Memórias de um anarco-diplomata:
Sempre achei aquela coisa da “hierarquia e disciplina”, válida apenas para soldados de linha, mas imprópria para diplomatas. Sempre fui pelo argumento racional e pelo debate exaustivo, podendo chegar, se necessário e adequado, à desobediência e à critica, sem qualquer hierarquia ou disciplina no momento da formulação de políticas (depois, na fase de implementação, cabe cumprir).
O soldado não pode parar o combate para ir discutir Kant com o comandante do pelotão.
O diplomata não: ele tem o dever e a obrigação de fundamentar sua visão de um determinado assunto de sua competência e de defender seus argumentos, se bem embasados no conhecimento, no estudo, no diálogo socrático com os colegas e com os superiores.
Mas, quem recusa a aplicação da domesticação castrense no âmbito da hierarquia disciplinada da diplomacia feudal, pode ter de pagar algum preço pela ousadia. Nada dramático, pois essas carreiras de Estado possuem certos anteparos ao arbitrio dos poderosos.
A maior parte da tribo, a verdade, se enquadra nos moldes propostos, preferindo o carreirismo, que é uma forma de oportunismo e de submissão.
Os refuzniks, os dissidentes, os contrarianistas são olhados com suspeita, por vezes com raiva, mas até com certa inveja, por se permitirem liberdades que os demais, a maioria dos enquadrados não ousam ter.
Cada qual escolhe seu caminho e assume responsabilidade.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 13/03/2022
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