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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Globalizacao e globalismo: como distinguir os dois - Paulo Roberto de Almeida

O pessoal do Brasil Paralelo consultou-me a propósito desses dois conceitos, o primeiro um processo real, inquestionável, o segundo uma invenção da direita antiglobalizadora. Enviaram-me um roteiro de perguntas. Segui o roteiro, mas não sabia que haveria uma entrevista gravada "em paralelo".
Eu poderia ter elaborado muito mais em função de meu conhecimento a respeito da globalização e de seus efeitos eminentemente positivos, mas os coordenadores do Brasil Paralelo parecem não acreditar muito nisso, aderindo, talvez, aos alertas alarmistas -- com desculpas pela redundância -- do Olavo de Carvalho quanto aos perigos do globalismo e de um fantasmagórico (para mim) "governo global", ou "governo mundial". 
Não partilho desse tipo de paranoia, e assim pude expressar minha opinião livremente, como consignado abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 


Globalismo e globalização: os bastidores do mundo

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: notas para entrevista; finalidade: programa Brasil Paralelo]


Globalismo e globalização: qual a diferença?
A globalização é fenômeno bem conhecido, e praticamente secular, ou mesmo milenar, tendo se acelerado em diversas ondas desde os grandes descobrimentos e aventuras marítimas do século XVI, que realmente unificaram o mundo pela primeira vez; trata-se de um processo impessoal, objetivo, independente de quaisquer outras forças políticas e sociais, pois ela é conduzida essencialmente ao nível micro, ou seja, por iniciativa de indivíduos e empresas, inventores, inovadores, empresários, aventureiros, missionários, intelectuais ou quaisquer outros atores, de quaisquer países e origens sociais, que transcendem suas circunstâncias locais ou nacionais, para projetar-se além fronteiras, mundialmente e até universalmente, graças aos instrumentos, processos e mecanismos criados, deliberadamente ou não, para justamente ultrapassar barreiras nacionais, limites fronteiriços graças às ferramentas de informação e de comunicação desenvolvidos por esses mesmos agentes privados ou institucionais, com tais objetivos universalistas, transmitindo, transferindo, vendendo, oferecendo os mais diferentes tipos de bens e serviços, mas sobretudo ideias, conceitos, propostas para uma maior integração entre pessoas, empresas, instituições públicas e privadas.
Já o globalismo é um conceito novo, criado com motivações deliberadamente políticas, para caracterizar um movimento, ou processo, equivalente a outros ismos existentes no cenário intelectual ou conceitual do mundo moderno: por exemplo, o socialismo, o feminismo, o altermundialismo, o nacionalismo, quem sabe até o próprio capitalismo, ainda que este seja também um fenômeno econômico e social totalmente objetivo, impessoal, incontrolável, correspondendo apenas a uma determinada forma de organização das forças produtivas (baseada em empresas privadas produzindo bens e serviços para mercados de massa) e das relações de produção (baseadas no trabalho assalariado e no contratualismo direto entre trabalhadores e empresários).
Como eu vejo o globalismo? Como uma tentativa de forças conservadoras ou de direita, para rejeitar a sensação de perda de soberania nacional em prol da globalização, justamente, como se estivesse ocorrendo uma conspiração de forças globalistas para reduzir a soberania dos Estados em favor de um fantasmagórico “governo mundial”. Não hesito em classificar tal concepção estreita de alguns dos efeitos da globalização na categoria das manifestações paranoicas, derivadas de certo nacionalismo estreito, de um soberanismo introvertido, e de uma atitude defensiva em relação aos avanços diretos e indiretos da globalização, para mim inevitáveis e positivos, como aliás a própria perda de soberania dos Estados nacionais sobre partes importantes das políticas públicas, o que considero ser uma tendência favorável à racionalidade econômica e ao bem-estar das sociedades nacionais.
A esquerda política, num certo sentido, também atua contra a globalização, como visto pelo exemplo de diversos partidos europeus na rejeição dos projetos comunitários ou dos acordos regionais e plurilaterais de abertura econômica e de liberalização comercial, como também em outros continentes. Na América Latina, diferentes componentes da esquerda tendem a rejeitar os acordos de livre comércio, em favor de projetos mercantilistas, estatistas, intervencionistas, colocados sob estrito controle das burocracias nacionais.
Em resumo, eu vejo muitas diferenças, e total dissociação de objetivos entre um processo objetivo como a globalização e uma construção política, de caráter restritivo, como esse conceito de globalismo, que de fato se opõe à globalização, por considerá-la negativa ou restritiva das soberanias nacionais, o que eu reputo como positivo.

De onde vem essa ideia de globalismo e qual a origem dessa pauta? Por que estamos falando disso?
O globalismo, essa construção artificial, de certo modo reacionária, tende, pelo que entendo, a restringir, a constranger, fazer retroceder a globalização, por considerar que esse processo atua contra os interesses dos Estados nacionais, em favor de uma entidade que eu considero totalmente fantasmagórica que seria o “governo mundial”, algo totalmente impossível de ser instituído, uma vez que vivemos, desde Westfália pelo menos, e pelos próximos séculos até onde a vista alcança, sob o domínio dos Estados nacionais independentes e soberanos.
Visto pelo outro lado, registramos que é o nacionalismo estreito, a afirmação mesquinha dos interesses nacionais, a defesa exacerbada de uma concepção estreita desses interesses e sua projeção exterior que foram, e ainda são, responsáveis pela maior parte das guerras e conflitos militares, assim como, internamente, pelas violações mais grosseiras dos direitos nacionais e até pela repressão das liberdades democráticas. As ideias de liberdade, de defesa dos direitos humanos, de afirmação irrestrita de valores e princípios democráticos são ideias universais, concebidas e implementadas para a defesa dos direitos dos indivíduos, das liberdades pessoais (de religião, de expressão, de associação, de iniciativas individuais), contra os Estados, contra as tiranias, contra os governos arbitrários, prepotentes, concentradores do poder.
Vejo a globalização, justamente, como um processo criado e desenvolvido ao nível micro, ou seja, por indivíduos e empresas, ao passo que as forças antiglobalização são geralmente de nível macro, estatal, ou até de caráter intergovernamental. São essas forças, muitas delas implementadas por indivíduos ou por organizações de caráter estreitamente nacionalista, que se opõem a um fantasma, o globalismo, ou um pretenso governo mundial.

Quem são essas entidades? ONU, UE, fundações etc. qual o propósito, o que elas defendem, por que elas nasceram e com que dinheiro atuam. 
O mundo atual, o sistema contemporâneo de organizações internacionais, ou de âmbito regional – como a UE, por exemplo, um projeto comunitário – surgiram ao cabo e como consequência de grandes conflitos interestatais, ou de guerras globais, que trouxeram enormes destruições materiais ou e gigantescas hecatombes humanas, crises terríveis surgidas geralmente, quando não totalmente, da afirmação exacerbada dos interesses nacionais, dos nacionalismos exclusivistas, ou de ambições desmedidas de líderes nacionais irresponsáveis, animados pelo desejo de dominar povos e nações, pela via da expansão territorial e das aventuras militaristas. Essas organizações constituem uma tentativa, por parte de líderes responsáveis, democráticos, respeitadores dos direitos humanos, de valores e princípios humanitários, de encontrar um terreno comum de diálogo e entendimento entre os diferentes Estados nacionais soberanos, de maneira a evitar novas guerras e destruições.
Essas organizações podem ser invasivas, intrusivas, destruidoras das soberanias nacionais, mas num certo sentido elas também são soberanistas, defensivas, restritivas, mercantilistas, pela simples razão de que elas são intergovernamentais, na maior parte dos casos, e tendem a defender mais os interesses dos Estados do que dos povos. Creio, assim, de que a acusação de globalistas, ou de defensoras desse fantasma do globalismo, feitas contra elas é exagerada, e equivocada, pois elas nada podem fazer contra a vontade dos Estados nacionais, de que é prova maior a ação (ou falta de) do Conselho de Segurança das Nações Unidas em relação aos piores conflitos ocorridos nos teatros regionais desde o surgimento da ONU, notadamente o conflito no Oriente Médio, como no passado a guerra do Vietnã e, desde sempre e atualmente, as muitas guerras civis, conflitos intra-estatais e diferentes situações de violações de direitos humanos e dos princípios democráticos em quase todos os continentes.
Essas organizações nasceram justamente desses conflitos e das guerras globais, elas defendem o convívio democráticos entre povos e nações, entre Estados nacionais, a cooperação internacional para a paz e a segurança mundiais, o desenvolvimento e o bem-estar desses povos. O dinheiro de que dispõem vem diretamente dos Estados nacionais e de algumas outras fontes secundárias, e elas são, portanto, dependentes dessas dotações. O governo Trump, por exemplo, retirou os EUA da Unesco, o que geralmente significa uma redução do orçamento operacional entre um quinto e um quarto do total dos recursos devotados a alimentar a sua burocracia ou suas ações.

Como diferentes agentes se comportam nesse jogo de interesses? Estados Unidos, Rússia, China, economias emergentes, Islã...
Esses “agentes”, são muito diversos entre si. Estamos falando aqui, de um lado, de três Estados soberanos, Estados Unidos, Rússia e China, totalmente diferentes entre si, sob qualquer critério que se examine; de outro lado, de uma categoria difusa de “atores” que são arbitrariamente agrupados nessa categoria de “economias emergentes”, à qual o Brasil supostamente pertenceria, há muitos anos aliás. Cada um deles possui certamente interesses nacionais, não necessariamente convergentes entre si, e na maior parte do tempo bastante opostos entre si, como parecem ser, por exemplo, os objetivos nacionais de EUA, Rússia ou China. Quanto aos emergentes, essa categoria difusa não permite sequer falar de “jogo de interesses”, pois não jogam num tabuleiro comum.
Já o “Islã”, totalmente ou praticamente desconhecido no Brasil, designa uma imensa comunidade de praticantes dessa religião, divididos em diferentes seitas e vertentes da própria religião, nem sempre harmônicas entre si, que por sua vez se estende a um número muito grande de países e de regiões, diversificados em línguas, geografias, modos de organização política e formas diversas de integração econômica mundial, sem que se possa identificar claramente que tipo de unidade política, ou de governança, haveria de unir todos eles ao abrigo de um conceito vago como “Islã”. Existe uma “Organização Islâmica” que não tem sequer unidade de visão, ou coordenação de comportamentos dos governos dos países membros, para tratar, por exemplo, do problema mais intratável da atualidade, que é o terrorismo de base islâmica, na verdade fundamentalista, ou sectária, e que vitima primeiramente e principalmente os próprios muçulmanos, e marginalmente os ocidentais, que seriam, supostamente, os “inimigos” principais desses terroristas fundamentalistas.

Quais as possíveis consequências de um governo global? Tanto positivas quanto negativas. O que ambas correntes argumentam a respeito. 
Falar sobre as “possíveis consequências” de um fantasmagórico “governo global” significa, em primeiro lugar, considerar que uma tal construção seja possível, que ela esteja em curso de ocorrer, que possa emergir futuramente, ou que esteja sendo seriamente considerada por essas entidades, ou por estadistas ou dirigentes nacionais interessados nesse tipo de agência ou organismo supranacional, que serviria para se substituir, ou até se opor, aos Estados nacionais. Ora, eu considero, não apenas, que tal tipo de governo global é indesejável, mas simplesmente que ele é impossível, nas atuais condições das relações internacionais e dos sistemas existentes de cooperação e de coordenação entre Estados soberanos, membros da ONU. A ONU, ou suas agências especializadas, inclusive as relativamente “independentes” no plano orçamentário, como o FMI ou o Banco Mundial, são totalmente submetidas à vontade, aos desejos, aos projetos dos governos nacionais, sobretudo dos mais poderosos entre eles, como são as cinco potências com cadeiras permanentes no CSNU e alguns outros atores dotados de certas capacidades políticas, financeiras ou militares, como alguns membros do G-20 (estes fazem mais de 90% do PIB mundial, e provavelmente quase a totalidade do “poder de fogo” no mundo, sem que eles sejam capazes de evitar conflitos na periferia).
Não se pode tampouco considerar que existam, efetivamente, duas “correntes” identificadas de opinião, uma “globalista”, a outra anti-globalista, que seriam, hipoteticamente, constituídas, a primeira por partidários da globalização, a segunda por seus opositores, ou vice versa (qualquer que seja o sentido que se atribua a esses conceitos). Tal maniqueísmo conceitual, totalmente artificial, não corresponde a qualquer movimento, processo ou projeto concreto, num ou noutro sentido, ainda que pessoas, ou grupos de pessoas venham agitando tais ideias. Na verdade, apenas os opositores de direita da globalização falam de um “governo global”, ao passo que seus opositores de esquerda preferem ser chamados de “altermundialistas”, e pretendem, utopicamente, a construção de “um outro mundo possível”, que seria não capitalista, não pró-mercados, mas sim partidários de uma coisa chamada “economia solidária”, defesa do meio ambiente contra supostas maldades das multinacionais, defesa de “minorias” – indígenas, mulheres, povos periféricos – que estariam sendo ameaçados por “capitalistas globais”.
Não acreditando, portanto, nessa possibilidade de um governo global, não tenho considerações outras a fazer, que não descartar tal hipótese. O mais próximo que talvez se esteja dessa “ameaça” pode ser representado, muito precariamente, pelas instituições comunitárias da União Europeia, hoje simbolizadas no euro, que não é senão uma etapa mais avançada das quatro liberdades criadas pelos tratados de Roma 60 anos atrás, ou seja: a liberdade de circulação de bens, de serviços, de capitais e de pessoas. A moeda comum, que ainda não é a moeda única da União Europeia, representa, de fato, uma perda, ou abandono, de soberania política e econômica por parte dos Estados membros, mas isso já estava implícito desde a origem, ao se aprovar a constituição de um mercado comum, que apela naturalmente a uma moeda comum. Mesmo esse tipo de arranjo é parcial e limitado, e não deixa de sofrer contestações dos próprios países membros quando determinadas medidas, convertidas em resoluções comunitárias, ameaçam infringir direitos nacionais desses membros, ou quando a Comissão de Bruxelas parece extravasar seu mandato dado pelo Conselho Europeu e busca “harmonizar” disposições diversas com impacto na vida econômica e social das comunidades nacionais.
A outra instância política supostamente destinada a “instaurar” uma alegada “governança global” seria o G-20, um foro de consulta e coordenação entre as maiores economias planetárias, mais a própria UE e algumas outras organizações internacionais que podem trazer alguma expertise ou competência institucional nos temas tratados pelo grupo, que estão situados primariamente no terreno da coordenação econômica global – uma vez que ele foi convocado, ou ressuscitado, quando da crise de 2008 que redundou na Grande Recessão, segundo a terminologia dos economistas –, mas que podem se estender igualmente a outros terrenos (meio ambiente, segurança internacional, etc.). Mas essas duas dezenas de países são muito diversos entre si, possuem alguns objetivos comuns, mas vários outros bastante divergentes, interesses nem sempre coincidentes ou convergentes, o que deve deixar esse grupo muito longe, talvez a anos-luz de distância, de qualquer perspectiva de “governo global”.

O que devemos esperar como próximos passos?
Não existe, a rigor, uma base conceitual adequada para se definir próximos passos, quando não existe uma base comum de entendimento sobre o que seja “globalismo”, “globalização”, “governança global”, ou “governo mundial”, e quando não tem uma definição clara do que sejam “interesses nacionais” desses vários “agentes” ou atores do sistema internacional contemporâneo. Minha compreensão do mundo atual é baseada em estudos de cunho econômico, de natureza política, sobre o desenvolvimento diferenciado e desigual dos países e regiões existentes, a partir de metodologias típicas da ciência política, das relações internacionais, da história e da economia, o que me revela um mundo em transição para algum tipo de configuração ainda não claramente definida.
No pós-guerra, as relações internacionais estiveram dominadas pela bipolaridade organizada em torno dos dois grandes atores da era atômica, logo adiante perturbado pelo desgarramento da China do mundo socialista soviético, e pelo neutralismo de uma parte de países periféricos que evitavam colocar-se claramente de um ou outro lado da bipolaridade. O Brasil, na maior parte do tempo, por força do anticomunismo oficial, colocou-se no lado “ocidental” da bipolaridade, mas crescentemente afirmativo na defesa dos seus interesses nacionais, em busca de uma trajetória própria de políticas nacionais de desenvolvimento, o que o levou a distanciar-se, em algumas instâncias das posturas defendidas pelos países líderes de sua suposta “coalizão de interesses”, no terreno da não proliferação, por exemplo, na capacitação tecnológica ou nas políticas comerciais e de investimentos estrangeiros (num plano relativamente distante do que existia no plano da OCDE, para mencionar um clube anteriormente chamado de “países ricos”, e que ao incorporar, a partir de certo momento, países em transição do socialismo ao capitalismo ou economias em desenvolvimento, passou ao se considerar um “clube de boas práticas”).
O Brasil é claramente um país em desenvolvimento, bastante conhecido pelo seu protecionismo renitente, pelo seu intervencionismo estatal exacerbado, por seu nacionalismo histórico, por uma introversão persistente das políticas econômicas e setoriais, pela burocracia intrusiva na vida dos cidadãos, e portanto por diversas restrições ao empreendedorismo de livre mercado. Até pelos exageros perpetrados desde o início do século por governos notoriamente ineptos e reconhecidamente corruptos, e pelo fracasso de políticas econômicas intervencionistas que nos levaram ao que pode ser chamado de “Grande Destruição”, o Brasil teria interesse, no presente momento de transição, de aproximar-se mais do modelo OCDE de governança econômica, assim como aperfeiçoar sua governança nacional em direção de padrões e práticas mais conformes ao que se chama de accountability – ou seja, responsabilidade governativa, com transparência – e de maior qualidade democrática, o que não é claramente o caso atualmente.
Por isso mesmo, depois de mais de uma década e meia de retrocessos institucionais e de deficiências de governança, estendendo-se por quase todas as áreas das políticas públicas, com uma expansão significativa dos níveis de corrupção política e empresarial, o interesse nacional brasileiro deveria voltar-se para uma recomposição de seu sistema político, com reformas importantes na legislação partidária e eleitoral, e para uma revisão fundamental de suas políticas econômicas, no sentido da abertura econômica e da liberalização comercial, com maior disposição para uma ampla integração econômica mundial.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de dezembro de 2017

Addendum, em 8/12/2017: 
Tomei conhecimento de um comentário feito pelo Olavo de Carvalho a respeito desse tema, falando de mim. Transcrevi sua opinião neste link de minha página no Facebook: 
https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1741784462551663 

Addendum 8/12/2017:

            Tenho por hábito escrever sobre todos os assuntos sobre os quais eu possa deter alguma capacidade analítica, como fruto de minha experiência de vida e conhecimento adquirido pelo estudo, pela pesquisa e através dos livros, em temas importantes da atualidade política e econômica brasileira e mundial. Tenho por hábito refletir sobre toda e qualquer demanda que me é feita, e preparar meus argumentos antecipadamente a meus pronunciamentos públicos.
            Por isso mesmo, nunca embarquei nessa canoa furada do “globalismo”. Esse conceito de globalismo assumiu, para a direita, o mesmo status que já tem, desde longos anos, o conceito de “neoliberalismo” para a esquerda: um slogan vazio, que não se traduz em nenhuma realidade palpável, a não ser uma fantasmagoria construída pela paranoia de alguns contra as evidências concretas da globalização, esta sim um processo real, como eu argumento no texto acima.
            Não pretendo mudar a concepção de ninguém, mas não posso deixar de expressar meus argumentos, que são o fruto de uma experiência diversificada de décadas vivendo no exterior, no Brasil, em contato e na vivência com todos os tipos de socialismos e de capitalismos, em todas as partes do mundo, assim como como resultado de leituras, pesquisas, estudos e debates feitos ao longo dessas últimas cinco décadas, mais a experiência prática como negociador diplomático em diversos foros desse tal de “globalismo”, e confesso nunca ter encontrado essa conspiração de megabilionários e de organizações internacionais para instalar o tal de “governo mundial”. Isso é paranoia pura.
            Outro simplismo extremamente redutor, e totalmente equivocado, é falar de um Islã, como se ele expressasse uma realidade uniforme, e como se todo o Islã quisesse esmagar o Ocidente para instalar o seu modo de governança sobre nós.
            Assim como a esquerda perdeu qualquer credibilidade e respeito intelectual ao persistir nas versões simplistas, e equivocadas, da história, a direita – se ela existe como “entidade”, o que eu duvido – pode perder credibilidade, e alimentar a paranoia, se continuarem agitando essa fantasmagoria do “globalismo”.
            Digo isto com base no que observo, leio, reflito sobre a realidade da vida empresarial, dos organismos internacionais, da vivência em diferentes sistemas socioculturais em que se divide o mundo, pois não me considero ser apenas, ou basicamente, um homem de livros, um acadêmico, ou mesmo apenas diplomata.
            A direita, no Brasil, não poder ser aprisionada pelos conservadores, ou ser um reduto dos reacionários, apenas para se demarcar da esquerda, e acabar adotando uma visão do mundo que é também ideológica, para não dizer sectária. Essa noção de que existe um complô de mega-bilionários com outras entidades poderosas para retirar a nossa soberania é simplesmente ridícula, como sempre foram ridículas as teorias conspiratórias da esquerda em relação ao imperialismo americano atuando para impedir o nosso desenvolvimento.
            Como sempre, escrevo o que penso, o que quero, e expresso minhas ideias através de artigos e livros publicados, ou deixo as ideias disponibilizadas no meu blog e site. Não peço licença a ninguém para expressar minhas ideias...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de dezembro de 2017

sábado, 21 de outubro de 2017

Meu primeiro texto contra os antiglobalizadores - Paulo Roberto de Almeida

Retornando de Paris no final de 1995, terra dos antiglobalizadores por excelência, desde sempre, encontrei os primeiros representantes da espécie brasileira entre os simpatizantes do PT, numa época em que ainda não existia o Fórum Social Mundial, mas já se desenhavam as estratégias dos chamados altermundialistas, ou antiglobalizadores, e sua busca por um mundo impossível, no qual a globalização não existiria.
Este foi provavelmente o primeiro artigo que escrevi a respeito, datado de fevereiro de 1996, mas que ficou inédito desde então.


As contradições da antiglobalização:
uma ordem internacional alternativa é possível ?

Paulo Roberto de Almeida

 
Comentando a conferência pronunciada na Índia pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre as conseqüências sociais da globalização, o economista e professor da USP Paul Singer (em artigo publicado nesta Folha em 11.02.96, “O fim forçado das contradições”), tece algumas considerações sobre o suposto conformismo do Presidente em relação a propostas alternativas que o Brasil ou outros países poderiam eventualmente promover para escapar ou minimizar os efeitos nefastos que aquele processo acarreta. O lado negativo da globalização implica desemprego crescente, perda de soberania estatal sobre os processos produtivos, ausência de controle sobre os fluxos financeiros e, de modo geral, uma diminuição do bem-estar social para amplas camadas da população, quando não para países inteiros.
O pressuposto de Singer é o de que o Presidente tenta conciliar a realidade da globalização, considerada inevitável e incontornável, com os “velhos ideais da esquerda”, supostamente comprometidos com maior justiça social, objetivos distributivistas e um controle mais afirmado sobre o capital privado, de maneira a assegurar o predomínio dos “interesses nacionais” sobre os fins predominantemente egoístas do capitalismo internacional. Subjacente à sua argumentação está a idéia de que existe uma categoria de pessoas ou entidades que “manejam o capital global” ou que “selecionam vantagens comparativas” dos diversos países de forma a maximizar sua taxa de lucro. Aos países individualmente não restaria outra opção senão dobrar-se ao “arcabouço institucional e [ao] quadro regulatório [que] agradam [a]os dirigentes das grandes corporações”.
Voltamos assim a um dos mais velhos fantasmas da esquerda, que tende a conceber a ordem internacional como o resultado intencional de um grupo de países ricos ou de poderosas corporações multinacionais, organizando a seu bel-prazer - na calada da noite e ao abrigo de olhares indiscretos, geralmente nos salões acarpetados do mundo desenvolvido - a divisão internacional do trabalho e o papel que nela devem desempenhar os demais participantes do sistema global. É o que Marx chamaria de teoria conspiratória da história, ou seja, uma visão que coloca processos estruturais de largo prazo e de evidente complexidade intrínseca na dependência da vontade individual ou coletiva de alguns poucos atores desse atomizado mercado capitalista. Singer afirma, por exemplo, que a “globalização resultante da contra-revolução liberal do último quarto de século não precisa ser irreversível”, sem que ele diga exatamente quais seriam os mecanismos de reversibilidade desse fenômeno que vem se arrastando desde os tempos em que Marx e Engels escreviam o Manifesto do Partido Comunista, ou seja 150 anos atrás. Ele acredita ainda que “se houver vontade política por parte de alguns governos, a globalização poderá [a afirmação é peremptória] ser reorientada, deixando de estar submetida à hegemonia do capital privado”. Mais otimisticamente, ele proclama que “sempre será possível reinstaurar algum controle intergovernamental do movimento internacional do capital financeiro e produtivo, seja pela ação de um agrupamento informal de economias poderosas, como o G-7, por exemplo, ou de algum organismo multilateral, como o FMI ou o Banco Mundial”.
O Professor Singer não parece ter-se dado conta de que, nos tempos que correm, o G-7 controla uma parte progressivamente menor das riquezas ou fluxos financeiros e comerciais do planeta, que sua influência real sobre as transferências maciças de capital entre as economias chega a ser quase irrelevante ou que seus dirigentes, em cada encontro anual, estão mais preocupados com o estado calamitoso das finanças públicas em seus respectivos países (que influenciam os movimentos cambiais e a especulação contra suas moedas) do que com a suposta margem de liberdade deixada aos mercados e capitais privados. O G-7 é apenas uma tentativa (largamente insatisfatória) de conciliar objetivos internos e interesses nacionais das economias autoproclamadas mais poderosas e não um diretório internacional do sistema capitalista que, como Marx ensina, é absolutamente anárquico em suas formas de organização e distribuição. Singer também não percebeu que os volumes de recursos manipulados atualmente pelas instituições de Bretton Woods são ridiculamente pequenos comparados à enormidade dos fluxos transfronteiriços de capital, que se situam na faixa dos trilhões de dólares. O FMI, por exemplo, jamais teria conseguido organizar um pacote de ajuda ao México sem os “generosos” fundos aportados pelo governo dos EUA e é também conhecido que suas disponibilidades financeiras efetivas para sustentação de programas de ajuste estrutural ou de desequilíbrios em balanças de pagamentos são notoriamente insuficientes. Quanto ao Banco Mundial, sua carteira de empréstimos para o conjunto do planeta em 1996 é inferior ao volume de recursos que o BNDES pensa injetar (11 bilhões de dólares) na economia brasileira neste ano.
Acreditar que, nessas condições, esses governos ou entidades possam desviar o curso da globalização e suas exigências implacáveis é uma manifestação exagerada de otimismo, que não condiz com os dados do problema. O Professor Singer proclama, ainda assim, que “é mister que a esquerda e o movimento operário desenvolvam sua alternativa própria para a globalização, não para abolí-la mas para compatibilizá-la com os interesses das maiorias nacionais”. Curiosa manifestação de chauvinismo nacional num representante do pensamento marxista, supostamente comprometido com as virtudes do “internacionalismo proletário” que Marx empunhava naquele mesmo texto de 1848.
O Manifesto do Partido Comunista, como não deve ignorar o Professor Singer, é uma espécie de hino em louvor à burguesia revolucionária e ao poder propriamente avassalador do capitalismo modernizador. Cabia a este a imensa tarefa - propriamente revolucionária, na linguagem de Marx - de unificar os modos de produção arcaicos (feudais, asiáticos, pré-capitalistas, em suma) ainda em vigor em boa parte do planeta naquele período, aniquilando os “regimes bárbaros” que impediam a dominação do capital e a constituição de uma classe operária vigorosa que um dia, chegada à sua maturidade, colocaria em cheque a apropriação privada dos meios de produção. A esse processo, analisado em primeira mão por Marx, chamamos hoje eufemisticamente de “globalização”, ou seja, a homogeneização das condições produtivas pelas forças de mercado e a circulação irrestrita de bens e serviços num mundo sem fronteiras, quando ele nada mais é do que a realização final dos processos “inevitáveis” anunciados no Manifesto de 1848.
É verdade que o “programa marxista” de unificação do mundo sob as regras do capital foi interrompido por algumas décadas, seja em virtude de comoções políticas e militares (guerras “inter-capitalistas” de 1914 e 1939), de crises temporárias de mercado como a dos anos 30 (que determinaram o fechamento da América Latina e a aplicação de modelos protecionistas de industrialização) ou ainda de alternativas “econômicas” ao capitalismo realmente existente, como foi a experiência leninista de planejamento estatal, aplicada nos modelos soviético e chinês de coletivização forçada dos meios de produção. Mas, esse curto parêntese histórico de sete décadas encerrou-se recentemente com a derrocada final do socialismo, e o capital retoma agora o curso “marxista” da história sem inimigos aparentes ou alternativas viáveis de organização social da produção.
Para não eludir o problema real colocado no artigo do Professor Singer, caberiam portanto algumas perguntas. Existem, efetivamente, alternativas ao capitalismo “predatório” atualmente em ação nos mais diferentes quadrantes do planeta? Seria possível, às economias e governos nacionais, subtrair-se individualmente ou em grupos de países às exigências da competitividade e do equilíbrio fiscal, convertidos, como bem salientou Singer, em novos dogmas da política econômica? Haveria condições de aplicar uma política econômica “não ortodoxa”, como parece pretender o professor da USP?
As respostas correm o risco de decepcionar nossos amigos da esquerda, na medida em que todos os esforços nacionais de adaptação às novas exigências da economia global parecem ser singularmente cruéis do ponto de vista social e político: aumento da produtividade do trabalho, diminuição das expectativas de emprego assegurado, redução de benefícios sociais em face dos enormes desquilíbrios fiscais enfrentados por todos os governos (desenvolvidos ou em desenvolvimento), flexibilização, enfim, dos controles governamentais sobre uma série de variáveis econômicas com vistas à adequação das unidades produtivas e empresas de serviços ao livre jogo das forças do mercado. Nenhuma ação individual ou articulada em bases geográficas restritas conseguirá deter a marcha da unificação planetária sob a égide do capital que, repita-se, não é governado por nenhuma força conspiratória a serviço de alguns poucos países dominantes ou de executivos de gigantescas transnacionais. O processo é impessoal, avassalador e propriamente irrefreável, podendo apenas ser colocado a serviço de objetivos nacionais de desenvolvimento econômico e social na medida em que o país se capacita tecnologicamente e em termos organizacionais (recursos humanos e em know-how) para poder competir no mercado selvagem que aí está.
Em última instância, não se trata de afirmar que fora da globalização não há solução, mas em reconhecer que a saída não está no isolamento soberano em relação às forças que moldam atualmente o sistema econômico internacional e sim na adaptação contínua das forças produtivas e das relações de trabalho de um país às novas condições da ordem internacional. A solução não passa pela diminuição da interdependência global, mas na crescente inserção do país na economia mundial, dando-lhe condições de competir vantajosamente nos mercados globais. Essas condições não são determinadas de fora, mas dependem inteiramente de nossa própria vontade política em reformar continuamente os processos produtivos e o sistema educacional do País, sem o que não há esperança de atenuar o impacto negativo da globalização. Parafraseando Orwell, poderíamos dizer que todos os países são interdependentes, muito embora alguns sejam mais interdependentes que outros.

Paulo Roberto de Almeida.
[Brasília, 14/02/1996]

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A redução da pobreza no mundo - Mises Brasil

Estamos vivenciando uma maciça redução na pobreza global
A pobreza extrema despencou à medida que a economia de mercado se expandiu
Mises Brasil, diversos autores, 28 junho 2017
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2712 (para os gráficos)

A libertação do indivíduo em relação à destituição e às incertezas da agricultura de subsistência é uma das maiores façanhas do mundo moderno. Cada vez mais pessoas têm uma expectativa de vida maior e vivem com mais saúde e com mais conforto em relação a qualquer outro período da história humana.
Reconhecer o enorme e positivo efeito desta transformação gradual é de suprema importância não apenas para contrabalançar o crescente pessimismo que nos acomete, como também para não nos esquecermos jamais do arranjo que permitiu a ocorrência deste fenômeno.

Entendendo a pobreza de maneira errada
O Banco Mundial recentemente relatou que as amenidades básicas para se ter uma vida digna estão disponíveis para os mais pobres do planeta em um volume jamais visto em toda a história da humanidade. E por uma grande margem. Em 1820, aproximadamente 95% da população mundial vivia na pobreza, com uma estimativa de que 85% vivia na pobreza "abjeta". Em 2015, menos de 10% da humanidade continua a viver em tais circunstâncias.
Não obstante sua drástica redução, a maioria das pessoas está totalmente alheia ao fato de que a pobreza extrema vem caindo ao longo do tempo. Por exemplo, em uma recente pesquisa, apenas 5% dos americanos sabiam que a pobreza extrema global havia sido reduzida à metade nos últimos 20 anos. Já nada menos que dois terços dos pesquisados disseram acreditar que ela havia dobrado ao longo deste período.
Se as pessoas estivessem mais cientes do nosso impressionante progresso na redução da pobreza global, talvez seríamos menos pessimistas quanto à atual situação ou quanto às perspectivas para o futuro.
Comecemos com este famoso gráfico em forma de "bastão de hockey", do projeto Our World in Data, sobre a prosperidade humana. Ele mostra a criação de riqueza. Ele mostra a evolução do PIB real per capita para vários países e para o mundo, desde o ano 1.000.
Gráfico 1: evolução do PIB real per capita para vários países e para o mundo, desde o ano 1.000

Observe que o ponto de virada coincide exatamente com a Revolução Industrial. A adoção de bens de capital movimentados por motores a vapor em conjunto com outras tecnologias que ajudaram a aumentar a produtividade desencadearam uma revolução no bem-estar humano ao redor do globo.
Desde então, a mente humana em conjunto com a maior oferta de mão-de-obra disponibilizada pelo crescimento populacional criou o motor a vapor, o tear têxtil automático, a linha de montagem, a orquestra sinfônica, a ferrovia, a empresa, a imprensa a vapor, o papel barato, a alfabetização universal, o aço barato, a placa de vidro barata, a universidade moderna, o jornal moderno, a água limpa, o concreto armado, a luz elétrica, o elevador, o automóvel, o petróleo, o plástico, meio milhão de novos livros em inglês por ano, o milho híbrido, a penicilina, o avião, o ar urbano limpo, direitos civis, o transplante cardíaco e o computador.
Novas fontes de energia foram dominadas e novos e mais modernos computadores entraram em cena. Hoje, computadores ao redor do mundo estão conectados entre si pela internet e se tornaram tão pequenos ao ponto de caber em nosso bolso. Temos literalmente acesso a todo o conhecimento do mundo na palma de nossa mão. Bens, serviços e idéias cruzam o globo, possibilitados por um aumento da produtividade humana totalmente impensável há 50 anos.
E isso elevou imensamente nossa riqueza.

Mas e quanto à pobreza?
Como mostra o próximo gráfico, também do projeto Our World in Data, a pobreza extrema está em declínio ao mesmo tempo em que a população mundial está aumentando.
A área vermelha mostra o número de pessoas ao redor mundo vivendo na pobreza extrema; a área verde mostra o número de pessoas ao redor do mundo fora da extrema pobreza. ('Extrema pobreza' é definida como um nível de consumo diário menor que US$ 1,90 por dia, com o valor já ajustado para a inflação e para as diferentes realidades de preço de cada país).

Gráfico 2: a área vermelha mostra o número de pessoas ao redor mundo vivendo na pobreza extrema; a área verde mostra o número de pessoas ao redor do mundo que não estão na extrema pobreza.

Observe que a redução da pobreza extrema em escala global é recente. Vale lembrar que o modo padrão durante a maior parte da história humana sempre foi a pobreza. Com efeito, a pobreza sempre foi a norma e a condição natural e permanente do homem ao longo da história do mundo. E esta se manifestava em conjunto com todos os seus problemas.
Porém, desde 1970, tem havido um rápido crescimento no número de pessoas vivendo acima da linha de pobreza extrema e uma drástica redução no número de pessoas vivendo abaixo dele. Em 1970, aproximadamente 60% dos 3,7 bilhões de habitantes deste planeta ainda estavam relegados à pobreza extrema. Hoje, esta cifra está abaixo de 9%.
E é importante ressaltar novamente: a pobreza extrema está em declínio ao mesmo tempo em que a população mundial está aumentando.
Hoje, uma pessoa sai da pobreza extrema a cada segundo, graças a melhores sistemas econômicos, a um maior conhecimento adquirido, e a melhores e mais baratas tecnologias, as quais já chegam a quase todas as áreas do globo. Apenas no ano passado, mais de 32 milhões de pessoas escaparam da pobreza, reduzindo a porcentagem da população mundial que vive abaixo da linha internacional da pobreza extrema de 9,2% para 8,7%. A ONU estima que outros 79 milhões de pessoas passarão para cima da linha da pobreza extrema até 2020.

Quanto menos livres, mais pobres
O World Poverty Clock fornece uma contagem em tempo real do número de pessoas que saíram da pobreza hoje. O portal também informa as diferentes taxas de progresso de cada país, mostrando quais são aqueles que estão a caminho de eliminar a pobreza extrema até 2030.
As taxas de aprimoramento variam por país. Algumas nações desenvolvidas já eliminaram completamente esta forma de destituição extrema, ao passo que outros países, como Índia e China, estão vivenciando rápidas melhorias.
A África continua uma área com um decepcionante e instável progresso. Alguns países, como Mauritânia e Etiópia, estão no caminho de cumprir o objetivo de eliminar a pobreza extrema até 2030. Infelizmente, vários outros países do continente, como a República Democrática do Congo, estão indo na direção oposta, com mais pessoas caindo para a pobreza extrema a cada dia.
Mas eis a constatação importante: a expansão da liberdade econômica coincidiu com a impressionante redução na pobreza extrema global. Aqueles países que mais abraçaram a liberdade econômica foram os que mais vivenciaram uma substantiva redução na porcentagem de pessoas vivendo em destituição. Como mostra o índice Economic Freedom of the World (Liberdade Econômica do Mundo), os países mais economicamente livres têm os menores níveis de pobreza, ao passo que, nos países menos economicamente livres, altos níveis de pobreza persistem.
No eixo Y, a taxa de pobreza. No eixo X, o agrupamento de países de acordo com sua liberdade econômica. Quanto mais à direita, maior a liberdade econômica. Em cada agrupamento há o percentual de pobreza extrema (extreme) e de pobreza moderada (moderate)

Gráfico 3: Liberdade econômica e taxas de pobreza extrema e pobreza moderada. No eixo Y, a taxa de pobreza. No eixo X, o agrupamento de países de acordo com sua liberdade econômica. Quanto mais à direita, maior a liberdade econômica. Em cada agrupamento há o percentual de pobreza extrema (extreme) e de pobreza moderada (moderate). Fonte: Cato Institute et al., "Economic Freedom of the World: 2016 Report."

As evidências são explícitas: para reduzir a pobreza é necessário ter liberdade econômica.
Muitos ainda estão na pobreza
Esta contínua ascensão social e consequente fuga da pobreza representa, de certa forma, a mais importante história que está ocorrendo no mundo, e é a responsável por gerar os maiores benefícios líquidos para o maior número de pessoas na história moderna.
Mas os países ainda têm muito a melhorar. Ainda há aprimoramentos substantivos a serem feitos, principalmente na esfera política, de modo que problemas importantes ainda resistem. Mesmo com todo este progresso, vários países estão indo na direção errada, reduzindo o escopo da liberdade econômica e, consequentemente, criando consequências adversas. A se manter as taxas atuais, mais de 5% da população mundial continuará vivendo na pobreza extrema em 2030. É uma porcentagem menor que a atual, mas ainda assim muito alta.
A drástica e rápida redução no número de pessoas vivendo na pobreza extrema ao redor do mundo é algo a ser celebrado, e ressalta quão importante é continuar difundindo as medidas que permitem que essa grande fuga continue ocorrendo. Instituições estáveis e políticas sensatas são cruciais. Estimular um mercado mais livre e as liberdades pessoais permite às pessoas alcançarem níveis de prosperidade até então inimagináveis há apenas alguns anos.
Como diz Deirdre McCloskey, o segredo está no crescimento econômico gerado por transações econômicas voluntárias em um arcabouço econômico livre. Alguns ousam chamar esse arranjo de capitalismo.

sábado, 6 de maio de 2017

As novas forcas da globalizacao - McKinsey study

Um artigo extremamente importante sobre as novas tendências da economia global:

The global forces inspiring a new narrative of progress

By Ezra Greenberg, Martin Hirt, and Sven Smit

ArticleMcKinsey Quarterly



Growth is shifting, disruption is accelerating, and societal tensions are rising. Confronting these dynamics will help you craft a better strategy, and forge a brighter future.
“The trend is your friend.” It’s the oldest adage in investing, and it applies to corporate performance, too. We’ve found through our work on the empirics of strategy that capturing tailwinds created by industry and geographic trends is a pivotal contributor to business results: a company benefiting from such tailwinds is four to eight times more likely to rise to the top of the economic-profit performance charts than one that is facing headwinds.
It’s easy, however, to lose sight of long-term trends amid short-term gyrations, and there are moments when the nature and direction of those trends become less clear. Today, for example, technology is delivering astounding advances, and more people are healthy, reading, and entering the global middle class than at any period in human history. At the same time, the post–Cold War narrative of progress fueled by competitive markets, globalization, and innovation has lost some luster.
Video
Why trends matter
Our work on the empirics of strategy shows why understanding trends is an important skill for corporate leaders.
Those contradictions are showing up in politics, and the long-term trends underlying them are reshaping the business environment. Corporate leaders today need to rethink where and how they compete, and also must cooperate in the crafting of a new societal deal that helps individuals cope with disruptive technological change.
That broad narrative of intensifying competition, as well as the growing need for cooperation, contains challenges, but also great opportunity. We hear about the challenges every day in our conversations with global business leaders: How long can their traditional sources of competitive advantage survive in the face of technological shifts? How will changing consumer and societal expectations affect their business models? What does it mean to be a global company when the benefits of international integration are under intense scrutiny?
All good questions. But they should not distract from the extraordinary opportunities available to leaders who understand the changes under way and who convert them into positive momentum for their businesses. Our hope in this article is to help leaders spot those opportunities by clarifying nine major global forces and their interactions. Significant tension runs through each of them, so much that we’d characterize them as “crucibles,” or spaces in which concentrated forces interact and where the direction of the reactions under way is unclear. These crucibles, therefore, are spaces to watch, in which innovation “temperature” is high.
  • The first three crucibles reflect today’s global growth shifts. The globalization of digital products and services is surging, but traditional trade and financial flows have stalled, moving us beyond globalization. We’re also seeing new growth dynamics, with the mental model of BRIC (Brazil, Russia, India, and China) countries giving way to a regional emphasis on ICASA (India, China, Africa, and Southeast Asia). Finally, the world’s natural-resource equation is changing as technology boosts resource productivity, new bottlenecks emerge, and fresh questions arise about “resources (un)limited?”
  • The next three tensions highlight accelerating industry disruption. Digitization, machine learning, and the life sciences are advancing and combining with one another to redefine what companies do and where industry boundaries lie. We’re not just being invaded by a few technologies, in other words, but rather are experiencing a combinatorial technology explosion. Customers are reaping some of the rewards, and our notions of value delivery are changing. In the words of Alibaba’s Jack Ma, B2C is becoming “C2B,” as customers enjoy “free” goods and services, personalization, and variety. And the terms of competition are changing: as interconnected networks of partners, platforms, customers, and suppliers become more important, we are experiencing a business ecosystem revolution.
  • The final three forces underscore the need for cooperation to strike a new societal deal in many countries. We must cooperate to safeguard ourselves against a “dark side” of malevolent actors, including cybercriminals and terrorists. Collaboration between business and government also will be critical to spur middle-class progress and to undertake the economic experiments needed to accelerate growth. This is not just a developed-market issue; many countries must strive for a “next deal” to sustain progress.
These tensions seem acute today because of fast-moving political events and social unease. But earlier times of transition provide encouraging precedents: the Industrial Revolution gave rise to social-insurance programs in Western Europe and the Progressive movement in the United States, for example. Progress has won out over most of the past two centuries—indeed, at an accelerating rate since World War II, which has seen global growth rates more than double the average of the preceding 125 years. As business leaders strive to compete and cooperate in new ways, they should take heart: if history is any guide, we’re operating in crucibles of progress that can help create an exciting tomorrow.

Global growth shifts

No developed country has recaptured the growth momentum we expected before the financial crisis of 2008–09. World GDP as a whole, while ahead of some long-term historical trends, remains below what we had thought to be our economic potential. Moderated growth has challenged individuals, and it has also made it more important for companies to take a granular approach to identifying opportunities, placing bets, and backing them with sufficient resources. The opportunities are large, particularly for leaders who understand how the dynamics of global growth are shifting as the nature of globalization changes, the largest emerging markets grow in importance, and technology reshapes our resource trade-offs.

Beyond globalization

Globalization is still progressing, but also facing powerful headwinds. “Anti-globalization” sentiments are growing, and governments are responding: the United Kingdom is moving ahead with Brexit implementation; the United States has already stepped back from the Trans-Pacific Partnership (TPP) and may now have changes to the North American Free Trade Agreement (NAFTA) in its sights. Meanwhile, traditional globalization metrics are slowing. The growth of trade compared with the growth of GDP in this decade has been half of that in the late 1990s and early 2000s, while global capital flows as a percentage of GDP have dropped precipitously since the 2008–09 financial crisis and have not returned to pre-crisis levels.
At the same time, there is evidence that other facets of globalization continue to advance, rapidly and at scale (Exhibit 1). Cross-border data flows are increasing at rates approaching 50 times those of last decade. Almost a billion social-networking users have at least one foreign connection, while 2.5 billion people have email accounts, and 200 billion emails are exchanged every day. About 250 million people are currently living outside of their home country, and more than 350 million people are cross-border e-commerce shoppers—expanding opportunities for small and medium-sized enterprises to become “micro-multinationals.”
Global flows of data have outpaced traditional trade and financial flows.
Operating in tandem with these crosscurrents are calls for localization and recognition of pronounced differences in local tastes, which are making it more costly and complicated to compete globally. Multinational companies need, in the words of GE’s Jeff Immelt, “a local capability inside a global footprint.” Many companies are trying to compete with the increasing number of world-class local players by carefully recognizing subtle differences in local taste and custom. Some fast-food chains, for example have global, iconic brands but also local menu options that are distinct. Estée Lauder in 2012 introduced Osiao, its first China-specific beauty brand, which it developed at the company’s Shanghai R&D center. At the end of 2016, Hyundai announced it would be producing several new models in China to compete with local brands.
Globalization was never an unstoppable, monolithic force, as Pankaj Ghemawat of NYU has long said. As globalization’s complexities have become increasingly evident, the importance of competing with local precision at international scale continues to grow.

ICASA: The force of billion-person markets

It was more than 15 years ago that Goldman Sachs economist Jim O’Neil popularized the term “BRIC” in reference to the growth prospects of Brazil, Russia, India, and China. Since then, Brazil and Russia have sometimes faltered, while other emerging markets, particularly in Africa and Southeast Asia, have grown in importance. Although there will be more ups and downs in the years ahead, it’s important not to get distracted and lose sight of the numbers. There are three geographic entities—India, China, and Africa—in which urbanization is empowering populations that exceed one billion people, and a fourth, Southeast Asia, with more than half a billion. Together, these enormous “ICASA” (India, China, Africa, and Southeast Asia) markets hold the potential for significant continued expansion (Exhibit 2). They also pose some of the biggest risks to global growth as they confront internal obstacles:
  • In India, challenges include transitioning to more sustainable urbanization; building a manufacturing base in India, for India; substantially increasing women’s participation in the general economy; and fully exploiting the country’s technical brainpower to move up the value chain.
  • China’s growth rate has begun to taper, and despite substantial institutional changes over the past decade, the country needs to do more to complete its transition from an investment-led growth model to a productivity-led one. The demographic headwinds China will soon be facing amplify the need for this transition.
  • Africa, whose working-age population is projected to top that of China and India before 2040, has the most unfilled potential. It also faces the greatest challenges: mobilizing its domestic resources, aggressively diversifying individual state economies, increasing sustainable urbanization, accelerating cross-border infrastructure development, and deepening regional integration. Failing to achieve any one of these could stall growth.
  • Southeast Asia’s impressive past growth has been driven by an expanding labor force and a shift of workers from agriculture to manufacturing. To continue growing as these factors fade, the region needs substantial investment in infrastructure that supports digitization and urbanization.
Urbanization still has significant room to run in Africa, China, India, and Southeast Asia.
Economic power generates geopolitical power, as China’s success has most recently confirmed. The more these markets overcome their unique challenges, the more central their role will be on the global stage. How these players assert that new power may not conform to approaches followed by OECD countries.1Institutions reflecting these markets’ new clout, such as the Asian Infrastructure Investment Bank, are already emerging So are economic arrangements that align with their interests, such as China’s One Belt, One Road initiative, which seeks to connect, through maritime links and physical roads, more than half the world’s population and roughly a quarter of the goods and services that move around the globe.
The opportunity remains enormous: we expect more than roughly half of global growth over the next ten years to come from these geographies. Whether a company is from one of these markets and already capturing regional growth or is seeking to enter one or more of them, its ability to reallocate resources, realign its footprint, and react to unexpected dips will shape whether it can successfully compete in the rebalancing global economy.

Resources (un)limited?

A modern-day Malthus might wring his hands at our world’s ability to sustain billions more people emerging from poverty, eating more protein, driving carbon-emitting automobiles, and enjoying a fuller basket of other consumer goods. There is, however, a counterforce at work today, as technological advances change the resource equation in a variety of ways:
  • Advances in analytics, automation, and the Internet of Things, along with innovations in areas such as materials science, are already showing great promise at reducing resource consumption. Cement-grinding plants can cut energy consumption by 5 percent or more with customized controls that predict peak demand. Algorithms that optimize robotic movements can reduce a manufacturing plant’s energy consumption by as much as 30 percent. And smart lighting and intuitive thermostats are significantly reducing electricity consumption in businesses as well as homes.
  • Technology is transforming resource production. Gas and oil output has increased significantly because of advances in fracking, deepwater drilling, and enhanced oil recovery. Seawater desalination currently contributes hundreds of millions of cubic meters per year to Israel’s water supply (up from less than 50 million in 2005), and the country now gets 55 percent of its domestic water from desalination.
  • Technologies are combining in new ways, with the potential to reduce resource intensity dramatically (Exhibit 3). Vehicle electrification, ride sharing, driverless cars, vehicle-to-vehicle communications, and the use of new materials are rapidly coming together to reduce automobile weight, change driving patterns, and improve the utilization of cars and of road capacity. In fact, analysis by our colleagues suggests that global demand for oil could flatten by around 2025 under plausible scenarios regarding the adoption of light-vehicle technologies and slowing plastics consumption.
Technology isn’t a panacea, of course; technological solutions come with external consequences. Fertilizers, for example, helped trigger a boom in agriculture, but fertilizer runoff polluted many water supplies. Fossil fuels lifted the standard of living for billions of people but have led to deteriorating air quality, oil spills, and carbon dangers that are ecologically existential and drivers of investment to meet regulations and arrangements (such as the Paris Agreement) aimed at slowing the impact of climate change.
Electric vehicles are just one technology among many with the potential to reduce resource intensity dramatically.
But there is also opportunity. While companies are working through the implications of resource constraints for their business models, they will generate new ideas—creating less resource-intensive processes, turning waste into raw materials, and building a more circular economy. We can expect an accelerating resource-innovation cycle: growth will strain supplies, technology will yield solutions, externalities will arise, and further ideas will emerge in response.
As technology continues to progress and data flows reveal efficiency opportunities across operations, companies should have more influence over their cost structure, and resource prices should be less correlated to one another and to macroeconomic growth than they were in the past. McKinsey research suggests, for example, that iron-ore demand could decline over the next two decades as a result of softening demand for steel and increased recycling, but copper demand could jump, given its role in a wide range of electronics and consumer goods. Resource-related business opportunities will turn up in unexpected places, and there’s room for a multitude of new products and services. An example is new carbon-based materials that are lighter, cheaper, and conduct electricity with limited heat loss. They could transform entire industries, including automobiles, aviation, and electronics. Business leaders will have more opportunities to seize the initiative as they stretch their thinking about the changing nature of resource constraints.

Accelerating industry disruption

“Disruption” isn’t just one of the most overused words in management writing; it’s also one of the most imprecisely used. When we say industry disruption is accelerating, we mean that in many sectors, critical foundations of industry structure—the economic fundamentals, the power balance between buyers and sellers, the role of assets, the types of competitors, even the borders of industries—are rapidly shifting. While that degree of change can be uncomfortable or even destructive, it can also contain the seeds of opportunity.
Our work on digitization highlights both sides of the coin. By reducing economic friction, digitization is enabling competition that pressures revenue and profit growth. It also is creating fresh opportunities to improve performance through supply-chain, product, process, and service improvements. Ensuring alignment between a company’s digital and its corporate strategy appears to be one of the factors differentiating winners and losers—a useful reminder that leading today requires tough choices about big, disruptive forces.

Combinatorial-technology explosion

The most radical technological advances have not come from linear improvements within a single subject or expertise, but from the combination of seemingly disparate inventions and disciplines. As W. Brian Arthur has noted, “The overall collection of technologies bootstraps itself upward from the few to the many and from the simple to the complex.”2
For example, consider how increased online connectivity (Exhibit 4), cryptography, and advanced analytics have combined to create a distributed, global database for transactions called blockchain. It’s potentially a game changer, because transaction costs represent a substantial share of the world’s commercial costs. In fact, the desire to avoid transaction costs such as the negotiating and writing of contracts helps explain why firms exist, according to Nobel laureate Ronald Coase. Since blockchains can process transactions without intermediaries, their potential impact on costs and competition is profound.
Online connectivity—including a plethora of connected devices— is growing exponentially.
Or consider machine learning, whose potential we have barely begun to tap. It is starting to combine with other technologies in a variety of unexpected ways. Recently, a team from Houston Methodist Hospital developed an algorithm that translates text from the hospital’s patient charts into a prediction of breast-cancer risk 30 times as fast as a human can.
Combinatorial effects are revolutionizing many aspects of biological technologies. Low-cost genetic sequencing enabled by massive computing power is laying a foundation for developing “precision medicine” and providing people with facts that can influence life choices. Advances in materials science have allowed the development of stents (widely used to expand clogged arteries) that naturally dissolve after their job is done, potentially freeing patients from longer-term medications. Wearable and ingestible sensors, meanwhile, are being developed to increase the effectiveness of drug therapies by helping ensure medications are taken and physiological responses monitored.
The effects of technology combining can go beyond the products or services a company provides to alter the very definition of what a company does. The automotive industry, for example, isn’t just about building cars anymore. As artificial intelligence and computational power merge with advanced automobiles and consumer products, companies are thinking about how they can provide “mobility solutions,” or even utility solutions, given the size of batteries in electric cars. This is disruption writ large.
And everything is accelerating. Arthur’s combinatorial effects are compounding the impact of Moore’s law, creating more scope to innovate and to conceive new businesses. Leaders with imagination and foresight who can keep up with the pace of change have unprecedented opportunities.

C2B: Customer in the driver’s seat

Digitization has brought consumers an ever-expanding menu of goods and services to choose from, some of which are free. Many goods and services consumers once paid for are now available online at a swipe or a click. Wikipedia’s English-language pages alone would fill the equivalent of more than 2,300 encyclopedias if printed. Skype, which allows users to make free video and audio calls to other Skype users, provides over two billion minutes of calls every day. And infinite variety means that just about any taste or preference is being catered to. Think of detergents on Amazon, where customers can find a selection of strawberry-scented washing powders exclusively meant for black clothes.
In an environment where so much costs so little and proliferating variety fragments markets, customers are capturing more of the surplus. In the United States alone, the Internet provides consumers with an estimated unpaid annual welfare gain of $100 billion. Take, for example, global mobile-data traffic and revenues: from 2008 to 2020, mobile data are expected to expand by more than 900-fold, while revenues from the data are forecast to grow by a factor of only 3.25 (Exhibit 5).
Digitization and the Internet have put consumers in the driver’s seat.
Customers also are taking the driver’s seat in steering the products that companies develop. They are able to communicate with companies directly and in large numbers for the first time. What they want is more variety, more specificity, and greater self-expression. Google is renowned for its practice of rapidly incorporating direct customer feedback in product design. Chinese mobile-phone maker Xiaomi engages directly with consumers in person or online. Adidas has even built robot-operated “SpeedFactories,” which create sneakers designed by individual consumers, while Doob Group enables consumers to scan their bodies and create unique, 3-D-printed figurines.
It remains to be seen how the willingness of customers to pay a premium will evolve. Right now, as Ray Kurzweil, the futurist and now a director of engineering at Google, recently noted, “There is an open-source market with millions of free products, but people still spend money to read Harry Potter, see the latest blockbuster, or buy music from their favorite artist.” Those examples may seem like outliers, but as Kurzweil pointed out, “coexistence of a free open-source market and a proprietary market” is also “the direction we’re moving in with clothing.”3In such a world, it won’t be just customers who have more choices; companies, too, have more decisions to make about their business models and how they create value.

Ecosystem revolution

In a classic 1960 Harvard Business Review article, Theodore Levitt asked readers to consider, “What business are you really in?” Because of digitization and the blurring of industry boundaries, Levitt’s question needs an addendum: “And what’s your ecosystem?” Businesses can broadly be grouped into three categories, with ecosystems emerging as both a powerful source of value creation and a heated competitive arena:
  • Linear value chains, which dominated for most of the 20th century, comprise a series of value-adding steps with the goal of producing and selling products: think automotive assembly.
  • Horizontal platforms, which gained prominence with the rise of personal computing and the Internet, cut across value chains. Companies operating under this model own hard assets and sophisticated architecture, typically built around value-adding software and technology stacks.
  • “Any-to-any” ecosystems, such as those of Uber and Airbnb, have emerged most recently. These companies also operate at the center of platforms, but they are distinctly asset-light.
The horizontal platforms of players such as Google, Amazon, and Facebook have been creating value for years and currently account for five of the ten largest US companies by market cap (Exhibit 6). And horizontal plays aren’t just digital. Companies of all stripes still ship their designs to Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), which relies on its sophisticated semiconductor factories to turn brilliant designs into high-performance chips.
Platform-oriented companies represent half of the top ten US public companies by market cap.
Leading horizontal platforms have shifted value pools quickly and unpredictably. The shrinkage of the compact-disc industry from $17 billion in US sales in 2001 to $2 billion a dozen years later, as sales from music downloads, subscriptions, and synchronizations have soared, is one well-known example of how disruptors “destroy billions to create millions.” So far, many of the traditional industries that have endured these disruptions still exist, but their structure, and the players capturing most of the value, are often unrecognizable relative to the pre-platform era.
Now any-to-any models have taken the fore. These companies are at the center of platform-based ecosystems, and unlike horizontal players, they are distinctly asset-light. Alibaba is the world’s largest retailer measured by gross merchandise volume, and it does not own any warehouses. The world’s largest accommodation provider, Airbnb, does not own rooms; the world’s largest taxi company, Uber, does not own cars—and neither company existed ten years ago. That’s disruption, although the staying power of any-to-any models remains to be seen, given the low barriers to creating software-based platforms.
The lines of demarcation between categories are beginning to blur as value chains, platforms, and ecosystems open, expand, and combine. Linear value chains aren’t immune: Under Armour, a leader in sports apparel and accessories, has announced plans to build the biggest connected fitness platform in the world.
In today’s rapidly evolving landscape, leaders face a continuum of possibilities: build an ecosystem, use someone else’s platform, stick to one’s linear-value-chain knitting, or fashion some combination of the above. Navigating this crucible ultimately comes down to asking hard questions about a company’s sources of differentiation and positional advantage, and placing all options on the table, even if that means disrupting or cannibalizing one’s own business.

A new societal deal

The biggest opportunity of all—and arguably the biggest need—transcends companies and competition. If private-, public-, and social-sector leaders can cooperate to create a new societal deal, they will forge a brighter future for individuals and for a wide range of institutions. Collaboration will be critical to overcome forces undermining openness, to drive middle-class progress, and to encourage experimentation that recharges growth and redresses income inequality.
Business leaders typically spend about 30 percent of their time on external engagement, but by their own assessment, few do so effectively. For more business leaders to “step up to the plate” and “play a key role in driving solutions,” as Unilever CEO Paul Polman says, they will need to do more to embed society’s concerns in their business priorities, to make external engagement an integral part of their strategy, and to adopt a long-term mind-set.

The dark side

Progress thrives on openness, and openness almost by definition means exposure. The Internet, for example, has brought critical dangers even as it has unleashed a business and social miracle. Everyday acts, such as connecting your phone to your car via Bluetooth, create vulnerabilities most of us do not yet consciously consider. The costs of fighting cyberthreats are rising into the trillions. Meanwhile, rogue states continue to frustrate the global community, and the strains from combating terrorism are reverberating worldwide. The number of terrorist incidents and casualties remains relatively small but has been rising; global terrorism death levels by the end of 2015 were more than five times higher than they were in 2001.
Sometimes, international cooperation can counteract destructive power that is concentrated in the hands of a few. Consider how multiple states came together to beat back pirates in the Somali basin beginning in 2010, saving the world economy about $18 billion per year (Exhibit 7).
Multinational cooperation in addressing the Somali pirate crisis saved the world economy approximately $18 billion a year.
The achievement of digital resilience also requires collaboration. At a minimum, more collaboration is needed between the broad cross-functional leaders responsible for security-related decisions within a business. In an interconnected world, companies may also need to explore shared platforms and data sharing about cybersecurity threats across the boundaries of their own businesses and industries. As leaders figure out how to strike the right balance between competing effectively, guarding the corporate ramparts, and cooperating in self-defense, they will be helping to redefine what it means to live together, safely, in our interdependent world.

Middle-class progress

The rising tide of progress has not lifted all boats equally. Globalization and automation are polarizing the labor market, with more on the way as expanding machine-learning capabilities increase the automatability of a wide range of tasks in developed and emerging markets alike (Exhibit 8). As middle-wage workers are displaced, many are forced to “trade down,” reducing their income and putting pressure on existing lower-wage workers. There is also widening earnings disparity. Workers with advanced degrees have generally seen their earnings rise, while wages for those with only high-school diplomas have stagnated, and wages for those who do not hold a high-school diploma have declined. Youth unemployment has reached 50 percent or more in several major developed economies.
Using currently demonstrated technologies, the number of tasks that can be automated would affect $14 trillion in wages and a billion jobs.
Demographic trends are exacerbating matters. The number of workers earning income for each dependent is falling as populations age, making it harder for society to support the young and the old. Entitlement programs such as pension plans are woefully underfunded.
Trust has fallen among the threatened middle class. Significant segments within Western democracies now have a negative view toward immigration and blame their governments for failed policies. Globally, 60 percent of working-age, college-educated, upper-income individuals express trust in business, government, media, and nongovernmental organizations (NGOs). Yet only 45 percent of the remaining population do so. This trust gap is largest in France, the United Kingdom, and the United States, and overall trust throughout scores of countries has declined to the lowest levels in more than five years.
A central part of the narrative behind the “Leave” campaign in the United Kingdom and the Trump campaign in the United States was that the leaders of major institutions had forgotten about the middle class. Business leaders can help rebuild that trust. In fact, citizens expect this from them. In a 2015 survey,4more than 80 percent of employees agreed that a business can “take specific actions that both increase profits and improve the economic and social conditions in the community where it operates.”
The need for middle-class progress isn’t just a developed-markets issue. As the emerging world’s new consuming class comes to the fore, it is striving for opportunity beyond entry-level roles, and observing the income polarization that often accompanies industrialization. Some of the ICASA balancing acts previously described, such as China’s transition from an investment-led to a productivity-led growth model, will determine the success of the middle classes in those markets.

Economic-growth experiments

While running for president in 1932 during the depths of the Great Depression, Franklin Roosevelt remarked, “The country needs and, unless I mistake its temper, the country demands, bold, persistent experimentation.” We are on the cusp of a new wave of experimentation today, because there are no clear answers to some of the challenges looming before us.
Exhibit one is growth. There is no consensus as to why it has been stuck in lower gear for years, or where it is headed. Northwestern University economist Robert Gordon argued in his 2016 book, The Rise and Fall of American Growth, that the productivity slowdown that started in 1970 is likely to continue and hamper growth. Other researchers, including our colleagues at the McKinsey Global Institute, argue that automation enabled by artificial intelligence, robotics, and other advances will likely raise productivity—which would increase growth, provided that those productivity gains go hand-in-hand with jobs and demand for goods and services, as they have in the past. Will they?
One thing that does seem clear is that many growth policy tools have reached their limits. Central banks and governments in the developed world responded to the financial crisis by slashing interest rates (Exhibit 9), creating innovative facilities to try to keep the credit flowing, and in some cases bailing out financial and nonfinancial players. Different mixes of austerity and structural reforms also were tried. When these proved insufficient to restart growth, leaders around the world turned to new, sometimes overlapping policy experiments, in search of a more effective solution. And they continue to debate alternatives, some as yet untried. The combined list is long and includes quantitative easing (QE), helicopter money (also called “the people’s QE”), debt mutualization (Europe), debt monetization (Japan), guaranteed minimum income (Brazil), and massive stimulus programs combined with a regulatory rethink (the United States).
Quantitative easing and negative interest rates are two fairly recent monetary experiments.
We’re entering uncharted territory in other areas, too. As the world ages, new approaches will be needed to support retirees who haven’t saved enough or are counting on pension and healthcare benefits that seem unsustainable without placing crushing burdens on the workers of today and tomorrow. Or consider infrastructure spending. The McKinsey Global Institute (MGI) finds that the world will need to spend $3.3 trillion annually between 2016 and 2030 to keep up with projected growth—nearly $1 trillion more than we have been spending annually. MGI research also suggests that infrastructure spending can be cut by as much as 40 percent through better project design and execution—areas ripe for public–private experimentation.
The results of experimentation—with respect to growth, aging, infrastructure, income inequality, and more—will have dramatic implications for our world, for the business environment, and for corporate performance. Analysis by our colleagues suggests that 30 percent of corporate profits can be traced to social and regulatory issues, and that shares of companies that connect effectively with all stakeholders outperform their competitors’ by more than 2 percent per year on average. Employees, too, will reward companies that are part of the experiments ahead. About 85 percent of employees working at companies engaged in societal issues said they are committed to achieving their leadership’s strategy, motivated to perform and have confidence in the future of their company—some 20 percent more in each case than employees of companies not engaged.5

Growth shifts. Accelerating disruption. A new societal deal. These are powerful forces that demand thoughtful responses and contain the seeds of extraordinary opportunity. Leaders reaching for these opportunities will need to question their own assumptions and imagine new possibilities. Those who do will compete more effectively; they also will be better able to contribute to broader solutions, and ultimately to a new and more inclusive narrative of progress.

About the author(s)

Ezra Greenberg is a senior expert in McKinsey’s Stamford office, Martin Hirt is a senior partner in the Greater China office, and Sven Smit is a senior partner in the Amsterdam office.

The authors would like to thank Dominic Barton, Adam Bird, Erik Roth, and Matthias Winter for their help shaping this new narrative of progress.