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terça-feira, 29 de março de 2022

O mês de março na guerra de Putin: O ocaso de Putin - José Augusto Guilhon Albuquerque

 O MÊS DE MARÇO NA GUERRA DE PUTIN

O OCASO DE PUTIN

José Augusto Guilhon Albuquerque

Putin foi longe demais em 2014, pensando que anexar a Crimeia teria o mesmo descaso, no Ocidente, que seu tratamento criminoso contra os povos da Chechênia, da Geórgia e da Bielorrússia, pois além de violar a Carta da ONU, ameaçou a Europa.

Passou da ameaça à invasão sem quartel, graças à resistência apenas retórica ao cerco da Ucrânia. Sua fantasia de criar um império de Estados satélites, do Norte ao Leste da Europa, já não permite recuo. Sua fantasia de desmilitarizar toda a Europa, não vai ocorrer, e sairá derrotado.

Foi buscar lã e saiu tosquiado. Tentou tirar proveito das dissensões na Otan e na União Europeia e provocou uma união jamais vista no resto do mundo. Com as exceções que bem conhecemos...

O custo em vidas de soldados, em desorganização da economia e do comércio, em credibilidade global, em negócios de oligarcas e em orgulho militar, será um solo fértil para o separatismo sempre latente nas províncias oprimidas e exploradas há séculos.

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PUTIN NÃO VAI PARAR

A guerra na Ucrânia é um conflito entre os EUA e Putin por vias distorcidas. Sejam seus próximos passos tentar recuperar os ex-satélites do Leste Europeu, dos Bálticos e as antigas anexações nórdicas, a guerra de Putin é contra os EUA.

 Cada dia lhe custa caro em perdas humanas, desgaste do poder militar, imagem interna e externa, além de ficar isolado do mundo capitalista. Mas uma potência nuclear transformada em Estado falido não interessa aos EUA, nem ao mundo, nem ao Basil.

A Ucrânia, a EU/OTAN e a ONU nada dispõem para justificar que o herdeiro do Império Russo faça concessões. Só os americanos dispõem de recursos capazes de transmudar os recuos de Putin em pretensas vitórias: afrouxar sanções em troca de recuos de Putin.

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VÁRIOS TIROS NO PÉ

Biden ameaça a China à-toa, já as ameaças de Putin contra EUA/OTAN são uma arma que reforça a eficácia de suas manobras no campo de batalha. Concessões dependem do que se faz em troca. A ameaça nuclear de Putin parou Biden, as sanções de Biden não vão parar Putin tão cedo.

Biden escala ameaças de sanções e as estende para a China. Mas paralisa a trinca EUA/OTAN/EU, temendo a escalada nuclear. Proibir um hipotético ataque ao território da OTAN permite a Putin devastar todo o território, o povo e o Estado da Ucrânia.

Leio que se trata de “aversão à escalada”, isto é, jogar fora o “bebê” do risco de um apoio econômico e militar realmente eficaz à Ucrânia, junto com a “água do banho” da ameaça nuclear, quando haveria inúmeras intervenções humanitárias e de apoio bélico que não implicam em se confrontar diretamente com os invasores.

Se os americanos querem concessões da China, para que limite seu apoio à Rússia, não sentem à mesa com um porrete, é a hora de falar manso.

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A PAZ NAS MÃOS DOS GRANDES

Os mais importantes centros de estudos de segurança de dez países do Leste Europeu, da Europa Ocidental, do Báltico, frente à questão “A Europa está preparada para pagar o preço da paz na Ucrânia?”, responderam que sim, mas até quando?

Não se sabe: enfrentar sequelas de sanções, da massa de refugiados, do risco de inflação e recessão, sendo por uma causa nobre, é uma coisa. O custo de evitar a dependência da Rússia é outra coisa. Custos imediatos e duradouros são ambos desiguais.

As prioridades de Biden e dos países diferem, o mesmo suas percepções de risco. A estratégia reativa e defensiva americana apenas reage às ameaças de Putin, estendendo as hostilidades. Sua continuidade é fatal para a Ucrânia. EUA e Rússia estão em guerra, cabe a eles fazer a paz.

Com meus cumprimentos,

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Dr. José Augusto Guilhon Albuquerque
Professor of International Relations, University of São Paulo (USP)
Senior Fellow, USP Research Center for International Relations (NUPRI)
Director, Brazilian Society for the Study of Transnational Enterprises and Globalization
Senior Research Fellow, Wong Center for the Study of Multinational Corporations

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