Um pouco de modéstia e autocrítica não fazem mal a ninguém (inclusive a mim mesmo)Como lembrou-me o visitante, ou leitor habitual deste blog, José Marcos, no comentário ao post anterior a este, todos nós cometemos
errus (ele escreveu deliberadamente assim, como falamos), posto que (e ele também me corrigiu o emprego desta expressão, que eu venho utilizando de forma inadequada como uma relação causativa) a língua portuguesa, por suas nuances gramaticais e peculiaridades estilísticas, é por demais complexa, eivada de regras e condicionalidades acumuladas ao longo do tempo, ou impostas por "çábios" da Academia (como já escreveu alguém, talvez o Millor Fernandes, no que foi copiado por muitos, inclusive um jornalista famoso, que pretende dar lições de mora a gregos e goianos).
Concordo com o José Marcos, e também devo penitenciar-me pelos muitos erros que cometo em meus textos, motivados seja pela pressa em escrever -- e nesse caso se trata de simples erros de digitação, de ortografia mais comumemente --, seja por deficiências de estilo (não sou partidário da tese segundo a qual "o estilo faz o homem"), seja ainda por impropriedades substantivas que fui adquirindo ao longo da vida, de minha notória insuficiência no estudo da língua e pela persistência nessas deformações gramaticais e estilísticas (aquela coisa de hábitos arraigados).
Sou grato ao José Marcos por trazer-me de volta à Terra, demonstrando ele, cabalmente, como somos todos falhos em nossa redação escrita e em nossa expressão oral, o que deveria levar-nos a ter mais modéstia pessoal e exercer um pouco contenção na exposição e condenação dos erros alheios.
Sim, é verdade, sempre se poderá apontar nossos próprios erros de redação, para nos trazer de volta à realidade e parar com essa mania censória e passavelmente autoritária de pretender corrigir erros alheios, mesmo daqueles que manifestamente estavam apenas interessados em se fazer ouvir num espaço aberto como este.
Estou consciente disso, penitencio-me pelo meu "faux pas" e agradeço uma vez mais ao José Marcos por ter-me lembrado desta realidade tão simples.
Falando agora em meus próprios erros de redação -- e eles são tantos que seria fácil a um leitor mais crítico apontar-me uma penca deles -- devo dizer o seguinte. De fato, eu tenho inúmeras falhas em meus textos, algumas graves, outras menos graves. As mais graves são certamente as impropriedades redacionais, ou linguísticas, algo equiparado a crimes se estivéssemos aplicando o Código Penal, ou seja, contravenções manifestas contra a língua portuguesa. Sim, sou criminoso, contumaz e reincidente, podendo apenas alegar em minha defesa que jamais estudei gramática, nunca me dediquei a decorar as regras da boa escrita e da redação correta, simplesmente porque não tenho paciência, tempo, disposição para ler manuais (nunca os leio, mesmo dos aparelhos eletrônicos mais complexos, sempre pedindo ajuda a alguma criança para fazê-lo por mim).
Eu simplesmente aprendi a ler, e comecei a ler desbragadamente, sem jamais parar, ou melhor, apenas parando para escrever, que também é um ato de ler...
Sem ter tido disposição ou o cuidado de me remeter à Senhora Gramática, eu só posso cometer atentados contra ela em todas as vezes em que escrevo.
Deve ter sido a "má influência" de Monteiro Lobato e sua "Emília no País da Gramática", onde o grande escritor paulista desafia aquela velha ranzinza e lhe aplica uma cura forçada de inovações nem sempre permitidas pelas boas regras de redação.
Enfim, eu comecei a escrever, errado, como todos fazemos, e nunca mais parei, daí minha tendência em incorrer em determinados erros repetitivos que são como deformações lamarckianas, adquiridas e repassadas ao longo de toda uma vida. Desculpo-me com meus leitores por isto. Pretendo mais ter o que dizer, do que preocupar-me com a forma de fazê-lo, o que também é um erro.
Sim, uma vez que introjetamos um erro, fica difícil desvencilhar-se dele nas fases seguintes, sobretudo quando não se dispõe de alguma alma piedosa para nos alertar e corrigir esses erros. Eles ficam grudados no subconsciente e daí à eternização é um pequeno passo muito facilmente transposto.
Depois tem a questão do estilo, minha horrível prolixidade, frases muito longas, apostos intermináveis, contrademonstrações no meio do parágrafo, enfim, uma maçaroca de ideias, conceitos e informações que sobrecarregam as minhas frases, tornando-as pesadas, difíceis de compreender, quase ilisíveis para alguém que pretende incorporar rapidamente alguma nova ideia ou informação. Desculpo-me por isso também e sempre achei que esses meus maus hábitos tivessem algo a ver com a chamada "Escola Paulista de Sociologia", quando ela talvez tenha apenas a ver com as peculiaridades do estilo florestânico, ou seja, da maneira de escrever de Florestan Fernandes, um dos meus mestres no aprendizado das Ciências Sociais.
Bem, fica aqui a adevertência sempre bem vinda do José Marcos, e um alerta ao leitor: policie-se, em seu próprio estilo e maneira de redação, para não incorrer nos mesmos erros que eu.
Pior, aliás, do que simples erros gramaticais, são a soberba e a arrogância na defesa de seus próprios argumentos. Devemos sempre estar abertos à revisão e à ponderação dos demais.
Muito grato José Marcos, por trazer-me de volta à Terra.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 11.04.2010)