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sábado, 26 de março de 2022

Desgoverno miliciano: O presente de R$ 167 bilhões para abrir na eleição - Jaqueline Mendes (IstoÉ Dinheiro)

O presente de R$ 167 bilhões para abrir na eleição

 

Ano eleitoral é sempre o período em que o mandatário da nação precisa preparar o caminho para o pleito de outubro. Com medidas requentadas e desviando de uso de dinheiro público, Guedes anuncia um pacote para tentar turbinar Bolsonaro.

ÚLTIMO LIBERAL Paulo Guedes quer reforçar agenda liberal ao tentar estimular a economia sem usar dinheiro público. 

 

Jaqueline Mendes

ISTOÉ DINHEIRO, 25/03/22

 

Depois de três anos de hibernação na economia, o surto populista do presidente Jair Bolsonaro (PL) está a pleno vapor. Às vésperas do início oficial da corrida eleitoral pela presidência, o governo anunciou, na sexta-feira (18), um pacote de bondades para reaquecer a atividade econômica e, ao mesmo tempo, tentar reverter à desvantagem do atual chefe do Executivo até as eleições de outubro. A ofensiva, no entanto, se utiliza de medidas antigas e o pacote elaborado por Guedes para o presidente abrir em outubro pode deixar a desejar, a depender do andamento de outros indicadores macroeconômicos.

 

Mas o “presente” de Guedes foi uma reação, e se deu logo após o Banco Central aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 11,75% ao ano, o patamar mais elevado desde abril de 2017. Com a escalada dos juros, a economia tende a se contrair. Para tentar amortecer esse movimento, a decisão foi dar sinal verde a saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a antecipação do 13º dos aposentados.

 

As mesmas propostas já haviam sido adotadas pelo governo durante a pandemia e pelos ex-presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer. A equipe econômica também endossou medidas de estímulo à oferta de crédito para microempreendedores e empréstimos consignados para aposentados e beneficiários de programas assistenciais, como Benefício de Prestação Continuada (BPC), Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e Auxílio Brasil. Nos cálculos do governo, serão injetados na economia recursos na ordem dos R$ 167 bilhões.

 

Para quem olha de fora, o afago econômico de Bolsonaro é uma tentativa de virar o jogo nas pesquisas de intenção de voto, que mostram o ex-presidente Lula à frente com 43%, contra 29% do Messias. Na avaliação de Ricardo Ismael, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), as movimentações recentes estão vinculadas à tentativa do chefe do Executivo de reduzir a rejeição e pavimentar a disputa à reeleição. Para ele, o pacote de ajuda às indústrias, o incentivo a moradias, a liberação do FGTS para quitação de dívidas, entre outras medidas, tem repercussão positiva e impacto, mas Bolsonaro acumula rejeição de forma geral e coleciona uma série de problemas. Ismael avalia que o pacote pode ajudar a tentar reduzir um pouco a rejeição em certos grupos e ajuda na tentativa de ir ao segundo turno, mas há poucas chances de reverter a rejeição acumulada ao longo tempo de maneira a vencer no segundo turno.


PRONTOS PARA SACAR Liberação do resgate do FGTS anunciada pelo governo não é medida nova, mas injeta dinheiro na economia. 

 

Apesar da injeção bilionária à economia, ainda há dúvidas se o montante será concretizado. Os R$ 77 bilhões referentes ao crédito consignado, quase metade do valor do pacote, não estão garantidos porque dependerá dos bancos públicos e privados. Com desemprego elevado e aumento do endividamento, economistas temem uma disparada da inadimplência. “Os juros altos, a inflação fora de controle e o achatamento do poder de compra das famílias, os bancos não vão se expor demais a riscos”, disse o economista Ricardo Bonatelli, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Hoje, 76,6% das famílias, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), estão endividadas ou sem poder captar novos empréstimos.

 

NOME SUJO Para seduzir essa parcela da população, em especial os com o CPF negativado nas instituições de proteção de crédito, Guedes, e o ministro do Trabalho e Previdência (MTP), Onyx Lorenzoni, anunciaram que a proposta inclui oferecer crédito até para negativados e a ampliação do comprometimento da renda, de 35% para 40% com juros baixos. “A medida funciona como uma alternativa para famílias evitarem agiotas, que cobram juros de 10%, 15% ou 20% ao mês.”

 

Na mesma ocasião, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que a nova modalidade de microcrédito do banco, com taxas de 1,99% ao mês, foi inspirada no Grameen Bank, concebido pelo bengalês Muhammad Yunus, Nobel da Paz de 2006. O executivo garantiu que, no atual ritmo de crescimento do banco estatal na liberação de crédito, a Caixa deverá ultrapassar o Banco do Brasil em dois anos. Um outro pacote, segundo integrantes da equipe econômica, está sendo elaborado e pode ser divulgado nas próximas semanas. Entre as iniciativas estão a redução do Imposto de Renda para investidores estrangeiros e um programa voltado a estimular a reciclagem. Até outubro, quando Bolsonaro vai ver se o “presente” de Guedes valeu a pena ou não.


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