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sexta-feira, 20 de março de 2015

Sauvas freireanas a caminho da extincao? Hummm, nao sei, mas vamos tentar...

Nos anos 1920, Monteiro Lobato, que lutava contra a "natureza" -- ah, essa madrasta... -- na sua fazenda de Taubaté, e que até abandonou a agricultura para se tornar definitivamente urbano e jornalista, dizia o seguinte:
"Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou a saúva acaba com o Brasil".
Claro, nessa época, o Brasil era essencialmente agrícola, e tinha uma agricultura super-hiper atrasada, ainda com aquele Jeca Tatu capinando a roça, com a sua enxada, e tentando se livrar da saúva e do bicho do pé.
Pois bem, o Brasil se livrou das saúvas. Êpa; não o Brasil, só a agricultura.
As saúvas estão belas, ricas, fortes, mais pujantes do que nunca.
Elas se mudaram todas para o MEC e para as faculdades de Pedagogia, e sobrevivem e se disseminam, com esse estupor da desinteligência nacional que é o método Paulo Freire, que não é um método, apenas um panfleto rastaquera, vagabundo e idiota, que está acabando com a educação brasileira.
Pois eu digo: ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou vai acabar. A educação já está perdida, e vai demorar décadas para melhorar.
Abaixo, alguém me lembrou uma antiga postagem que vale a pensa relembrar...
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Paulo Freire e a miseria educacional brasileira: subsidios para um debate

Como o assunto foi aqui levantado, por um interlocutor curioso, e como eu sou curioso o suficiente para pesquisar, e também para indagar, recebi duas contribuições a respeito, que coloco à disposição dos interessados.
Paulo Roberto de Almeida
Vale a pena ler o que é o método Paulo Freire
Blog Tomatadas, maio 2014
Embora muito se fale sobre o dito "Método Paulo Freire" de ensino, a opinião pública sabe bem pouco sobre no que isso consiste. Em grande parte, tal situação se dá pelo fato de que Paulo Freire e os propagandistas desse método não se preocuparam muito em explicá-lo, restringindo-se quase o tempo todo à denúncia da dita "educação bancária" e à repetição do mantra "educar é um ato político". 
Nesse contexto, não deixa de ser proveitoso ler o livrinho O que é método Paulo Freire, de Carlos Rodrigues Brandão. O autor é um discípulo de Freire que participou das primeiras experiências de aplicação desse método, em 1961, no interior do Nordeste. A proposta do livro é explicar tais experiências passo a passo, tendo em vista que "[...] em alguns livros de Paulo Freire e de outros educadores, são poucas as páginas sobre o método e, não raro, elas estão escondidas em algum 'anexo'" (Brandão, 1984, p. 14). Na seção final do livro, o autor explicita que, em realidade, as reflexões metodológicas ocupam um lugar pequeno na obra freiriana: "quem voltar aos livros que Paulo Freire escreveu vai notar que, de propósito, falei muito do que ele fala pouco e pouco do que ele fala muito" (Idem, p. 111).
Ora, essas citações já evidenciam que, como dizem os críticos de Freire, esse autor e seus seguidores não se preocupam muito com a educação em si mesma, e sim em fazer da educação um instrumento de luta política contra o capitalismo. E o livro de Brandão, precisamente por se concentrar na descrição do método, acaba por fornecer elementos que corroboram as críticas lançadas contra as propostas freirianas. Neste texto, vou destacar apenas a crítica relativa à falta de originalidade do tal método.
Como era e como ficou 
O historiador David Vieira sugere, com base numa boa revisão bibliográfica, que os procedimentos que compõem o dito "Método Paulo Freire" eram empregados na alfabetização de adultos, já em 1915, pelo missionário Frank Charles Laubach (1884-1970). Ao ser enviado numa missão religiosa para as Filipinas, Laubach precisava elaborar uma escrita para a língua maranao e, ao mesmo tempo, alfabetizar as pessoas nessa língua para que pudessem estudar a bíblia. Assim, ele "[...] adaptou um antigo método de ensino norte-americano, de reconhecimento das palavras escritas por meio de retratos de objetos familiares do dia-a-dia da vida do aluno, para ensinar a leitura da nova língua escrita. A letra inicial do nome do objeto recebia uma ênfase especial, de modo que o aluno passava a reconhecê-la em outras situações, passando então a juntar as letras e a formar palavras".
Ora, o trabalho de alfabetização realizado por Freire e seus seguidores consistia basicamente nos seguintes passos - embora Brandão repita várias vezes que o método era modificado a cada vez que o empregavam:
    eles faziam uma pesquisa sobre o cotidiano dos alunos para selecionar os "temas geradores" e as "palavras geradoras"
    usavam desenhos e fotos para estimular discussões em grupo sobre esses temas (por exemplo, os problemas de habitação, alimentação e outros na favela onde os alunos moravam)
    apresentavam uma palavra geradora, como "favela", "tijolo" ou "salário", por meio de um slide
    em seguida, eram apresentados slides com as "famílias fonêmicas" de cada sílaba (no caso de "favela", começava-se mostrando "fa - fe - fi - fo - fu", depois "va - ve - vi - vo - vu", etc.)
    posteriormente, os alunos eram estimulados a criar palavras combinando todas as sílabas dispostas numa "Ficha de Descoberta", isto é, num quadro com todas as famílias fonêmicas relacionadas à palavra geradora (Brandão, 1984, p. 70-72).
Qual é a originalidade disso em relação ao que Laubach e outros já faziam desde muitas décadas? Brandão não se detém em discutir o que haveria de original no trabalho realizado com Freire, mas, ao tratar dos critérios empregados para a seleção das palavras geradoras, explica o seguinte:
Ora, no Método Paulo Freire entra um critério que, se não é novo, apareceu repensado. [...] aqui, as palavras não são só um instrumento de leitura da língua; são também instrumentos de releitura coletiva da realidade social onde a língua existe, e existem os homens que a falam e as relações entre os homens. Portanto, as palavras precisam servir para as duas leituras e os seus critérios de escolha são três, dois deles usuais em outros métodos, o outro, novo e renovador:
1º) a riqueza fonêmica da palavra geradora;
2º) as dificuldades fonéticas da língua;
3º) a densidade pragmática do sentido (Idem, p. 30-31).
A novidade do tal método estaria na forma de aplicar o terceiro critério, portanto, já que os dois primeiros, referentes à sintaxe e à semântica, foram importados de outros métodos e aplicados basicamente do mesmo modo. E no que consiste a inovadora maneira freiriana de aplicar o critério pragmático? Brandão esclarece que este diz respeito ao "[...] maior ou menor teor de conscientização que a palavra traz em potencial, ou conjunto de reações socioculturais que a palavra gera na pessoa ou grupo que a utiliza" (Idem, p. 31).
Nesse sentido, Brandão acaba reconhecendo que os elementos propriamente técnicos do tal "Método Paulo Freire" foram herdados de outros que já existiam, e que a grande novidade estava em selecionar as palavras que fossem mais úteis para direcionar as discussões em grupo de modo tal a "conscientizar" os alunos, sendo que "conscientização" deve ser entendida como sinônimo de "compreensão de mundo" (Idem, p. 39 – itálicos no original).
Falando com franqueza, não parece lícito atribuir a Paulo Freire a invenção de um método de ensino que leva seu nome se ele se serviu de métodos já existentes e apenas mudou a forma de aplicar um dos critérios de seleção de palavras geradoras de maneira a combinar o trabalho de alfabetização de adultos com doutrinação ideológica de esquerda! E isso considerando especialmente que o critério pragmático, ao contrário dos dois primeiros (que são totalmente importados), não tem nenhuma relação direta com as operações cognitivas que constituem o ato de ler. Não admira que Freire falasse tão pouco de método em seus livros...
Diálogo enviesado
É claro que alguém poderia objetar que, embora Brandão admita que as palavras geradoras são selecionadas propositalmente pelo seu potencial de uso como instrumentos de "conscientização", não há como predeterminar o resultado das discussões feitas com os alunos, o que invalidaria ou ao menos relativizaria a crítica de que se estaria fazendo doutrinação ideológica disfarçada de diálogo. Contudo, eu expliquei no texto Paulo Freire e a "educação bancária" ideologizada como funcionam de fato essas discussões em grupo: o professor freiriano apresenta uma única via para explicar as situações relatadas pelos alunos, que é a ideologia em que ele acredita. Assim, o aluno é deixado na ignorância sobre a existência de pesquisas que explicam as situações de pobreza, desigualdade, problemas urbanos e ambientais, entre outros, fora do universo teórico e ideológico do professor!
Em suma, é muito forçado dizer que existe um "Método Paulo Freire" de ensino, pois o que esse autor fez foi apenas transformar métodos de alfabetização bastante antigos num processo de doutrinação ideológica que se dá por meio de diálogos nos quais o aluno, deixado na ignorância de explicações alternativas e mais sofisticadas, não tem poder nem espaço para contestar os "novos saberes" que lhe são apresentados.
Paulo Freire: pobreza intelectual, dogmatismo e amor assassino 
Quando o jornalista José Maria e Silva publicou uma crítica contundente ao mal chamado "Método Paulo Freire", na Gazeta do Povo, esse jornal publicou também textos de freirianos para apresentar o famoso "outro lado da questão" - muito embora os freirianos não proponham apresentar visões de mundo diferentes aos seus alunos, conforme se vê pela leitura de Pedagogia do oprimido (Freire, 1987). 
Mas o que chama a atenção nessas respostas é que os seguidores de Freire, na verdade, não respondem! Primeiro, eles usam o argumento de autoridade, dizendo que Freire é o patrono da educação brasileira e que trabalhou nesta e naquela instituição de prestígio. Depois, repetem a velha cantilena de que o método de ensino que leva o nome dele teria tido resultados impressionantes, ignorando o fato de os críticos desse método, como Silva, alegarem que os resultados efetivos ficaram muito aquém da propaganda. Por fim, citam uma ou duas passagens da obra de Freire sobre a educação ser um "ato político" e sobre a importância de tornar o estudante "sujeito de si mesmo". E param por aí! Em nenhum momento eles procuram formular uma resposta específica para as críticas elaboradas contra o, vá lá, "pensamento" de Paulo Freire. Repetem a velha fórmula de propaganda do tal método como se esta já contivesse resposta para qualquer crítica, e está feito. 
  
Por que fogem do debate? Em parte, é claro, para tirar proveito do fato de que a imagem de Paulo Freire como grande educador e suposto inventor de um revolucionário método de alfabetização de adultos já está fortemente entranhada entre os professores e na opinião pública. Mas a razão oculta está no fato de que qualquer tentativa séria de defender as ideias freirianas implica ter de admitir que estas não têm nenhuma base científica e nem mesmo racional!
Em vez de ciência, fé ideológica
A melhor maneira de constatar isso é ler a obra freiriana, como os livros Pedagogia do oprimido e Pedagogia da autonomia, ambos já citados neste blog, que se caracterizam por um simplismo de ideias constrangedor. Mas quem quiser ganhar tempo e ir direto a um trabalho freiriano que deixa essa falta de fundamentação bem explícita pode recorrer ao livrinho O que é método Paulo Freire, comentado no post anterior. Após descrever os procedimentos que compõem o método de alfabetização de adultos aplicado por Freire e seus seguidores já em 1961, o autor, Carlos Rodrigues Brandão, escreve o seguinte:  
Às vezes é muito difícil falar sobre as ideias que deram origem ao Método Paulo Freire, porque elas são muito simples e algumas pessoas precisam complicá-las.
Na verdade Paulo Freire não tem sequer uma teoria pedagógica definitiva. Ele tem um afeto e a sua prática. Por isso fica difícil teorizar a seu respeito, sem viver a prática que é o sentido desse afeto. Por isso é fácil compreender o que ele tem falado e escrito, quando se parte da vivência da prática do compromisso que tem sido, mais do que sua teoria, a sua crença (Brandão, 1984, p. 102).
O que se vê nessa passagem da conclusão do livrinho é o reconhecimento de que Paulo Freire e seus seguidores não têm como justificar a suposta eficácia do tal método, já que os seus escritos consistem apenas em ideias simples embaladas por palavras atraentes, como "afeto". Nesse sentido, Brandão fornece a melhor comprovação da pertinência das críticas lançadas contra a pobreza intelectual de Paulo Freire. 
De fato, José Maria e Silva, no artigo citado, afirma que Pedagogia do oprimido não passa de um panfleto político e de um "manual de autoajuda marxista" exatamente por causa da pobreza das ideias ali expostas. De modo similar, Sol Stern afirma que essa obra nem ao menos pode ser considerada um trabalho sobre educação, já que ignora todos os temas importantes nessa área do conhecimento ao longo do século XX, tais como avaliações, padrão de ensino, currículo escolar, o papel dos pais na educação, entre outros, e se perde em "platitudes marxistas". E Brandão, ao reconhecer que não há mesmo nenhuma teoria ou argumento racional que fundamente esse ou qualquer outro trabalho de Freire, vê-se forçado a desqualificar críticas como essas da seguinte forma:
Como discutir com os termos complicados da ciência um educador cuja ideia-chave é o amor? 
Procure, leitor, folhear de alma limpa os escritos dele. Aos olhos ferozes dos tecnocratas do poder e da educação, pode ser que tudo aquilo não passe de uma espécie de poesia pedagógica, tão edificante quanto inviável. E aos seus olhos? (Brandão, 1984, p. 103).
Trata-se aí de uma óbvia desqualificação intelectual daqueles que acusam o simplismo dos escritos freirianos mediante a estratégia de associar os críticos ao rótulo odioso de "tecnocratas do poder e da educação". E, pior ainda, Brandão procura manipular as emoções de seus leitores ao enfeitar sua exposição com palavras bonitas, como "amor", e pedir-lhes que folheiem a obra de Freire com "alma limpa", pois assim dá a entender que uma obra edificada sobre o "amor" só pode ser compreendida por quem deixar a razão de lado e se entregar a uma apreciação igualmente emocional do que está lendo! 
As ideias de Paulo Freire são simplistas e dogmáticas, já que não têm justificativa racional, e só podem ser admiradas por quem não leu seus escritos ou por aqueles que leram esse material imbuídos das mesmas ideologias superficiais do autor e do seu mesmo ideal de fazer da educação um instrumento de doutrinação a serviço do socialismo. A quem duvidar disso, proponho que aprecie, de "alma limpa", a seguinte passagem de Pedagogia do oprimido, também citada por Silva, na qual o amoroso Paulo Freire elogia os fuzilamentos praticados pela revolução cubana.
A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida (Freire, 1987, localização 99).
Postagens relacionadas
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BRANDÃO, C. R. O que é método Paulo Freire. 7. ed., São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos, v. 38), 1984.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed., Rio de Janeiro: Paz & Terra, (Coleção O Mundo, Hoje, v. 21), 198

segunda-feira, 13 de maio de 2013

E por falar em Thomas Sowell e ideias inteligentes...

Um artigo dele para o qual minha atencao foi chamada pelo leitor Eduardo R., do Rio:

Lugares comuns que substituem o raciocínio crítico
por 
Insitituto Mises Brasil, quinta-feira, 9 de maio de 2013


Se algum dia criarem um concurso para aquelas palavras que se passam por pensamento profundo e crítico, "diversidade" e pluralidade certamente iriam para a final e teriam um embate duríssimo.
A beleza destas duas palavras mágicas e encantadoras é que você não necessita de nenhuma nódoa de evidência empírica e nem de nenhum processo de encadeamento lógico para recitar rapsódias sobre os supostos benefícios da diversidade e do pluralismo.  A própria ideia de querer testar estes belos termos em relação a algo tão feio quanto a realidade é em si vista como um ato sórdido.
Gorilla origin of man.jpgDiversidade e pluralidade são termos que, justamente por englobarem de tudo, dispensam seus promovedores de explicar especificamente o que defendem.  Há diversidade e pluralidade de gênero, de cor, de preferências sexuais, de renda, de inteligência, de etnia etc.  Sendo assim, perguntar se aquelas instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia e sete dias por semanas apresentam melhores resultados do que as instituições que não dão a mínima para estes "pré-requisitos" fará apenas com que você seja visto como um reacionário insensível, malicioso, racista, misógino e homofóbico. 
Citar evidências empíricas que mostram que aquelas localidades obcecadas com pluralidade e diversidade geram relações ruins entre as pessoas forçadas a conviver sob o mesmo ambiente é se arriscar a ser rotulado e marginalizado.  O livre pensamento e a liberdade de expressão não são livres.
A moda agora ao redor do mundo é afirmar que os governos devem promover a diversidade e a pluralidade — o que na prática significa que alguns grupos organizados têm mais direitos do que outros, o que por sua vez significa a abolição da ideia de "igualdade perante a lei".
Neste cenário, algumas perguntas se fazem necessárias.  Como é possível que um país racialmente homogêneo como o Japão consiga apresentar uma educação de alta qualidade sem ter de recorrer ao essencial ingrediente da diversidade e do pluralismo, uma necessidade "premente" segundo os sociólogos da atualidade?
Inversamente, por que a Índia, uma das mais plurais e diversas nações da terra, apresenta um histórico de intolerância e de violência letal entre seus diversos grupos de pessoas pior do que aquele observado no sul dos EUA durante a vigência da segregação racial?
O simples ato de fazer tais perguntas já é garantia de ser acusado de recorrer a táticas desonestas e de possuir motivações torpes demais para serem dignificadas com uma resposta.  Não que os genuínos defensores da pluralidade tenham alguma resposta, é claro.
Dentre os candidatos que disputam a segunda colocação no torneio dos lugares comuns que tornam o pensamento algo obsoleto está o termo "socialmente excluído" e todas as suas variáveis.
Pessoas que não se encaixam nos pré-requisitos básicos exigidos por determinados objetivos e funções, desde admissão em uma universidade a um empréstimo bancário, passando por empregos em cargos que exigem diversas habilidades, são tidas como pessoas socialmente excluídas cuja ascensão social lhes foi "negada pela sociedade".  Donde surgem as desculpas de que tais pessoas estão moralmente eximidas de seguirem uma vida pautada pelas mesmas regras aplicáveis ao restante da população — como, por exemplo, não recorrerem à criminalidade.
Tanto o 'pluralismo' quanto a 'exclusão social' devem ser corrigidos por políticas públicas, como por exemplo as cotas.  Segundo os teóricos, tais políticas equalizariam as "oportunidades de acesso".  O problema é que os defensores dessa tese sempre refugam quando instados a explicar por que uma igual oportunidade de acesso seria sinônimo de igual probabilidade de sucesso.
Há um exemplo interessante disso na própria política.  Peguemos um estado americano conhecido mundialmente: a Califórnia.  Trata-se de um estado majoritariamente progressista.  Neste estado, eleitores conservadores e eleitores progressistas têm exatamente a mesma oportunidade de votar.  No entanto, as chances de um candidato conservador ser eleito na Califórnia são muito menores do que as chances de um candidato progressista.  Será que os progressistas defenderiam cotas e uma lei de "igual oportunidade de acesso" para políticos conservadores na Califórnia?
Similarmente, todas as pessoas podem tentar adentrar uma universidade, pedir um empréstimo bancário ou disputar um determinado emprego.  Se todas essas solicitações forem julgadas pelos mesmos critérios, então todos tiveram uma igual oportunidade de acesso.  Se aquele sujeito com pouquíssimas qualificações intelectuais não conseguiu o emprego na multinacional ou o ingresso em uma universidade, ou se um sujeito de histórico creditício duvidoso não conseguiu o empréstimo bancário, isso não significa que lhe foi negada a mesma oportunidade de acesso.  Simplesmente nunca houve uma igual probabilidade de sucesso.
A 'diversidade' e a 'exclusão social' geram um terceiro lugar comum: 'redistribuição de renda' — ou, sua variável próxima, 'justiça social'.
Aparentemente, todas as pessoas têm direito a receber uma "fatia justa" da prosperidade da sociedade, não importa se elas trabalharam 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade ou se não fizeram nada mais do que viver na mendicância ou recorrer ao crime.  No final, tudo indica que devemos alguma coisa a estas pessoas pelo simples fato de elas nos agraciarem com sua existência.  Tudo indica que elas "têm o direito" de viver à custa dos pagadores de impostos, mesmo que sintamos que poderíamos viver muito bem sem elas.
No outro extremo da escala da renda, os ricos supostamente devem pagar sua "fatia justa" em altos impostos.  Mas para nenhum dos dois extremos da escala da renda há uma definição concreta do que é uma "fatia justa".  Há um determinado número ou uma proporção exata?  Nunca se soube.  'Justiça social' e 'redistribuição de renda' são apenas sinônimos políticos para "mais poder arbitrário para o governo", cuidadosamente adornado por uma retórica sonoramente moralista. 
intelligentsia vem há décadas promovendo a ideia de que não deve haver nenhum estigma em se aceitar auxílios do governo.  Viver à custa dos pagadores de impostos é retratado como um "direito", ou, mais ponderadamente, como parte de um "contrato social".
É claro que você não se lembra de ter assinado qualquer contrato desse tipo, mas tal lugar comum soa poético e pomposo.  Ademais, e isso é o que interessa, ele rende muitos votos entre os ingênuos, e este é exatamente o objetivo de políticos que defendem assistencialismo.
Por fim, "acessível" é outro termo popular que substitui toda e qualquer necessidade de pensamento crítico.  Dizer que todo mundo tem direito a "moradia acessível" é bem diferente de dizer que todo e qualquer indivíduo deve poder decidir qual tipo de casa quer ter.
Programas governamentais que distribuem "moradias a preços acessíveis" nada mais são do que programas que dão a algumas pessoas o poder de não apenas decidir qual imóvel elas querem ter como também o de obrigar outras pessoas — os pagadores de impostos, os donos dos imóveis etc. — a absorver uma fatia do custo desta decisão, uma decisão da qual elas nunca foram convidadas a participar.
E, ainda assim, a crença de que pessoas que preferem que as decisões econômicas sejam feitas voluntariamente por indivíduos no mercado não são tão compassivas quanto aquelas pessoas que preferem que tais decisões sejam tomadas coletivamente por políticos nunca é vista como uma crença que deveria ser comprovada por fatos.
Mas, por outro lado, isso não é algo recente.  A crença na compaixão superior dos políticos é um fenômeno mundial que data ainda do século XVIII.  E, em todas as épocas e em todos os locais, nunca houve nenhum esforço genuíno dos progressistas para verificarem se esta pressuposição crucial é sustentada por fatos.
A realidade econômica, no entanto, é que o governo fazer, por meio de decretos, com que várias coisas sejam mais "acessíveis" de modo algum aumenta a quantidade de riqueza na sociedade.  Colocar o governo para redistribuir propriedade e determinar seu "valor justo" não faz com que a sociedade seja mais rica do que seria caso os preços dos imóveis fossem "proibitivos".  Ao contrário: tais políticas, que nada mais são do que controles de preços e redistribuição de propriedade, reduzem os incentivos para se produzir.
Nada do que aqui foi dito é uma ciência obscura e inacessível.  Porém, se você é do tipo que jamais se põe a pensar criticamente e se contenta com a mera repetição de lugares comuns, então não importa se você é um gênio ou um deficiente mental.  Palavras fáceis que impedem as pessoas de pensar criticamente reduzem até mesmo o mais reconhecido gênio ao nível de um completo idiota.

sábado, 30 de junho de 2012

Epidemia de ideias malucas - Moises Naim

Das catacumbas, encore...


O adjetivo "maluca" é meu, achei mais apropriado.
Ele trata das más ideias em geral, mas se fossemos fazer um inventário daquelas exclusivamente brasileiras, ou seja, das jabuticabas, um artigo só não bastaria; precisaríamos de meio livro, pelo menos.
Paulo Roberto de Almeida


Epidemia de malas ideas
Moisés Naím
El País (España), 10/07/2011


¿Caerá Grecia? ¿Se llevará consigo al euro? ¿Qué sucede si Pakistán entra en un caos político, o si las revueltas árabes producen incontenibles oleadas de refugiados hacia Europa? ¿Qué es más amenazante para la estabilidad de la economía mundial: un eventual estancamiento de China o la explosión de la deuda pública en Estados Unidos? El mundo está lleno de fragilidades y las noticias nos lo recuerdan a diario. Pero también hay otro tipo de fragilidad que, aunque menos visible, puede ser igual de peligrosa: la fragilidad intelectual.


Me refiero a la creciente frecuencia con la que las malas ideas se transforman en decisiones que nos afectan a todos.


Los gobernantes siempre se han mostrado vulnerables a la seducción de las malas ideas, muchas veces potenciadas por intelectuales, periodistas y otros actores influyentes. Pero ahora, las nuevas tecnologías, la globalización y la creciente presión para responder con rapidez y audacia a los problemas -muchos de ellos sin precedentes- han acentuado esta fragilidad. Las malas ideas se popularizan y se esparcen rápidamente por el mundo, antes de que aparezcan sus defectos. Y lo que es peor: enfrentados a las crisis (políticas, económicas, militares), los líderes se ven cada vez más tentados a apostar en grande -vidas, dinero, capital político- basados en ideas espurias. La invasión de Irak es un buen ejemplo, como lo son también la reacción inicial a la crisis económica mundial o, más recientemente, a la de Grecia.


Esto no es nuevo. La historia está salpicada de teorías que se ponen de moda e inspiran políticas, para terminar siendo refutadas o reemplazadas por otras. Algunas, como el comunismo o el fascismo, son construcciones ambiciosas, que proponen una visión total del mundo. Otras son más modestas en su alcance. La teoría de la dependencia, la curva de Laffer popularizada por Ronald Reagan, la presunta superioridad de la cultura gerencial japonesa o la idea de que es inteligente invertir grandes sumas en compañías de Internet sin ingresos fueron conceptos populares, luego demolidos por la realidad.


Igualmente hay buenas ideas que, después de ganar cierta notoriedad, son ignoradas porque resultan políticamente onerosas. La crisis económica puso sobre la mesa la necesidad de dotar al mundo de una "nueva arquitectura financiera". Hoy la necesidad sigue en pie, pero la propuesta ha pasado de moda y ya no cuenta con el apoyo que tenía durante el clímax del pánico financiero.


Si bien el ciclo nacimiento, apogeo y descarte (algunas veces incluso resurrección) ha sido una constante histórica de las ideas que influyen sobre grandes decisiones, su duración se ha abreviado. Esta aceleración se traduce en la volatilidad de las políticas, en detrimento de la adopción de alternativas más sólidas y duraderas.


La creciente necesidad de respuestas para problemas tan nuevos como amenazantes aumenta la probabilidad de que malas ideas se transformen en decisiones. A los jefes de empresa se les exige más resultados y más rápido; los dirigentes políticos se enfrentan a electorados cada vez más impacientes, los funcionarios están obligados a improvisar respuestas a emergencias sin precedentes... Así, las "soluciones milagrosas" e instantáneas se imponen a buenas propuestas que tardan en dar frutos. Aunque tarde o temprano las malas ideas quedan en evidencia y son descartadas, algunas duran lo suficiente como para causar grandes daños. Y cabe el riesgo de que sean sustituidas por una nueva "buena" idea igualmente engañosa y efímera. Un círculo vicioso.


Esta volatilidad intelectual es amplificada por las nuevas tecnologías de la información. Si bien la rapidez y la comodidad con las que nos comunicamos facilitan el escrutinio y la crítica de ideas y propuestas, no es menos cierto que el volumen y la velocidad de la información que circula por estos canales superan nuestra capacidad de discernimiento, aprendizaje, ponderación y reacción. En medio de un flujo continuo de datos, es imposible discriminar el ruido de todo lo demás. Qué idea es válida y qué crítica es ilegítima, tendenciosa o errónea. En este caso, a menudo, más es menos: cuanto más debate, menos claridad. Tanta información aumenta los costes de averiguar a qué y a quién creer.


Como pasa con muchos problemas, la fragilidad intelectual de estos tiempos no tiene remedios simples. Es inevitable que nuestros dirigentes sigan siendo seducidos por imposturas intelectuales, con los consabidos resultados indeseables. Pero, como lo han demostrado tanto los ataques terroristas como la crisis financiera, el primer paso para ser menos vulnerables a los encantos de las malas ideas es reconocer nuestra preocupante propensión a adoptarlas. Es tan prioritario estar alerta a la creciente influencia de las malas ideas como a los terroristas suicidas o a las letales innovaciones financieras.


Twitter: @moisesnaim








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domingo, 22 de abril de 2012

Mais um pouco de Paulo Freire, por Olavo de Carvalho

Transcrevo apenas. Não compartilho todas as opiniões do autor, mas creio que as transcrições, que ele deve ter retirado seletivamente de instrumento de busca aplicado aos comentários feitos nos EUA são suficientes para se fazer uma vacuidade de ideias do "pedagogo" em questão.
Aliás, vacuidade de ideias é o que combina mesmo com o ambiente atual.



Viva Paulo Freire!
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 19 de abril de 2012 


Vocês conhecem alguém que tenha sido alfabetizado pelo método Paulo Freire? Alguma dessas raras criaturas, se é que existem, chegou a demonstrar competência em qualquer área de atividade técnica, científica, artística ou humanística? Nem precisam responder. Todo mundo já sabe que, pelo critério de “pelos frutos os conhecereis”, o célebre Paulo Freire é um ilustre desconhecido.
As técnicas que ele inventou foram aplicadas no Brasil, no Chile, na Guiné-Bissau, em Porto Rico e outros lugares. Não produziram nenhumaredução das taxas de analfabetismo em parte alguma.
Produziram, no entanto, um florescimento espetacular de louvores em todos os partidos e movimentos comunistas do mundo. O homem foi celebrado como gênio, santo e profeta.
Isso foi no começo. A passagem das décadas trouxe, a despeito de todos os amortecedores publicitários, corporativos e partidários, o choque de realidade. Eis algumas das conclusões a que chegaram, por experiência, os colaboradores e admiradores do sr. Freire:
“Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.)
“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)
“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha daPedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.)
“A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.)
“Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)
“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Associationem Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)
“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)
“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)
Outros julgamentos do mesmo teor encontram-se na página de John Ohliger, um dos muitos devotos desiludidos (http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I).
Não há ali uma única crítica assinada por direitista ou por pessoa alheia às práticas de Freire. Só julgamentos de quem concedeu anos de vida a seguir os ensinamentos da criatura, e viu com seus própios olhos que a pedagogia do oprimido não passava, no fim das contas, de uma opressão da pedagogia.
Não digo isso para criticar a nomeação póstuma desse personagem como “Patrono da Educação Nacional”. Ao contrário: aprovo e aplaudo calorosamente a medida. Ninguém melhor que Paulo Freire pode representar o espírito da educação petista, que deu aos nossos estudantes os últimos lugares nos testes internacionais, tirou nossas universidades da lista das melhores do mundo e reduziu para um tiquinho de nada o número de citações de trabalhos acadêmicos brasileiros em revistas científicas internacionais. Quem poderia ser contra uma decisão tão coerente com as tradições pedagógicas do partido que nos governa? Sugiro até que a cerimônia de homenagem seja presidida pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, aquele que escrevia “cabeçário” em vez de “cabeçalho”, e tenha como mestre de cerimônias o principal teórico do Partido dos Trabalhadores, dr. Emir Sader, que escreve “Getúlio” com LH. A não ser que prefiram chamar logo, para alguma dessas funções, a própria presidenta Dilma Roussef, aquela que não conseguia lembrar o título do livro que tanto a havia impressionado na semana anterior, ou o ex-presidente Lula, que não lia livros porque lhe davam dor de cabeça.

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sábado, 24 de dezembro de 2011

A frase (idiota) da semana: o capitalismo conspiratorio...

Geralmente, a frase da semana está reservada a algum pensamento iluminado, capaz de contribuir para o que eu chamo de elevação espiritual da humanidade.
Este blog, por sinal, se dedica a ideias inteligentes, mas não é culpa dele se existem ideias idiotas no mundo, e são as ideias idiotas que nos permitem refletir sobre como certas pessoas pensam e tentar pensar um pouco melhor, de forma inteligente, por exemplo.


Então, com desculpas aos meus leitores, por contribuir, por uma vez, para o rebaixamento intelectual da humanidade, aqui vai a frase idiota da semana: 


O capitalismo inventou a obsolescência programada, que é um truque para nos forçar a consumir.


André Trigueiro, jornalista da GloboNews, falando na CBN, sábado, 24/12/2011, 13hs.


Eu fico imaginando essas convenções de capitalistas perversos, se reunindo na calada da noite, para programar (inventar é o termo) produtos com data de vencimento já fixada, que vão funcionar direitinho, mas que um belo dia, tilt, vão dar dois suspiros e depois morrer, nos obrigando a ir novamente nessas lojas capitalistas comprar mais produtos capitalistas que, por sua vez, já vão vir com o vencimento também planejado.
Ah esses capitalistas perversos...
Se não fossem esses ecologistas espertos nunca descobriríamos os seus truques malvados...
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Retratos da irrealidade cotidiana (ou idiotas nunca desistem...)

O próprio de seres racionais é reconhecer os dados fundamentais da realidade e ajustar em consequência sua conduta, suas ações, suas iniciativas, procurando extrair o máximo de retorno possível dos insumos ou fatores de produção colocados à sua disposição, num determinado ambiente de trabalho ou contexto geográfico determinado, cujas variáveis não são, e não podem ser, controladas por ninguém em particular, já que resultantes de processos impessoais de caráter sistêmico ou estrutural.


O próprio dos idiotas é tomar sua vontade, e suas aspirações, pela realidade, e achar que basta incitar a vontade que a realidade vai se dobrar.
É o que eu chamo de "método Barão de Munchausen", ou seja, puxe pelos cabelos que você acabará se deslocando nos ares...



Chomsky debate o futuro dos novos movimentos
Diante do Occupy Boston, ele revela esperança nos protestos anticapitalistas, mas lembra: “há muito pela frente; vocês não vencerão amanhã”
Zizek vê horizonte aberto
Em nova entrevista, filósofo esloveno analisa:
 capitalismo perdeu legitimidade e já não é sinônimo de democracia, mas o que virá não está definido -- nem será, necessariamente, melhor.

Nem preciso dizer de onde retirei essas pérolas da suprema idiotice corrente.
Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Indignados ja dispoem de protecao divina (acredite se quiser)...

Pronto: só faltava essa, uma benção superior, emanando da mais alta autoridade religiosa desse país outrora decadente que se chama Reino Unido.
Conseguiu se recuperar um pouco, com ideias sensatas, mas zut, voilà, vem uma autoridade idiota e dá uma sanção divina a ideias idiotas.
Os indignados podem até achar que a taxa sobre movimentos de capitais vai salvar o mundo, ou pelo menos diminuir o grau de "financeirização" da economia (seja lá o que isso queira dizer), mas não sei se eles perceberam que os governos, sempre oportunistas e sorrateiros, estão fazendo isso apenas para arrecadar mais, nunca para "consertar" o capitalismo.
Em todo caso, sempre existem idiotas de vários tipos, alguns até com formação superior, inclusive cursos de teologia (à distância, talvez)...
Paulo Roberto de Almeida



The archbishop of Canterbury has expressed sympathy for anti-capitalist protests outside St. Paul's Cathedral and joined the Vatican in calling for a "Robin Hood" tax on financial transactions.

Time for us to challenge the idols of high finance


It has sometimes been said in recent years that the Church of England is still used by British society as a stage on which to conduct by proxy the arguments that society itself does not know how to handle. It certainly helps to explain the obsessional interest in what the Church has to say about issues of sex and gender. It may help to explain just what has been going on around St Paul’s Cathedral in the past fortnight.
The protest at St Paul’s was seen by an unexpectedly large number of people as the expression of a widespread and deep exasperation with the financial establishment that shows no sign of diminishing. There is still a powerful sense around – fair or not – of a whole society paying for the errors and irresponsibility of bankers; of impatience with a return to ‘business as usual’ – represented by still-soaring bonuses and little visible change in banking practices.

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So it was not surprising that initial reactions to what was happening at St Paul’s and to the welcome offered by the Cathedral were sympathetic. Here were people – protesters and clergy too, it seemed – saying on our behalf that ‘something must be done’. A marker had been put down, though, comfortingly, not in a way that made very specific demands.
The cataract of unintended consequences that followed has been dramatic. The cathedral found itself trapped between what must have looked like equally unpleasant courses of action. Two outstandingly gifted clergy have resigned. The Chapter has now decided against legal action. Everyone has been able to be wise after the event and to pour scorn on the Cathedral in particular and the Church of England in general for failing to know how to square the circle of public interest and protest.
There will be plenty of postmortems no doubt. But before we indulge in yet more satisfying indignation, we should keep two things in mind. First, the Church of England is a place where the unspoken anxieties of society can often find a voice, for good and ill. If the Church cannot find ways through, that is not an index of its incompetence so much as of the sensitivity of such matters. Second, we are at risk of forgetting the substantive questions that prompted the protest.
As I said, the demands of the protesters have been vague. Many people are frustrated beyond measure at what they see as the disastrous effects of global capitalism; but it isn’t easy to say what we should do differently. It is time we tried to be more specific.
There is help to be had from a bold statement on our financial situation emerging last week from the Vatican. This document, from the Pontifical Council for Justice and Peace, is entitled ‘Towards Reforming the International Financial and Monetary Systems in the Context of Global Public Authority’. It contains, with sharp critical analysis, a rather utopian vision of global regulation. But, more important, it offers recommendations that seek not to change everything at once but to minimise the damage of certain practices and assumptions.
One is something we have now heard clearly from many sources – a plea endorsed by the Vickers Commission that routine banking business should be clearly separated from speculative transactions. The rolling-up of individual and small-scale savings into high-risk and high-return adventures in the virtual economy is one of the more obvious danger areas. Early government action in this area is needed. A second plea is to recapitalise banks with public money. Banks should be obliged in return to help reinvigorate the real economy.
The third suggestion is probably the most far-reaching. The Vatican statement strongly backs the proposal of a Financial Transaction Tax – a “Tobin Tax” or, popularly, a “Robin Hood Tax” in the form in which it has been talked about most recently. This means a comparatively small rate of tax (0.05 per cent) being levied on share, bond, and currency transactions and their derivatives, with the resulting funds being designated for investment in the “real” economy, domestically and internationally. The modest rate of taxation conceals the high levels of return that could be expected (some $410bn globally on one estimate).
This has won the backing of significant experts who cannot be written off as naive anti-capitalists – George Soros, Bill Gates and many others. It is gaining traction among European nations, with a strong statement in support this week from Wolfgang Schaüble, the German finance minister. The objections made by some who claim it would mean a substantial drop in employment and in the economy generally seem to rest on exaggerated and sharply challenged projections – and, more important, ignore the potential of such a tax to stabilise currency markets in a way to boost rather than damage the real economy.
The UK government prefers the model of a direct taxation of bank assets. It looks as though that will be their position at the impending summit of the group of 20 leading economies. But we need robust public discussion enabling us to assess the advantage of a co-ordinated approach across Europe, and to inquire into how far the government’s preferred option will guarantee the domestic and international development goals central to the “Robin Hood” proposals.
These ideas, which have been advanced from other quarters, religious and secular, in recent years, do not amount to a simplistic call for the end of capitalism, but they are far more than a general expression of discontent. If we want to take seriously the moral agenda of the protesters at St Paul’s, these are some of the ways in which we should be taking it forward. The Church of England and the Church Universal have a proper interest in the ethics of the financial world and in the question of whether our financial practices serve those who need to be served – or have simply become idols that themselves demand uncritical service.
The best outcome from the unhappy controversies at St Paul’s will be if the issues raised by the Pontifical Council can focus a concerted effort to move the debate on and effect credible change in the financial world. If religious leaders and commentators in the UK and elsewhere could agree on these three proposals, as a common ground on which to start serious discussion, questionings alike of protesters and clergy will not have been wasted.

The writer is Archbishop of Canterbury
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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre idiotas e outros personagens pouco frequentáveis...

Frequentadores frequentes (se me permitem a quase redundância), aficionados, passantes ao acaso, visitantes ocasionais, navegadores erráticos ou até mesmo alguns habitués deste blog -- sem nenhuma dúvida, masoquistas --  costumam reclamar que eu chamo muita gente de idiota (não tanto quanto deveria, acho eu, sinceramente). Para eles eu seria arrogante, no mínimo, desrespeitoso, certamente, e talvez mesmo mais um desses idiotas criticados.
Pode ser, mas que culpa tenho eu se o número de idiotas anda aumentando muito no mundo, ou se o mundo das comunicações livres oferece oportunidades únicas para os idiotas se expressarem e aparecerem, até mesmo fazer algum sucesso momentâneo?
Reconheço que o mundo seria um lugar bem melhor com um pouco menos -- bastante menos -- de idiotas e outros assemelhados e equivalentes funcionais, mas em nome da democracia e dos direitos humanos temos de deixar os idiotas disputar o mesmo espaço público do que seres bem pensantes, ou até mesmo pessoas medianamente constituídas, bem informadas e suscetíveis de trazer algumas bondades adicionais ao mundo como ele é (cheio de idiotas).
No passado, inspirado no "minitratado" seminal -- a expressão é minha, não dele -- do genial historiador italiano Carlo Maria Cipolla (sim, cebola), Le leggi fondamentali della stupidità umana, eu cheguei a escrever um pequeno ensaio perguntando se, por acaso, estaria aumentando o número de idiotas no mundo: 
Está aumentando o número de idiotas no mundo?
Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186) 
(procurem no meu site que deve estar por lá).
Eu argumentava que sim, e não, ou seja, ambas as tendências: sim, estava aumentando o número de idiotas, cada vez mais idiotas e disseminando suas idiotices fundamentais com a ajuda de todos os meios modernos de comunicação, mas que, no fundo, isso não era grave, pois o número reduzido de não idiotas conseguia administrar a situação, para o maior benefício de todos, inclusive dos idiotas.


Pois bem, não vou fazer nenhum novo minitratado sobre a idiotice humana, mas como eu contemplo idiotices todos os dias, em todos os lugares, como leio nos jornais, escuto na rádio e vejo diretamente idiotices perpetradas em todos os quadrantes -- e imagino que existam zilhões de outras mais espalhadas sem que eu possa ver pelos quatro cantos de nosso planetinha redondo -- fico imaginando se não seria possível dividir os idiotas em categorias bem determinadas, em classes, ou espécies, quem sabe até famílias?, enfim (enfins, como diria uma professorinha da UnB), em tipos diferentes de idiotas, de maneira a melhor poder enfrentar esse flagelo da humanidade.


Ainda não cheguei a alguma conclusão científica, e pretendo aprofundar minhas pesquisas, mas pelo que constatei até aqui, talvez se pudesse dividir os idiotas em duas categorias fundamentais: 


1) Os "idiotas idiotas", ou seja, os apenas ingênuos, que acreditam que estão fazendo o bem, ou o melhor que podem, e que acreditam sinceramente nas idiotices que defendem e que disseminam. Eu diria que eles estão entre os 99% da humanidade que simplesmente existe, com aspirações diversas, e que pede para que suas concepções seja também aceita pelo resto da humanidade, sobretudo o resto dos 1% que exibem outras concepções do mundo. Conheço muitos, mas prefiro não indicar agora nenhum nome em especial para não receber um convite para algum duelo fatal... Ou talvez, sim, eu possa dar um nome: por exemplo, esse primeiro ministro grego que depois de mais de um ano de negociações difíceis com seus colegas europeus, conseguiu chegar a um compromisso aceitável para aplicar um calote bem dado em banqueiros e outros credores, e que agora pretende submeter esse acordo a um referendo nacional, que provavelmente vai rejeitar o acordo, tendo em vista os milhares de idiotas que manifestaram durante todo esse tempo contra as medidas de ajustes e outros remédios ao problema grego. Esse primeiro-ministro só pode ser um idiota completo, mas da primeira categoria, ou seja, dos ingênuos.
Idiotas ingênuos são também esses que marcham contra a especulação, a austeridade, o capitalismo, os mercados, e que pedem um outro mundo possível e slogans do tipo "o povo primeiro, as finanças depois", e que não sabem bem o que propor. São idiotas ingênuos, pois querem sinceramente o bem da humanidade.


2) Os "idiotas sem caráter", ou seja, aqueles que mesmo sabendo que seus argumentos, posições e propostas são inexequíveis, ineficientes e até contraproducentes, ainda assim pontificam nesses mesmos meios pregando as mesmas bobagens que encantam os idiotas da primeira categoria. Os primeiros eu até respeito, por achar que eles têm direito de defender, sinceramente, ideias idiotas, mas os segundos não contam com minha condescendência, pois eles são profundamente desonestos e fraudadores. Conheço vários nessa categoria, embora não conviva com esse tipo de gente, claro, mas sei que na academia, na vida pública, no jornalismo, no mundo em geral, eles existem e até tripudiam sobre a idiotice dos primeiros para prevalecerem sobre todos os demais.


Enfim, ainda tenho de escrever um minitratado sobre a idiotice e os idiotas.
Virá, um dia...
Paulo Roberto de Almeida