Não apenas uma, mas várias frases da semana, talvez até do ano, mas todas elas fantasticamente equivocadas, sem qualquer conexão com a realidade.
No seu Zé Mané, do botequim peronista da esquina, não ficariam mal, até passariam por frases de profundo significado macroeconômico para um simples quitandeiro.
Na boca do ministro das finanças, porém, elas são um grave sinal de transtorno bipolar, enfim, essas coisas que as pessoas não conseguem concatenar causa e efeito, origem e consequência, relações de dependência, nada além de uma ilusão, como diria um letrista de música popular...
Comecemos:
“Quando há uma valorização de 20% do dólar, significa que o Brasil está 20% mais competitivo”.
Uau! Não precisa fazer mais nada então, está tudo uma maravilha, basta invocar os santos e pedir um pouco mais de desvalorização cambial que o Brasil se tornará um país fantasticamente competitivo, em nível mundial...
“Muitos países, sobretudo a China, vinham manipulando seu câmbio havia mais de vinte anos. Como eles eram pobres, nós tolerávamos. Mas agora tivemos de reagir.”
Uau bis! Como é que não descobrimos antes e pedimos gentilmente para os nossos aliados estratégicos (desde 2003), para que eles, ficando um pouquinho mais ricos, deixassem de fazer essas barbaridades???
A bem da verdade, relembro bem de termos como "guerra cambial" e "tsunami financeiro", mas sempre dirigidos a nossos inimigos na Europa e na América do Norte, mas jamais ouvi, ou li, uma palavra sequer contra nossos aliados manipuladores. Que coisa hem? Acho que perdi os últimos vinte anos da nossa história econômica. Ou será que foi outro o belo adormecido?
Mas, não para por aí. Tem mais:
“Há um enfraquecimento da indústria no mundo; um processo natural de terceirizar atividades da indústria e fazer com que elas virem serviço.”
Uau, ou melhor, UAU! Não consigo imaginar como é que se consegue essa maravilha da transposição de setores: enfia a indústria num moedor de carne gigante, gira a manivela, e plim!, do outro lado sai uma empresa de serviços? Fantástico! Preciso passar nessa escolinha e conhecer o método, o know-how, a tecnologia dessa mudança de secundário em terciário.
Mas a frase que eu mais gostei mesmo foi a primeira. Aliás, desde os tempos do fantástico Dr. Delfim que esse remédio, sem efeitos colaterais, fabricava a "competitividade" do Brasil: bastava desvalorizar, pronto, estavam garantidos os mercados. Não importa se os industriais protecionistas ficavam ricos e nós, consumidores brasileiros ficávamos pobres. O importante era a tal de competitividade.
Pronto, valeu por uma lição de economia (aliás, varias)...