DISFUNCIONALIDADES DA POLÍTICA EXTERNAL
José Augusto Guilhon Albuquerque
14/06/2024
Nesta série de estudos sobre as disfuncionalidades de nosso sistema político, venho tentando mostrar que há algo de podre no nosso regime, o que fica evidenciado pela regularidade das crises que derrubam presidentes ou inviabilizam governos. Minha hipótese central é que os efeitos das disfuncionalidades das instituições de toda natureza – econômicas, sociais e políticas – afetam-se mutuamente, provocando um novo equilíbrio, num grau ainda maior de podridão.
Depois de abordar o sistema jurídico, hoje vou tratar das disfuncionalidades da nossa política externa, e do nosso posicionamento no ambiente geopolítico. A Política Externa, tal como hoje é exercida, pode ser entendida como o conjunto de orientações que um Estado procura adotar para executar as atividades do país voltadas para o Exterior, de acordo com seus interesses, isto é, as prioridades nas relações políticas, econômicas e sociais e, sobretudo, os riscos e ameaças provindos do ambiente geopolítico.
Por definição, portanto, a política externa de um país só pode ser exercida dentro dos patamares de seu ambiente geopolítico que, no caso do Brasil, tem particularidades que, a induzem a aderir a uma concepção inteiramente disfuncional.
Essa particularidade consiste em que o Brasil é um dos mais raros, senão o único país sem inimigos nem ameaças externas vitais.
Os poucos países que poderiam ameaçar nossa condição de país livre e soberano, ou não têm interesse, ou não querem pagar o preço de levar adiante uma ameaça vital contra o Brasil. Isto faz com que, nos poucos momentos em que nossas elites encaram nossas relações internacionais, cabe-lhes perfeitamente uma paráfrase de Nietzsche: se não sofremos ameaças, tudo é permitido.
Esta concepção disfuncional do ambiente geopolítico conduz à adoção de uma política externa igualmente disfuncional. Dois exemplos que cabem no espaço desta crônica: O Brasil faz parte de um continente dominado pela maior potência global mas, em vez de manter uma política relativamente amistosa e moderadamente independente, elege a superpotência como seu principal inimigo.
Outro exemplo é o pressuposto de que o Brasil é uma noiva cobiçada, que reúne todas as riquezas da terra, a cujos pés se lançam todas as nações do mundo para delas desfrutarem. Não por acaso, o Brasil vem evitando, há 30 anos, comprometer-se em acordos de comércio, na contramão do resto do mundo.
Assim, a uma política externa idealizada e descolada da realidade, corresponde uma política internacional igualmente idealizada e descolada do ambiente geopolítico de nosso país.
Brevemente vamos entrevistar, para aprender um pouco mais, o professor Alexandre Uehara, coautor comigo do livro 25 Anos de Política Externa Brasileira, 1996-2022, que Você pode adquirir em <info@guilhonalbuquerque.com>.
Com meus cumprimentos,
José Augusto
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