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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Protecionismo comercial companheiro: ate os aliados chineses reclamam

Pô! Assim não dá!
Até os "aliados estratégicos" dos companheiros andam reclamando das c...... que eles andam fazendo em matéria de protecionismo comercial.
Onde vai parar a fabulosa política externa anti-hegemônica?
Paulo Roberto de Almeida 

Comércio exterior

China critica medidas protecionistas brasileiras

Vice-ministro de Comércio da China, Showen Wang, disse que elevados impostos brasileiros comprometem produção de montadoras chinesas no país

Exportações do Brasil para a China permaneceram praticamente estagnadas em US$ 31 bilhões
Exportações do Brasil para a China permaneceram praticamente estagnadas em US$ 31 bilhões (ChinaFotoPress/Getty Images/VEJA)
A China afirmou que pretende transformar o Brasil em uma plataforma de exportação para seus carros, mas ponderou que as elevadas tarifas de importação, além dos impostos domésticos, comprometem as relações comerciais com o país. “Nosso plano é levar empresas do setor automotivo para abrir fábricas no Brasil e, partindo do território brasileiro, exportar esses veículos para o mundo", afirmou o vice-ministro de Comércio da China, Showen Wang, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “Mas as tarifas que o Brasil aplica são muito elevadas e precisam cair." 
Montadoras chinesas como Changan e JAC Motors foram prejudicadas pelo aumento de 30 pontos porcentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados em setembro de 2011. A medida atrasou a instalação de uma fábrica da JAC Motors no Brasil. A ideia era importar veículos ao longo de três anos para depois começar a produzi-los em território nacional. “As medidas dificultaram a entrada de novas montadoras. O governo quis que o empresário se casasse com o Brasil antes de namorá-lo. E ninguém mais quer correr esse risco”, disse o presidente da JAC Motors no Brasil, Sergio Habib, em entrevista em julho. 
As criticas ocorrem em um momento em que a China questiona as barreiras antidumping brasileiras, enquanto o Brasil registra queda nas exportações, principalmente de commodities, devido à desaceleração da economia chinesa. As vendas da China para o Brasil totalizaram 24,6 bilhões de dólares no acumulado dos oito primeiros meses do ano, alta de 1,22%. O avanço, entretanto, veio bastante abaixo do crescimento de 28% em 2011, de 60% em 2010 ou mesmo de 72% em 2004. Já as vendas do Brasil para a China permaneceram praticamente estagnadas em 31 bilhões de dólares.
Showen afirmou que a China, maior parceiro comercial do Brasil, está disposta a levar adiante a ideia de um acordo de livre comércio com o Mercosul, eliminando as tarifas entre os países. “Um acordo de livre comércio seria muito bom para a China e para o Brasil”, disse o vice-ministro de Comércio. “Mas, claro, precisa que haja vontade recíproca", afirmou.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Pragmatismo chines vs paranoias brasileiras, e o pessimo ambiente de negocios...

Brasileiros (não todos, só a maioria) estão preocupados com o fato de que chineses comprem muitas terras no Brasil  (oh!, que horror!), e que depois fujam com as terras embaixo dos braços, de volta para a China, já pensaram nisso?
Mais ainda: eles ficam horrorizados de pensar que esses chineses possam plantar soja e exportar tudo, 100%, para a China! Já pensaram no horror que seria? 100%!? 
Claro, no brilhante pensamento econômico desses luminares, iria faltar soja no mercado nacional. Oh, que horror de estupidez econômica!!!
Foi por essas paranoias e outras, que os brilhantes procuradores do brilhante MP fizeram uma portaria limirando a compra de terras por estrangeiros. Ufa! Ainda bem que temos patriotas como esses para zelar pelo nosso patrimônio! Já pensaram? Chineses trazendo dinheiro para cá, investindo em novas tecnologias, pagando impostos locais (extorsivos, claro, iguaizinhos aos que pagamos), exportando e trazendo divisas para o Brasil, tudo isso controlado por chineses, que horror! Tudo isso seria inaceitável para o Brasil, não é mesmo?
Estamos muito melhor com as estupidezes econômicas dos nossos preclaros dirigentes, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida

Agronegócio

Chineses agora financiam e exportam soja brasileira

Eles chegaram ao país com planos de comprar terras e plantar para assegurar abastecimento, como fazem com minérios na África, mas mudaram o foco

Máquinas enfileiradas antes da colheita de soja em fazenda em Tangará da Serra, em Mato Grosso
Máquinas enfileiradas antes da colheita de soja em fazenda em Tangará da Serra, em Mato Grosso (Andre Penner/AP)


Graves deficiências de infraestrutura e abundância de recursos naturais: a China se deparou no Brasil com a combinação que havia servido de base para a sua bem-sucedida inserção na África. Com sua exuberância de capital, experiência em logística e mão de obra treinada e barata, os chineses organizaram a produção e escoamento de minérios e alimentos na África na década passada de maneira a sustentar seu crescimento econômico, que já exauriu seus recursos naturais. Agora, estão tentando aplicar esse modelo no Brasil.
Em sua penosa curva de aprendizagem, "os chineses estão entendendo que aqui não é a África", observa Marcelo Duarte Monteiro, diretor executivo da Aprosoja, que reúne os produtores de soja e milho do Mato Grosso. Ele esteve quatro vezes na China e perdeu a conta de quantas delegações chinesas recebeu em Cuiabá. Inicialmente, eles chegaram com a mentalidade de comprar terras e plantar soja, de maneira a assegurar seu abastecimento. Visitaram o sul de Goiás e o Mato Grosso, mas resolveram fixar-se no Oeste da Bahia. O governo baiano abriu escritório em Pequim em 2011.
A compra de cerca de 20.000 hectares pela Universo Verde, filial brasileira da Chongqing Grãos, suscitou advertência da Advocacia-Geral da União, e uma portaria interministerial, em setembro de 2012, regulamentando a aquisição de terras por estrangeiros. Enquanto eram obrigados a recuar de seu plano de adquirir terras, os chineses perceberam que os produtores locais têm não só uma longa experiência com a adaptação da soja à região - muito diferente das altas latitudes chinesas, de onde o grão é originário -, mas também capacidade de atender um aumento de demanda.
Passaram então a firmar parcerias com agricultores da região de Barreiras, no Oeste da Bahia. Agora seu capital está sendo aplicado na compra de sementes, fertilizantes e implementos agrícolas, que entram como moeda na venda antecipada da produção. Depois de ouvir a Associação de Irrigantes e Produtores da Bahia (Aiba), a Universo Verde decidiu investir em uma planta de esmagamento de soja em Barreiras. A terraplanagem da área onde ela será erguida já está feita. Arredios, os chineses preferem não falar do assunto.
A China tem excedente de capacidade de esmagamento. Comercialmente, faz mais sentido importar a soja em grão do que em óleo ou farelo. O projeto da planta de esmagamento indica o interesse de fornecer parte desses derivados para os mercados do Brasil e de outros países. As americanas Bunge e Cargill já têm plantas de esmagamento na Bahia. A da Universo Verde criará mais concorrência para os produtores venderem sua soja, aumentará o valor agregado na economia local e gerará entre 500 e 800 empregos diretos, de acordo com Jairo Vaz, superintendente de Política de Agronegócios da Secretaria de Agricultura da Bahia. "Os chineses estão mapeando o Oeste da Bahia para instalar silos e armazéns para captação de grãos e suprimento da fábrica."
Atualmente, a produção do Oeste da Bahia segue em caminhões para os portos de Santos e Paranaguá, o que encarece muito o seu custo. Mas a expectativa é que daqui a alguns anos ela possa seguir no sentido contrário, por meio das novas ferrovias que interligarão o oeste e o leste aos portos do norte e nordeste, mais próximos dos mercados dos EUA, da Europa e da China. A Universo Verde prevê a construção de um "porto seco", que receberá os caminhões com os grãos, o óleo e o farelo.
A curva de aprendizagem na logística tem sido acentuada. Os chineses chegaram com a experiência da África, onde suas construtoras firmam contratos com os governos, trazem navios com seus operários, constroem rodovias, ferrovias e portos, vinculam esses investimentos com o fornecimento de minério de ferro, petróleo e outros recursos naturais. E pronto. No Brasil, encontraram um ambiente bem mais complexo: grandes construtoras com vasta experiência internacional, mão de obra local, decisões políticas descentralizadas em Estados e municípios, licenças ambientais e agências reguladoras.
"É muito difícil no Brasil", suspira Li Tan, do grupo chinês Hopeful, que planeja investir 400 milhões de reais em um terminal no porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. "Muito longo, muito complicado para aprovar. É muito mais fácil fazer isso na China." O projeto começou em 2007. Está na fase da licença ambiental. Depois de muitas revisões no prazo, a empresa espera que esteja pronto em dois anos. "É bom proteger o meio ambiente", diz. "A situação do meio ambiente na China é horrível. Pensar no meio ambiente no início é muito bom. Vocês devem fazer isso. Mas a papelada é muito difícil. Toma muito tempo para concluir o processo."
Li, que está baseado no Estado americano de Iowa, diz que "os Estados Unidos também têm essas regulações, mas o processo está se acelerando e é bem regulado". Em contrapartida: "Às vezes o mercado brasileiro não é bem regulado, você não consegue acompanhá-lo. Você prepara um documento, e dizem: não é esse, é aquele outro. Você faz o outro e dizem que também não é esse, mas um outro. Algumas coisas não são claras."
O negócio do grupo é esmagar soja importada dos EUA, Brasil e Argentina. Do Brasil, importa hoje 1,5 milhão de toneladas por ano. Seu terminal terá capacidade de 8 milhões de toneladas por ano. "Os chineses buscam o Brasil não mais para abastecer a China, mas como mercado consumidor importante, e plataforma de exportação para a região", diz Sergio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento e presidente do Conselho Empresarial Brasil-China.