A imagem internacional do Brasil e a “inventividade” dos diplomatas
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
A reputação internacional do Brasil do Bozo já estava no chão, com Amazônia, pandemia, ataques a jornalistas e à democracia. Agora se conseguiu cavar um buraco, com a “solidariedade” à Rússia, seguida da “neutralidade”, na invasão, agora “equilíbrio” ou “imparcialidade”, na agressão!
A autoestima dos diplomatas afunda mais um pouco, ao terem de se esconder da vergonha atrás de conceitos como “cessação de hostilidades” (como se elas fossem recíprocas), “legitimas preocupações de segurança das partes” (como se ambas as partes fossem potencialmente ameaçadoras), “sanções não são a solução para levar à paz” (alô Putin, pode agredir à vontade, não vamos retaliar porque não adianta e pode prejudicar a população) ou ainda esta: “fornecimento de armas pode aumentar o sofrimento ao prolongar os combates” (alô Zelensky, alô ucranianos, vocês não têm chance, eles são mais poderosos, rendam-se logo).
Não, não estou condenando ou criticando meus colegas diplomatas, ao terem de esconder a vergonha de defenderem o Brasil com esse jogo sujo de palavras, a que estão sendo obrigados pelo psicopata no poder e por aqueles generalecos imbecis e aspones aloprados que controlam a política externa e a diplomacia. Eles até estão passando a impressão, a jornalistas ingênuos ou desavisados, de que o Brasil está “fazendo a coisa certa”, ao não tomar partido, mas votar aquelas resoluções condenatórias da invasão russa, embora sempre contornando a verdade, de fato prolongando a fraude vocabular, nas declarações de voto, ao jamais usar palavras como agressão unilateral, violação do Direito Internacional, atrocidades contra população civil, mentiras e desfaçatez do invasor e outros expedientes aparentemente “adequados”.
Antes, os diplomatas eram obrigados a esconder, diminuir, minimizar os crimes que são cometidos contra o próprio Brasil — na Amazônia, na pandemia, nos ataques às instituições, nas ameaças à democracia e às minorias, etc. —, agora estão sendo levados a burlar a verdadeira posição de apoio objetivo ao agressor genocida.
Nunca imaginei que a reputação do Brasil e a da diplomacia brasileira no mundo pudessem cair tanto, a ponto de me causar vergonha pessoal, por pertencer a uma corporação que já teve melhores momentos num itinerário bissecular.
Vai ser duro recuperar a autoestima e, sobretudo, aquele sentimento de hombridade e de altivez que já exibimos no passado. E que não se confunda “altivez” com aquela fraude da “diplomacia ativa e altiva”, que antes defendia ditaduras execráveis apenas porque eram “de esquerda” (fascistas de esquerda), mas que agora estão absolutamente alinhados com a extrema-direita, no apoio a uma ditadura conservadora, claramente de direita, mas que é considerada mais “correta” porque é contra o “imperialismo estadunidense”, tido como o verdadeiro culpado da guerra de agressão.
Certos momentos da vida nacional são deprimentes, mas isso passará um dia, menos a vergonha, pelo passado sórdido.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4104: 13 março 2022, 2 p.
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