O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O Mercantilismo, o Marxismo e o Keynesianismo como "seitas econômicas" - Roberto Campos

 O Mercantilismo, o Marxismo e o Keynesianismo como "seitas econômicas"

Roberto Campos


Leio e copio da apresentação de Roberto Campos ao Quadro Econômico dos Fisiocratas, de François Quesnay: 


"Nos últimos três séculos de história ocidental, que assistiram ao nascimento da Economia como "ciência"no sentido schumpeteriano, isto é, um corpo de análise independente de proposições metafísicas  ou 'influências anticientíficas', apenas o mercantilismo, o marxismo, este em grau extremo, e, modernamente, o keynesianismo, partilharam com a Fisiocracia a honra, aliás, duvidosa, de poderem ser classificados como 'seitas' econômicas. Uma 'seita econômica' é mais que uma doutrina porque é também uma 'mensagem' e, no caso do marxismo, uma poderosa mensagem política." 


in: Petty, William. Obras Econômicas. Apresentação de Roberto Campos. Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos e Paulo Almeida. Quesnay, François. Quadro Econômico dos Fisiocratas. Apresentação de Roberto Campos. Trad. José Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 207.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Keynesianos e ortodoxos: uma oposicao sem significado no mundo da pratica - Paulo Roberto de Almeida

Hoje, logo cedo, o Facebook me acordou (bandido) com uma lembrança de "aniversário". Ele pretendia me chamar a atenção para uma postagem que eu tinha feito exatamente um ano atrás, no meu blog, depois disseminada no Facebook, justamente.
Primeiro achei impertinente, me acordar só por isso. Depois fui reler e acabei achando que estava apropriado, e até muito bom.
Por isso, e para servir à causa dos mais jovens, resolvi postar novamente, um ano depois.

Keynesianismo e liberalismo nas políticas públicas

Paulo Roberto de Almeida

Um leitor constante, fiel, atento e comentador, reincidente neste blog, me coloca a seguinte questão, que prefiro responder por inteiro: 

EMB compartilhou a postagem de seu blog no Google+:
Seria correto afirmar que o governo Fernando Henrique aliou aspectos de ortodoxia em política econômica com keynesianismo em matérias sociais e até comerciais?

Respondo (PRA):

Respondo de imediato: sim e não. Por que a contradição? Porque governos, em geral, não fazem NENHUMA distinção entre teorias ou escolas econômicas, pela simples razão de que estão por demais ocupados com problemas reais, concretos, tangíveis, urgentes, preocupantes, talvez até dramáticos – que são, quase sempre, os de desequilíbrios nas contas domésticas e externas, nas insuficiências orçamentárias, nas demandas da sociedade e do parlamento por mais e mais recursos públicos (que são os da coletividade), por ameaças de perdas de receitas, choques externos, e uma infinidade de outros problemas reais – para inquietar-se, além da conta, com meras teorias acadêmicas e escolas de pensamento econômico, que não representam nada, repito NADA, em face da agenda de trabalho que esses governos têm pela frente.
Só acadêmicos, em geral os puramente teóricos – ou alienados, como se dizia antigamente – preocupam-se com a suposta racionalidade econômica das políticas públicas da área econômica. Só jornalistas, mal formados pelos mesmos acadêmicos, se preocupam em catalogar, classificar, atribuir um rótulo ou slogan, a um governo qualquer, como se essas denominações representassem qualquer coisa além de uma mania, uma simplificação, uma distorção da realidade.
Políticos eleitos exibem, é verdade, alguma compreensão do mundo, e esse entendimento se baseia naquilo que eles aprenderam nos bancos escolares e universitários, nos ensinamentos dos familiares, mas sobretudo na experiência da vida, no trato da coisa pública, e o que vem em primeiro lugar não é a teoria aprendida, mas a necessidade prática, o problema concreto. Políticos experientes fazem assim: aprendem algumas coisas nos livros, outras coisas com pessoas mais experientes ou mais espertas, mas geralmente no curso de um vida levada no desempenho de funções públicas, nas quais as mais belas teorias acabam sendo jogadas no lixo em favor de soluções mais práticas, ou de puro expediente emergencial, com os meios e instrumentos à disposição, sem muita coerência teórica ou racionalidade instrumental. Resumindo: eles fazem o que dá para fazer, e o resto vão empurrando com a barriga, até onde for possível. Se der para resolver o problema com o que sabem e com os meios à disposição, muito bem, assim será feito. Se não é possível, vão contornando o problema até onde for impossível evitar as consequências, e aí a solução será aquela que for apresentada por algum assessor mais esperto, ou pelos “meios de bordo” (que geralmente é empurrar para a frente, e deixar o problema para o sucessor).
Políticos inexperientes, ou acadêmicos – ou seja, ideólogos, alienados, lunáticos – chegam ao poder com belas teorias, e tentando cumprir aquilo que proclamaram – geralmente mentindo – na campanha eleitoral, e quando sentam na cadeira descobrem que não vai ser possível atingir aquelas belas metas proclamadas, que é a felicidade para todos, ao menor custo possível (de hábito, sem custo explícito nenhum). Se esse político não for muito estúpido, ele logo vai adaptar o seu discurso pós-posse às condições efetivamente reinantes, ou seja, meios disponíveis e possibilidades legais. Se ele for, ou continuar, alienado, ou seja, ideólogo, vai ser um desastre, pois em nenhum lugar do mundo as soluções acadêmicas cabem num mero orçamento governamental.
O que isso tem a ver com o nosso debate?
Keynesianismo e ortodoxia são apenas dois rótulos, que podem não possuir significado algum no mundo concreto da política, mas que possuem algum significado para acadêmicos e jornalistas, para economistas teóricos que escrevem para jornais e outros representantes da mesma fauna. Políticos – pelo menos os verdadeiros – não são nem keynesianos, nem ortodoxos, eles apenas sobrevivem com o que existe e com o que é possível fazer. Geralmente eles costumam gastar por conta: quando as contas não fecham, aí são obrigados a praticar simples medidas de ajuste, que serão tão mais severas ou duras quanto foi o abuso praticado na fase anterior, e nisso não vai nenhuma coloração ideológica. Keynesianos de carteirinha podem ser gastadores responsáveis, e conservadores históricos podem se comportar de modo totalmente irresponsável, sempre dependendo das circunstâncias e dos meios disponíveis. Sempre acham que o Ronald Reagan era um conservador que abaixou impostos para beneficiar os ricos, quando ele o fez para estimular a economia, na suposição (correta) de que são os ricos que investem, produzem riquezas, criam empregos e pagam novos (ou velhos) impostos. Sempre se esquece também que ele foi um dos mais irresponsáveis presidentes no plano orçamentário, uma vez que na sua obsessão de afastar o perigo soviético conduziu um dos mais perdulários programas de gastos com defesa – entre eles a Iniciativa de Defesa Estratégica, ou Guerra nas Estrelas – que representou, pura e simplesmente, um keynesianismo militar altamente irresponsável, deixando o governo novamente no vermelho. Por isso Bush pai teve um governo de recessão e Bill Clinton, um democrata supostamente distributivista, conduziu um dos governos mais responsáveis no plano fiscal de que se tem notícia desde Truman ou Eisenhower.
Nenhum deles era liberal teórico, ou acadêmico, todos eles eram homens práticos, e fizeram o que lhes parecia adequado fazer, com os dados à disposição, e com os assessores que tinham. Um dos assessores mais liberais de Reagan, David Stockman, se demitiu da chefia do Orçamento, em vista das loucuras que Reagan anda fazendo com as contas públicas, e denunciou isso logo em seguida (ver agora seu livro de história de todo o processo orçamentário e de contas públicas nos EUA, desde a presidência Roosevelt, chamado The Great Deformation). Todos eles fizeram o que achavam que deveriam fazer, com base nas condições do momento.
Da mesma forma, mesmo o mais acadêmico dos ministros de finanças, ou Secretário do Tesouro, quando senta na cadeira de decisor, costuma deixar os livros de lado, e perguntar: “mostre-me o balanço de pagamentos”, ou “mostre-me o orçamento”, ou ainda, “me diga como estão as receitas?”, “como anda a atividade econômica?”, ou “como estão os investimentos?”. Ponto. É com base nisso que eles vão tomar as decisões que se impõem, sem qualquer preocupação em saber se aquilo é liberalismo, se é keynesianismo, ou o raio que o parta. Fazer o que é possível fazer, simples assim.

Voltando, agora, ao governo de FHC – que, na verdade, começa antes, como ministro da Fazenda de Itamar – o que podemos dizer é o seguinte: num processo de aceleração inflacionária, como o que vivíamos entre 1990 e 1994, não dá para perguntar o que o Keynes ou o Hayek fariam. É preciso simplesmente saber o que é possível fazer nas circunstâncias dadas. Os assessores vêm, obviamente, armados de alguns rudimentos metodológicos, de algumas teorias econômicas, de algumas simpatias por esta ou aquela escola de pensamento econômico, ou até repletos de relatos históricos sobre como a Alemanha, a Hungria, a Bolívia, Israel, ou outros países, superaram os seus respectivos surtos inflacionários, e podem, com base nisso, propor soluções aos problemas encontrados. Alguns proporão congelamento de preços e salários, e só conseguirão recolher mais inflação logo adiante. Outros pretendem trocar de moeda. Os mais sensatos concluirão que o mal radica nos elevados gastos governamentais e no emissionismo irresponsável de moeda, e poderão propor um ajuste com base nessa concepção, o que é sempre recessivo. Se o presidente concordar, se faz a recessão e se tenta reconstruir as bases do crescimento mais adiante. Se o presidente não quiser, então é provável que continuem as pressões fiscais e emissionistas, as loucuras orçamentárias e a continuidade do caos econômico.
Torrar dinheiro é keynesiano, como acusam alguns, e fazer ajustes recessivos é uma maldade conservadora (ou liberal)? Pode ser, mas o fato é que keynesianos ou conservadores precisam enfrentar os problemas reais, que são sempre desequilíbrios nos principais fluxos macroeconômicos. Dependendo do papel do governo na economia, algumas soluções são possíveis, outras não. Governos que trabalham com bancos centrais autônomos geralmente não conseguem sair por aí emitindo irresponsavelmente, outros populistas e delirantes podem fazer como certos distributivistas inconsequentes, de que temos muitos exemplos na América Latina. Cada caso terá uma resposta, em função da correlação de forças, do jogo democrático, das crenças (ou falta de) dos líderes políticos e da qualidade dos gestores econômicos.

Olhando o Brasil dos últimos 30 anos, o que tivemos? Militares que sonharam demais – planos grandiosos – e levaram o país para um endividamento excessivo. Líderes da redemocratização (Sarney, Ulysses) que esticaram demais a corda das bondades governamentais, e levaram o país para a hiperinflação. Um líder salvacionista (Collor) que pretendeu salvar o país da inflação e, por ser mal assessorado (Zélia), acabou provocando um desastre ainda maior, que tentou remediar (Marcílio) depois, mas já tarde demais, pois a crise política o engolfou. Depois tivemos um presidente honesto (Itamar), mas inepto em economia, que trocou quatro vezes de ministros da Fazenda e de presidentes do Banco Central, antes de acertar com um sociólogo sensato, que convidou uma brilhante equipe de economistas, que acabou consertando todas as bobagens dos economistas keynesianos que tivemos antes. Mas Itamar era um homem que não queria recessão, e que portanto impediu o Plano Real de ir até as suas consequências lógicas, que era acabar com o excesso de despesas públicas de forma efetiva. O resultado foi que tivemos um ajuste sem recessão, o que obrigou a manter altas taxas de juros, o que acabou impactando negativamente em outros setores: deu na crise de 1999, que pela primeira vez realizou os ajustes necessários e preparou o Brasil para crescer. No meio aconteceram as crises financeiras, o apagão elétrico e a crise argentina, o que atrapalhou; logo em seguida a crise das eleições de 2002, mas tudo foi encaminhado para colocar o Brasil de volta nos trilhos, com Armínio Fraga e Pedro Malan.
O governo Lula, sem qualquer teoria – pois ele, pragmaticamente, abandonou as receitas alopradas dos seus economistas unicampistas – levou o Brasil para uma fase positiva, não porque ele fosse um gênio, mas por que as condições externas e as reformas anteriores o permitiram. Mas começou a gastar demais, desde o primeiro mandato, o que se agravou na reeleição e no segundo mandato, mas ainda assim ele se beneficiou com a bonança chinesa (soja a 600 dólares a tonelada, por exemplo). Pronto, foi o suficiente para eleger um poste, como ele mesmo diz, uma pessoa ainda mais inepta do que o mais inepto dos economistas unicampistas, que conseguiu fazer tudo errado o tempo todo, e chegamos onde chegamos: inflação, não crescimento, aumento da dívida doméstica e da dívida externa, déficits contínuos, desequilíbrios nas contas internas e nas contas externas, apagão elétrico, baixo investimento, intervencionismo, protecionismo, enfim, um inferno completo. É preciso ser muito incompetente para construir um desastre dessa magnitude. Tudo isso é keynesianismo, ou é o quê?
Provavelmente não é nada, só incompetência mesmo, pura inépcia e teimosia.
Termino por aqui, pois acho que já respondi fartamente à pergunta colocada.
Mas uma conclusão: acadêmicos são em geral sonhadores, mas alguns são mais preparados do que outros. São eles que assessoram os políticos. Quando temos excesso de ruindade dos dois lados, aí é o desastre. Parece que no governo FHC tivemos uma feliz combinação de acadêmicos realistas e políticos pragmáticos. Do governo Lula em diante, incompetentes em todas as esferas – com raríssimas exceções no primeiro mandato – e ideólogos e mafiosos espalhados por todas as agências públicas. Deu no que deu. Vai ser difícil consertar agora, pois é preciso trocar os políticos e os assessores.
Dá para dormir tranquilo? Acho que não. Sinto muito...

Hartford, 2803: 5 de abril de 2015, 5 p.

========
Addendum em 6/04/2015.

Uma mensagem deixada por um leitor, o que muito me gratifica.
É exatamente para os jovens estudantes que eu escrevo, e tento ser didático, ou pelo elucidativo.
Paulo Roberto de Almeida 

Willians Franco comentou a postagem de seu blog
Nossa! Extremamente didático esse texto, hein? Normalmente leio textos político-econômicos via leitura dinâmica, mas esse tive que ler pausadamente para captar todos os detalhes. Parabéns!

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Keynesianismo e liberalismo nas politicas publicas: um texto didatico - Paulo Roberto de Almeida

Um texto meu, que tinha desaparecido misteriosamente de meu computador -- sabe-se lá por quais artimanhas de pessoas desconhecidas -- e que reencontrei, com uma mensagem de que o texto era didático, e por isso vai postado aqui.
São respostas que fiz a perguntas de um leitor deste blog, provavelmente estudante, e que acho que podem servir a professores igualmente.
Paulo Roberto de Almeida


Keynesianismo e liberalismo nas políticas públicas
  
Paulo Roberto de Almeida
  
Um leitor constante, fiel, atento e comentador, reincidente neste blog, me coloca a seguinte questão, que prefiro responder por inteiro: 

EMB compartilhou a postagem de seu blog no Google+:
Seria correto afirmar que o governo Fernando Henrique aliou aspectos de ortodoxia em política econômica com keynesianismo em matérias sociais e até comerciais?

Respondo (PRA):
Respondo de imediato: sim e não. Por que a contradição? Porque governos, em geral, não fazem NENHUMA distinção entre teorias ou escolas econômicas, pela simples razão de que estão por demais ocupados com problemas reais, concretos, tangíveis, urgentes, preocupantes, talvez até dramáticos – que são, quase sempre, os de desequilíbrios nas contas domésticas e externas, nas insuficiências orçamentárias, nas demandas da sociedade e do parlamento por mais e mais recursos públicos (que são os da coletividade), por ameaças de perdas de receitas, choques externos, e uma infinidade de outros problemas reais – para inquietar-se, além da conta, com meras teorias acadêmicas e escolas de pensamento econômico, que não representam nada, repito NADA, em face da agenda de trabalho que esses governos têm pela frente.
Só acadêmicos, em geral os puramente teóricos – ou alienados, como se dizia antigamente – preocupam-se com a suposta racionalidade econômica das políticas públicas da área econômica. Só jornalistas, mal formados pelos mesmos acadêmicos, se preocupam em catalogar, classificar, atribuir um rótulo ou slogan, a um governo qualquer, como se essas denominações representassem qualquer coisa além de uma mania, uma simplificação, uma distorção da realidade.
Políticos eleitos exibem, é verdade, alguma compreensão do mundo, e esse entendimento se baseia naquilo que eles aprenderam nos bancos escolares e universitários, nos ensinamentos dos familiares, mas sobretudo na experiência da vida, no trato da coisa pública, e o que vem em primeiro lugar não é a teoria aprendida, mas a necessidade prática, o problema concreto. Políticos experientes fazem assim: aprendem algumas coisas nos livros, outras coisas com pessoas mais experientes ou mais espertas, mas geralmente no curso de um vida levada no desempenho de funções públicas, nas quais as mais belas teorias acabam sendo jogadas no lixo em favor de soluções mais práticas, ou de puro expediente emergencial, com os meios e instrumentos à disposição, sem muita coerência teórica ou racionalidade instrumental. Resumindo: eles fazem o que dá para fazer, e o resto vão empurrando com a barriga, até onde for possível. Se der para resolver o problema com o que sabem e com os meios à disposição, muito bem, assim será feito. Se não é possível, vão contornando o problema até onde for impossível evitar as consequências, e aí a solução será aquela que for apresentada por algum assessor mais esperto, ou pelos “meios de bordo” (que geralmente é empurrar para a frente, e deixar o problema para o sucessor).
Políticos inexperientes, ou acadêmicos – ou seja, ideólogos, alienados, lunáticos – chegam ao poder com belas teorias, e tentando cumprir aquilo que proclamaram – geralmente mentindo – na campanha eleitoral, e quando sentam na cadeira descobrem que não vai ser possível atingir aquelas belas metas proclamadas, que é a felicidade para todos, ao menor custo possível (de hábito, sem custo explícito nenhum). Se esse político não for muito estúpido, ele logo vai adaptar o seu discurso pós-posse às condições efetivamente reinantes, ou seja, meios disponíveis e possibilidades legais. Se ele for, ou continuar, alienado, ou seja, ideólogo, vai ser um desastre, pois em nenhum lugar do mundo as soluções acadêmicas cabem num mero orçamento governamental.
O que isso tem a ver com o nosso debate?
Keynesianismo e ortodoxia são apenas dois rótulos, que podem não possuir significado algum no mundo concreto da política, mas que possuem algum significado para acadêmicos e jornalistas, para economistas teóricos que escrevem para jornais e outros representantes da mesma fauna. Políticos – pelo menos os verdadeiros – não são nem keynesianos, nem ortodoxos, eles apenas sobrevivem com o que existe e com o que é possível fazer. Geralmente eles costumam gastar por conta: quando as contas não fecham, aí são obrigados a praticar simples medidas de ajuste, que serão tão mais severas ou duras quanto foi o abuso praticado na fase anterior, e nisso não vai nenhuma coloração ideológica. Keynesianos de carteirinha podem ser gastadores responsáveis, e conservadores históricos podem se comportar de modo totalmente irresponsável, sempre dependendo das circunstâncias e dos meios disponíveis. Sempre acham que o Ronald Reagan era um conservador que abaixou impostos para beneficiar os ricos, quando ele o fez para estimular a economia, na suposição (correta) de que são os ricos que investem, produzem riquezas, criam empregos e pagam novos (ou velhos) impostos. Sempre se esquece também que ele foi um dos mais irresponsáveis presidentes no plano orçamentário, uma vez que na sua obsessão de afastar o perigo soviético conduziu um dos mais perdulários programas de gastos com defesa – entre eles a Iniciativa de Defesa Estratégica, ou Guerra nas Estrelas – que representou, pura e simplesmente, um keynesianismo militar altamente irresponsável, deixando o governo novamente no vermelho. Por isso Bush pai teve um governo de recessão e Bill Clinton, um democrata supostamente distributivista, conduziu um dos governos mais responsáveis no plano fiscal de que se tem notícia desde Truman ou Eisenhower.
Nenhum deles era liberal teórico, ou acadêmico, todos eles eram homens práticos, e fizeram o que lhes parecia adequado fazer, com os dados à disposição, e com os assessores que tinham. Um dos assessores mais liberais de Reagan, David Stockman, se demitiu da chefia do Orçamento, em vista das loucuras que Reagan anda fazendo com as contas públicas, e denunciou isso logo em seguida (ver agora seu livro de história de todo o processo orçamentário e de contas públicas nos EUA, desde a presidência Roosevelt, chamado The Great Deformation). Todos eles fizeram o que achavam que deveriam fazer, com base nas condições do momento.
Da mesma forma, mesmo o mais acadêmico dos ministros de finanças, ou Secretário do Tesouro, quando senta na cadeira de decisor, costuma deixar os livros de lado, e perguntar: “mostre-me o balanço de pagamentos”, ou “mostre-me o orçamento”, ou ainda, “me diga como estão as receitas?”, “como anda a atividade econômica?”, ou “como estão os investimentos?”. Ponto. É com base nisso que eles vão tomar as decisões que se impõem, sem qualquer preocupação em saber se aquilo é liberalismo, se é keynesianismo, ou o raio que o parta. Fazer o que é possível fazer, simples assim.

Voltando, agora, ao governo de FHC – que, na verdade, começa antes, como ministro da Fazenda de Itamar – o que podemos dizer é o seguinte: num processo de aceleração inflacionária, como o que vivíamos entre 1990 e 1994, não dá para perguntar o que o Keynes ou o Hayek fariam. É preciso simplesmente saber o que é possível fazer nas circunstâncias dadas. Os assessores vêm, obviamente, armados de alguns rudimentos metodológicos, de algumas teorias econômicas, de algumas simpatias por esta ou aquela escola de pensamento econômico, ou até repletos de relatos históricos sobre como a Alemanha, a Hungria, a Bolívia, Israel, ou outros países, superaram os seus respectivos surtos inflacionários, e podem, com base nisso, propor soluções aos problemas encontrados. Alguns proporão congelamento de preços e salários, e só conseguirão recolher mais inflação logo adiante. Outros pretendem trocar de moeda. Os mais sensatos concluirão que o mal radica nos elevados gastos governamentais e no emissionismo irresponsável de moeda, e poderão propor um ajuste com base nessa concepção, o que é sempre recessivo. Se o presidente concordar, se faz a recessão e se tenta reconstruir as bases do crescimento mais adiante. Se o presidente não quiser, então é provável que continuem as pressões fiscais e emissionistas, as loucuras orçamentárias e a continuidade do caos econômico.
Torrar dinheiro é keynesiano, como acusam alguns, e fazer ajustes recessivos é uma maldade conservadora (ou liberal)? Pode ser, mas o fato é que keynesianos ou conservadores precisam enfrentar os problemas reais, que são sempre desequilíbrios nos principais fluxos macroeconômicos. Dependendo do papel do governo na economia, algumas soluções são possíveis, outras não. Governos que trabalham com bancos centrais autônomos geralmente não conseguem sair por aí emitindo irresponsavelmente, outros populistas e delirantes podem fazer como certos distributivistas inconsequentes, de que temos muitos exemplos na América Latina. Cada caso terá uma resposta, em função da correlação de forças, do jogo democrático, das crenças (ou falta de) dos líderes políticos e da qualidade dos gestores econômicos.

Olhando o Brasil dos últimos 30 anos, o que tivemos? Militares que sonharam demais – planos grandiosos – e levaram o país para um endividamento excessivo. Líderes da redemocratização (Sarney, Ulysses) que esticaram demais a corda das bondades governamentais, e levaram o país para a hiperinflação. Um líder salvacionista (Collor) que pretendeu salvar o país da inflação e, por ser mal assessorado (Zélia), acabou provocando um desastre ainda maior, que tentou remediar (Marcílio) depois, mas já tarde demais, pois a crise política o engolfou. Depois tivemos um presidente honesto (Itamar), mas inepto em economia, que trocou quatro vezes de ministros da Fazenda e de presidentes do Banco Central, antes de acertar com um sociólogo sensato, que convidou uma brilhante equipe de economistas, que acabou consertando todas as bobagens dos economistas keynesianos que tivemos antes. Mas Itamar era um homem que não queria recessão, e que portanto impediu o Plano Real de ir até as suas consequências lógicas, que era acabar com o excesso de despesas públicas de forma efetiva. O resultado foi que tivemos um ajuste sem recessão, o que obrigou a manter altas taxas de juros, o que acabou impactando negativamente em outros setores: deu na crise de 1999, que pela primeira vez realizou os ajustes necessários e preparou o Brasil para crescer. No meio aconteceram as crises financeiras, o apagão elétrico e a crise argentina, o que atrapalhou; logo em seguida a crise das eleições de 2002, mas tudo foi encaminhado para colocar o Brasil de volta nos trilhos, com Armínio Fraga e Pedro Malan.
O governo Lula, sem qualquer teoria – pois ele, pragmaticamente, abandonou as receitas alopradas dos seus economistas unicampistas – levou o Brasil para uma fase positiva, não porque ele fosse um gênio, mas por que as condições externas e as reformas anteriores o permitiram. Mas começou a gastar demais, desde o primeiro mandato, o que se agravou na reeleição e no segundo mandato, mas ainda assim ele se beneficiou com a bonança chinesa (soja a 600 dólares a tonelada, por exemplo). Pronto, foi o suficiente para eleger um poste, como ele mesmo diz, uma pessoa ainda mais inepta do que o mais inepto dos economistas unicampistas, que conseguiu fazer tudo errado o tempo todo, e chegamos onde chegamos: inflação, não crescimento, aumento da dívida doméstica e da dívida externa, déficits contínuos, desequilíbrios nas contas internas e nas contas externas, apagão elétrico, baixo investimento, intervencionismo, protecionismo, enfim, um inferno completo. É preciso ser muito incompetente para construir um desastre dessa magnitude. Tudo isso é keynesianismo, ou é o quê?
Provavelmente não é nada, só incompetência mesmo, pura inépcia e teimosia.
Termino por aqui, pois acho que já respondi fartamente à pergunta colocada.
Mas uma conclusão: acadêmicos são em geral sonhadores, mas alguns são mais preparados do que outros. São eles que assessoram os políticos. Quando temos excesso de ruindade dos dois lados, aí é o desastre. Parece que no governo FHC tivemos uma feliz combinação de acadêmicos realistas e políticos pragmáticos. Do governo Lula em diante, incompetentes em todas as esferas – com raríssimas exceções no primeiro mandato – e ideólogos e mafiosos espalhados por todas as agências públicas. Deu no que deu. Vai ser difícil consertar agora, pois é preciso trocar os políticos e os assessores.
Dá para dormir tranquilo? Acho que não. Sinto muito...

Hartford, 2803: 5 de abril de 2015, 5 p. 
========
Addendum em 6/04/2015.

Uma mensagem deixada por um leitor, o que muito me gratifica.
É exatamente para os jovens estudantes que eu escrevo, e tento ser didático, ou pelo elucidativo.
Paulo Roberto de Almeida 

Willians Franco comentou a postagem de seu blog
Nossa! Extremamente didático esse texto, hein? Normalmente leio textos político-econômicos via leitura dinâmica, mas esse tive que ler pausadamente para captar todos os detalhes. Parabéns!

2803. “Keynesianismo e liberalismo nas políticas públicas”, Hartford, 5 abril 2015, 5 p. Respondo a pergunta de leitor do blog sobre se as políticas do FHC foram liberais ou keynesianas. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/debate-sobre-escolas-economicas.html).

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A posição das escolas austríaca, de Chicago, keynesiana e marxista em 17 questões econômicas (Mises Institute)


A posição das escolas austríaca, de Chicago, keynesiana e marxista em 17 questões econômicas
por , sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

 

A seguir, a posição das quatro principais escolas de pensamento econômico a respeito de 17 questões econômicas fundamentais.

Hayek Mises 2.jpg1) Qual é a importância econômica da propriedade privada?
Resposta marxista: A propriedade está no centro das mais severas desigualdades e opressões da civilização moderna.  Somente por meio da regulamentação, da transferência de renda, da redistribuição de riqueza e da propriedade comunal pode uma sociedade alcançar a igualdade, a justiça e a dignidade humana para todos.
Resposta keynesiana: A propriedade é um componente importante do nosso sistema social, mas não faz sentido dizer que há um "direito" de propriedade.  A propriedade deve estar sempre sujeita a regulamentações e até mesmo a sofrer modificações em nome do bem comum.  O estado deve intervir para impedir abusos de poder econômico, mesmo que isso reduza as tradicionais regalias dos proprietários.
Resposta de Chicago: A propriedade é de importância central para a prosperidade e para o crescimento econômico.  Consequentemente, é de suma importância que o estado — ou, mais abstratamente, a lei — mantenha e, sempre que necessário, modifique todo o conjunto de direitos de propriedade a fim de melhor alocar os custos de transação e, com isso, promover o máximo de crescimento e eficiência econômica.  A propriedade não é algo que surge naturalmente; ela é o produto final do sistema legal. 
Resposta austríaca: A propriedade é uma relação que surge naturalmente entre seres humanas e coisas materiais.  A propriedade e os direitos do proprietário sobre sua propriedade tornam possível o cálculo econômico, permitem uma mais ampla e mais produtiva divisão do trabalho e, consequentemente, níveis crescentes de prosperidade.  Com efeito, a civilização em si é inconcebível sem propriedade privada.  Qualquer transgressão à propriedade resulta em perda de liberdade e de prosperidade.
2) O que é o dinheiro e como ele surge?
Resposta marxista: O dinheiro é um veículo para a exploração do proletariado.  O dinheiro distorce o valor real das coisas.  O dinheiro não é nem necessário nem desejável.  Ele é apenas um produto artificial arbitrário da história.  O progresso social levará a mudanças sociais revolucionárias, dentre as quais a eliminação do dinheiro.  Isto irá acabar com a exploração e resultará em uma sociedade que tenha por objetivo a satisfação das necessidades reais, e não os lucros financeiros privados.
Resposta keynesiana: O dinheiro é uma criatura do estado.  Instituições monetárias sadias requerem planejamento e um banco central.  Bancos centrais também podem estabilizar mercados.  Bancos centrais podem neutralizar as flutuações cíclicas que ocorrem no setor privado expandindo mais aceleradamente a oferta monetária durante recessões e reduzindo esta expansão durante os períodos de crescimento econômico.  O controle estatal do dinheiro é o segredo para se bem gerenciar a economia.
Resposta de Chicago: O dinheiro pode se originar do escambo, mas interesses privados provavelmente não irão aperfeiçoá-lo de modo a satisfazer as necessidades de uma economia moderna.  Uma economia tem de ter um banco central para sustentar o setor financeiro.  Esforços para se manipular a economia por meio de constantes alterações na oferta monetária irão, na melhor das hipóteses, fracassar; na pior, gerarão severos problemas.  As autoridades monetárias não devem aumentar a oferta monetária arbitrariamente.  Elas devem aumentá-la a uma taxa constante, e que seja correspondente à taxa de crescimento de longo prazo da economia.
Resposta austríaca: O dinheiro sempre surge do escambo.  Em uma economia de escambo, é extremamente raro um indivíduo conseguir encontrar uma pessoa que tenha o desejo de trocar seus bens pela exata quantidade de bens que este indivíduo esteja portando.  Esta dificuldade de comércio resulta no surgimento de moedas-commodities.  Commodities duráveis, facilmente reconhecíveis, portáveis e divisíveis, como o ouro e a prata, tipicamente assumem as qualificações de ser o melhor e mais confiável tipo de dinheiro disponível.  O dinheiro e as instituições relacionadas a ele surgem como uma consequência não-premeditada do comércio e do interesse próprio.  A evolução do dinheiro e destas instituições ocorrerá mais harmoniosamente caso seja deixada a cargo das forças concorrenciais de mercado que os criaram.  Intervenções estatais irão resultar em inflação e produzir várias outras distorções.
3) Qual é a origem do valor econômico de um bem?
Resposta marxista: O valor de uma mercadoria é igual à quantidade total de trabalho utilizada em sua produção.  Se uma bicicleta possui o mesmo valor de mercado de, digamos, 500 ovos, então podemos dizer que 1 bicicleta = 500 ovos.  Em que consiste esta igualdade?  Obviamente, não estamos dizendo que a bicicleta é "igual" aos ovos; não estamos dizendo que ambos possuem propriedades físicas semelhantes.  Se examinarmos a questão cuidadosamente, concluiremos que aquilo que ambos têm em comum é a quantidade de trabalho utilizada em sua produção.
Resposta Historicista (não existe uma resposta propriamente keynesiana para esta pergunta): O valor econômico é uma questão complexa que não pode ser explicada por meio de fórmulas simples.  Para entender por que as pessoas de uma determinada sociedade valoram algumas coisas mais favoravelmente do que outras, temos de estudar sua cultura e sua história.  Por exemplo, uma tribo indígena pode ter estimado um determinado animal como sendo sagrado.  Já os europeus brancos, obviamente, não compartilhavam deste sistema de valores e, por isso, chacinavam os animais.  O mesmo é válido para um bem ou serviço no mercado.
Resposta de Chicago: O valor de um bem é determinado pela interdependência entre oferta e demanda, ou por aquilo que pode ser chamado de interação do custo e da utilidade.  Contrariamente a algumas escolas de pensamento econômico que tentam explicar o valor com base apenas na utilidade, a abordagem correta é aquela de Alfred Marshall, que percebeu que o valor econômico se deve tanto às preferências subjetivas quanto às condições tecnológicas objetivas.  Para ver isso mais claramente, considere que, se os custos de produção de um determinado bem subirem, seu preço final neste novo equilíbrio terá de ser maior na mesma proporção.
Resposta austríaca: Objetos físicos como uma banana ou um automóvel não possuem um valor econômico intrínseco.  Ao contrário: somente uma mente humana pode atribuir valor a estes itens; e somente então podem os economistas classificar estes itens como sendo bens.  Um objeto só é valioso se houver ao menos um ser humano que acredite que este objeto poderá ajudar a satisfazer seus desejos subjetivos.  Por exemplo, uma determinada raiz que cure o câncer.  Se ninguém souber deste fato, esta raiz não terá nenhum valor econômico, e as pessoas não trocarão dinheiro por ela.  Consequentemente, o valor é gerado pelos desejos subjetivos de um indivíduo e por suas crenças quanto às propriedades causativas de um determinado item.
4) Qual é o método correto de se conduzir pesquisas na ciência econômica?
Resposta marxista: Para ser científico, temos de modificar esta tradicional abordagem economicista de ver a sociedade como sendo nada mais do que uma coleção atomística de indivíduos egoístas.  Na realidade, os seres humanos se consideram parte de um todo social mais amplo.  Uma maneira mais proveitosa de se fazer pesquisas seria estudar os grupos complexos com os quais as pessoas se identificam, sejam eles divididos por classe, raça ou sexo.  Tal análise iria revelar o inegável poder dos relacionamentos na sociedade, e forneceria uma compreensão muito melhor dos eventos econômicos do que os típicos e simplistas modelos econômicos atuais.
Resposta keynesiana: A pergunta é enganosa.  A economia não pode realmente ser científica no sentido convencional do termo.  Na física, temos "leis" fixas que são as mesmas para todas as sociedades e para todos os períodos de tempo.  Em contraste, não existem leis fixas na economia.  O economista pode estudar um determinado episódio histórico e concluir que, digamos, o controle dos preços dos alugueis não alcançou seus objetivos quando foi tentado em Manhattan após a Segunda Guerra Mundial.  No entanto, isso não significa que esta política não funcionaria na Paris da atualidade.  Tudo vai depender de os governantes tomarem o cuidado de evitar os erros do passado.
Resposta de Chicago: Assim como o físico, o economista (se ele quiser ser científico) deve construir um modelo preciso que forneça previsões quantitativas sobre variáveis econômicas, tais como PIB e desemprego.  Ato contínuo, o economista deve testar estas previsões e compará-las aos dados reais coletados pelos pesquisadores estatísticos.  A todo e qualquer momento, a melhor "teoria" — ou explicação — para um determinado fenômeno econômico será aquele modelo que fornecer a melhor aproximação entre previsões e dados reais coletados.
Resposta austríaca: O economista não deve imitar o comportamento dos cientistas naturais, pois as ciências sociais envolvem seres humanos.  A ação humana é caracterizada pelo comportamento intencional, o qual envolve o uso racional de meios para se alcançar os fins desejados.  Os próprios temas de estudo da ciência econômica — bens de capital, dinheiro, salários etc. — não são definidos por suas propriedades físicas ou químicas, mas sim pelas atitudes subjetivas ou mentais dos indivíduos em relação a estes temas.  Consequentemente, o método adequado para um economista conduzir sua pesquisa é começando com axiomas autoevidentes — como o de que indivíduos tentam alcançar a maior satisfação ao menor custo — e deles deduzir conclusões lógicas.
5) Qual é o motivo de existir uma taxa de juros, e deveria ela ser regulada?
Resposta marxista: "Juros" são apenas um eufemismo para lucros; um capitalista aufere juros quando ele gasta com salários e matérias-primas menos do que ele ganha ao vender o produto final.  Esta mais-valia é obtida pela exploração dos trabalhadores oprimidos que são contratados pelo capitalista.  Sob o sistema capitalista, baseado em salários, os trabalhadores são pagos o mínimo necessário para a sua sobrevivência, não obstante o produto total do seu trabalho exceder substancialmente a compensação que ganham de seus patrões.  Sob esse aspecto, o sistema de salários em nada difere da escravidão tradicional, em que o senhor de engenho se apropria do produto gerado pelo trabalho exaustivo de seus escravos, e com este fundo "paga" a eles apenas o suficiente para possibilitar sua simples sobrevivência.  Obviamente, juros são um componente selvagem das sociedades capitalistas, e irão desaparecer assim que o sistema de salários for aniquilado.
Resposta keynesiana: Os juros compensam os investidores por sua perda de liquidez.  A perda de liquidez ocorre quando eles colocam dinheiro em um empreendimento ou o emprestam por um determinado período de tempo.  A taxa de juros é o preço da liquidez.  Os juros são um fenômeno monetário, e não um fenômeno "real" (como pensavam os economistas clássicos).  A economia moderna reconhece o papel das expectativas ou daquilo que pode ser genericamente chamado de "confiança no futuro".  Por exemplo, se a taxa de juros salta de 5% para 10%, isso não significa que as pessoas se tornaram mais imediatistas e mais orientadas para o consumo presente; isso pode simplesmente ser um reflexo da uma maior ansiedade a respeito da economia.  A manipulação governamental da taxa de juros é certamente uma das várias ferramentas necessárias para suavizar as flutuações econômicas, mas, por si só, esta medida é relativamente impotente.  Se todos estão temendo uma piora da recessão, empregadores não irão contratar mais trabalhadores ou construir mais fábricas, não importa o quão baixa esteja a taxa de juros.
Resposta de Chicago: Juros são um retorno sobre o capital; no equilíbrio, a taxa de juros é igual ao produto marginal do capital.  A situação é perfeitamente análoga ao mercado de trabalho, no qual os salários são iguais ao produto marginal do trabalho.  Há vários arranjos tecnológicos que irão gerar produtos em diferentes datas futuras, e os consumidores têm preferências por consumir em diferentes datas futuras.  Na margem, o consumo presente será preferível ao consumo futuro, mas uma unidade extra de capital investido irá gerar um incremento na produção (disponível no futuro) de modo a fazer com que o consumidor seja indiferente entre consumir agora ou esperar uma unidade adicional de tempo para consumir a oferta futura maior possibilitada pela produtividade do capital.  O governo não deve interferir nas taxas de juros pelas mesmas razões pelas quais ele não deve interferir nos salários.
Resposta austríaca: Juros são uma consequência de um fato apriorístico: tudo o mais constante, o indivíduo prefere usufruir um bem no presente a usufruir este mesmo bem no futuro.  Um bem presente possui um valor maior do que este mesmo bem no futuro.  Ceteris paribus, o indivíduo prefere consumir hoje a deixar para depois.  O preço atual de um computador pode ser $1.000, mas o preço de uma ordem de entrega deste mesmo computador para daqui a um ano seria menor do que $1.000 — seria, por exemplo, $900.  Um empreendedor pode investir $900 em mão-de-obra e materiais com o objetivo de vender um produto ano que vem por $1.000; este juro implícito de $100 que ele irá auferir se deve ao fato de que os fatores de produção "representam" hoje os bens que serão produzidos no futuro e por isso o preço atual destes fatores (os $900) é menor do que o preço final dos bens produzidos no futuro ($1.000).  Para abrir mão de $900 agora, é natural que o empreendedor espere receber uma soma maior do que $900 no futuro.  Obviamente, o governo não tem de interferir na taxa de juros de mercado, uma vez que ela meramente reflete o bônus subjetivo que os indivíduos atribuem a um bem presente em relação a um bem futuro.
6) Qual é o impacto econômico da poupança?
Resposta marxista: A vasta acumulação de riqueza por determinadas classes e famílias cria uma oligarquia econômica que exclui aqueles que não conseguem uma posição dentro do sistema econômico.  Impostos sobre herança, impostos sobre a renda, impostos sobre o lucro e impostos sobre dividendos são essenciais para uma sociedade que preze a igualdade.  Afinal, rendimentos sobre volumosas contas bancárias nada mais são do que renda imerecida, renda não oriunda do trabalho.  Nenhuma sociedade pode tolerar que algumas pessoas vivam com renda de juros ao passo que todas as outras vivam em total dificuldade, de contracheque em contracheque, penando para sobreviver apenas com seus magros salários mínimos.
Resposta keynesiana: Em tempos normais, poupar não é algo economicamente nocivo; mas em um cenário de recessão, poupar pode fazer com que a economia entre em uma espiral descendente.  Poupar significa reduzir os gastos em consumo, mas esta poupança pode não se traduzir em gastos em investimentos por causa do pessimismo dos investidores.  Isto irá reduzir a demanda total da economia e levar ao desemprego.  Uma maneira de corrigir isto é expandindo a oferta monetária para manter as taxas de juros baixas.  Tal medida irá sustentar o investimento privado e estimular o gasto total na economia.  As autoridades fiscais e monetárias têm de implementar políticas que desestimulem o entesouramento de dinheiro e estimulem os gastos correntes.  Quanto à poupança para o ciclo da vida dos indivíduos, é necessário ter uma rede de seguridade social que irá bancar as pessoas quando elas estiverem mais velhas.
Resposta de Chicago: Não há investimentos — e, consequentemente, crescimento econômico — sem poupança.  Por esta razão, o estímulo à poupança tem de ser uma prioridade econômica.  A inflação desestimula a poupança, e é por isso que uma política monetária que garanta preços estáveis tem de ser a prioridade de um banco central.  Estudos empíricos mostram que a poupança ocorre ao longo do ciclo da vida dos indivíduos.  Erros de cálculo podem ocorrer, e é por isso que o governo deve incentivar a previdência privada, um sistema que é mais eficiente do que a Previdência pública porque gera maiores retornos.
Resposta austríaca: Poupar (que significa se abster do consumo presente) é essencial para a formação de capital, mas não há uma proporção socialmente ótima entre consumo e poupança que deveria predominar em uma sociedade.  Tudo vai depender da preferência temporal dos indivíduos, isto é, da proporção em que as pessoas preferem bens presentes a bens futuros.  Indivíduos podem optar por consumir em vez de investir ou vice-versa.  A intervenção estatal tem o poder de distorcer estas escolhas, subsidiando ou tributando a poupança ou o consumo ou ambos.  Para que prevaleça a combinação que melhor reflita as genuínas preferências dos indivíduos, o governo não pode adotar nenhuma política com relação à poupança, mesmo para o caso de se poupar para a velhice.
7) Qual deve ser a função e o tamanho adequado do governo?
Resposta marxista: O mercado é uma arena em que os poderosos interesses corporativos exploram livremente os trabalhadores e os consumidores.  O capitalismo empobrece e aliena as massas ao mesmo tempo em que enriquece algumas poucas elites.  Ele também devasta o ambiente e estimula a violência.  Uma sociedade genuinamente humana aboliria a propriedade privada, exceto para bens pessoais (por exemplo, roupas e sapatos).  Arranjos comunais na produção e na distribuição de bens gerariam uma sociedade mais justa, mais feliz e mais realizada para todos.
Resposta keynesiana: Os mercados, além de serem incapazes de propiciar instituições fundamentais, sofrem de graves e substanciais imperfeições no que diz respeito à produção de bens e serviços.  Por exemplo, a instabilidade nos mercados gera crises recorrentes e leva a uma crescente desigualdade.  Devemos sim deixar para o mercado a tarefa de produzir a maior parte dos bens e serviços, mas o governo tem de ter a autoridade arbitrária para intervir em todos os mercados e corrigir suas falhas perceptíveis.  Desta forma, o estado e o mercado podem trabalhar em conjunto, seguindo um modelo de parceria público-privada.
Resposta de Chicago: Os mercados fornecem todos os bens de capital e de consumo de maneira relativamente eficiente.  No entanto, por várias razões econômicas e políticas, as transações privadas para serviços e instituições fundamentais, como justiça, dinheiro e defesa, não podem ser feitas pelo mercado, que fracassaria fragorosamente nestas tarefas.  Não faz nenhum sentido discutir mercados sem antes conceder a necessidade da existência do estado.  O governo tem de existir para fiscalizar e impingir as "regras do jogo".  Sem isso, a sociedade desanda para o caos.  O governo tem de estabelecer e impor regras básicas para a sociedade, mas sempre evitando intervenções arbitrárias ou desestabilizadoras nos mercados.
Resposta austríaca: A ordem em uma sociedade pode emergir das transações voluntárias entre os indivíduos.  As pessoas podem voluntariamente incorrer em transações privadas para obter qualquer coisa que valorizem, inclusive justiça e segurança.  Dado que todas as escolhas voluntárias envolvem o julgamento subjetivo de situações futuras, cada indivíduo tem a capacidade de saber quais bens e serviços são os mais adequados para ele, inclusive serviços como proteção e resolução de disputas.  Idealmente, o governo estaria limitado apenas à proteção dos direitos básicos de cada cidadão; mas o governo, como o conhecemos, protege apenas seus favoritos e viola os mais básicos direitos de propriedade do cidadão comum.  Todos os esforços para se limitar os poderes do estado tendem a fracassar.  Instituições privadas de segurança e arbitramento são mais eficientes e morais do que suas congêneres estatais.
8) O que gera crescimento econômico?
Resposta marxista: O processo capitalista gera crescimento econômico, mas isso é uma falácia lógica.  Embora o capitalismo seja o sistema mais produtivo, a distribuição de riqueza sob o capitalismo é completamente errada e injusta.  Classes inteiras de cidadãos são deixadas à margem do sistema.  Os capitalistas se aproveitam dos trabalhadores pagando-lhes os salários mais baixos possíveis em vez de o real valor de sua mão-de-obra.  Portanto, o capitalismo produz os bens e os entrega, mas para as pessoas erradas.  É urgente construirmos uma democracia dos trabalhadores, em que a produtividade ande de mãos dadas a uma distribuição de renda mais justa.
Resposta keynesiana: A demanda gerada pelo consumo privado não é o suficiente para gerar crescimento econômico.  O gasto privado geral é frequentemente muito baixo, muito manipulado pelas grandes empresas, e repleto de escolhas que ignoram as prioridades sociais.  Os consumidores podem estar poupando pouco ou em excesso.  Isto faz com que, muitas vezes, déficits orçamentários do governo sejam necessários para estimular a economia.  Da mesma maneira, o gasto privado é incapaz de ofertar bens públicos.  O gasto estatal nestas áreas é necessário para o crescimento econômico — particularmente na educação, na infraestrutura e na pesquisa científica.
Resposta de Chicago: Uma relação equilibrada entre demanda agregada e oferta agregada é a principal determinante do crescimento econômico.  Dado que os mercados privados nem sempre podem fornecer tal cenário, ambientes institucionais estáveis são necessários.  O setor público possui um papel vital em assegurar o crescimento econômico fornecendo um arcabouço de instituições financeiras e jurídicas.  Uma variedade de esforços do setor público, como baixas taxas de juros e subsídios, podem também ter um papel positivo.  Uma quantidade muito limitada de regulamentações também se faz necessária, mas isso não é necessariamente verdade em todos os casos.
Resposta austríaca: A fonte do crescimento econômico são as trocas voluntárias e mutuamente benéficas entre os indivíduos.  Dentro de uma economia baseada em transações voluntárias, os consumidores gastam uma parte da sua renda em bens e serviços com o intuito de satisfazer seus desejos mais imediatos.  Isto estimula a produção corrente.  Simultaneamente, os consumidores poupam uma parte de sua renda visando a satisfazer, no futuro, seus desejos que hoje são menos imediatos.  Isto sinaliza para os empreendedores como deve ser a estrutura produtiva voltada para o longo prazo.  Esta proporção entre consumo e poupança determina a estrutura de produção da economia, mostrando quais bens são mais demandados no presente e quais bens devem ser produzidos para o longo prazo.  Este arranjo leva ao desenvolvimento de mercados de capitais mais sofisticados.  Contratos privados, concorrência nos mercados e instituições privadas que possibilitam investimentos e acumulação de capital são todo o necessário para se obter um crescimento econômico ótimo.
9) O que gera os ciclos econômicos?
Resposta marxista: A concorrência acirrada em virtude de lucros declinantes e de uma crescente monopolização gera crises cada vez maiores sob o capitalismo.  Os capitalistas investem em máquinas que diminuem a necessidade de mão-de-obra com o intuito de manter o desemprego alto e os salários baixos.  A concorrência leva a taxas de lucro declinantes e a recessões.  Neste cenário, alguns capitalistas se darão bem, aumentando sua riqueza em virtude da aquisição barata do capital de outros capitalistas falidos, o que elevará sua lucratividade no momento.  No entanto, a tendência inerente ao capitalismo de sempre reduzir as taxas de lucro levará a mais desemprego e a uma outra depressão.
Resposta keynesiana: As expansões econômicas começam em um cenário de otimismo excessivo, frequentemente estimulado por mudanças tecnológicas, o que resulta em um frenesi especulativo.  Em seguida, uma deficiência no gasto total gera as recessões/depressões.  Quanto a poupança total excede o investimento total, o gasto total com bens sofre uma queda.  Isto reduz a demanda pela mão-de-obra necessária para se produzir estes bens.  Consequentemente, o pessimismo entre os investidores e empresários leva a uma demanda agregada insuficiente e a tempos econômicos difíceis.
Resposta de Chicago: Variações na oferta monetária fazem com que o crescimento do PIB se desvie de sua tendência geral de longo prazo.  Sem estas variações, a economia se mantém relativamente estável.  Variações na oferta monetária geram expansões econômicas inflacionárias e recessões.  Defasagens no ajuste do nível dos salários dentro destes ciclos fazem com que estas flutuações econômicas gerem mudanças significativas nas taxas de desemprego.
Resposta austríaca: A expansão da oferta monetária reduz artificialmente as taxas de juros.  Isto provoca uma acentuada elevação nos investimentos e nos gastos em consumo.  A redução artificial dos juros faz com que os empreendedores incorram em investimentos de longo prazo, pois estes agora se tornaram mais lucrativos, ao mesmo tempo em que estimula os consumidores a se endividarem mais e a se tornarem mais imediatistas, mais voltados para o consumo imediato.  Disso surge uma descoordenação na economia.  A relação temporal entre poupança e investimento, produção e consumo, torna-se desarranjada e descompassada.  Os preços sobem.  A receita futura esperada pelos investidores não se concretiza, pois nunca houve um aumento na poupança que possibilitasse uma maior renda futura dos consumidores.  Os processos de mercado revelam que vários investimentos não apenas não são lucrativos, como na realidade representam capital investido de maneira errônea e insustentável.  Recursos escassos foram desperdiçados em projetos cujos retornos foram sobrestimados.  Estes investimentos são então liquidados, o que dá início à recessão.
10) Qual é a política correta para se combater recessões?
Resposta marxista: As recessões servem como um lembrete à sociedade de que o laissez-faire é uma política fracassada.  Com todas as recessões, as autoridades políticas já deveriam ter aprendido que já passou da hora de o governo domar os especuladores e regular mais severamente as corporações.  Mais setores da economia têm de ficar sob controle público, mesmo que isto signifique a estatização de todo o setor industrial.  Devemos isso às verdadeiras vítimas dos ciclos econômicos: o proletariado.
Resposta keynesiana: Além das tradicionais medidas de expansão fiscal e monetária, é essencial que o governo proteja as indústrias que foram mais duramente atingidas pela recessão.  O governo também deveria proteger os trabalhadores, impedindo que eles sejam demitidos, além de fornecer benefícios aos desempregados.  Os consumidores não devem poupar, mas sim gastar ainda mais.  Simultaneamente, as empresas deveriam pegar dinheiro emprestado a juros zero tanto dos bancos quanto do próprio governo.  Apenas com estas medidas o equilíbrio produtivo pode ser restaurado. 
Resposta de Chicago: O Banco Central pode estimular a economia reduzindo as taxas de juros e o governo pode aumentar a demanda agregada por meio de um aumento temporário dos gastos, mesmo que para isso tenha de incorrer em déficits orçamentários.  Assim que a economia voltar ao normal, o Banco Central pode permitir que os juros subam e o governo pode restringir seus gastos.
Resposta austríaca: A recessão é apenas a revelação de que havia um conjunto de descoordenações e investimentos errôneos e insustentáveis em toda a economia em decorrência de uma política monetária expansionista.  Trata-se de uma etapa essencial do ciclo econômico, que irá liquidar os investimentos ruins e liberar recursos até então imobilizados nestes investimentos, permitindo que eles agora possam ser utilizados por outros setores da economia.  Não apenas o governo não deve combater a recessão, como deve permitir que ela siga seu curso até o fim, limpando os investimentos ruins de toda a economia.  Políticas contracíclicas são contraproducentes e logram apenas prolongar a recessão.  Recessões futuras podem ser impedidas por meio de uma reforma do sistema monetário, que é a real causa dos ciclos econômicos.
11) Quão viável é o socialismo?
Resposta marxista: O socialismo não apenas é uma opção eminentemente viável, como é para ele que a história está inexoravelmente nos levando.  Porém, o socialismo ainda enfrenta resistências por causa da influência que o grande capital exerce sobre os atuais sistemas políticos.  Como é possível o socialismo funcionar?  Assim como o planejamento em períodos de guerra, os planejadores socialistas podem monitorar os estoques de bens e aumentar (diminuir) os preços quando os estoques diminuírem (aumentarem), desta forma ajustando os preços de modo a sempre deixá-los compatíveis com a demanda dos consumidores.  Os planejadores também podem ordenar que os administradores das sucursais locais desempenhem de maneira eficiente suas tarefas, o que fará com que a produção e a inovação fluam continuamente.  Este tipo de processo de tentativa e erro conduzido por pessoas de boa vontade pode funcionar pelo menos tão bem quanto o mercado, com a vantagem de não ter o custo social deste.  O socialismo não é nenhuma ciência astronáutica; ele é totalmente viável e pode funcionar melhor do que o capitalismo.
Resposta keynesiana: O capitalismo é produtivo, mas os capitalistas, quando deixados livres, colocam os lucros acima das pessoas, e egoisticamente descontam os interesses dos trabalhadores e dos consumidores.  Em uma sociedade, instituições como sindicatos, salários mínimos, leis antitruste, leis contra o trabalho infantil, leis trabalhistas e outras estruturas legais são essenciais para se solucionar os conflitos entre capitalistas e trabalhadores/consumidores.  É essencial que o governo administre alguns setores, como os de utilidades públicas e a educação, ao passo que empresas privadas podem cuidar da produção de bens e serviços, desde que sob forte regulamentação do estado.  O fato de havermos criado estas instituições mostra que aprendemos coisas boas com os socialistas.  Temos de parar de tratar o socialismo como se fosse algum tipo de bicho-papão.
Resposta de Chicago: A experiência nos mostra até o momento que o sistema de livre iniciativa tem sido mais produtivo do que a maioria dos experimentos socialistas já implantados.  Isto pode ser por causa da falta de incentivos para se produzir no socialismo ou por causa da baixa qualidade do planejamento utilizado.  Um mercado completamente desregulamentado, no entanto, também possui suas deficiências, e é por isso que ele tem de sofrer interferências em algumas áreas.  De qualquer maneira, é fútil tentar recorrer a alguma teoria geral que nos permita dizer, aprioristicamente, que todos os planejamentos socialistas fracassarão.  A história nos mostra que algumas formas de planejamento central funcionam muito bem.  Bancos centrais, por exemplo.  Um Banco Central incorre em um tipo de planejamento central, assim como o fazem também os juízes e os reguladores, e de maneira muito bem sucedida — desde que pessoas competentes estejam no comando, é claro.  A desejabilidade de uma intervenção estatal para além das funções clássicas do governo — criar e impor regras — irá depender de quão severas são as imperfeições do mercado em relação às imperfeições governamentais.
Resposta austríaca: A propriedade comunal dos meios de produção (por exemplo, das fábricas) impede a existência de mercados para bens de capital (por exemplo, máquinas).  Se não há propriedade privada sobre os meios de produção, não há um genuíno mercado entre eles.  Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços legítimos.  Se não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de preços.  E sem esse cálculo de preços, é impossível haver qualquer racionalidade econômica — o que significa que uma economia planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada.  Sem preços, não há cálculo de lucros e prejuízos, e consequentemente não há como direcionar o uso de bens da capital para atender às mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível.  Em contraste, a propriedade privada sobre o capital e a liberdade de trocas resultam na formação de preços (bem como salários e juros), os quais refletem as preferências dos consumidores e permitem que o capital seja direcionado para as aplicações mais urgentes, ao mesmo tempo em que o julgamento empreendedorial tem de lidar constantemente com as contínuas mudanças nos desejos dos consumidores.  O socialismo, um sistema que na prática requer um estado totalitário, não é uma opção viável ao capitalismo.  Qualquer passo rumo ao socialismo é um passo rumo à irracionalidade econômica.
12) Qual a relação entre economia e ambiente?
Resposta marxista: A única solução definitiva para o problema da poluição e da degradação ambiental é a imposição de um severo limite sobre o desenvolvimento econômico.  Somente assim a qualidade de vida pode ser preservada.  É preciso deixar bem claro aos capitalistas que damos mais valor à qualidade de vida do que à produção e aos ganhos materiais.  E nem se trata de uma questão exclusivamente de lucros e pessoas.  O delicado ecossistema tem de ser protegido sob todos os aspectos, desde a mais ínfima forma de vida até o mais volumoso corpo de água — sem descuidar, é claro, da atmosfera, que não pode receber gás carbônico.  Tudo isso implica a urgente necessidade de se controlar rigidamente o crescimento populacional.
Resposta keynesiana: A poluição é um claro exemplo de falha de mercado.  Enquanto as grandes empresas estiverem lucrando, elas tenderão a utilizar os recursos de maneira excessiva, impondo pesados custos ambientais sobre todos nós.  Quanto aos terrenos mais valiosos, às florestas antigas e às espécies em risco de extinção, a tendência é de caça e exploração predatórias, com os capitalistas se aproveitando do que é valioso e sempre desconsiderando o interesse social da preservação.  É por isso que severas regulamentações ambientais têm de desempenhar um papel proeminente na proteção de terras, na preservação de espécies, no controle da poluição, na limpeza do ar e da água e, principalmente, em policiar e punir as empresas infratoras, deixando claro que os lucros não podem vir à custa da natureza.
Resposta de Chicago: A maioria das questões que envolvem o ambiente pode ser resolvida por meio de incentivos de mercado.  Mas os tribunais têm de ser transparentes ao definirem as fronteiras de cada propriedade para quando os conflitos surgirem.  Questões envolvendo externalidades podem ser resolvidas por meio de compensações entre os proprietários envolvidos na disputa, com o veredito sendo imposto por arbitragem estatal.  Quanto à poluição, ela pode ser minimizada por meio de um mercado para direitos de poluição, e estes direitos podem ser comercializados de modo que os custos da poluição recaiam sobre os poluidores.  Taxas para o uso de terras públicas são normalmente estipuladas em níveis muito baixos, o que acaba estimulando o uso excessivo.  Preços mais altos são o segredo para a conservação.
Resposta austríaca: Praticamente todas as questões relacionadas ao ambiente envolvem conflitos sobre propriedade.  Sempre que houver propriedade privada, os proprietários podem resolver estes conflitos por meio da proibição e da punição aos atos de transgressão.  O incentivo para se conservar é uma característica inerente à estrutura de incentivos criada pelo mercado.  O mesmo é válido para o incentivo de se preservar todas as coisas de valor.  A responsabilidade pelos danos à propriedade alheia tem de ser arcado pelo indivíduo que causou o estrago.  Propriedade comunal do ambiente, como existe hoje, não é a solução.  Dado que as florestas, por exemplo, não são geridas privadamente, a meta de se conseguir uma administração racional e "verde" sempre será enganosa.  Somente quando uma terra tem dono é que este possui vários incentivos para cuidar muito bem dela. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo.  Assim, caso ele decida, por exemplo, arrendá-la para uma madeireira, ele vai permitir a derrubada de um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a safra do próximo ano. 
13) Qual a função dos sindicatos?
Resposta marxista: Os sindicatos, como são formados atualmente, não podem consertar os defeitos do capitalismo.  É da própria natureza do capitalismo explorar os trabalhadores.  Dado que todo o capital advém do trabalho, os capitalistas têm necessariamente de pagar aos trabalhadores menos do que o real valor de seu trabalho.  Caso contrário, os capitalistas deixariam de existir.  Os sindicatos não podem mudar isto.  A única coisa que pode mudar tudo isto é a abolição do capitalismo e a imposição da propriedade comunal dos meios de produção.  Na medida em que os sindicatos representam um movimento de vanguarda com o poder de fazer esta revolução, eles devem ser defendidos e fortalecidos.
Resposta keynesiana: Sindicatos são vitais para uma sociedade livre.  Sindicatos funcionam como se fossem um poder compensatório, contrabalançando a influência do grande empresariado.  Logo, os sindicatos são necessários para impedir que os trabalhadores sejam explorados pelas grandes corporações.  O governo deve apoiar os sindicatos criando leis que asseguram o direito de se organizar e sindicalizar, e normalmente os trabalhadores sempre estão em melhor situação quando há representação sindical.
Resposta de Chicago: Sindicatos são monopolistas, mas podem servir a bons propósitos.  Sua função histórica tem sido a de contrabalançar a concentração do poder industrial.  Ao mesmo tempo, um domínio sindical excessivo também pode elevar os salários para valores acima do nível de competitividade e, com isso, reduzir o emprego e a produção.  Os efeitos dos sindicatos variam de acordo com circunstâncias específicas, de modo que não há base para se formar uma opinião geral quanto aos méritos dos sindicatos.  Tudo depende das circunstâncias do tempo e do lugar.
Resposta austríaca: Sindicatos são monopólios trabalhistas porque se beneficiam de privilégios governamentais.  Sindicatos têm como objetivo elevar os salários para valores acima dos de livre mercado.  Isto reduz as chances de emprego para trabalhadores menos qualificados e de baixa produtividade, reduzindo a produção geral de bens de consumo.  Sindicatos grevistas sempre recorrem à coerção — com o apoio do estado — para espoliar a propriedade de seus patrões, impedindo que os meios de produção continuem sendo utilizados por outros trabalhadores "fura-greves".  As lideranças sindicais são frequentemente corruptas e se aproveitam enormemente dos próprios trabalhadores sindicalizados, os quais sustentam compulsoriamente seus líderes.  Os sindicatos também trabalham para concentrar poder nas mãos de políticos sindicalistas.  Esta concentração de poder vai contra os interesses de uma sociedade livre. 
14) Os mercados criam e sustentam monopólios?  O que fazer quanto a isso?
Resposta marxista: Se há algo que a história do capitalismo nos mostra perfeitamente é que este sistema leva à concentração das empresas.  Com cada vez menos empresas ditando os termos, os resultados são preços cada vez maiores e salários cada vez menores.  Sindicatos e regulamentações antitruste já apresentaram algumas medidas bem sucedidas para coibir esta concentração, mas nenhuma destas duas instituições foi longe o bastante para reverter a tendência monopolística do mercado.  Temos também de questionar a ideia de que a própria concorrência deveria ser um objetivo político.  Muito frequentemente, ela é socialmente destrutiva, não passando de um slogan repetido por monopolistas para justificar seu comportamento explorador.  Uma sociedade formada pela cooperação entre todos, uma economia genuinamente democrática, deveria realmente ser o ideal.
Resposta keynesiana: O mercado tende a gerar monopólios de vários tipos e tamanhos.  O governo não deve permitir que empresas exercitem seu poder de monopólio ditando preços.  Um poder monopolista pode ser detectado por várias fórmulas matemáticas que comparam os custos de produção com o preço do produto final, sempre de acordo com um modelo de concorrência perfeita.  Monopólios geográficos podem não ser mais tão importantes quanto já foram, e isso se deve aos avanços na tecnologia dos transportes.  No entanto, o que estamos enfrentando hoje é uma variedade de monopólios possibilitados e orientados pela tecnologia, como mostra o exemplo da Microsoft e da Apple.  Por isso, os reguladores têm de estar constantemente alertas para empresas que tentam utilizar seu poder de mercado, se enriquecendo à custa dos consumidores.  A concorrência necessita de uma rigorosa intervenção do estado.
Resposta de Chicago: A regulação dos monopólios gerou mais malefícios do que benefícios, pois sempre acaba protegendo determinados concorrentes e não a concorrência em si.  Alguns tipos de regulação contra cartéis se baseiam em modelos falhos, incapazes de entender que algumas empresas ganham fatias de mercado simplesmente porque seus produtos são desejados pelos consumidores.  O que cabe aos reguladores fazer?  Como disse Adam Smith, eles deveriam impedir a conspiração empresarial, o comportamento ostensivamente predatório de algumas empresas e, de resto, assegurar um equilíbrio que leve à genuína concorrência.  Por fim, vale ressaltar que alguns bens são de melhor qualidade quando fornecidos por monopólios, como justiça e defesa.
Resposta austríaca: Economistas da escola clássica estavam corretos ao definirem um monopólio como sendo um privilégio concedido pelo governo.  Afinal, adquirir o privilégio legal de ser um produtor defendido pelo estado é a única maneira de se sustentar um monopólio em um mercado com total liberdade de entrada.  Quando não há este privilégio, a precificação predatória não é uma prática que possa ser mantida por muito tempo, e nem mesmo sua tentativa deve ser lamentada, dado que se trata de um grande benefício para os consumidores.  Comportamentos típicos de cartel sempre se esfacelam, e quando isso não ocorre, eles servem a uma função de mercado.  O termo "preços monopolistas" não possui nenhum significado efetivo em um arranjo de mercado, pois o mercado não é uma simples fotografia instantânea, mas sim vários processos contínuos de mudança.  Uma economia de mercado não necessita de nenhuma política antitruste; com efeito, o estado é a própria fonte dos monopólios e oligopólios que testemunhamos atualmente, como os setores judiciário e de segurança, além de todo o setor de utilidades públicas.
15) E bens como ruas, estradas e educação? 
Resposta marxista: Frequentemente se afirma que a livre iniciativa é a resposta para os nossos problemas econômicos, e que o governo não é capaz de nos ofertar bens e serviços.  Mas o exemplo das escolas, das ruas e das estradas é uma ótima contraposição a esta afirmação.  As escolas públicas já educaram, com alta qualidade, milhões de pessoas e as ruas e estradas públicas são a chave para fazer com que a sociedade aberta seja acessível para todos.  Com efeito, o sucesso destas instituições abre as porta para as enormes possibilidades disponíveis para uma sociedade que tem a coragem de abandonar o laissez-faire e abraçar a genuína oferta social de todas aquelas coisas que estimamos, mas que os interesses corporativos e a mentalidade estreita dos empresários se recusam a tornar acessíveis para todos.
Resposta keynesiana: Há alguns bens que o mercado não pode ofertar de uma maneira que atenda às necessidades sociais.  Escolas privadas são ótimas para aqueles que têm dinheiro, mas uma sociedade democrática tem de ofertar educação para todos.  O mesmo raciocínio se aplica para as ruas e estradas, que fazem parte da infraestrutura pública de uma sociedade moderna e que, por isso, não deveriam estar sujeitas às astúcias da livre iniciativa.  Mas isso não significa que não haja espaço para reformas.  As verbas para a educação são insuficientes e os professores são mal remunerados.  As ruas e estradas estão sujeitas a um uso excessivo, o que sempre gera congestionamentos.  A solução é direcionar generosas verbas para o sistema de transporte público.  Medidas como o compartilhamento de automóveis, mesmo que compulsória, devem ser estimuladas.
Resposta de Chicago:  Não há por que discutir se bens como ruas, estradas e educação são necessidades essenciais; ainda assim, o mercado não irá fornecê-los em quantidade suficiente.  A única questão pendente, portanto, se refere à administração pública.  Há maneiras boas e ruins de o governo ofertar estes serviços.  A adoção de incentivos de mercado pode aumentar a eficiência da oferta.  A construção e a administração podem ser terceirizadas.  Problemas de congestionamento podem ser resolvidos por meio de pedágios ou por outras formas de racionamento de uso.  As escolas podem se tornar mais competitivas por meio de vouchers e outros sistemas inovadores de licenciamento governamental voltados para suprir necessidades especiais.
Resposta austríaca: Estes são bens como quaisquer outros — eles podem ser supridos pelo mercado e somente pelo mercado.  O estado é incapaz de construir e manter instituições educacionais que passem no teste da racionalidade econômica, pois sempre fará isso sem o benefício da resposta econômica dos consumidores usuários de seus serviços.  Em vez de depender de mensalidades voluntariamente pagas pelos consumidores — o que atestaria a qualidade dos serviços —, o estado simplesmente coleta impostos e os gasta arbitrariamente.  O mesmo é válido para as ruas e estradas: quantas serão construídas, onde e com que qualidade são decisões que, em última instância, serão tomadas de acordo com meras conveniências políticas.  Em uma economia de mercado, a qualidade, a quantidade e os tipos de bens e serviços correspondem às necessidades sociais.  Estes bens são serviços que são estimados e apreciados pelos consumidores, o que significa que eles serão ofertados caso seja economicamente factível fazer isso em relação a outras prioridades sociais.
16) Qual o papel da igualdade e da desigualdade?
Resposta marxista: A desigualdade é uma característica intrínseca a uma estrutura social cujo preconceito está arraigado na longa e vergonhosa história da maneira como a sociedade ocidental tratou as mulheres e outras minorias.  O impulso preconceituoso, enraizado no espírito da subjugação que deu origem ao capitalismo ocidental, é uma forma de violência e, ainda assim, é parte da corrupta infraestrutura da própria economia de mercado.  Se os proprietários do capital forem deixados livres, os grupos excluídos permanecerão perpetuamente excluídos; por isso, a sociedade tem de agir para controlar e restringir os capitalistas.  A igualdade plena continuará sendo um sonho distante enquanto tivermos uma sociedade que trata as pessoas como bens que podem ser comprados e vendidos, e enquanto continuarmos colocando a propriedade privada de poucos acima do interesse comum de todos.
Resposta keynesiana: A ênfase moderna dada à igualdade foi o grande avanço político do século passado.  Não mais o sistema político e econômico exclui a participação das mulheres e das minorias; ao contrário, as inclui como questão de lei.  Estes grupos tendem a ser artificialmente subvalorizados pela "mão invisível" do mercado, e é por isso que o governo tem de impor leis antidiscriminação e a favor de cotas.  O estado de bem-estar social também beneficiou a sociedade ao garantir que os benefícios gerados pela crescente riqueza fossem redistribuídos por toda a sociedade, de modo a impedir que os ricos se tornem mais ricos à custa dos pobres.  Já avançamos bastante, mas ainda há muito mais a ser feito.
Resposta de Chicago: É um grande erro fazer com que a igualdade de resultados seja um objetivo político, pois legislações igualitaristas podem destruir os incentivos para o aprimoramento.  Punir os ricos é uma medida autodestrutiva, mesmo para os pobres que estão batalhando para se manter.  A igualdade de oportunidades, no entanto, já é diferente.  É algo que todos merecem em decorrência de sua própria dignidade como ser humano.  Por isso, uma nação deve se esforçar para ter instituições educacionais de qualidade, instituir um limitado imposto sobre heranças e, de resto, auxiliar a todos aqueles que, sem nenhuma culpa própria, não possuem os meios de entrada na divisão do trabalho.  Tão logo estas instituições estiverem criadas, iremos descobrir que as forças da concorrência do mercado alcançarão os objetivos igualitários através de meios predominantemente voluntários.
Resposta austríaca: A igualdade é um termo que se relaciona adequadamente à matemática, e não às ciências sociais.  Os seres humanos são desiguais em seus dotes, oportunidades, ambições e vontade de conquista.  Desigual não significa inferior ou superior; significa apenas diferente.  Diferenças são a exata origem da divisão do trabalho e, dentro de um arranjo de mercado, não levam a nenhum conflito, mas sim à cooperação.  Embora as diferenças devam ser celebradas, proprietários de estabelecimentos têm todo o direito de tratar as pessoas desigualmente, escolhendo quem irão contratar e quem pode e quem não pode frequentar seu estabelecimento.  (Afinal, seria correto obrigar um negro dono de um bar a aceitar a presença de neonazistas em seu estabelecimento?).  São os proprietários que devem arcar com as consequências de seus atos.  Legisladores não deveriam ter qualquer preocupação em tentar criar nem igualdade de resultados e nem igualdade de oportunidades, seja entre indivíduos ou entre grupos de indivíduos classificados de acordo com qualquer critério.  O único lugar em que cabe a igualdade é na aplicação da lei, a qual deveria tratar todos os indivíduos da mesma maneira, sem qualquer consideração com seu gênero, cor, preferência sexual ou classe social.
17) Quem melhor serve à sociedade?
Resposta marxista: O capitalismo serve aos empresários e os empresários servem a si mesmos.  O sistema é totalmente baseado na exploração dos consumidores e dos trabalhadores.  A única solução para estes problemas é abolir o capitalismo e, com ele, a classe capitalista dos empresários.  Uma sociedade genuinamente democrática ou socialista irá acabar com as tendências exploradoras.  As pessoas não mais irão almejar o lucro privado porque os lucros privados não mais existirão.  As pessoas terão melhores motivações e serão dotados de maior espírito público sob o socialismo.  Os líderes da futura sociedade socialista promoverão o bem comum.
Resposta keynesiana: Legisladores e especialistas em políticas públicas, sob a orientação de uma variedade de grupos de aconselhamento, têm o interesse público em mente quando formulam e executam suas políticas.  Eles são capazes e têm o desejo de melhorar o bem-estar da sociedade.  Empresários buscam o lucro e se importam muito pouco com o bem-estar geral do povo.  Eles servem ao interesse público apenas na medida em que obtêm lucros nesse processo.  Dados os numerosos e severos defeitos na maneira como os mercados funcionam, líderes públicos bem informados têm de trabalhar para aperfeiçoar o bem-estar público — um projeto viável desde que limitemos a influência dos interesses corporativos sobre a política.
Resposta de Chicago: Políticos buscam seus próprios interesses, mas a competição política e o processo de políticas públicas fazem com que eles de certa forma acabem também servindo ao público.  Empreendedores também servem ao público de certa forma, pois é assim que obtêm lucros.  A questão sobre se são os líderes cívicos ou os empreendedores quem melhor serve ao público ainda está em aberto.  Tudo depende das circunstâncias específicas da época e do local.  A sociedade democrática já se mostrou capaz de resolver questões de gestão social ao longo do tempo.
Resposta austríaca: Empreendedores possuem um papel indispensável para uma sociedade.  Empreendedores estão sempre alertas para as oportunidades de lucro e estão sempre fazendo julgamentos acerca das demandas futuras.  A concorrência em relação a estas oportunidades resulta em um sistema de lucros e prejuízos que gera preços para a mão-de-obra e para o capital.  Esta concorrência direciona recursos para a satisfação das mais urgentes necessidades dos consumidores.  Políticos bem-sucedidos são aqueles que possuem maior capacidade para conservar e exercer poder político.  Estes são tipicamente os elementos mais inescrupulosos da nossa sociedade.