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domingo, 13 de março de 2022

A imagem internacional do Brasil e a “inventividade” dos diplomatas - Paulo Roberto de Almeida

A imagem internacional do Brasil e a “inventividade” dos diplomatas 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

A reputação internacional do Brasil do Bozo já estava no chão, com Amazônia, pandemia, ataques a jornalistas e à democracia. Agora se conseguiu cavar um buraco, com a “solidariedade” à Rússia, seguida da “neutralidade”, na invasão, agora “equilíbrio” ou “imparcialidade”, na agressão!

A autoestima dos diplomatas afunda mais um pouco, ao terem de se esconder da vergonha atrás de conceitos como “cessação de hostilidades” (como se elas fossem recíprocas), “legitimas preocupações de segurança das partes” (como se ambas as partes fossem potencialmente ameaçadoras), “sanções não são a solução para levar à paz” (alô Putin, pode agredir à vontade, não vamos retaliar porque não adianta e pode prejudicar a população) ou ainda esta: “fornecimento de armas pode aumentar o sofrimento ao prolongar os combates” (alô Zelensky, alô ucranianos, vocês não têm chance, eles são mais poderosos, rendam-se logo).

Não, não estou condenando ou criticando meus colegas diplomatas, ao terem de esconder a vergonha de defenderem o Brasil com esse jogo sujo de palavras, a que estão sendo obrigados pelo psicopata no poder e por aqueles generalecos imbecis e aspones aloprados que controlam a política externa e a diplomacia. Eles até estão passando a impressão, a jornalistas ingênuos ou desavisados, de que o Brasil está “fazendo a coisa certa”, ao não tomar partido, mas votar aquelas resoluções condenatórias da invasão russa, embora sempre contornando a verdade, de fato prolongando a fraude vocabular, nas declarações de voto, ao jamais usar palavras como agressão unilateral, violação do Direito Internacional, atrocidades contra população civil, mentiras e desfaçatez do invasor e outros expedientes aparentemente “adequados”.

Antes, os diplomatas eram obrigados a esconder, diminuir, minimizar os crimes que são cometidos contra o próprio Brasil — na Amazônia, na pandemia, nos ataques às instituições, nas ameaças à democracia e às minorias, etc. —, agora estão sendo levados a burlar a verdadeira posição de apoio objetivo ao agressor genocida.

Nunca imaginei que a reputação do Brasil e a da diplomacia brasileira no mundo pudessem cair tanto, a ponto de me causar vergonha pessoal, por pertencer a uma corporação que já teve melhores momentos num itinerário bissecular. 

Vai ser duro recuperar a autoestima e, sobretudo, aquele sentimento de hombridade e de altivez que já exibimos no passado. E que não se confunda “altivez” com aquela fraude da “diplomacia ativa e altiva”, que antes defendia ditaduras execráveis apenas porque eram “de esquerda” (fascistas de esquerda), mas que agora estão absolutamente alinhados com a extrema-direita, no apoio a uma ditadura conservadora, claramente de direita, mas que é considerada mais “correta” porque é contra o “imperialismo estadunidense”, tido como o verdadeiro culpado da guerra de agressão. 

Certos momentos da vida nacional são deprimentes, mas isso passará um dia, menos a vergonha, pelo passado sórdido.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4104: 13 março 2022, 2 p.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Sem prestígio internacional, Brasil enfrenta erosão da democracia - Cristiane Noberto (Correio Braziliense)

 Sem prestígio internacional, Brasil enfrenta erosão da democracia


Para especialistas, imagem do Brasil no exterior se degradou porque falta percepção do governo sobre quem é o Brasil no cenário internacional e como são as relações com os outros países

Cristiane Noberto
Correio Braziliense, 10/01/2022 06:00

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo cunhou um nome ao Brasil que colou como chiclete na imagem internacional. "Que sejamos pária", disse o diplomata ao falar sobre o papel do país no mundo. Ao mitigar políticas ambientais e deteriorar a democracia nos últimos três anos, o solo tupiniquim se colocou à margem da sociedade internacional.

A questão, no entanto, vai além da fala de um embaixador. O presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornou um chefe de Estado contestado pela comunidade internacional. Bolsonaro se utiliza de dados sem comprovação ou equivocados sobre a Amazônia — o que preocupa a maioria dos chefes de Estado. Desde sua primeira aparição para o mundo no Fórum Econômico Mundial, ocorrida em Davos, na Suíça, em janeiro de 2019, já parecia um "estranho no ninho".

Para Alexandre Uehara, doutor em ciência política e coordenador do centro brasileiro de negócios internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o Brasil chegou a situação de pária porque falta percepção do governo sobre quem é o Brasil no cenário internacional e como são as relações com os outros países. De acordo com o especialista, a percepção do Executivo é "muito presunçosa". "Como se o Brasil fosse um país totalmente independente e que pudesse viver sem as relações com os demais países", afirmou.

Uehara aponta que não se pode ignorar a dependência do Brasil frente às outras nações. "Apesar de ser considerado um país pujante, ainda é uma economia fechada. O governo considera que pode fazer o que desejar sem prestar contas à comunidade internacional, o que não é verdade, isso terá consequências nas relações com os demais países", disse.

Chave
Além de implodir a democracia brasileira, Bolsonaro se afasta da principal política de alinhamento internacional com o Brasil: o meio ambiente. A falta de conhecimento e apresentação de dados imprecisos sobre a Amazônia pelo presidente brasileiro são um soco no estômago do Brasil na comunidade internacional. Além disso, o país deixou importantes acordos como o de Paris e do Pacto Global das Migrações.

"O Brasil nunca protestou. Medidas não foram tomadas para proteger, ou praticar política antidumping. Daí vieram uma série de medidas ilegais. Ele começou a passar um trator em cima das entidades. Demitiu o diretor do Inpe porque os dados da Amazônia estavam "errados", além de desmantelar as organizações ambientais. Bolsonaro já estava grifado no mundo por sua postura ambiental", avalia Paulo Roberto Almeida, diplomata e ex-presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri).

O afastamento das questões ambientais também preocupa o legislativo. De acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a imagem desgastada do Brasil no exterior é resultado, em primeiro lugar, da má gestão do meio ambiente brasileiro e as consequências são graves. "Há projetos importantes como a lei de licenciamento ambiental, da grilagem e a do agrotóxico. Essas pautas deverão ser debatidas independente do governo para o ano que se inicia", afirmou ao Correio.

O líder da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Rodrigo Agostinho (PSB- SP), afirma que o colegiado acompanha mais de mil projetos ambientais. "Existem 5 propostas que chamam a atenção internacional: a lei de licenciamento ambiental e a lei da grilagem que estão no Senado, as propostas que acabam com terras indígenas, a legislação de mineração e a lei do veneno. Uma parte será aprovada e a última esperança será o Judiciário. O preço será caro pois teremos muita retaliação comercial. A Europa já está tirando produtos brasileiros das prateleiras", frisou.

Economia internacional
A deterioração do PIB também é um ponto no qual o atual governo chama a atenção da comunidade internacional. No índice de liberdade econômica do think-thank Heritage Foundation Freedom of the World, que mede 12 liberdades - de direitos de propriedade e liberdade financeira - em 184 países, o Brasil pontuou 53.4 e ficou atrás da média global dos 48 países mais pobres da África Subsaariana, que pontuou 55.7. É a primeira vez desde 1996 que isso acontece.

No comércio exterior, o país fica cada vez mais aquém. Com a China, principal parceiro comercial, esta é a pior relação dos últimos anos. Segundo Alexandre Uehara, o Brasil se coloca como imprescindível para a China, o que não é verdade. "O Brasil hoje depende muito mais da China do que o oposto", disse. Segundo o especialista, as relações do Brasil com a Ásia ainda é tímida. "O que falta ao Brasil, é olhar com mais cuidado para os países asiáticos de uma forma geral, dado que o mundo percebe a região como o futuro. O Brasil precisa de planejamento", avaliou.

Cidadão prejudicado
A situação afeta a vida do cidadão comum. Paulo Roberto destaca que o impacto da falta de articulação internacional é "muito grave para os brasileiros". De acordo com o ex-embaixador, "há impactos no comércio, na gestão sanitária e no Orçamento Público. Mandaram o Exército fazer toneladas de cloroquina, desperdiçando dinheiro. Há impacto no programa interno, erosão da democracia, ataque a instituições. No plano da credibilidade humana é um pária de direito e de fato. Na questão comercial, toda vez que ele (Bolsonaro) falava, o real caía e o dólar subia.

O custo dessa reconstrução de credibilidade ainda é incerto. Para Alcides Costa Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, é possível, mas demandará um grande esforço. "Há no seio da comunidade internacional o reconhecimento de que as atuais posições do Brasil não são condizentes com aquelas tradicionalmente perseguiu. Antes de mais nada é necessário uma mudança no comando da política externa, resgatando as suas posições tradicionais, procurando reinserir o país nos principais fóruns de negociação multilateral a uma agenda global.

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/01/4976377-sem-prestigio-internacional-brasil-enfrenta-erosao-da-democracia.html