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sexta-feira, 11 de março de 2022

De Bretton Woods a Bretton Woods: a longa marcha da URSS de volta ao FMI - Paulo Roberto de Almeida (1991)

De Bretton Woods a Bretton Woods: a longa marcha da URSS de volta ao FMI (1991)

 Quando escrevi o artigo abaixo, em agosto de 1991, sobre a volta da União Soviética às organizações de Bretton Woods, ANTES que a URSS desaparecesse, no final daquele ano, saudando seu retorno, pois que ela havia estado em Bretton Woods, em 1944, não imaginava que ela pudesse ser EXPULSA do FMI e do Banco Mundial, como pode acontecer agora, em 2022, por causa da invasão brutal e da guerra GENOCIDA por um êmulo de Stalin contra o povo ucraniano.

Os interessados em saber como ele foi a Bretton Woods, e depois recusou tornar-se membro (a despeito de que o segundo homem do Tesouro, Harry White, era um agente soviético e até ofereceu que os EUA pagassem a cota da URSS destruída pela guerra contra Hitler), podem ler este meu artigo, que talvez mereça agora continuidade. Registro que escrevi o artigo antes que, no final desse mês, o Gorbatchev sofresse um golpe de Estado, de velhos comunistas, e ficasse alguns dias fora do poder. Depois ele voltou, mas em 25 de dezembro anunciava o fim da URSS. Escrevi muito sobre os camaradas, mas apenas quero colocar a disposição de um público mais amplo, este meu artigo:
Paulo Roberto de Almeida

209. “De Bretton Woods a Bretton Woods: a longa marcha da URSS de volta ao FMI”, Montevidéu, 27 agosto 1991, 15 p. Artigo sobre a participação da URSS na conferência de Bretton Woods. Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro: Ano XXXIV, n. 135-136, 1991/2, p. 99-109). Postado no blog Diplomatizzando (17/12/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/12/russia-de-bretton-woods-1944-bretton.html); disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5661851/209_De_Bretton_Woods_a_Bretton_Woods_a_longa_marcha_da_URSS_de_volta_ao_FMI_1991_). Relação de Publicados n. 71.

Transcrevo apenas a parte inicial do artigo e depois remeto aos links acima, para os interessados em lê-lo por inteiro (e confesso que não reli, para verificar o que escrevi em 1991, ANTES do fim da URSS, mas ela parece estar voltando agora, sob Putin).

DE BRETTON WOODS A BRETTON WOODS:

a longa marcha da URSS de volta ao FMI

 

Paulo Roberto de Almeida

Revista Brasileira de Política Internacional

(Rio de Janeiro: Ano XXXIV, n. 135-136, 1991/2, pp. 99-109)

Postado no blog Diplomatizzando

(17/12/2011l link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/12/russia-de-bretton-woods-1944-bretton.html)

 

O espectro do passado

A História costuma dar muitas voltas, antes de retornar, eventualmente, ao seu ponto inicial. Ela nem precisa reproduzir-se como farsa, como afirmava Marx a partir do conceito original de Hegel. Farsa ou tragédia, tudo depende do ponto de vista de quem é chamado a pagar a conta da repetição do espetáculo. Na verdade, mais que repetir-se, a História se contenta com pregar peças naqueles que ousam desafiar as “leis de funcionamento do mecanismo econômico da sociedade”, para empregar uma das frases preferidas do autor d’O Capital, ou melhor, do Dezoito Brumário, onde aquela famosa reflexão sobre o retorno da História foi registrada pela primeira vez. 

Assim, pode ser encarada, por exemplo, a restauração da “velha” ordem capitalista nos países que, antes ou depois da II Guerra Mundial, tinham adotado o sistema de economia planificada e que, durante muito tempo, se tinham preparado alegremente para enterrar o capitalismo (com a ajuda eventual de uma das muitas crises cíclicas deste último). A transição acelerada do modo de produção socialista ao ancien régime do capitalismo, empreendida a todo vigor no Leste europeu, pode, ocasionalmente, ter seu lado de tragédia (e muito pouco de farsa), notadamente para os órfãos do planejamento centralizado, mas, ela tem muito pouco de surpresa para aqueles que acompanharam com atenção a parábola do comunismo na História.

Winston Churchill, ainda que reconhecidamente muito pouco afeito a reflexões de tipo hegeliano, não se surpreenderia, por certo, com a desmontagem final de um regime econômico e político por ele considerado como “pouco natural” e mesmo totalmente contrário à “natureza humana”. A invocação à Churchill é, aliás, ilustrativa do itinerário tortuoso que a História percorreu em pouco mais de 70 anos de ascensão e queda da ideologia socialista.

Ele, que tinha estimulado e participado ativamente na montagem do apoio ocidental aos grupos de russos brancos que, entre 1918 e 1923, combateram militarmente a jovem república bolchevique, não hesitou, mais tarde, em aliar-se ao “demônio comunista” para eliminar, como ele dizia, o “diabo hitlerista”. Ao final da guerra, conhecedor como poucos do caráter brutal da dominação stalinista, foi um dos primeiros a afirmar que uma “cortina de ferro” se tinha abatido sobre a Europa.

Com efeito, em 5 de março de 1946, Winston Churchill pronuncia, no Colégio Rural de Fulton (Missouri, EUA), seu famoso discurso sobre a cortina de ferro que tinha passado a dividir a Europa desde Stettin até Trieste. Ele reitera então seu severo julgamento, elaborado desde os primórdios do poder bolchevique, sobre o caráter totalitário dos regimes sob dominação soviética e, empregando uma imagem que se tornaria típica da guerra fria, caracteriza o comunismo como uma “ameaça crescente à civilização cristã”.

Churchill afirmava particularmente: “O que eu pude conhecer de nossos amigos russos durante a guerra, me convenceu que, mais do que tudo, eles admiram a força e que, mais do que tudo, eles desprezam a fraqueza militar”. Em 19 de setembro desse mesmo ano, exercitando seus dons de “futurólogo”, ele se pronuncia a favor dos “Estados Unidos da Europa”. Churchill ousa mesmo prever a derrocada final do sistema comunista, com base, em grande medida, nos mesmos argumentos que tinham sido avançados no século passado por John Stuart Mill em relação ao caráter profundamente irracional da organização social da produção em regime socialista.

Churchill, evidentemente, não logrou viver o bastante para assistir à confirmação prática do ceticismo sadio demonstrado pelo pensamento econômico liberal a respeito da debilidade intrínseca de qualquer forma de apropriação coletiva dos frutos do trabalho individual. Difícil dizer, também, se ele consideraria a marcha acelerada das economias planificadas em direção do mercado como uma demonstração inequívoca de um “retorno da História”. Em todo caso, ele provavelmente receberia com um sorriso maroto a solicitação algo desesperada apresentada pela União Soviética de adesão plena ao FMI e ao Banco Mundial, formulada por ocasião da reunião do G7, de julho de 1991 em Londres. 

A despeito da simpatia despertada nos europeus, a cauta reação anglo-americana apenas permitiu contemplar, numa primeira fase, um simples estatuto de “membro associado”, isto é, a URSS ganha o direito de ser escrutinada pelos bisturis cruéis do FMI mas não consegue alcançar a bolsa dos cobiçados sestércios. Essa posição intermediária será rapidamente superada pela situação normal de associação plena, uma vez aprovado um programa rigoroso de reconversão econômica e definidas as linhas da cura de emagrecimento do Estado socialista.

Mais, do que a aceitação formal ou efetiva, pela URSS, dos princípios de mercado, é o apelo ao FMI que conforma verdadeiramente um retorno patético da História. Afinal de contas, as instituições de Bretton Woods, tidas por Stalin como a “representação mais acabada” da ordem mundial capitalista, sempre concentraram os ataques mais veementes dos adeptos da economia planificada. Com o tempo, entretanto, vários países do “socialismo realmente existente” tiveram de arrefecer suas críticas e trataram de solicitar, cada qual a seu turno, uma discreta adesão às antigas “agências do imperialismo econômico”. O movimento se acelerou, desde os anos 70, até incluir agora a própria União Soviética, o que aliás não tomou inteiramente de surpresa os observadores mais atentos, já que esse “salto qualitativo” estava implícito na natureza das transformações em curso nas “economias pós-socialistas”.

Pode-se, contudo, falar legitimamente de “ingresso” da URSS nas instituições financeiras de Bretton Woods, ou seria melhor referir-se à “volta” da ex-pátria do socialismo a organizações por ela mesma criadas no quadro das Nações Unidas? Um pequeno passeio pela História nos permitirá esclarecer essa questão.

(...)


Para ler a íntegra, remeto a estes links: 


Postado no blog Diplomatizzando (17/12/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/12/russia-de-bretton-woods-1944-bretton.html); disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5661851/209_De_Bretton_Woods_a_Bretton_Woods_a_longa_marcha_da_URSS_de_volta_ao_FMI_1991_).

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