e o status final da cidade será negociado junto com a criação de um Estado palestino. Bolsonaro recuou por causa da reação negativa do mundo árabe, importante destino das exportações brasileiras.

PREFERÊNCIA. A predileção de Israel por Bolsonaro foi explicitada pelo encontro, na terça-feira, do embaixador israelense Daniel Zohar Zonshine com o ex-presidente e deputados de direita na Câmara, aonde ele foi mostrar vídeos dos ataques do Hamas. O encontro violou a etiqueta diplomática e azedou de vez as relações entre os dois governos.

Com cerca de 7 mil palestinos com dupla nacionalidade desesperados para deixar a Faixa de Gaza bombardeada há mais de um mês, Israel e Egito priorizaram os cidadãos de países amigos, ou pelo menos que não sejam gratuitamente hostis. Funcionários israelenses garantiram publicamente que Israel não interferia na seleção dos cidadãos. Tanto não era verdade que foi o chanceler de Israel, Eli Cohen, que comunicou o do Brasil, Mauro Vieira, que os brasileiros tinham sido finalmente autorizados a sair. O órgão israelense encarregado dessa tarefa é a Coordenação das Atividades do Governo nos Territórios (Cogat).

ATENTADOS. O Hezbollah é acusado de ter cometido, com apoio de agentes iranianos, dois atentados a bomba nos anos 90 em Buenos Aires, contra a Embaixada de Israel e a Associação Mutual Israelita Argentina, que deixaram um total de 115 mortos.

Alberto Nisman, um dos procuradores do caso, acusou em 2015 a então presidente Cristina Kirchner de tentar acobertar o envolvimento do Irã. Horas antes de apresentar evidências disso ao Congresso argentino, ele foi morto com um tiro na cabeça em seu apartamento.

Lula é muito próximo de Kirchner, além do próprio Irã e de seus principais aliados: China, Rússia e Venezuela. Isso poderia servir de incentivo para Hezbollah e Irã agirem no Brasil, com a expectativa, mesmo que injustificada, de contar com a complacência do governo. Reputação é algo muito importante, e indissociável da segurança. •