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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ah, esses economistas improvisados...em contas publicas...

Estrutura dos gastos públicos em 2013 e corte na despesa
Mansueto Almeida
17/09/2014
Aqui vai mais uma vez um post sobre a estrutura da despesa pública para tentar mostrar para os economistas que acreditam em choque de gestão que tal “choque”, embora desejável, não conseguirá produzir uma forte economia dos gastos públicos.
Há sim espaço para melhorar a gestão do setor público, aumentar um pouco o primário e melhorar a qualidade do serviço publico ofertado. Mas achar que um choque de gestão vai produzir uma forte economia que possibilitaria mudar a dinâmica do gasto público e/ou reduzir de imediato a despesa primária (% do PIB) é uma tese equivocada.
Eu não consigo entender como tantos economistas bons vivem repetindo tal absurdo como outro maiores. Ontem mesmo no debate na FGV um dos presentes falou que não era preciso se preocupar com gasto social porque aumento da tributação para financiar programas de transferência de renda não aumenta a carga tributária líquida!
Ou seja, se o próximo governo aumentar a carga tributária em 5 pontos do PIB e transformar toda esse aumento de carga em transferências para as famílias (gastos com previdência e assistência social) não haveria problema algum porque o que importa é a carga tributária bruta. Como é que existem pessoas com Doutorado em Economia que pensam tamanho absurdo?
Mas vamos ao que importa: os dados. Tenho esses dados para 2013 e para anos anteriores, mas aqui vou disponibilizar apenas os dados de 2013. A despesa primária do Governo Central (Governo Federal, Banco Central e Previdência) foi de R$ 914 bilhões ou de 18,89% do PIB no ano passado. Como essa despesa foi distribuída nos grandes itens do orçamento público?
(1) Gasto com pessoal e transferência de renda
Como mostra a tabela 1 abaixo, 73% dessa despesa no ano passado foi para o pagamento de benefícios sociais ligado a programas de transferências de renda para famílias e indivíduos, previdência, mais pagamento dos funcionários públicos federais ativos e inativos.
Tabela 1 – Gasto Não Financeiro do Governo Central com Pessoal e Transferência de Renda – 2013 – % do PIB.
TABFISCA1
Fonte: Tesouro Nacional e SIAFI. Elaboração: Mansueto Almeida
Dada lista de programas acima, há alguma possibilidade de um ajuste rápido em alguma dessas contas em um primeiro ou em um segundo ano de governo? NÃO! Mesmo que fosse possível o governo fazer um corte linear de 25% dos funcionários ativos, ou seja, colocar para o olho da rua 288 mil funcionários públicos, a economia seria de 0,5 ponto do PIB.
É possível colocar 288 mil funcionários públicos para o olho da rua em um ano? Claro que não. Em 11 anos de governo do PT, o número de funcionários públicos ativos passou de 912.192, em 2002, para 1.152.080 em 2013, crescimento de 240 mil funcionários (ver Boletim Estatístico de Pessoal), número inferior ao que seria necessário cortar em apenas um ano para ter ganho de 0,5 ponto do PIB.
O meu colega economista Nelson Barbosa acredita que, se a presidenta Dilma for reeleita, mudanças ocorrerão no programa abono salarial. Minha pergunta: o programa será reformulado ou simplesmente será extinto? Se o programa acabar, o que acho improvável mesmo para uma presidenta durona como a nossa, a economia seria de 0,4 ponto do PIB.
Ou seja, dos itens acima, para economizar o equivalente a 0,9% do PIB seria necessário corta por completo o abono salarial e colocar para o olho da rua de uma só vez 25% do pessoa ativo. É possível? NÃO. Na tabela acima analisamos a grande folha de pagamento da união com pessoal e programas que envolvem transferência de renda, vamos agora olhar as demais despesas não financeiras do Governo Central.
(2) Gastos de custeio (sem programas de transferência de renda) e Investimento
Mas não daria para cortar em outro lugar? A tabela 2 abaixo mostra os outros itens da despesa pública não financeira do Governo Central. Essas outras despesas representaram 5% do PIB, em 2013, equivalente a 27% da despesa primária do Governo Central.
Tabela 2 – Gastos de Custeio e Investimento do Governo Central – 2013 – % do PIB.
TABFISCA2
Fonte: Tesouro Nacional e SIAFI. Elaboração: Mansueto Almeida
Das contas acima, a conta de subsídios (inclui Minha Casa Minha Vida e subsídios ao setor elétrico) seria passível de corte. Mas como ninguém com juízo fala em cortar o Minha Casa Minha Vida, a única economia imediata aqui seria os R$ 8 bilhões que o governo gastou em 2013 com subsídios ao setor elétrico. Mas isso é apenas 0,17% do PIB.
Por que não cortamos custeio de saúde e educação? Você pode até cortar, mas se fizer isso terá que gastar mais com pessoal e/ou investimento na mesma área. Esses dois gastos seguem regras de vinculação (um em relação ao crescimento do PIB nominal e ou outro em relação a receita de impostos) e, assim, maior eficiência não reduz a despesa.
Na segunda, no debate na FGV, um dos professores presente falou que maior eficiência nas compras públicas na área de saúde poderia levar a economia. Sim, mas a economia teria que ser gasta na mesma área porque se trata de uma despesa vinculada ao crescimento do PIB nominal e assim, não há como ela ser reduzida em relação ao PIB.
E o custei administrativo? Aqui pode ser cortado algo, mas não que vá trazer uma economia substancial. Explico. Vamos supor que metade dos ministérios (excluindo saúde e educação) sejam fechados . Qual seria a economia? 0,58 ponto do PIB. Repito, teríamos que fechar metade dos ministérios. Se fecharmos todos os ministérios (com exceção da saúde e educação) a economia seria de 1,17% do PIB. É possível ter um governo com apenas dois ministérios: saúde e educação? Não.
E o investimento? Aqui daria para cortar, mas não acharia desejável porque a taxa de investimento da economia já está muito baixa. Mas o governo fez isso em 1999 e 2003 porque esse é um dos poucos itens do gasto que se consegue segurar. Se o próximo governo cortar metade do investimento público, em 2015, a economia seria de 0,5 ponto do PIB em um ano.
Em resumo e voltando a pergunta inicial: é possível um ajuste fiscal de até dois pontos do PIB via corte de despesas em um primeiro ano de governo? Não é possível. Para isso ocorrer seria necessário, por exemplo, colocar 25% dos funcionários da União para o olho da rua (0,5 ponto do PIB de economia), acabar com o abono salarial (0,4 ponto do PIB), cortar pela metade o investimento público (0,5 ponto do PIB), e fechar metade dos ministérios (0,6) ponto do PIB. É simplesmente impossível e, corte do investimento público, volta nos anos seguintes. Além disso, o gasto com programas sociais cresceriam e compensariam parte dessa economia.
Assim, aqui vai um conselho de amigo para todos os economistas: não prometam forte queda da despesa pública em um primeiro ano de governo porque não será possível. O importante é mostrar para o mercado como será a recuperação do primário e não um ajuste forte em 2015.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Gastos publicos: corrigir os desvios, coisa para estadista - Fabio Giambiagi

No delicioso documentário sobre Vinicius de Moraes, que passou no cinema há uns 3 anos, há uma anedota contada por Chico Buarque, referente à época em que o poetinha ganhava a vida fazendo shows, muitos deles no exterior, quando Chico estava no exílio. Ele foi ver o show do amigo, que, com sua graça particular, começou a contar uma história que fazia a plateia gargalhar sem parar. No meio desse processo, lacrimejando de tanto rir, mas sem captar uma palavra do que o Vinícius dizia numa mistura ininteligível de italiano, português e inglês, um italiano se vira para o Chico e pergunta: “Bravissimo, ma scusi, che língua parla?” (“Espetacular, mas, me desculpe: que língua é essa?”).
Sempre me lembro da frase quando acompanho o debate sobre a “gastança”. Em relação a isto, a crítica de certa forma une tanto a chamada “direita” como a “esquerda”. A primeira tende a considerar que há um processo populista em curso e que um governo mais comprometido com a austeridade poderia rapidamente reduzir a relação entre o gasto público e o PIB. A segunda, por sua vez, tende a considerar que o gasto vai para os “os ricos”, “a elite” ou “os privilegiados”, em vez de ser direcionada para “nós, o povo”.
Somando-se a crítica à “gastança”, quem se deixa levar por esses argumentos toscos se assemelha ao italiano da anedota diante do show do Vinicius: aplaude o argumento, mas não consegue entender o que se passa.
O Brasil é um país onde, historicamente, nos três níveis de governo, houve irregularidades aos borbotões
O drama do gasto público é que o pressuposto da crítica — de que o dinheiro está sendo desviado para fins escusos — está equivocado. O Brasil é um país onde, historicamente, nos três níveis de governo, houve irregularidades aos borbotões. Basta ler qualquer jornal. Na época do Getúlio, nos anos JK, com os militares ou nos governos civis que se seguiram, na União, no estado A ou no município B, em qualquer ano ou instância de governo, com o partido X ou Y, qualquer historiador terá material para encher páginas e páginas com os escândalos de cada época. Entretanto, quando se tenta entender por que o gasto primário federal passou de 13,7% do PIB em 1991 para 22,8% do PIB em 2013, não são os escândalos que explicam isso. São todas coisas que estão diante de nosso nariz — e o país teima em não enxergar. A “gastança” é fruto de decisões tomadas com o beneplácito da grande maioria dos parlamentares — quando não da própria população — que, tempos depois, revela o seu impacto financeiro em toda a sua plenitude, com escasso efeito sobre a melhoria de bem-estar do país. É por esse tipo de coisas que, no fim da vida, exasperado pelos absurdos recorrentes década após década em matéria econômica, Roberto Campos concluía que “a burrice nacional não associa o efeito com as causas”.
Um esclarecimento: a despesa federal com pessoal ativo era de 2,7 % do PIB em 1991 — e caiu para 2,3 % do PIB em 2013. O cidadão tem todo o direito de achar que há muitas repartições onde sobra gente, mas, se pagamos mais impostos hoje do que há 20 anos, não é porque há mais gente trabalhando nos ministérios: o peso relativo dessa conta caiu.
O que foi que aumentou? Três coisas. A primeira, as despesas com benefícios do INSS, de 3,4% do PIB em 1991 e de 7,4% do PIB em 2013 — e os aposentados se queixam de abandono. A segunda, as transferências a estados e municípios, que passaram de 2,7% para 3,9% do PIB nesse período — e governadores e prefeitos vivem de pires na mão. E a terceira, o gasto com o “OCC”, as “outras despesas de custeio e capital”, que pularam de 3,9% para 7,3% do PIB nesses 22 anos. Nessa rubrica, há desde o justificado Bolsa Família, inexistente no passado e que hoje consome em torno de 0,6% do PIB, até o inacreditável gasto com seguro-desemprego de 0,5% do PIB em 2003 quando o desemprego do país era de 12% e de 0,9% hoje, quando o desemprego é da ordem de 5%, no que talvez seja um dos melhores exemplos da incúria nacional, passando pelo aumento das despesas da Lei Orgânica da Assistência Social. No dia em que “gestão” deixar de ser bordão de marqueteiro, será preciso fazer um raio X das contas públicas para verificar a quantidade de recursos que estão sendo gastos de forma torpe, na frente de nosso nariz, como se fosse a coisa mais natural do mundo. É tarefa para estadista.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O pais da meia-entrada e dos gastos publicos crescentes com o proprioEstado: adivinhem...

O Brasil está caminhando celeremente para a sua decadência econômica, graças à irresponsabilidade de seus dirigentes e de toda a classe política, que inviabilizam todos os dias o funcionamento de uma economia normal de mercado...
O Brasil é um país economicamente anormal, dirigido por pessoas mentalmente anormais.
Paulo Roberto de Almeida 

Jornais: gasto com servidor cresce mais que receita em Estados


Nos últimos três anos, 22 das 27 unidades da federação ampliaram a parcela da receita comprometida com salários do funcionalismo
Congresso em Foco, 29/12/2013
O ESTADO DE S. PAULO
Gasto com servidor cresce mais que receita em Estados
Os gastos com pagamento de pessoal são um fardo cada vez mais pesado para a maioria dos governos estaduais.  Nos últimos três anos, nada menos que 22 das 27 unidades da Federação ampliaram a parcela da receita comprometida com salários de servidores ativos e aposentados. Em termos práticos, isso se traduz em menos investimentos e contas mais engessadas.
Não se pode culpar o desempenho da arrecadação pela situação. Na média, a receita estadual cresceu 16% acima da inflação entre 2010 e 2013. Apenas três governadores tiveram perda de recursos. Em 19 estados, o crescimento real da receita no período foi superior a 10%. O problema está mesmo localizado na ponta das despesas. Os gastos com pessoal nas 27 unidades da Federação cresceram 36% em termos reais desde 2010. No governo federal, o aumento foi de apenas 3%.
O governo de Tocantins, por exemplo, recebe hoje 15% a mais em impostos e transferências do que há três anos – o que não o impediu de bater no teto de gastos estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (49% da receita corrente líquida) e entrar no clube que, até 2010, era integrado apenas por Paraíba e Rio Grande do Norte.
Outros seis governos ainda não chegaram ao teto, mas estão perigosamente próximos dele – tanto que já ultrapassaram o chamado “limite prudencial” estabelecido na lei (46,55% da receita corrente líquida, no caso do Poder Executivo). São eles Paraná, Sergipe, Acre, Santa Catarina, Pará e Alagoas. Apenas o Executivo alagoano estava na lista há três anos.
Em crise, Paraná para de pagar fornecedores
A crise financeira que desequilibrou as contas do governo do Paraná neste ano teve mais um capítulo no final do ano.
Ao mesmo tempo em que o Estado atingiu a marca de 48,8% da receita comprometida com pagamento de pessoal, aproximando-se do teto de 49% previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal, a gestão do governador tucano Beto Richa suspendeu pagamentos a parte de seus fornecedores.
Segundo o Decreto 9.623, publicado no último dia 17, “os empenhos não processados do exercício financeiro de 2013, relativos aos recursos de quaisquer fontes” ficarão cancelados, e depois do dia 31 de janeiro de 2014, “os restos a pagar serão automaticamente cancelados, sendo que o pagamento que vier a ser reclamado poderá ser atendido à conta de dotação destinada a despesas de exercícios anteriores, mediante o reconhecimento de dívida pela autoridade competente”.
Com base nisso, há o risco de muitos fornecedores ficarem sem receber a partir de fevereiro de 2014. “A inscrição em restos a pagar, decorrente de despesas de investimentos, só ocorrerá se estiver autorizada pela Secretaria da Fazenda, em função do condicionamento ao limite de metas fiscais estabelecidas”.
O governo não quis falar sobre o assunto e nem explicar as metas que foram projetadas. Segundo a assessoria, “os números estão sendo ajustados”.
Balanço: ‘Perdi o ano’, admite Haddad
Sem dinheiro para investimentos e com dificuldades na seara política, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), não conteve o abatimento em conversa com aliados do PMDB, na semana passada. “Perdi o ano”, desabafou ele, em seu gabinete, ao comentar a sucessão de derrotas, em 2013.
Até agora, porém, não há sinais de que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, vá ajudar Haddad a recuperar as finanças da Prefeitura a curto prazo. Preocupado com a percepção externa de que o Brasil pode estar sendo negligente com o ajuste fiscal, o governo Dilma decidiu não mais apoiar a proposta que prevê a mudança retroativa do indexador das dívidas de Estados e municípios.
O projeto de lei complementar, assim como está, é a esperança de Haddad para recuperar a capacidade de investimento da cidade, após a Prefeitura sofrer um baque com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que barrou o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A simples troca do indexador da dívida (de IGP-DI mais 9% ao ano por IPCA mais 4%, limitada à taxa Selic), em caráter retroativo, pode aliviar em R$ 24 bilhões o débito da Prefeitura, que hoje é de R$ 56 bilhões. A equipe econômica, no entanto, não quer a aprovação da proposta pelo Senado.
Dilma vai ajudar classe média a comprar casa
A presidente Dilma Rousseff vai repaginar o programa Minha Casa Minha Vida, uma das apostas de sua campanha à reeleição. Ela planeja ampliar o valor máximo do imóvel financiado – que hoje está em R$ 190 mil – para beneficiar mais uma parcela da classe média.
Na terceira fase do programa, a ser lançada neste ano eleitoral, a ideia é facilitar a compra da casa própria por jovens casais, principalmente em regiões metropolitanas. A meta da nova etapa é construir 3 milhões de moradias até 2017. Até agora, o Minha Casa Minha Vida já entregou cerca de 1,4 milhão das 3,7 milhões de unidades contratadas desde 2009, quando o programa foi anunciado, ainda no governo Lula.
Dilma procura uma forma de aumentar as faixas de renda dos beneficiários do Minha Casa Minha Vida – que atualmente vão de R$ 1,6 mil a R$ 5 mil -, reforçando a presença do plano de habitação em centros urbanos, como São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
Disposta a recuperar a popularidade perdida desde os protestos de junho na chamada “nova classe média”, apresidente encomendou estudos ao Ministério das Cidades e aos bancos públicos para pôr o programa de pé. Pesquisas em poder do Palácio do Planalto mostram que a imagem da presidente não foi totalmente reabilitada entre eleitorescom renda de R$ 1.356 a R$ 3.390 (dois a cinco salários mínimos) nem entre o público jovem, de 16 a 29 anos, e de áreas urbanas. Embora a aprovação de Dilma tenha melhorado na faixa dos menos escolarizados e mais pobres, em especial no Nordeste, a maioria dos entrevistados ainda pede “mudanças” e “coisas diferentes”.
Indústria fecha 200 mil postos de trabalho em dois anos
A crise na indústria brasileira engoliu mais de 200 mil empregos em pouco mais de dois anos. Os números são da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE. Trabalhadores industriais estão migrando para setores que mantém fôlego nas contratações, como o comércios os serviços.
França intervém na África sob bandeira humanitária
Em menos de três anos a França ampliou intervenções militares na África sob o argumento humanitário e de combate ao terrorismo, informa Andrei Netto. Mas, para especialistas, por trás das ofensivas está a tentativa de recuperar influência e garantir benefícios econômicos de ex-colônias.






Publicada lei que regulamenta direito à meia-entrada


Nova norma amplia beneficiários, mas limita venda de ingressos pela metade do preço a 40% do total. Veto de Dilma mantém direito a idosos previsto em estatuto
Agência Brasil
Dilma atendeu a pedido de idosos para que benefício previsto em estatuto fosse mantido

O direito de estudantes e idosos de pagar a metade do preço em ingressos de espetáculos artísticos, culturais e esportivos foi ampliado para outras pessoas, porém limitado por algumas novas regras. Com a publicação da medida no Diário Oficial da União de hoje (27), o benefício foi estendido para pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos que comprovarem renda familiar mensal de até dois salários mínimos.
O benefício da meia-entrada para pessoas com deficiência é estendido inclusive para o acompanhante, quando necessário. No caso de jovens carentes, o desconto fica condicionado à inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
Pelas novas regras, os responsáveis pelos eventos ficam obrigados a reservar 40% do total de ingressos de salas de cinema, cineclubes, teatros, espetáculos musicais e circenses e eventos educativos, esportivos, de lazer e de entretenimento para os beneficiários da lei. Para garantir que a reserva de lugares seja cumprida, a lei estabelece que qualquer pessoa pode ter acesso às informações sobre bilheteria.
Além de serem obrigados a deixar visíveis as informações sobre ingressos disponíveis e os avisos quando a cota de meia-entrada estiver esgotada, os donos de estabelecimentos terão que disponibilizar o relatório da venda de ingressos de cada evento para entidades representativas como a Associação Nacional de Pós-Graduandos, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
Essas organizações, que emitem a Carteira de Identificação Estudantil (CIE), e as entidades estudantis estaduais e municipais filiadas terão que manter um banco de dados com o nome e o número de registro de todos os estudantes portadores da CIE, que sempre terá validade da data de expedição até o dia 31 de março do ano seguinte.
Em todas as bilheterias e portarias de eventos será obrigatória a divulgação do direito à meia-entrada para o público específico, além dos telefones dos órgãos de fiscalização. A medida não vale para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, que são eventos internacionais, cuja organização compete aos comitês gestores.
O governo vetou alguns pontos do texto aprovado por senadores e deputados. Um deles é o que estabelecia que o estudante deveria apresentar a carteira estudantil para obter descontos no transporte coletivo local. Depois de ouvir representantes dos ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Justiça, a presidenta Dilma Rousseff entendeu que essa garantia invade a competência das prefeituras e poderia prejudicar outros usuários que já contam com o desconto.
Dilma também retirou da lei o único ponto que tratava dos casos de idosos. Com isso, o Planalto atendeu às pressões feitas por estas pessoas durante a tramitação do projeto no Congresso, quando pediram para que o direito da meia-entrada fosse mantido, conforme previsto no Estatuto do Idoso, criado em 2003.

sábado, 23 de novembro de 2013

PT privatiza, mas Estado petista gasta tres vezes mais - Mansueto Almeida

Meu pitaco sobre o leilão dos aeroportos e os R$ 20,8 bilhões


by mansueto
O resultado dos leilões dos aeroportos do Galeão no Rio de Janeiro e de Confins em Minhas Gerais foi muito positivo. O governo federal garantiu uma arrecadação de R$ 20,84 bilhões pelos próximos 25 a 30 anos e o valor do ágio foi de 251% acima do lance mínimo de R$ 5,9 bilhões, valor somado dos dois aeroportos.
O resultado deixou o governo feliz e com razão, pois depois de muita teimosia e de anos de relutância, o Partido dos Trabalhadores está abraçando as privatizações de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e até terceirizando parte do planejamento do Estado, pois a elaboração de vários dos projetos do plano de concessões foi repassado para uma empresa PRIVADA, a Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP). Será que o setor público não teria pessoal ou competência para fazer o planejamento? Fica a dúvida.
Em resumo, o governo e o seu partido político, o Partido dos Trabalhadores, estão de parabéns por abraçar a agenda liberal das privatizações, recomendada há mais de duas décadas pelo que ficou conhecido na literatura como Consenso de Washington. É fato que o Brasil vai melhorar com essa transformação do PT de um partido de  esquerda radical para um partido social democrata. Sim, as concessões poderiam ter começado há pelo menos cinco anos, mas há um “custo de aprendizado” de um partido e de um governo que sempre demonizaram as privatizações e, agora, se agarram a elas como a última tábua de salvação para o crescimento do investimento e redução do custo Brasil.
Do ponto de vista fiscal, no entanto, me desculpem mas não há quase nada para comemorar em relação ao ágio de quase 300%. Primeiro, o valor total arrecadado de R$ 20,84 bilhões ingressará nos cofres públicos ao longo de mais de duas décadas, ou seja, o ingresso dos recursos seria de menos de R$ 2 bilhões ao ano, contribuindo para o aumento do primário em 0,05% ao ano.
Segundo, o ingresso líquido para o setor público não serão os quase R$ 2 bilhões mencionados acima. A Infraero tem 49% dessas concessões e precisará arcar com parcela dos investimento e, logo, o governo federal terá que fazer subsequentes capitalizações desta empresa ao longo dos próximos anos. Isso é despesa primária na veia e, assim, contribui para a queda do resultado primário. Não sei estimar ainda quanto será essa conta, mas não é pequena.
Terceiro, essa receita extra com as concessões será mais do que anulada com programas novos do governo de custo elevado que não existiam antes. Querem exemplos? Vamos lá. O Minha Casa Minha Vida (MCMV), por exemplo, é um programa cujo impacto na despesa primária está por volta de R$ 12 bilhões ao ano. Seria até maior, mas o FGTS tem bancado entre R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões do subsídio do programa nos últimos dois anos. E, neste ano, o gasto do governo federal para bancar a redução da contas de energia e a desoneração parcial da folha de salários significará uma despesa extra de, no mínimo, uns R$ 15 bilhões.
Assim, se somarmos o MCMV com as transferências do Tesouro à conta de desenvolvimento energético (CDE) e a compensação ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social temos uma despesa extra que deve passar de R$ 30 bilhões este ano e que antes não existia. Mesmo que todo o dinheiro da concessão dos aeroportos fosse transformado em receita hoje para o governo junto com a receita do campo de Libra essa montanha de recursos mal daria para bancar a conta, em 2013, dos três programas referidos acima: (i) MCMV; (ii) transferências ao CDE, e (iii) transferências ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social.
Assim, vamos comemorar sim a privatização dos aeroportos, uma medida liberal abraçada pelo mais novo partido social democrata do Brasil. Do ponto de vista fiscal, no entanto, não há concessão que dê jeito ao forte aumento do gasto público frente ao baixo crescimento do PIB que ocorrerá ao longo do governo Dilma. Os quase R$ 36 bilhões da receita de outorga do campo de Libra e dos aeroportos não cobrem nem mesmo a nova emissão de dívida que o governo fará para, mais uma vez, emprestar recursos para o BNDES para emprestar para as próprias empresas que pagarão ao governo por essas concessões.Assim, do ponto de vista fiscal, não há muito o que comemorar. Infelizmente.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Argentina chegou ao limite do gasto público: 46,9% do PIB

Não acreditem nessa conversa: nenhum governo irresponsável tem limites para o seu gasto público, ou seja, para a extorsão fiscal contra sua própria população e seus empresários. Eles ficam gastando o que podem e o que não podem, e só são contidos por duas coisas:
(a) uma violenta crise econômica, que recoloca todo o funcionamento do sistema produtivo em novas bases;
(b) uma revolta aristocrática, burguesa, em todo caso elitista, quando senhores da economia resolvem dar um basta na gastança irresponsável dos governantes, eventualmente decapitando algum, e pendurando outro pelo pescoço...
Por que a Argentina estaria no limite da sua irresponsabilidade fiscal, com "só"  47% do PIB? Por que não poderia o seu governo ultrapassar 50% do PIB. Existe algum limite político, econômico, psicológico, natural para isso? Não acredito. Ela pode facilmente ir a 55%, ou mais, de arrecadação e gastos, basta saber vender sua mensagem dizendo que o faz pelo bem comum.
Ou basta virar uma ditadura, mas talvez não precise tanto: basta virar um regime corporativo, com amplo envolvimento das máfias sindicais na gestão pública, o que significa, em outros termos, um sistema fascista.
O fascismo econômico não precisa ser totalmente estatizado, basta que o Estado controle as atividades do setor privado, e deixe a propriedade formal dos meios de produção em mãos privadas.
Não pensem que estamos longe disse: mais alguns anos o Brasil chega lá: dependendo da contabilidade que se faça, o Brasil já ultrapassou 38% (ou mesmo mais de 40%, na metodologia antiga do IBGE) do PIB, e para todos os efeitos já somos uma economia fascista, com essa república sindical já instalada no poder político e nos fundos de pensão.
O Brasil precisaria de uma boa fronda empresarial, ou seja, uma revolta fiscal para conter esse ogro insaciável que se chama Estado, com esse gastador compulsivo a frente, que é o Governo, irresponsável e perdulário, como vários governos. Enquanto isso não ocorrer, o Brasil estará seguindo o caminho da Argentina,... e da Grécia.
Sinto alarmar os ingênuos...
Paulo Roberto de Almeida

Especialistas dizem que Argentina chegou ao limite do gasto público
Por Marli Olmos
Valor Econômico, 18/10/2013

MAR DEL PLATA  -  Equivalente a 46,9% do Produto Interno Bruto, um recorde histórico, o gasto público na Argentina "chegou ao limite", segundo Juan José Llach, professor e diretor do Centro de Estudos de Governo, Empresa e Economia.

Diante de uma plateia de empresários que parecia já cansada de tanto abordar esse tema sem esperanças de mudança, Llach participou de uma das discussões mais concorridas nesta sexta-feira, 18, segundo dia de um encontro organizado pelo Idea, um instituto que une o setor produtivo na busca de discussões para o desenvolvimento do país.

Na última década, o gasto público argentino aumentou 17%, é 10% maior que o brasileiro e está 15% acima da média dos países emergentes, segundo dados do centro de estudos. Desde 2000, a carga tributária argentina cresceu 53%.


Com os gastos concentrados, os repasses às províncias são escassos, o que tem levado a uma constante elevação de tributos regionais. Segundo Guilhermo Pérez, presidente do grupo GNP, desde 2000, o imposto na província de Buenos Aires para o comércio subiu de 2,5% para 5%.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Governo: sempre gastando mais, sempre investindo menos - Editorial Estadao

Rotina: mais gasto corrente e menos investimento

Editorial O Estado de S.Paulo, 18/09/2013
Há uma contradição entre o que o governo diz sobre a retomada dos investimentos e o que ele faz na prática - ou seja, gastar mais -, mostrou estudo do economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Dados do Ministério da Fazenda confirmam a distância entre o discurso e a realidade.
Entre 2008 e 2012, segundo a publicação Economia Brasileira em Perspectiva, as despesas primárias do governo federal aumentaram de 16,4% do Produto Interno Bruto (PIB) para 18,2% do PIB, mas os investimentos, excluídos os gastos com o programa de habitação social, estabilizaram-se em torno de 1,1% do PIB. Neste ano, até julho, com base em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), os investimentos totais do governo federal caíram 6,21% em relação ao mesmo período de 2012.
Foram os gastos sociais - previdência, educação, desenvolvimento social, saúde - que mais aumentaram nos últimos cinco anos. A prioridade da sociedade - "conscientemente ou não" - não parece estar em mais investimento, segundo o estudo.
A Fazenda inclui nos investimentos os gastos do programa Minha Casa, Minha Vida (de 0,3% do PIB, em 2012) para argumentar que investe mais. A maioria dos economistas considera que se trata de subsídio, que não deve ser considerado como investimento, mas como gasto social. Mesmo tratando a habitação social como investimento, este seria pequeno para uma arrecadação de 36% do PIB.
A efetivação dos investimentos federais ainda padece de outros problemas, como o ritmo da execução orçamentária. Entre 2004 e 2012, menos de 50% dos investimentos autorizados foram pagos, segundo o estudo. Motivo: investimentos estão incluídos entre as despesas discricionárias, ou seja, dependem do comportamento da arrecadação. E grande parte das liberações de recursos para investimento ocorre nos dois últimos meses de cada ano, quando não há mais tempo para que sejam executados.
O governo, de fato, poderia usar menos recursos orçamentários escassos para fazer os investimentos indispensáveis para a economia ganhar competitividade e melhor disputar os mercados globais. Com regulação adequada, atrairia investidores externos e internos para projetos de interesse público - rodovias, portos, ferrovias, energia - e obteria o resultado almejado, sem malabarismos fiscais e aportes do BNDES.

sábado, 17 de agosto de 2013

O Brasil dos marajas, o Brasil dos mandarins; e o Brasil que vai para o brejo...

Como a China do Império Quing e dos seus mandarins, como a Índia do Império Mogul e dos marajás, o Brasil também vai ter o seu período de decadência estrutural, aquela que é provocada pelos próprios servidores do Estado quando eles passam a se apropriar de uma fração significativamente maior da riqueza gerada pelos empresarios e trabalhadores comuns, e desproporcional aos seus serviços e produtividade, que costumam ser pífios, e quando o investimento privado, e portanto a criação de empregos produtivos e de riqueza começa a diminuir.
Segue-se uma fase de decadência inevitável, que pode ser longa, ou média -- jamais curta -- dependendo da qualidade das elites e de como reagem os estratos médios.
Como a nossa elite é medíocre -- toda ela, políticos, empresários, acadêmicos e outros aproveitadores da festa geral -- e como a classe média ainda pede, contraditoriamente, mais serviços públicos, e acha que o Estado pode resolver os seus problemas, só posso prever uma fase de longa decadência para o Brasil. Por longa eu quero dizer mais de duas gerações.
Ou seja, meus filhos: não esperem ficar ricos. Meus netos: não sei, depende do que vocês fizerem, pois essa decadência, graças à miséria da oposição e ao totalitarismo dos companheiros, deve ficar por aí mais uns 35 anos, pelo menos...
Paulo Roberto de Almeida

Aumento de despesas com servidores engessa investimentos nos Estados

Desde 2009 gasto com pessoal cresce acima da inflação e 20 das 27 unidades federativas superaram 90% do limite fixado na LRF para desembolsos com a folha; situação eleva pressão a governadores, também alvos de protestos por um serviço público melhor

17 de agosto de 2013 | 16h 23
Mauro Zanatta / BRASÍLIA - O Estado de S. Paulo
 No momento em que Estados e municípios tentam acelerar investimentos, melhorar serviços públicos - demandas que ganharam mais peso após a onda de manifestações pelo País em junho - e reduzir gastos para manter suas estruturas, a forte ampliação nas despesas com pessoal nos últimos quatro anos tem restringido e até neutralizado esses esforços. O alerta abrange 20 das 27 unidades federativas do País e ajuda a elevar as pressões por mudanças na legislação fiscal.
Levantamento feito pelo Estado a partir dos relatórios de gestão fiscal enviados ao Tesouro Nacional mostra que essa despesa permanente cresceu acima da inflação desde 2009. Vinte unidades federativas já superaram 90% do chamado limite prudencial destinado a gastos com folha salarial (46,55% da receita). Esse é o segundo dos três tetos previstos para os Poderes Executivos na Lei de Responsabilidade Fiscal.
A situação deve piorar. Balanço dos primeiros quatro meses de 2013 revela que, na média, o gasto com servidores aproxima-se de 92% do permitido pela LRF. Até abril, R$ 1,77 bilhão foram adicionados às folhas salariais, segundo os Estados.
Governadores e prefeitos têm elevado de forma substancial a proporção dessas despesas nos orçamentos, por vários motivos. De uma lado, tem havido perda expressiva na arrecadação de ICMS - principal fonte de receita dos Estados - em razão do ritmo fraco na economia brasileira, e as desonerações federais, como isenções de IPI, reduzem a verba dos Fundos de Participação de Estados (FPE) e Municípios (FPM). De outro, há um aumento vegetativo na folha de pagamento, a redução nas transferências, o engessamento do orçamento com despesas “carimbadas” e a indexação da dívida por índices “caros”.
“Há uma armadilha, uma compulsão, porque temos crescimento inercial de 2% a 3% anual com prêmios, promoções. Mesmo sem aumento real, esse gasto cresce”, diz o secretário de Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly. “Se não resolvermos, vamos para um precipício.” O Paraná, que elevou em R$ 4,8 bilhões o gasto com pessoal desde 2009, está próximo de superar o limite de comprometimento máximo previsto na LRF (49% da receita).
Outro fator que eleva os gastos com pessoal é o aparelhamento político de Estados e municípios. “Houve aumento dos cargos em comissão nas secretarias em virtude de acordos políticos, além de aumento dos investimentos em direitos sociais, como saúde e educação”, diz o advogado e professor do Ibmec-RJ Jerson Carneiro.
Superávit. Neste ano, o governo federal conta com uma boa contribuição da economia de Estados e municípios para fechar sua conta de superávit. Se depender das despesas com pessoal, a estratégia corre riscos. “O relaxamento fiscal federal virou mau exemplo. Os Estados fizeram ajustes, mas estão mais endividados porque usaram recursos próprios de investimentos para pagar pessoal”, afirma o especialista em finanças públicas do Ibre/FGV José Roberto Afonso.
Em 2012, os 26 Estados e o Distrito Federal desembolsavam, em média, 43,8% de suas receitas com pessoal. Em 2009, o índice médio era de 42,65%. Com isso, novos gastos com funcionários estaduais não poderão passar de R$ 18,8 bilhões.
“Esse aumento acaba com o ‘custeio bom’, que é compra de remédios, material de educação, segurança. Estão mudando a lei fiscal por dentro, o pior que podia ocorrer”, avalia Oberi Rodrigues, secretário de Planejamento e Finanças do Rio Grande do Norte, Estado que também está perto de superar o limite máximo com pessoal.
Nos últimos quatro anos, esse “G-27” elevou sua folha de pagamento em R$ 55,7 bilhões em valores nominais, sem descontar a inflação - um crescimento de 44,2% no período. De 2009 a 2012, o IPCA somou 24,52%. A despesa per capita anual por funcionário foi de R$ 60.225 em 2012 - o País tinha 3.111.944 servidores públicos no ano passado, segundo o IBGE.
Em São Paulo, o dispêndio com servidores atingiu 91% do limite prudencial. O Estado registrou o maior aumento nominal entre todas as unidades: R$ 13,15 bilhões em quatro anos. A Secretaria da Fazenda informa que o principal motivo foi a revisão salarial e planos de carreira para as áreas de saúde, educação e segurança, abrangendo 87% dos servidores ativos.
Pressão. É consenso entre Estados e municípios de que há poucas saídas e muita pressão por mais gastos, como a criação de pisos nacionais para categorias. No Congresso, uma enxurrada de projetos pode piorar as finanças, como a PEC 300, que eleva salários de policiais.
Na contramão, o lobby de governadores e prefeitos busca aprovar a renegociação das dívidas, tentando “descolar” esse debate da reforma do ICMS, onde não há consenso. Um projeto do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), tem apoio de Estados. Não resolve, mas dá refresco nas contas públicas, segundo os secretários de Fazenda. O texto prevê reduzir o juro da dívida para 4% e mudar o indexador, de IGP-DI para IPCA, com teto na taxa básica da economia (Selic), mas não alivia o comprometimento da receita, pois não estabelece teto para pagamento de juros e da dívida, previsto na Resolução 43 do Senado.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Querida, encolheram o dinheiro que estava aqui: maravilhas dacontabilidade governamental...

Maravilhas, em termos...
A palavra exata é bem outra.
Paulo Roberto de Almeida

Redução da conta de luz pode custar R$ 6,7 bilhões para o contribuinte

Anne Warth e João Villaverde
O Estado de S. Paulo, 28 de julho de 2013

Parte dos recursos de fundo criado pelo governo para reembolsar empresas do setor cobriu outras despesas


BRASÍLIA - O governo federal não tem mais recursos em fundos setoriais para as indenizações que terá de pagar às empresas do setor elétrico. Essas empresas aderiram ao pacote de renovação antecipada das concessões, que bancou o desconto médio de 20% na conta de luz para os consumidores.
A redução foi anunciada por Dilma Rousseff em cadeia nacional de rádio e televisão. Com saldo insuficiente para essa despesa, caberá ao Tesouro Nacional e, em última instância, ao contribuinte, desembolsar pelo menos R$ 6,7 bilhões nos próximos quatro anos para reembolsar as companhias.
Parte do dinheiro do fundo que foi criado para indenizar as concessionárias foi transferido para bancar outra despesa. Em maio, R$ 2,5 bilhões saíram da Reserva Global de Reversão (RGR) para outro fundo, a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que financia o gasto com as usinas térmicas, programas para a população de baixa renda, Luz para Todos e alguns subsídios.
Essa operação, descoberta pelo Estado, vem sendo mantida sob sigilo pelo governo. O motivo da transferência é que a CDE não tinha saldo suficiente para pagar as despesas com as térmicas e com subsídios que tiveram de ser elevados porque Cesp, Cemig e Copel não quiseram renovar suas concessões.Com a operação, o saldo da RGR baixou para algo em torno de R$ 2,4 bilhões.
Conforme dados da movimentação financeira do fundo, o governo pagou R$ 7,9 bilhões em janeiro para as empresas que optaram por receber o dinheiro à vista. Restavam R$ 12,1 bilhões, a ser pagos em parcelas mensais nos próximos quatro anos. Três parcelas foram pagas, em fevereiro, março e abril, totalizando R$ 1,5 bilhão. Como os dados de maio, junho e julho não foram disponibilizados, estima-se que outros R$ 1,5 bilhão tenham sido pagos nesse período. Faltariam, portanto, R$ 9,1 bilhões em indenizações.
Como o saldo do fundo está em R$ 2,4 bilhões, faltam recursos para pagar, pelo menos, R$ 6,7 bilhões em números de hoje. Esses valores serão atualizados pelo IPCA e acrescidos de remuneração de 5,59% ao ano. Como a RGR foi praticamente extinta, a entrada de recursos no fundo é insuficiente para pagar essa conta.
Ainda com base na média mensal de indenizações, de cerca de R$ 500 milhões, até o fim do ano o saldo da RGR terá chegado a zero, sem que o total das indenizações tenha sido pago. Para se ter ideia do tamanho da conta, no início do ano, o fundo contava com um saldo de R$ 15,258 bilhões. Não se sabe como o governo vai cobrir esse buraco. Fontes confirmam que a equipe econômica também não sabe ainda como repor as perdas. A ideia do governo era usar dinheiro a receber da usina de Itaipu, mas, na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou essa hipótese e confirmou que serão despesas primárias.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia (MME) informou que a transferência de recursos da RGR à CDE é permitida por lei. Conforme o ministério, a legislação também autoriza repasses da CDE à RGR, até mesmo para o pagamento de indenizações. "É natural da gestão dos fundos que haja transferência de recursos entre a RGR e a CDE, e vice-versa", afirma o MME.
Por fim, o ministério afirma que a gestão dos fundos setoriais é delegada por lei à Eletrobrás e que o Ministério da Fazenda é o órgão responsável por autorizar aportes do Tesouro à CDE. O Ministério da Fazenda e a Eletrobrás foram procuradas, mas não se pronunciaram até o fechamento desta edição.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Gastos publicos: ainda o debate sobre politicas de investimentos edespesas correntes

O debate econômico no país da meia-entrada

Ao contrário do que costumo fazer, hoje vou escrever para sugerir, enfaticamente, que vocês visitem o site do sociólogo, Simon Schwartzman, e leiam o que Samuel Pessoa (economistas do IBRE-FGV) e colunista da Folha escreveu sobre o artigo do economista André Lara Resende que foi publicado na sexta-feira no Valor Econômico. Vou colocar o link no final deste post, mas antes faço algumas observações.
Primeiro, todos sabemos que André Lara Resende é um economista brilhante que junto com Pérsio Arida , Edmar Bacha, Francisco Lopes, Gustavo Franco entre outros foi uma das cabeças por trás da concepção do Plano Real. No entanto, confesso que concordo com todos as críticas que Samuel escreveu no pequeno texto no blog do Simon Schwartzman.
Segundo, a discordância de Samuel em relação ao artigo do Lara Resende concentra-se em três pontos: (i) Lara Rezende acredita que o Nacional Desenvolvimentismo era um projeto que combinava uma rede de proteção social com a industrialização forçada. Da mesma forma que Samuel, não concordo com essa interpretação e existe até uma literatura nova que se chama “O Novo Estado Desenvolvimentista” que mostra bem a diferença entre um modelo que prioriza industrialização forçada (que foi o nosso velho estado desenvolvimentista) versus outro no qual a politica industrial e de promoção setorial competem por recursos com politica social – tem três bons textos sobre isso: dois do Peter Evans e outro do David Trubek. O nosso modelo dos anos 70 não foi ativo em politica social. 
(ii) Samuel discorda da ideia que a maior parte do que o Estado arrecada de nossa elevada carga tributária se transforma em aumento do consumo do governo – ineficiência da máquina pública. É como se o Estado fosse uma grande máquina inchada e que para reduzirmos o gasto público precisaríamos, apenas, de um fabuloso gestor privado. Isso é pura ficção. O Brasil gasta muito com transferências e consegue-se explicar quase todo o aumento do gasto público desde 1990 olhando apenas para as contas públicas ligadas as transferências (previdência e gastos sociais com LOAS, Bolsa Família, seguro desemprego e abono salarial).
É nesse segundo ponto que aparece o “problema da meia-entrada” que Samuel explica e que vem sendo popularizada em um texto do Marcos Lisboa e Zeina Latif. O Estado, no Brasil, gasta muito porque fizemos opção por várias “meias-entradas”, mesmo que essas decisões (como bem lembra meu amigo e ex-presidente do IPEA Fernando Rezende) estejam sujeitas a problemas de assimetria de informação e atuação de grupos organizados (aqui que entra o problema de ação coletiva da Mancur Olson). Nas palavras de Samuel: “a própria sociedade, e não um estamento apartado da sociedade, que se beneficia das meias entradas”.
Concordo com isso. Não foi uma elite dominante que ainda sofre influência do Estado Português colonial que decidiu sobre “nossas jabuticabas”. Infelizmente fomos “nós” com todas os vícios e imperfeições de nosso processo político e a atuação de grupos de pressão. Por isso que Samuel fala, e concordo com ele, que uma forma de tentar corrigir o problema do excesso de “meias-entradas” é deixando claro o custo das políticas: se as pessoas tomam consciência do link entre o que pagam de impostos e como o dinheiro é aplicado isso pode começar um interessante debate que poderia levar a uma reforma tributária e fiscal.
(iii) Por fim, o último ponto que Samuel discorda é que André Lara Resende  associa os movimentos das ruas às necessidades de moderar a demanda por crescimento econômico em função das limitações de recursos naturais do planeta. Lara Resende tem essa ideia fixa que o mundo se aproxima de um limite ao consumo e, assim, precisamos aprender a viver com menos e priorizar qualidade de vida e não mais o crescimento. Acho uma tese interessante, mas tenho uma imensa dificuldade de concordar com essa ideia e não vi ninguém nas ruas defendendo essa tese.
Querer melhor qualidade de vida não significa reconhecer as limitações de recursos naturais do nosso planeta. Na verdade, nós brasileiros adoramos gastar, algo que o próprio Lara Resende reconhece na sua entrevista hoje à jornalista Alexa Salomão, no Estado de São Paulo, quando fala de nossa “estrutural insuficiência de poupança”. – clique aqui para ler a matéria do Estadão.
Já falei muito. Clique aqui e vá ao Blog do Simon Schwartzman para ver a discordância do economista Samuel Pessoa do texto escrito por André Lara Resende e publicado no Valor Econômico (texto do valor aqui). Boa leitura porque esse é um excelente debate, independentemente de você concordar com um ou com o outro.

9 Respostas

  1. em 07/07/2013 às 8:29 PM | Resposta
    vinicius
    Essa fixacao do ALR em relacao ao esgotamento iminente dos recursos o descolou da realidade. Não sei se eh reflexo de algum sentimento de culpa em consequencia da sua colecao de carros, mas o fato eh q, a despeito de seu brlhantismo, varias barbaridades tem sido apontadas em suas declaracoes recentes. Um periodo de purificacao, q passe por abrir mao da fortuna amealhada no Matrix pos-bandadiagonalendogena, com retorno a academia, pode devolver-lhe a lucidez

    • Depois de colecionar porsches é normal ter uma indigestão de consumo. Morar muito tempo em Londres pode fazer o cara imaginar que o desejo do brasileiro seja a frugalidade. Mas o cara é muito bom.
      A rede de proteção no anos 50 somente funcionava para uma elite, tipo ex-funcionário do BB, e o seu custo era pequeno demais, mesmo sendo uma certa aberração. Levar o assistencialismo para a “geral” é que ficou caro, que acaba gerando outro tipo de aberração.
      Mas o Estado arrecada muito e a classe média, ex-BB e BF, percebe que o retorno é pífio. E a corrupção dos políticos e a falta de vergonha na cara incomodam. Um gestor faria a diferença sim! Com um mandato de diminuir custos poderia cortar, por exemplo, a dezena de bilhões que o poder legislativo em todas esferas gasta. Bem como impedir que os juízes tenham mais féria que meu filho. Poderia cobrar universidade para quem tem grana.
      Ia esquecendo: o governo petista é retrógrado e o texto está interessante.

  2. Sugiro a leitura do texto de Rodrigo Constantino sobre o assunto. Um abraço.

  3. em 08/07/2013 às 9:35 AM | Resposta
    Joana Duarte
    Caro Mansueto,
    Sou jornalista do site Opini�o e Not�cia e admiradora do seu blog, cujas novidades recebo por email. Gostaria de poder publicar algumas de suas opini�es no site, dando cr�dito e link para o blog. Por favor me diga se uma parceria nesses moldes, atrav�s da qual ajudar�amos a divulgar suas opini�es e blog reproduzindo textos no Opini�o e Not�cia, te interessaria.
    Agrade�o desde j� por sua aten��o e pelo envio de novas publica��es do blog via email. Sucesso.
    Abs, Joana Duarte Opini�o e Not�cia

    • em 08/07/2013 às 9:43 AM | Resposta
      mansueto
      Claro Joana, Seria um prazer. Mas como funciona? voces publicariam parte do artigo com o link para o meu blog ou publicariam o artigo completo no site de vocês? Nunca fiz antes esse tipo de parceria e gostaria de saber como funciona antes de tomar decisão. Abs, Mansueto

  4. em 08/07/2013 às 1:16 PM | Resposta
    Vanessa Ferrante
    Adorei o texto do Lara e gostaria de dar a minha opinião: acho que a melhora do país só acontecerá com a maturidade da sociedade. A sociedade brasileira acredita que o bom é ser malandro (vou comprar barato e vender caro sem esforço, não vou trabalhar e vou deixar o governo me sustentar, só trouxas trabalham e poupam). Essa mentalidade do brasileiro, o ganha-perde (eu ganho e o resto da sociedade que se dane) é o que destrói as possibilidades de melhoria. O governo age da mesma forma, assim como os empresários. Enquanto cada um estiver interessado em puxar a sardinha para o seu lado, não andaremos. E isso passa sim por um crescimento que não esgote recursos naturais, acessível à todos, sem o capitalismo feroz. É simplesmente nos acostumarmos a ter a nossa parte, sem querer a do outro, e a separar o básico do supérfluo. Temos que resgatar o valor de fazer um trabalho bem feito, e usar isso para nos motivarmos, e não o lucro desenfreado. É pagar e receber o justo por tudo. O problema do Brasil não é o Estado. É o brasileiro. O Estado ruim é consequencia dos brasileiros que trabalham nele.

  5. Olá,
    você tem um link ou referência do tal texto do Lisboa e Latif?
    grato
    Manoel

  6. Mansueto, se o ser humano já apresenta vieses comprovados que dificultam o entendimento das consequências não intencionais de políticas públicas (o livro do Kahneman, Thinking Fast and Slow, trata com maestria o tema) e, no caso brasileiro, ainda padece de ínfimas ferramentas cognitivas (temos mais de 70% de analfabetos funcionais, infelizmente é um fato), como vamos esperar que deste mesmo povo venha a compreensão e pressão esperada para fazer as reformas que você e o Samuel descrevem ?
    A verdade é que temos grupos de interesse com poder de vocalização que obstrui qualquer avanço rápido em termos de adoção das pautas corretas. Minha avaliação é que o amadurecimento institucional para isto só virá (e se vier, isto não é uma certeza) na mesma velocidade que andarem a nossa educação.
    Com relação à crítica do consumismo preconizado pelo Lara Resende. Uma análise mais detida, lendo o livro dele “Os Limites do Possivel” dá para entender (e concordar com o ponto dele). Vou tentar resumir aqui meu entendimento àcerca dos argumentos dele: (1) A ciência econômica não pode ter como “drive” o formalismo matemático per si, para isto o cientista social precisa sempre que possível beber de outras fontes. (2) Diante do exposto, ter tão somente o crescimento do PIB como Norte é “too narrow”. Evidências empíricas já demostram que a partir de determinado nível de renda (àquele que supre as necessidades primárias e secundárias) o aumento da felicidade só ocorre através da diminuição das desigualdades. (3) O equilíbrio está a meio caminho entre poupadores contumazes (Alemães e Chineses) e gastadores tresloucados (Gregos e Americanos), caso contrário viveremos de crises em crises e a função do economista é oferecer remédios para estes desequilíbrios. (4) A transferência de renda intergeracional também refletida nas dívidas gigantescas dos países gastadores não é sustentável. Diante do exposto é que a questão da austeridade, como barreira ao consumo irrefreável (leia-se consumismo) vem à tona na tese colocada pelo André. Sugiro a leitura do livro dele e caso não comungue desta mesma interpretação, ficarei contente em receber seu e-mail.


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