Crônica dos Eventos Correntes sobre as Coisas do Brasil
Paulo Roberto de Almeida
Sempre tive cadernos de notas, grandes, médios e pequenos, mesmo já na era do computador, quando as notas eletrônicas facilitaram muito o trabalho de registro, reflexão e redação de trabalhos. Pois foi armado de uma dezena de cadernos de notas acumulados ao longo dos anos e de uma máquina de escrever elétrica – que me custou, na Suíça, o equivalente a um carro usado no Brasil – que eu elaborei, em longas noites de inverno em Belgrado, minha tese de doutorado, terminada no início de 1984. Meu primeiro computador só foi adquirido em 1987, mas não deixei de continuar usando cadernos de notas, grandes e pequenos.
Pois ao começar a preparar hoje minhas notas de leitura para mais um evento de caráter acadêmico, retomei, por acaso, um caderno que eu tinha começado em meados de 2018, já prenunciando a tempestade que se avizinhava a partir das eleições de outubro daquele ano.
Eis a primeira página desse caderno iniciado em 7/06/2018, que já expressava seu objetivo basicamente de registro da nova fase na qual o Brasil adentrava, que eu já suspeitava que seria "memorável", no sentido negativo da palavra. Não esperava que fosse tão negativa.
Transcrevo abaixo o que eu havia escrito, num pequeno caderno de bolso, poucos dias antes:
"Minha ordem de prioridades para os próximos meses - Paulo Roberto de Almeida - Brasília, 2/06/2018
1) Colaborar na obra, gigantesca, de tentar endireitar o Brasil [no sentido da correção dos seus males] ;
2) Preservar a racionalidade, acima de qualquer outra coisa;
3) Preservar o Itamaraty de todos os desvios prejudiciais à sua missão institucional.
Para fazer tudo isso, na modéstia de meios e possibilidades de que disponho e que se me oferecem, as prioridades corretas, ou reais, seriam estas:
1) Preservar o Itamaraty;
2) Manter a racionalidade sobre todas as coisas;
3) Ajudar a endireitar o Brasil.
Tudo isso é muito difícil, obviamente, com a escassez de recurso com que contamos e a irracionalidade reinante. Mas vale a pena tentar! [Bsb, 2/06/2018)" (p. 3)
Aqui embaixo, a foto dessa página:
Pois bem, não consegui preservar o Itamaraty, tanto porque fui exonerado de meu posto de diretor do IPRI logo ao início do desgoverno, e objeto de retaliações do desequilibrado chanceler acidental, mas acredito que consegui preservar a minha racionalidade (a julgar por todas as demais notas nesse mesmo caderno), embora não tenha logrado ajudar a corrigir os grandes problemas do Brasil, por insuficiência de meios, como eu também escrevi nessa nota.
Mas talvez eu tenha ajudado outros, especialmente os mais jovens, no esclarecimento quanto à natureza dos problemas do Brasil, o que já representa algo de positivo.
Darei continuidade ao caderno – que é uma brochura da AFD, Agence Française de Développement, gentilmente oferecida pela Embaixada da França em Brasília – com um novo projeto que vai me ocupar nos próximos meses.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de março de 2022
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