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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 15 de junho de 2024

DISFUNCIONALIDADES DA POLÍTICA EXTERNA - José Augusto Guilhon Albuquerque

 DISFUNCIONALIDADES DA POLÍTICA EXTERNAL

José Augusto Guilhon Albuquerque

14/06/2024

Nesta série de estudos sobre as disfuncionalidades de nosso sistema político, venho tentando mostrar que há algo de podre no nosso regime, o que fica evidenciado pela regularidade das crises que derrubam  presidentes ou inviabilizam governos. Minha hipótese central é que os efeitos das disfuncionalidades das instituições de toda natureza – econômicas, sociais e políticas – afetam-se mutuamente, provocando um novo equilíbrio, num grau ainda maior de podridão.

Depois de abordar o sistema jurídico, hoje vou tratar das disfuncionalidades da nossa política externa, e do nosso posicionamento no ambiente geopolítico. A Política Externa, tal como hoje é exercida, pode ser entendida como o conjunto de orientações que um Estado procura adotar para executar as atividades do país voltadas para o Exterior, de acordo com seus interesses, isto é, as prioridades nas relações políticas, econômicas e sociais e, sobretudo, os riscos e ameaças provindos do ambiente geopolítico.

Por definição, portanto, a política externa de um país só pode ser exercida dentro dos patamares de seu ambiente geopolítico que, no caso do Brasil, tem particularidades que, a induzem a aderir a uma concepção inteiramente disfuncional. 

Essa particularidade consiste em que o Brasil é um dos mais raros, senão o único país sem inimigos nem ameaças externas vitais.

Os poucos países que poderiam ameaçar nossa condição de país livre e soberano, ou não têm interesse, ou não querem pagar o preço de levar adiante uma ameaça vital contra o Brasil. Isto faz com que, nos poucos momentos em que nossas elites encaram nossas relações internacionais, cabe-lhes perfeitamente uma paráfrase de Nietzsche: se não sofremos ameaças, tudo é permitido.

Esta concepção disfuncional do ambiente geopolítico conduz à adoção de uma política externa igualmente disfuncional. Dois exemplos que cabem no espaço desta crônica: O Brasil faz parte de um continente dominado pela maior potência global mas, em vez de manter uma política relativamente amistosa e moderadamente independente, elege a superpotência como seu principal inimigo. 

Outro exemplo é o pressuposto de que o Brasil é uma noiva cobiçada, que reúne todas as riquezas da terra, a cujos pés se lançam todas as nações do mundo para delas desfrutarem. Não por acaso, o Brasil vem evitando, há 30 anos, comprometer-se em acordos de comércio, na contramão do resto do mundo.

Assim, a uma política externa idealizada e descolada da realidade, corresponde uma política internacional igualmente idealizada e descolada do ambiente geopolítico de nosso país. 

Brevemente vamos entrevistar, para aprender um pouco mais, o professor Alexandre Uehara, coautor comigo do livro 25 Anos de Política Externa Brasileira, 1996-2022, que Você pode adquirir em <info@guilhonalbuquerque.com>.

Com meus cumprimentos,

José Augusto

-- 
Dr.José Augusto Guilhon Albuquerque
Professor of International Relations, University of São Paulo (USP)
Senior Fellow, USP Research Center for International Relations (NUPRI)
Director, Brazilian Society for the Study of Transnational Enterprises and Globalization
Senior Research Fellow, Wong Center for the Study of Multinational Corporations
+55.11.4704.1627(ho)  +55.11.99890.5568 (cel)

terça-feira, 29 de março de 2022

O mês de março na guerra de Putin: O ocaso de Putin - José Augusto Guilhon Albuquerque

 O MÊS DE MARÇO NA GUERRA DE PUTIN

O OCASO DE PUTIN

José Augusto Guilhon Albuquerque

Putin foi longe demais em 2014, pensando que anexar a Crimeia teria o mesmo descaso, no Ocidente, que seu tratamento criminoso contra os povos da Chechênia, da Geórgia e da Bielorrússia, pois além de violar a Carta da ONU, ameaçou a Europa.

Passou da ameaça à invasão sem quartel, graças à resistência apenas retórica ao cerco da Ucrânia. Sua fantasia de criar um império de Estados satélites, do Norte ao Leste da Europa, já não permite recuo. Sua fantasia de desmilitarizar toda a Europa, não vai ocorrer, e sairá derrotado.

Foi buscar lã e saiu tosquiado. Tentou tirar proveito das dissensões na Otan e na União Europeia e provocou uma união jamais vista no resto do mundo. Com as exceções que bem conhecemos...

O custo em vidas de soldados, em desorganização da economia e do comércio, em credibilidade global, em negócios de oligarcas e em orgulho militar, será um solo fértil para o separatismo sempre latente nas províncias oprimidas e exploradas há séculos.

*

PUTIN NÃO VAI PARAR

A guerra na Ucrânia é um conflito entre os EUA e Putin por vias distorcidas. Sejam seus próximos passos tentar recuperar os ex-satélites do Leste Europeu, dos Bálticos e as antigas anexações nórdicas, a guerra de Putin é contra os EUA.

 Cada dia lhe custa caro em perdas humanas, desgaste do poder militar, imagem interna e externa, além de ficar isolado do mundo capitalista. Mas uma potência nuclear transformada em Estado falido não interessa aos EUA, nem ao mundo, nem ao Basil.

A Ucrânia, a EU/OTAN e a ONU nada dispõem para justificar que o herdeiro do Império Russo faça concessões. Só os americanos dispõem de recursos capazes de transmudar os recuos de Putin em pretensas vitórias: afrouxar sanções em troca de recuos de Putin.

*

VÁRIOS TIROS NO PÉ

Biden ameaça a China à-toa, já as ameaças de Putin contra EUA/OTAN são uma arma que reforça a eficácia de suas manobras no campo de batalha. Concessões dependem do que se faz em troca. A ameaça nuclear de Putin parou Biden, as sanções de Biden não vão parar Putin tão cedo.

Biden escala ameaças de sanções e as estende para a China. Mas paralisa a trinca EUA/OTAN/EU, temendo a escalada nuclear. Proibir um hipotético ataque ao território da OTAN permite a Putin devastar todo o território, o povo e o Estado da Ucrânia.

Leio que se trata de “aversão à escalada”, isto é, jogar fora o “bebê” do risco de um apoio econômico e militar realmente eficaz à Ucrânia, junto com a “água do banho” da ameaça nuclear, quando haveria inúmeras intervenções humanitárias e de apoio bélico que não implicam em se confrontar diretamente com os invasores.

Se os americanos querem concessões da China, para que limite seu apoio à Rússia, não sentem à mesa com um porrete, é a hora de falar manso.

*

A PAZ NAS MÃOS DOS GRANDES

Os mais importantes centros de estudos de segurança de dez países do Leste Europeu, da Europa Ocidental, do Báltico, frente à questão “A Europa está preparada para pagar o preço da paz na Ucrânia?”, responderam que sim, mas até quando?

Não se sabe: enfrentar sequelas de sanções, da massa de refugiados, do risco de inflação e recessão, sendo por uma causa nobre, é uma coisa. O custo de evitar a dependência da Rússia é outra coisa. Custos imediatos e duradouros são ambos desiguais.

As prioridades de Biden e dos países diferem, o mesmo suas percepções de risco. A estratégia reativa e defensiva americana apenas reage às ameaças de Putin, estendendo as hostilidades. Sua continuidade é fatal para a Ucrânia. EUA e Rússia estão em guerra, cabe a eles fazer a paz.

Com meus cumprimentos,

-- 
Dr. José Augusto Guilhon Albuquerque
Professor of International Relations, University of São Paulo (USP)
Senior Fellow, USP Research Center for International Relations (NUPRI)
Director, Brazilian Society for the Study of Transnational Enterprises and Globalization
Senior Research Fellow, Wong Center for the Study of Multinational Corporations

sábado, 7 de novembro de 2020

Trump contra Deus e o mundo - José Augusto Guilhon Albuquerque

Trump contra Deus e o mundo
José Augusto Guilhon Albuquerque
6/11/2020

Ainda tenho que estudar melhor os casos e precisar as hipóteses mas, neste momento, posso dizer que é preciso desmontar a máquina do Executivo e envolver os demais poderes. 
No populismo pós-Guerra Fria, Chávez obteve a adesão do Legislativo, graças à omissão da oposição, mais a adesão direta do Judiciário, e desmontou ou comprou a máquina executiva, inclusive as Forças Armadas. 
Trump desmontou o Departamento de Estado, as Agências de Inteligência, o Ministério da Justiça, sem falar nas áreas de Saúde e Meio ambiente, Comércio Exterior, Educação, etc, e tentou, até agora sem sucesso total, envolver a Defesa. 
No Legislativo, conseguiu paralisar em grande medida a Câmara, contando com  um misto de omissão  e adesão do Senado. E operou por iniciativa do Presidente do Senado, Mitch McConnell, a maior operação de nomeações de novos  juízes federais escolhidos dedo a dedo - graças à omissão do governo Obama.
Isso permitiu sua absolvição pelos crimes de alta traição que cometeu, graças ao Senado, que o declarou inimputável. 
Mas não teve tempo para obter a adesão integral do Judiciário, mas bem que tentou, por isso está perdendo a eleição. 
Se ganhasse o segundo mandato, iria tentar se perpetuar no poder, como fizeram Chavez, Evo, e Ortega, sem falar nos que tentaram, mas desistiram a tempo.

Dr.José Augusto Guilhon Albuquerque
Professor of International Relations, University of São Paulo (USP)
Senior Fellow, USP Research Center for International Relations (NUPRI)
Director, Brazilian Society for the Study of Transnational Enterprises and Globalization
Senior Research Fellow, Wong Center for the Study of Multinational Corporations
+55.11.4704.1627(ho)  +55.11.99890.5568 (cel)