Minha recollection de quase duas décadas de demolição diplomática
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Um texto que vai causar pruridos nos petistas e trazer desconforto a certas “almas cândidas”, como diria Raymond Aron, inclusive vários colegas diplomatas.
O Itamaraty começou a ser destruído, como instituição, na era Lula, a despeito da excelente projeção externa do Brasil e do crescimento extraordinário de nosso prestígio internacional.
Alguns “servos” da ditadura cubana controlavam a diplomacia, como certo apparatchik do PT e alguns colaboradores voluntários (sobre cujo caráter não preciso me expressar). Mas a “pizza diplomática” do Itamaraty até que resistiu bem: só tinha uma ou duas fatias de cubanices e de bolivarianices, mas era o Itamaraty “normal”: multilateralismo, regionalismo, desenvolvimentismo, unctadianismo, terceiro-mundismo, anti-imperialismo e antiamericanismo moderado, ou seja, tudo igual ao que sempre fomos, desde o final dos anos 1950, quando começa a famosa PEI, ainda antes do Afonso Arinos e do San Tiago Dantas, e outros ideólogos do período, como Araújo Castro.
Mas, a diplomacia partidária e paralela do PT introduziu elementos clandestinos e deformadores do processo decisório, que foi totalmente invertido: a base tinha de atender aos objetivos da cúpula, como no “centralismo democrático” dos neobolcheviques.
Por isso escrevi, em 2014, o livro “Nunca Antes na diplomacia…”, que tinha justamente um capítulo sobre o processo decisório, um outro sobre a miopia do “Sul Global” e mais um contendo meu minority report, como um contrarianista, o que sempre fui.
Mas, quando a editora quis fazer uma 2a edição, em 2019, eu me opus, pois disse que o “nunca antes” era exatamente o desgoverno horroroso e a diplomacia aloprado do Bozo e do patético ex-chanceler acidental. Preferi escrever toda uma série de quatro obras digitais sobre o alucinante “bolsolavismo diplomático”, começando pelo “Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty” (2019), chegando até “O Itamaraty Sequestrado, 2018-2021”, que resume a destruição demencial do ex-chanceler acidental e desequilibrado.
A essa altura, a “pizza diplomática” já tinha sido, toda ela, contaminada por um horroroso “molho bolsolavista”, intragável e inaceitável para os padrões usuais e os valores e princípios de nossa política externa tradicional. Não preciso dizer que os “pizzaiolos” eram os delirantes fanáticos daquela franja lunática submissa à extrema-direita americana, “dirigidos” por um inepto e ignorante chefe de desgoverno.
Acabei escrevendo e publicando, em 2021, “Apogeu e demolição da política externa”; mas nem preciso dizer que o lulopetismo diplomático acabou entrando no apogeu, e que a demolição é inteiramente obra do Bozo e dos integrantes da franja lunática.
Agora, só me falta escrever uma espécie de “história sincera” do Itamaraty, relatando minha visão de quatro décadas de política externa e de diplomacia brasileira. Comecei em 1978, sendo fichado pelo SNI como “diplomata subversivo”, por me opor à ditadura militar, e terminei, no final de 2021, como “diplomata dissidente”, ou uma espécie de refuznik da atual demência bozófila na política externa, a despeito das tentativas de meus colegas diplomatas de preservar um mínimo de dignidade para o Itamaraty.
Se o tirano Putin pode ser condenado, pelo menos moralmente, por “crimes de guerra” e “contra a humanidade”, Bozo, seus generais amestrados e os aspones lunáticos devem ser processados e condenados, pelo menos moralmente, por crimes contra a diplomacia e contra a política externa do Brasil.
A história não os absolverá, e eu não os deixarei impunes no “meu” tribunal pessoal da dignidade moral.
Continuarei expressando meu pensamento e minhas opiniões e argumentos no meu quilombo de resistência intelectual, mesmo sozinho.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4092: 2 março 2022, 2 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário